Estão ambos fora do país há muito. Agora pretendem casar, e já marcaram uma data do próximo ano. Querem casar pela Igreja num dia que coincide com outro compromisso idêntico que assumira anteriormente. Como tal, falámos da possibilidade de não ser eu a presidir e, eventualmente, não ter missa. Em princípio concordaram, e assim assumimos, juntos, essa data. Ontem vieram falar-me de novo e referiram que queriam com missa. Depois de uma pergunta discreta, descaíram-se dizendo que não costumavam ir à missa. Só quando estão em Portugal, cerca de três meses, e nem sempre vão, mesmo nessa ocasião. Mas querem missa, e perguntei o porquê da insistência. Ao que responderam que senão não era a mesma coisa.
Claro que não. Uma coisa é uma Eucaristia e outra uma celebração sem Eucaristia. Estamos de acordo nisso que é uma evidência óbvia. Mas insistir que deve ter missa, quando ela tem pouco sentido nas suas vidas, o que pensar?! E lá vem outra vez a questão cultural dos sacramentos.
15 comentários:
Pobres padres. Pobre povo. Onde estás riqueza em Jesus Cristo?!
Lá está... Fazer porque é bonito!!!
Mas e o significado, onde fica? Onde está Deus presente naquelas vidas? naquela "festa", sim porque o importante é a festa.
Sem querer ofender ninguém, penso (até tenho a certeza) que ás vezes nem se dão conta se é missa ou uma celebração.
Baptizados, casamentos, funerais: com missa ou sem missa? A questão vai dando algumas dores de cabeça. Por um lado, há o significado teológico (a manifestação da relação dos sacramentos com a celebração eucarística) e a prática do passado (tudo era com missa), cujo eco ainda permanece na mentalidade.
Por outro, há a gestão das celebrações por parte dos padres, cada vez mais sobrecarregados. E em muitas zonas do país, os leigos a presidirem aos funerais ou a existência de diáconos permanentes deparam com resistências e são coisa ainda rara.
Por outro lado ainda, há a questão da congruência, como o Confessionário refere, quer relativamente aos directamente envolvidos, quer relativamente aos convidados ou restantes participantes.
Em alguns lugares, opta-se por regras gerais: só se o baptizado for incluído na missa da comunidade; só se o casamento não for ao domingo; só se for a primeira celebração a ter sido agendada; só se for gente envolvida na paróquia; etc. Ganha-se em clareza, perde-se na adequação. Discernir caso a caso, porém, exige um grau de diálogo difícil e nem sempre possível.
Com respeito ao caso concreto mencionado, há a possibilidade de ver as coisas noutra perspectiva. Não sendo praticantes frequentes, em que é que a ausência de missa no seu casamento os vai ajudar a melhorar? Sentir-se-ão com mais vontade de participar na missa dominical? Talvez se pudesse ver a proposição da eucaristia como um acto de confiança e um apelo ao compromisso. Não olhar tanto para o que foi até agora, mas mais para o que pode ser daqui em diante. Uns dirão que é um desperdício, um contra-senso, um anti-testemunho e uma péssima catequese. Talvez.
E não esquecer que é preciso dar algum desconto aos emigrantes (mesmo que seja tramado lidar com a arrogância e a ignorância que alguns teimam em demonstrar). Participar na missa dominical não é assim tão simples. Normalmente, são países com menos sacerdotes que o nosso, e por isso menos celebrações. Pode ser preciso fazer uns bons quilómetros. Depois, há a barreira da língua (um assunto bem mais complicado do que parece). E se alguns países até estão bem servidos de missionários portugueses, noutros rareiam. Por fim, há a questão dos horários de trabalho: para muitos emigrantes, os empregos disponíveis implicam trabalhar ao fim-de-semana.
Gostei bastante da análise do JS.
A proposta final é muito interessante, mas acredito que seja difícil lidar tantas vezes com esta coisa!
Tb achei a sugestão do JS muito interessante. Mas convém informar que ela já foi muitas vezes utilizada sem os frutos que se esperavam (falo pelo que já vi, claro!).
Aproveito para manifestar o meu espanto, e dor, perante a notícia de que um padre terá recusado, ou se terá excusado, a realizar o funeral de um bébé. Sendo que, se bem me recordo, já tinha vindo a lume um outro caso este ano (noutra localidade).
Confesso não ser sabedor da história toda e de não estarem claras todas as versões. Mas, segundo a notícia, o argumento invocado pelo padre seria de que "a criança não precisa". E a cúria, contactada, teria afirmado que a decisão do padre estaria de acordo com o direito canónico. No mínimo, estranho.
