terça-feira, dezembro 05, 2017

Missas de Natal

Não sei como fazer para marcar tanta missa no dia de Natal, comentei com uma paroquiana de umas das minhas aldeias, no ensejo de que me aliviasse o peso de não saber que fazer. Como todos os cristãos compreendem que as coisas estão cada vez mais difíceis a este nível, também a Sandra compreende. A primeira coisa que disse foi um longo e pesado Pois. E acrescentou que as coisas estão a ficar complicadas. Mas decidiu dar uma ajudinha e perguntou porque não arranjava um padre.
Primeiro ri-me. Depois respondi que um padre já eu tinha arranjado. Eu mesmo. E por último pedi-lhe que arranjasse ela um. De facto parece que a nossa obrigação de padres, quando não podemos fazer certas celebrações, é a de arranjar padres. Outros padres que nos substituam. Mas poucos casais se preocupam em arranjar filhos padres. 
A Sandra também sorriu porque entendeu. Mas depois foi citando, um a um, nomes de padres que ela pensava que estavam disponíveis, isto é, sem paróquias. Contudo, um a um, todos os nomes que referia são agora párocos. Em verdade, não é fácil encontrar um padre disponível para ajudar outro padre, porque todos, afinal, vão precisando de ajuda. Entre sete, oito e mais paróquias, não há como celebrar missa de Natal em todas. Além de ser humana e praticamente impossível, é esquecer que a verdadeira missão da Igreja está muito para além das missas. Elas são o centro da vida cristã, mas ainda é mais importante a vida cristã. Os padres têm-se gastado a celebrar missas, porque não há padres para celebrar tanta missa. E depois sobra pouco tempo para anunciar a Boa Nova da salvação, essa que Jesus nos trouxe quando nasceu. Além disso, deixem-me dizê-lo. O Natal é muito mais que a missa de Natal.

16 comentários:

Anónimo disse...

Concordo...
Porque Natal, Natal, devia ser todos os dias, mas nos outros "Natais", o Domingo em que há missa, e onde o sr. padre vai, essas pessoas afinal não têm tempo!!!
Bj

Febe disse...


Tudo é movimento….na espera do Messias…

Os magos partem das suas terras em seguimento de uma estrela indicadora…
Os pastores procuram as pastagens melhores para o seu gado, onde vão ser surpreendidos pelo coral de mensageiros…

O Baptista percorre o deserto a preparar os caminhos, chamando à conversão…
Maria e José largam a sua Galileia, na direcção de Belém.

O Cosmos prepara-se para a grande noite onde Deus se faz vizinho dos homens…a noite mais longa do ano do nosso hemisfério toma proporções inesperadas.

Tudo é canto…tudo é luz..tudo se move em direcção à casa do pão ” as colinas saltam como cordeiros”.

O nosso coração move-se em direcção ao “Menino que nos é dado, ao Filho que nos nasceu” … e sente mais agudamente as vezes em que não atendeu, que não entendeu a mão que se estendia e que não era outra senão a Daquele Menino, que sempre nos procura hoje , amanhã, aqui, além, de muitas formas, em muitos tempos…

Há ainda a missa de Natal...

Anónimo disse...

Padre, mas tu és contra as missas de Natal?! Não achas que é uma missa bonita?!

Febe disse...

Est post faz-me sempre lembrar os padres em "sub-emprego" só com uma paróquia e coadjutor ou ainda os monges, q celebram sòzinhos para um Deus, que tanto gosta de companhia...

Confessionário disse...

05 dezembro, 2017 17:005 dezembro, 2017 17:0
claro que gosto, e ainda gosto mais da missa de Páscoa, porque foi para isso que Jesus encarnou...
... mas não dá para celebrar missinhas de Natal ou de Páscoa a correr porque se tem de ir celebrar outra a seguir... como se Deus salvasse porque o padre corre corre com missas às costas

Anónimo disse...

Padre,
será que os teus paroquianos estão preparados para celebrações da palavra orientadas por Ministros Extraordinários da Comunhão? cada vez mais estão a tornar-se uma realidade...
VL

Confessionário disse...

VL
Têm habitualmente, ou por um diácono permanente ou pelos ministros Extraordinários da Comunhão existentes na paróquia. Esse caminho está a fazer-se. Mas o Natal é o Natal... heheheh

Ângela disse...

Neste ano veio um pai inscrever o miúdo na catequese só que nós já não tínhamos vagas. 27 miúdos numa turma e chega. Depois é muito difícil um catequista dar conta de tudo. O pai, muito revoltado, pergunta porque não abrem uma segunda turma. Expliquei que não temos catequistas. "Ai não? Arranjem-nos!", disse ele. E eu perguntei-lhe "Não quer vir para catequista? Estamos sempre a precisar!." "Ah, não tenho tempo, tenho uma vida muito ocupada." "Exato, está a ver? É muito difícil arranjar pessoas com disponibilidade para ser catequista." O pai calou-se e foi procurar vaga noutra igreja.

O sr. Padre fez bem em pedir à sua paroquiana que fosse ela a arranjar um padre!

Anónimo disse...

