sábado, dezembro 02, 2017

Os nadas do padre João

O padre João tem, muitas vezes, a vontade de não fazer nada. Tem vontade de fugir para coisas que sejam iguais a nada, desinteressantes, desnecessárias. Tem aquela vontade de fazer o que apetece sem que uma obrigação moral, doutrinal, funcional e até espiritual lhe esteja colada como um cordão umbilical à sua progenitora. Gosto particularmente desta comparação para explicar o estado do Padre João. Sabe-se que a intimidade que o novo ser possui com a mãe lhe advém dessa religação de ser, o cordão umbilical. Mas também se sabe que se não se corta, nunca será o verdadeiro ser para o qual esse cordão serviu. A vontade do padre João fugir é, portanto, a vontade de ser, tal como a mãe natureza, a que eu ouso chamar de Deus, teve o ensejo de vocacionar. Ser verdadeiramente padre.
Não sei muito bem como falar do padre João. As palavras tornam-se tão confusas como a cabeça dele neste preciso momento que, afinal, já se vem arrastando há semanas. O padre João está cansado de ser e de viver à custa do que os outros esperam dele. Quando decidiu dar este rumo à sua vida, prometeu que iria dedicar a sua vida àquilo que Deus esperava dele. E agora sente que está a fazer, não o que Deus espera, mas o que os outros esperam, o que nem sempre, ou quase nunca, coincide. Por isso se vê tentado a não fazer nada, a fugir, a esconder-se para se sentir ele próprio, a desaparecer para poder ser. O padre João está com vontade de não fazer nada. Esse nada que, afinal, é tudo o que ele queria neste momento.

11 comentários:

Anónimo disse...

O teu padre João comoveu-me e fez-me chorar.

Dulce disse...

Gosto muito do seu blogue...

Quanto ao padre João. Pois, percebo. Não é fácil. Estar disponível para os outros é sempre difícil , sobretudo em comunidade e quando muitos dos membros dessa comunidade pensam pouco em Deus. Se pensam pouco porque temos de os servir? De os ajudar? De estar disponíveis?

É quase um atentado ao nosso ser...
Bom, não sei responder... cada um , incluindo o padre João, terá de descobrir. Num caminho que se faz caminhando.

Bom domingo!

Idalina disse...

Um dia destes o Pe. João faz como o Pe. Benjamim, de Jean Mercier, em “Senhor Bispo, o Pároco Fugiu”

Confessionário disse...

Idalina, acabei de ler na semana passada. Gostei imenso...
Talvez o pe João seja um Benjamim... ou talvez não.

Anónimo disse...

Espirito Santo de DEUS!... jamais pode pensar de fugir este PE João, estarei orando para para todos intercessores de de Deus para que ele tenha discernimento e sabedoria para resolver este conflito dentro dele. Como disse a Dulce descubra um outro caminho caminhando, tem que haver um atalho, uma curva ou seja uma estrada longa limpa cheia de verdes campos lado a lado, com sombra e água fresca. Ele nem precisa tentar fugir dos caminhos trilhados por Deus, mas sim seguir um outro em setores diferente e que Ele esteja sim sempre presente na sua vida. Todos nos na terra podemos sim fazer o que Deus espera ate mesmo em pequenos gestos,nada grandioso. Aqui somos passageiros do mesmo trem. Pra que bagagem.Muitas vezes o fazer nada pode ser fazer muito so buscando nas experiencia da vida que adquirimos toda uma bagagem. E viver uma vida simples com todos e com Deus, e nada de viver para somente para os outros eleprecisa sim pensar nele como ser humano, vivente .

Anónimo disse...

A história do padre João tocou-me e fez-me pensar.
E o que me fez pensar foi esta tua fantástica afirmação:
"A vontade do padre João fugir é, portanto, a vontade de ser, tal como a mãe natureza, a que eu ouso chamar de Deus, teve o ensejo de vocacionar."
Foge padre João, foge para poderes ser o fruto sonhado por Deus, aquele que tens gravado a fogo dentro de ti.
Foge Padre João não te vergues.

Anónimo disse...

Uhmmm, fugir????
Não me parece coisa do "padre João"!!!
Pois isso não é solução..e há-de arranjar maneira de "fugir", mas para o sitio correto, tenho a certeza, pois o "iman" (Deus)funciona be.
Bj

Confessionário disse...

"A vontade do padre João fugir é, portanto, a vontade de ser, tal como a mãe natureza, a que eu ouso chamar de Deus, teve o ensejo de vocacionar. Ser verdadeiramente padre."

Anónimo disse...

Que ideia maravilhosa de fugir para o sitio. Ouvir o barulho do vento, o cantar dos pássaros, o barulho das água. O cheiro da relva caso ainda tenha neste local. E dai só conservar... Uma vez padre sempre será padre. Ch M.

Anónimo disse...

Para ti é "... Ser verdadeiramente padre.", para cada um será diferente, importa é que o façamos em sintonia com o que Ele inscreveu em cada um de nós.
Enfim a cada qual a sua vocação.
E foi por isso que eu te disse lá atrás para fugires e realizares o desejo de Deus na tua vida, sendo tu, verdadeiramente, em tudo o que fazes.
Sê feliz Padre e se sentires que tens de fugir, então foge para seres VERDADEIRAMENTE PADRE, mas sê-O sem reservas!
Forte Abraço
PR

Anónimo disse...

Essa do ter vontade de fugir ou de nada fazer faz-me lembrar a história do profeta Jonas. Sempre actual... Uma das crises dos padres (e não só) passa impreterivelmente por confrontar-se com essa contradição/paradoxo: o que as pessoas querem dele nâo é o que ele tem para dar. Da resolução deste enigma depende a sua sobrevivência. E cada um tem de encontrar a sua resposta...