(IN)COMPLETA 1
autoria Alexandra
Bateu à porta dez vezes seguidas. Ou por falta de respeito, ou por pressa, ou por acumulação de nervos. Abri a porta de rompante. Não conhecia o rapaz. Teria os seus dezoito anos. Cabelo desgrenhado, à moda. Calças rasgadas no joelho, à moda. Piercing na sobrancelha, à moda. O suor aparentava a corrida. Preciso falar, padre. Preciso que alguém me ouça. Ao primeiro olhar, apeteceu-me dizer que estava ocupado. Não era pela apresentação, mas pelo tom da voz. E foi o mesmo tom que o deixou entrar para o escritório. Imaginei tudo e mais alguma coisa. Álcool. Droga. Sexo. Fuga de casa. Falta de dinheiro. Mas o tom da voz fez-me pensar naquele Cristo que nós queremos ser. Entra em minha casa. Procurai e abrir-se-vos-á. Sentou-se logo, sem pedir licença. Sentei-me também. E disse para mim. Confia em Deus. Disse-lhe o mesmo. Confia em Deus. Sabe, vim agora de estar com outro padre que me fechou a porta. Não me deixou entrar em sua casa. Quis esquecer o tom de voz, mas ela ecoava nos meus ouvidos. Por momentos fechei os olhos... Pensei no outro. Na porta fechada. Estremeci e abri os olhos. Continuava ali sentado. O seu rosto tornava-se inexpressivo. Apenas umas lágrimas silenciosas iam caindo. Olhei-o sem o ver. Hesitei e duvidei. Fiquei parado, impotente. Aquela expressão de infinita solidão, de abandono, fez-me lembrar Ele. Lentamente levantei-me. Ele assustou-se. Não me mande embora. Não, só te quero abraçar. Estendi os meus braços fortes para aquele corpo frágil. Compreendi que aquela também era a minha tarefa: a mesma que escolheste para Ti. Dar a vida pelos outros. Os minutos passaram. Não ouve palavras... fiquei ali parado simplesmente a abraça-lo. Fiquei no mesmo lugar depois de ele sair. As minhas pernas quebraram, lentamente os meus joelhos tocaram o chão. Uma lágrima desceu pelo meu rosto. Uma lágrima de gratidão. Obrigado por me fazeres semelhante a Ti.
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E aqui está a minha escolha. Foi difícil efectuá-la, dada a diversidade de assuntos, conlusões, reflexões e escritas que aqui colocastes. Escolhi a da Alexandra (A Minha Tarefa) pela identidade e personalidade do confessionário captadas. Gostei que me colocasse assim. Tomara ter sido verdade.
Gostaria de mencionar honrosamente a TiAna (Corda Bamba) e a Joana (Nossa Igreja). Não escolhi a Joana porque assumi que apenas escolheria um texto. Não escolhi a TiAna por uma questão de escrita, pois eu não costumo usar muitas reticências. Além disso falta um final que seja resposta.
Acrescento ainda que alguns dos textos necessitariam, a meu ver, deste tipo de final que fosse resposta ou que obrigasse a uma reflexão mais profunda ainda. Porém, gostei muito do que li. Espero que o resto dos meus "penitentes" também tenha gostado. Há por aí muita gente a pensar parecido comigo, a sentir parecido comigo, a escrever parecido comigo. E foi muito interessante perceber como é possível conduzir um texto para muitos sentidos e sensações. Obrigado a todos. Qualquer dia repetimos a experiência.
Acrescento ainda que alguns dos textos necessitariam, a meu ver, deste tipo de final que fosse resposta ou que obrigasse a uma reflexão mais profunda ainda. Porém, gostei muito do que li. Espero que o resto dos meus "penitentes" também tenha gostado. Há por aí muita gente a pensar parecido comigo, a sentir parecido comigo, a escrever parecido comigo. E foi muito interessante perceber como é possível conduzir um texto para muitos sentidos e sensações. Obrigado a todos. Qualquer dia repetimos a experiência.
Abraço amigo a todos os que contribuiram para a (In)completa 1
7 comentários:
Olá conf.!
No dia que escrevi este final não o escrevi para ti, nem para os outros penitentes.
Escrevi-o para mim mesma. Geralmente o meu papel é o do padre, mas nesse dia era o do rapaz.
Cabelo preto comprido, calças de fazenda, blusa branca de cetim,brincos e anel a condizerem. Sem suor, apenas um cheiro a rosas.
As palavras eram calmas... mas não sabiam a nada.
Nesse dia eu precisava de um abraço.
Um daqueles abraços que só Ele pode dar.
E simplesmente tive-o ao escreve este texto.
Tive o abraço,as lagrimas, a gratidão.
Um abraço!
Alexandra
Parabéns pela ideia, Confessionário! Foi uma experiência muito interessante. Concordo inteiramente com as escolhas, a Alexandra pela qualidade de escrita e pelo “estilo Confessionário”, e a Joana e a TiAna pelas melhores ideias sobre qual seria o problema do rapaz. A minha resposta foi baseada numa história real, em que um rapaz da minha família só arranjou Sacerdote para a Missa de corpo presente da avó à quarta tentativa, cada uma com contornos mais mirabolantes que a anterior. Tentei reduzir, mas mesmo assim fugiu às regras de dimensão e não era nada o estilo do blog. Gostava ainda de perguntar como é que se arranja o selo de blog Católico. É que estes penitentes inspirados pegaram-me o “bichinho” de escrever.
Clara
Olá, Clara
Obrigado pelo apoio. lol
Quanto ao sêlo, clicas sobre ele e guardas a foto no teu Pc, e depois colocas no blogue... simples.
beijitos
Olá bom dia,
Foi de facto, enriquecedora esta experiência.
Parabéns para a Alexandra pelo magnifico final, ao Confessionário também pela excelente escolha.
Recentemente precisei de um abraço, mas apenas um abraço, e de facto ninguém das minhas relações, entendeu a necessidade, ou sentido/significado desse abraço.
Encontrei-O, de joelhos numa celebração.
Esse abraço não me foi dado por braços humanos, foi-me dado pelo próprio Jesus Cristo... Foi Real.
Abraços em Cristo.
Paula
Obrigada, confessionário, pela sua escolha e palavras.
Obrigada pelo seu blog.
... que o Espírito Santo nos conduza sempre neste caminho virtual/real! :)
Confiemos em Deus!
TiAna
Descobri hoje este seu blog.
Estou há aproximadamente 2 horas a ler algumas das suas publicações.
Reflecti e emocionei-me com várias.
Este texto fez-me vir as lágrimas aos olhos!!
Que bonito é sentirmos a mão de Deus!!
O meu obrigado e Parabéns pelo seu trabalho e continue também assim a ser um "pedacinho" de Deus.
Filipe
Bem-vindo, Filipe...
Sente-te em casa.
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