E que tal uma missa única na sede de concelho por exemplo? Congregar fiéis de várias paróquias numa só celebração? Seria Lógico... Acho que a boa parte dos paroquianos entenderia, dada a falta de Padres.

Se os pais fazem kms para ver um jogo de futebol ou um espectáculo de dança dos filhos, também fariam kilómetros para a missa de Natal se fizessem questão de estar presentes.

Eu pelo menos faria se assim fosse preciso... Hum, mas na minha zona isso não funcionaria.. E porquê? Porque as pessoas que frequentam e fazem questão da missa de Natal não conduzem ou já não têm saúde para o fazer. Ou porque felizmente têm a casa cheia - Os filhos, os netos... Mas os filhos e os netos não fazem questão da missa de Natal e acabam por não os acompanhar.

Conf

Será que o problema está mesmo na falta de Padres?

SL

Confessionário disse...

SL

O problema é muito mais profundo que a falta de padres.
Creio que se houvesse ainda mais falta deles, era bem capaz de ser mais fácil ir ao essencial... mas é so a minha opinião!

Anónimo disse...

O problema será a crise de valores (a nivel geral) e também o péssimo exemplo que o "clero" nos tem transmitido ao longo dos anos.

É bonito ser padre mas que sejam os filhos dos outros.

Hoje como mãe de um rapaz em idade de decidir a vida, não lhe consigo aconselhar essa via, e tem simplesmente a ver com a hipocrisia em que a maior parte dos padre vive.

Os padres são homens como os homens, mas como os homens também têm de saber impor respeito, especialmente com o seu próprio comportamento, tendo o cuidado, no mínimo, de serem discretos.


Confessionário disse...

07 dezembro, 2017 11:38

Não me parece que a questão passe pela crise de valores ou o exemplo do clero.
Penso que nem tem necessariamente a ver com que escrevi neste post.
É certo que há uma crise de valores e testemunhos de padres que não são os melhores.
Mas, porque é que há crise de valores? E porque se há-de dar tanta importância ao testemunho dos padres quando o que interessa realmente é Jesus?
Na minha opinião, o problema está na fé, ou melhor, na falta dela.
Pois à fé correspondem determinados valores; à fé pouco interessa o testemunho dos padres (que são humanos e frágeis, e que deveriam ser muito melhores, sobretudo coerentes; mas até isso me parece uma redundância, na medida em que se a fé estivesse mais presente, haveria outro tipo de padre).
Precisamos todos voltar a Cristo. Nessa ocasião, as missas de Natal teriam mais verdade, e não haveria problemas em ter de ir a um outro local à missa.

Gui disse...

Enquanto Cristo JEsus não for o centro da fé e não a tradição, a repetição de um gesto que se faz desde a infancia será sempre dificil.
"Como é que o padre não quer dizer cá missa? Porque é que há de ser lá na vila? Sempre cá houve!!
Até mesmo a falta de transportes se controlava se a vontade fosse celebrar verdadeiramente o natal.
Se conseguimos estar horas para estacionar um carro no parque de um qualquer centro comercial, de ir longe para encontrar aquela prenda, também nos éramos capazes de organizar para passar na casa daquela velhota que está sózinha, daquela família que vive lá mais isolada e nem tem carro e ir até um local mais central celebrar o nascimento e a ressurreição.
À uns tempos acharia utopia conseguir isso mas consegue-se.

Anónimo disse...

"Não me parece que a questão passe pela crise de valores ou o exemplo do clero." não será a fé um dos valores mais importantes na vida do homem?
Defendo que o exemplo é a forma mais eficaz de educação, sem exemplos credíveis o apelo não ganhará forma.
Digo eu que sou leigo.

Confessionário disse...

09 dezembro, 2017 12:09

Isso quase me parece fazer depender a fé do clericalismo. A Igreja não deveria andar á volta dos padres, mas, repito, de Cristo. A fé é que deve educar. Os padres têm um papel primordial na transmissão da fé, mas não é exclusivo. Aliás, creio que, falando de testemunho, o papel dos leigos nesse âmbito é muito mais importante.
Pessoalmente, tenho dificuldade em fazer depender a fé do clero! Peço desculpa, mas eu defendo uma Igreja menos clericalizada e menos dependente do clero. Repito que nós temos um papel essencial, pela nossa vocação, missão e formação, e isso verifica-se em determinadas etapas do crescimento da fé. Mas, para mim, fazer depender a minha fé de um padre é quase o mesmo que faz~e-la depender da Igreja, quando ela deveria depender de Cristo com a ajuda da Igreja...

Anónimo disse...

"O Natal é muito mais que a missa de Natal." Mas note-se que o Natal tem uma relação muito especial com a eucaristia. No Natal há três missas diferentes: a da noite (do galo), a da aurora e a do dia. Sem contar com a missa vespertina, que também tem um formulário exclusivo. E aos padres é concedida licença para celebrarem três missas no Natal (quando a norma diz que os padres só devem celebrar uma vez por dia, no máximo duas se houver razões pastorais para tal). É uma tradição muito antiga, originada em Roma, a partir da prática litúrgica papal.