sexta-feira, março 11, 2011

Falar de pecado

Não gosto muito de falar de pecado. Tenho sempre medo que ele me caia em cima. Que ao dizê-lo ele se torne realidade. Há muita coisa que só se torna real depois de falada. Até lá, ficam no íntimo da nossa ignorância e inconsciência. Mas ontem, quando o Pedro me perguntou o que era o pecado, eu não pude fugir. Acho que hoje, na sociedade dita moderna, não gostamos de falar de pecado. É uma palavra que não se usa. Como eu, outros colegas se inibem de a usar. As pessoas evitam-na. Preferimos falar em fraquezas. Erros. Um dia um amigo saiu-se com esta que eu vou contando quando quero passar a bola para canto ou quando quero rir-me à custa de não ficar sério. O meu pecado é pecado apenas quando os outros o sabem. Enquanto eles não o sabem, são apenas fragilidades.
No entanto, desta vez não consegui contar esta ao Pedro. Ele estava demasiado sério, para eu brincar com o assunto ou com ele. E lembrei a comparação que um dia ouvira a outro colega. Presta atenção. Imagina uma série de espelhos que se vêem uns aos outros. Que estão voltados uns para os outros. Imagina-os numa feira. Ora o pecado acontece quando um desses espelhos decide deixar de ser espelho. Em si, ele espelha o que a luz ou a claridade deixam que espelhe. Sem elas não espelha nada. Querendo ser ele a luz dos outros espelhos, prescinde do sol. Mas assim submerge nas trevas. Deixa de ter luz para mostrar. Deixa de ter utilidade. Deixa de ser o que é. Assim acontece com o homem. O homem querendo, na sua soberba, ocupar o lugar de Deus, tornar-se igual a Ele, acaba por se tornar o seu oposto. Querendo ser a luz, acaba por ser trevas. Daí o escuro. Daí o medo. A tristeza. Não podemos ser luz quando prescindimos da luz. Então não iluminamos nada. Nem a nossa vida. Então perdemos a nossa essência e deixamos de ser aquilo que deveríamos ser, um espelho da luz.
O meu colega não contara assim, e eu próprio não tenho bem a certeza de me ter explicado bem. É que isto de pecado não é lá muito fácil de falar.

13 comentários:

Vilma disse...

Mas saiu-se muito bem!

Confessionário disse...

Amigos, o novo vídeo é óptimo para pensar "Quaresma", e não resisti a fazer um convite especial para o verdes.

Abraços quaresmais

Anónimo disse...

eu tb nao gosto de falar de pecado

o filme ta fixola

concha disse...

Muito bom o video.Nada "piegas"mesmo.

Ab imo corde disse...

Não importa se os outros sabem ou não do meu pecado, basta eu sentir que sim para ser pecado. De uma forma muito limitada, porque estas coisas não são muito definíveis, pecado é uma regra infringida com as inerentes consequências, notórias ou invisíveis; pecado é uma opção voluntária e involuntária ao mesmo tempo ou em separado...
Difícil...
Beijinho sereno

Peregrina Repetente disse...

Olá Conf. obrigada pelo video, muito bonito. Peço desculpa pela ousadia mas vou partilhar no FB, espero que não leve a mal :-)).

Confessionário disse...

Não há problema, "peregrina". Ele é de todos

Anónimo disse...

Duas freiras vão a caminho do convento e começam a ser perseguidas por um homem. Diz uma para a outra:
— Irmã, vamos separar-nos, cada uma vai pelo seu caminho. Ele só pode perseguir uma, e a outra consegue chegar ao convento.
E assim fizeram. A primeira entra no convento, muito cansada, a arfar, e conta o que se passou. Algum tempo depois chega a outra, também ofegante.
— Então, irmã, como foi?
— Eu comecei a fugir, e o homem sempre atrás de mim, até que me meti por uma rua sem saída.
— Irmã! E depois como foi?
— Depois virei-me para ele e disse: «Calças abaixo!»
— Fez uma coisa dessas? E depois?
— Depois, saias acima.
— Não acredito que tenha feito isso! E depois?
— Depois, fugi. Uma mulher com as saias levantadas corre mais depressa do que um homem com as calças em baixo.

Anónimo disse...

diálogo inter-religioso com terroristas:

...gulen-conference-in-melbourne/3446-muslims-catholics-and-the-common-purpose-of-justice-and-peace.html

Anónimo disse...

Pecado é quando me afasto de Deus.

Anónimo disse...

Pecado é o que me afasta de Deus.

D. R. disse...

pecado não é uma palavra assim tão passada de moda. as pessoas é que tendem a perdoar-se a elas próprias com muita facilidade. e acabam por esquecer-se dos seus pecados. acabam por não pedir perdão a Deus. daí evitarem a palavra "pecado". para não se confrontarem consigo mesmas, entrarem na sua cabeça.

(tenho pensado nisto)

SM disse...

E o Pedro percebeu? É que acho que essa explicação se enquadra talvez mais na sua vivência do que talvez na dele. Tenho notado em vários textos seus, e considero sempre a hipótese de me enganar... mas há sempre uma pequena luta ou vigilância dentro de si para dar a vez a Deus e não a si mesmo. Esta frase mais uma vez parece denotar isso: "O homem querendo, na sua soberba, ocupar o lugar de Deus, tornar-se igual a Ele, acaba por se tornar o seu oposto". Parece que esta vivência o acompanha com frequência... fico curiosa, se assim é porque será?