segunda-feira, abril 30, 2012

O diploma da dona Maria da Conceição

A dona Maria da Conceição inscreveu-se para a celebração comunitária da Unção dos doentes. Participou na reunião de preparação. Mas logo me disse que não podia estar. Tinha lá a família em casa. Faltou, portanto. Não fez o sacramento da Unção dos doentes, por conseguinte. Passada que foi uma semana, no final da missa da paróquia, veio ter comigo à sacristia. Queria o diploma da Unção, senhor padre. Mais do que um certificado, o diploma era uma recordação para quem fez o sacramento. A sorrir do caricato e a sorrir com ela, expliquei que o diploma era para quem tinha feito a Unção. Não fazia sentido levá-lo para casa como recordação de nada. Ou como certificação de nada. E o desplante da dona Maria da Conceição não se fez esperar. Dizia que se morresse e não fosse para o céu, a culpa era minha. Mas, independentemente dos motivos, ela é que decidiu faltar ao sacramento. Só podia estar a brincar. Ainda hoje espero que tenha sido uma brincadeira. Só pode. Como se o embrulho da prenda fizesse as vezes da própria prenda. Às vezes é mais fácil entender as coisas de Deus que as coisas dos homens.

9 comentários:

Peregrino disse...

Ai… onde aterraste tu alma de Deus! Como diziam os jovens do Crisma quando me viam em apuros: “estás feito ao bife”…risos…!

Temos que orar mais por ti Irmão Padre… vai ser travessia do deserto pela certa a tua missão por essas terras, e ainda só agora começou…!

....Habemus martyrium candidatus….

Confessionário disse...

Temos de nos rir mesmo...
E é como digo: mesmo sendo muito difícil, às vezes torna-se mais fácil perceber as coisas de Deus!

Anónimo disse...

Padre amigo... pelas palavras do Peregrino, digo-lhe as palavras do meu Pároco, que é "gente" séria!!!

"Pelo martírio, é entrada direta no céu, sem curvas!"

Eu acrescento... pelo exercício da paciência, chega a Santo!É num instante...

Tenho a certeza que a Senhora, não sabe o que é a Unção do Enfermos (quero acreditar que não)... experimente a administrar-lhe a Unção dos Enfermos, na Eucaristia... ai... não sei que lhe diga, tenha misericórdia...

Joana disse...

Lol :)

Que rica prenda lhe saiu mesmo.
Acho que é mesmo culpa sua a srª não ir para o céu.
É sempre "bué da fixe" pôr as culpas das nossas falhas nos outros, desta vez tocou-lhe a si.

Recorda-se dos malucos do riso:
"Costa, Costa, a vida costa". lol :)

JS disse...

Acho que seria bom tentar descobrir a razão por detrás do insólito pedido, que parece mesmo uma brincadeira.
Ao ler a história, veio-me à mente uma hipótese: a senhora fez uma associação com os diplomas académicos. Nas universidades, o que conta é tirar o curso; é isso o que dá direito ao diploma, mesmo que se falte à bênção das pastas ou à queima das fitas. Talvez a senhora tenha pensado (ou algum familiar a tenha convencido) que o ter participado na preparação já seria algo suficientemente válido, ou que merecesse uma espécie de atestado.
Aliás, na catequese, não faltam padres a insistir que o que interessa não são as festas da catequese, mas o percurso catequético...

Claro que a situação levanta algumas interrogações. A preparação terá sido a mais adequada? Terão sido levadas suficientemente em conta as razões que levaram as pessoas a desejarem a recepção do sacramento? Terá havido um correcto discernimento e purificação de intenções? É que bastas vezes dá-se por garantido que as pessoas sabem ao que vão; ou então, pensa-se que dez minutos de boa catequese conseguirão alterar, como por passe de mágica, ideias erradas e preconceitos forjados ao longo de séculos.

Quanto às celebrações comunitárias da Santa Unção, elas levantam-me cada vez mais reticências. Faz lembrar o sucedido com as absolvições colectivas. Pareciam a solução milagrosa, o ovo de colombo para recuperar o sentido original do sacramento, desgastado e deturpado ao longo dos tempos. Mas, afinal, as coisas não eram só vantagens, e foi-se criando uma nova série de problemas. E o pior é que isso não está a ser devidamente considerado.

laureana silva disse...

Meu amigo,
Se não fosse tão sério era caso para rir, pois parece anedota. Haja paciência meu amigo, e que Deus nunca lhe falta com ela...
Beijinho!
Maria

Porthos disse...

Diplomas que garantem entrada no céu... Ora aí está uma ideia soberba.

Essa tua nova gente está mesmo mal habituada! Mas não desesperes. Água mole em pedra dura...

Aquele abraço e força nisso!

Peregrino disse...

Calma… também não estava a dizer que não haja espaço-terreno aplanado e alargado pela presença faminta de Deus que são os corações de todos os que aí vivem e te procuram… para aterrares sem ”borregares” (na gíria dos pilotos significa abortar uma aterragem e subir outra vez com o avião!)

Saberás certamente como encontrar em ti e no Pai outros “moldes” mais carregados de misericórdia e muita paciência… mas mesmo muita para moldar e voltar a dar “forma” a esses vasos de barro tão amados de Deus…!

Bom, e ando aqui eu a tentar “ensinar a missa ao Padre”… força… estamos contigo, no coração e na oração… porque aterrar contigo… só no teu coração… bem precisas de alargar o espaço nele para acolher tais avezinhas do Pai…

JS disse...

Hoje, ao acompanhar as cerimónias em Fátima, dei conta de uma coisa: aquilo que se procura com celebrações comunitárias da Santa Unção seria, na maior parte dos casos, perfeitamente atingível com uma bênção dos enfermos, ao estilo do que se faz no fim da missa de encerramento das peregrinações.