Quando saí de casa, no Domingo, para celebrar as missas, a manhã estava cinzenta. As nuvens pousavam, frias, sobre nós. As estradas estavam geadas. A aldeia onde ia celebrar a primeira missa ficava a várias dezenas de quilómetros. Pouca estrada se via o suficiente para ser desbravada com ligeireza. Cheguei atrasado uns oito minutos da hora prevista para a missa. Todos me esperavam dentro da Igreja, apesar desta também estar habitada pelo frio. Era, no entanto, menos fria que a rua.
Porém, enquanto atravessava a aldeia, a meio do caminho, veio ao encalço do meu carro uma senhora que me obrigou a parar com gestos de “espere aí mais um pouco”. Enquanto abria o vidro do meu lado do carro, fui-lhe recordando que já estava atrasado e não havia tempo a perder. Ela insistiu para dizer que precisava que eu marcasse uma festinha a santo tal no dia tal, que era a cerca de quinze dias desse Domingo. Era só uma missinha e uma procissão. Com a vida organizada para os próximos meses, expliquei que as coisas não se podiam tratar deste modo. Nem as festas religiosas se devem marcar só porque alguém, do nada, por mais bem intencionada que esteja, se lembre de tal.
Não consegui perceber propriamente o motivo de tal desejo e pedido. Mas o que mais me incomodou foi o que ocorreu depois que subi de novo o vidro do carro. A senhora que estivera uns quinze minutos ou mais à minha espera na rua fria, o que é de louvar pela coragem, e que desejava honrar o santo com uma missa e uma procissão, regressava então para os seus aposentos, para a sua casa que era logo ali ao lado. A missa daquele dia que a celebrasse eu e os outros que me esperavam.
E nós, padres, temos de continuar a acolher esta gente na esperança de que um dia percebam a verdadeira fé e a ter fé de verdade.
E nós, padres, temos de continuar a acolher esta gente na esperança de que um dia percebam a verdadeira fé e a ter fé de verdade.
3 comentários:
Ó padre, quando leio estas coisas, fico a pensar na paciência que vós, padres, tendes de possuir. Ânimo
Realmente...nem sei como teve a paciência de perder 15mn. Existe muitas pessoas na igreja que me deixam confusa. Sei que a fé de cada um deve ser respeitada, mas às vezes chateia-me sentir que sao essas pessoas que menos respeitam quem os tenta respeitar. E pergunto-me se não era preferível dar uns gritos do que ver e ouvir certas coisas.
Padre acho que te compreendo!
Tive conhecimento de que uma localidade vizinha tem uma procissão por mês. Primeiro pensei:"que devoção!", depois ao participar numa em honra a S. José percebi que a procissão não passava de um passeio, desculpa a comparação, além dos 4 homens que levavam o andor - com extrema dificuldade devido à idade - acompanhavam o padre mais 10 senhoras de alguma idade e eu. O padre rezou o terço e nem a voz das senhoras se ouvia por causa do esforço. Pergunto: são estes rituais que se pretende ou ações de fé, que não têm de passar por esforço mas sim por atos?
Este mês por ser "de Maria" esta localiddade tem 2 procissões seguidas. Uma à noite na próxima sexta-feira e outra no domingo 13 de maio à tarde. Perguntei porquê e responderam:"porque sim!". A questão é: se Nossa Senhora pediu que rezassem o terço porque não fazê-lo mais a miude em vez de uma das procissões? Será assim tão importante o ritual em vez das ações?
Percebo-te quando já estas atrasado para celebrar e em vez de te acompanharem na eucaristia, voltam costas para ir para casa... pedem-te procissões porque sim e não participam na missa para alimentarem a fé! Que raio de Igreja somos!
VL
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