quinta-feira, junho 25, 2020

A Luiza está no céu a enfeitar igrejas

A Luiza já está no céu. Partiu esta manhã. Tinha um tumor que se alastrou, em pouco tempo, pela vida inteira. Ou por inteiro. Teve início num pequenino local do corpo e depressa arrastou a vida da Luiza. 
Há três semanas foi informada que iria para paliativos. Falámos, nessa ocasião, por videoconferência. Estava serena. Muito consciente, mas segura da vontade de Deus. Pedira no IPO para falar comigo. As lágrimas caíram sem força. Sorrimos e falámos abertamente e com naturalidade sobre a realidade. Fiquei rendido perante tudo o que falámos e perante a postura de fé, de temor a Deus e de realismo da Luiza, uma das minhas paroquianas que assumia com facilidade serviços paroquiais. 
A única coisa que pedira aos médicos fora uma visita rápida a casa e aos seus. Acederam-lhe ao pedido e, passada uma semana, mais coisa menos coisa, estive com ela, em sua casa, com o Senhor que lhe dei a comungar. Estavam os filhos. E o marido. Quando lhe manifestei a minha alegria por ver ali os filhos, respondeu que se tinham ido despedir dela. Assim, friamente. O marido começou a chorar e dizia que preferia partir em vez dela, ao que ela reclamou, dizendo. Tu vais na tua vez que eu vou na minha. Inclinei-me. De verdade que me inclinei sobre tamanha fé. Só faltou ajoelhar-me diante dela. Pensei-o, mas achei despropositado com a família ali ao pé. Mas disse-lhe que admirava a sua tão grande fé. Que Deus já lhe tinha reservado um lugar no céu. E que eu me sentia um privilegiado por ter tido a oportunidade de privar com ela. 
Quando saí de casa, saí com a certeza de que seria a última vez. Falámos mais algumas vezes ao telefone. Ontem mesmo enviara-lhe ao final da tarde, depois da missa que celebrara, uma pequena sms a dizer que rezara por ela e que tinha pedido a Deus que lhe segurasse nas mãos quando estivesse a ser mais difícil. As pessoas da paróquia vão contando coisas bonitas. Que preparou tudo para que tratassem do irmão que vive sozinho e precisa de cuidados. Que estava nas mãos de Deus. Que a esperava muita coisa bonita no céu. A uma comadre que insistia com ela que ainda haviam de ir as duas enfeitar e cuidar a Igreja matriz, ela respondeu que gostava muito, mas que, de certeza que no céu também ia ter muitas igrejas e que Deus lhe daria alguma para cuidar e enfeitar. 

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Esta é para ti, Diana, parte I"

7 comentários:

Anónimo disse...

Boa tarde Padre Confessionário. Pois, como a Luísa também imagino que no Céu, o Bom Deus também me vai dar como tarefa o que mais gosto de fazer.

Anónimo disse...

Fiquei com lágrimas nos olhos,

Ailime disse...

Boa noite Sr. Padre,
Um testemunho emocionante de grande fé.
Que a Luísa descanse em paz!
Bom fim de semana.
Ailime

Anónimo disse...

Testemunho enorme...

Anónimo disse...

A resposta da Luiza trouxe-me à memória um dia em que encontrei na praia uma conchinha muito bonita que parecia feita de renda. Tal e qual as rendas delicadas que a minha avó fazia, serão após serão, e que depois distribuia para enfeitar as casas de familiares e amigas. Foi assim que comecei a suspeitar que a avó agora está no céu a fazer conchinhas de renda que depois distribui para enfeitar as praias...
É uma ideia de que gosto, que no céu vamos poder ser criativos e fazer coisas interessantes. Por mim, até já pensei nos "postos" a que gostava de me candidatar (a ver se me deixam entrar eh eh eh). ME

Anónimo disse...

gostava de ser como a LUIZA
que grande testemunho de Fe

Anónimo disse...

grande texto e reflexão!