JS, deve ser um caso de criança não batizada... imagino pelo que afirmas. E tb é verdade que ela não precisará, como cada um de nós não precisa disso para ser salvo. Mas soa-me a mais uma daquelas intransigências que não fazem sentido real! mas são apenas suposições!
Também foi isso o que me veio logo à ideia, Confessionário: tratar-se-ia de uma criança não baptizada? Parece não ter sido o caso. Mas mesmo que fosse.
O ponto de partida é claro: as exéquias cristãs destinam-se aos cristãos (e para se ser cristão é preciso pelo menos ser-se baptizado). Logo, por princípio, não há razão de ser, não há obrigação, não há direito a um funeral cristão por parte de quem o não é. Só que a norma não se fica pelo princípio geral: presta atenção a casos particulares, e concretamente ao de uma criança por baptizar. E aí, afirma-se a possibilidade de se celebrarem cerimónias cristãs. Por isso mesmo se introduziu no missal uma missa especial para este tipo de casos, e o ritual apresenta o respectivo esquema. E essa tem sido a prática comum nas paróquias. Está previsto que seja preciso a autorização do bispo, mas, ao que julgo saber, ela tem sido dada implicitamente.
Isto significa que a Igreja reconhece existirem razões que possam justificar essa opção (de realizar o funeral). Uma delas é mesmo explicitada: se tivesse havido a expectativa de que a criança viesse a ser baptizada. Sendo assim, a recusa das exéquias já não pode ser legitimamente defendida apenas com base no princípio geral; fará falta também que as razões a favor da prática não se verifiquem, ou que as razões em contra sejam mais ponderosas.
Já no caso de a criança ser baptizada estamos a falar de uma obrigação da Igreja e de um direito estabelecido a um funeral cristão.
Aí, fazem mais sentido as palavras que terão sido ditas pelo sacerdote: "o bébé não precisa que rezem por ele"; mas só até certo ponto. Certo, uma criança baptizada não precisa de sufrágios nem de intercessões; mas também não é com esse objectivo que se celebram as suas exéquias. Neste caso, a Igreja celebra a certeza de que aquela criança já se encontra junto de Deus. É uma celebração "festiva", patente nos textos que se usam e também nos paramentos brancos que se utilizam. Antigamente, que não havia formulários próprios, recorria-se a uma missa de festa, normalmente a dos Anjos. Sendo que há aqui também um especial cuidado em rezar pelos pais e familiares da criança falecida, pois se reconhece tratar-se de uma situação particularmente dramática e que põe duramente à prova a sua fé.
Portanto: a criança não precisa; mas precisa a Igreja de reafirmar a sua fé, precisa o mundo desse testemunho e precisam os pais de tudo o que os possa confortar na tremenda dor por que estão a passar.
Para mim (e quero acreditar que sim), a situação dever-se-á à enorme sobrecarga de trabalho dos sacerdotes, típica nesta altura do ano, e que leva alguns deles a socorrerem-se da menor desculpa ou pretexto para se libertarem de mais um peso, sobretudo se não previsto nem agendado de antemão (como acontece com um funeral). Seria um pouco mais compreensível, mesmo que continue a ser inaceitável (e particularmente escandaloso, precisamente por se tratar de um funeral e, ainda para mais, de um bébé).
JS, não conheço a notícia, mas subscrevo o que dizes!
Confessíonário hoje o meu comentário vai para o JS.
Gosto imenso de o ler e partilho quase sempre das suas opiniões.
É bom tê-lo de volta, pois já há muito que não dava sinais de vida.
Quer-me parecer que também o Sr.Padre partilha desse gosto.
Por isso permita-me fazer-lhe um pedido, ou antes uma sugestão, faça uma parceria com o Sr.Padre e os dois em conjunto comentem tudo e mais alguma coisa.
E porque não um consultório? (Não astral nem amoroso) porque cristão que não tem dúvidas,alguma coisa não está bem!
Desde já vaticino sucesso garantido.
No que toca a proveitos financeiros ,isso deixo para vós a partilha,estou certa que se entenderão.
Espero encontrar da vossa parte acolhimento das minhas ideias e fico ansiosamente a aguardar um final feliz.
Um abraço.
Maria Ana
Olá, Maria Ana
Gosto muito dos comentários do JS, onde se aprende sempre algo mais ou se reflecte mais fundo. Há ocasiões em que discordo, mas são muito poucas. E tenho-lhe uma grande admiração, pois dá-me a sensação que está sempre dentro dos assuntos (e não é padre!). Sim, tb tenho saudades dos seus comentários. São daqueles que mais me fazem caminhar, porque me obrigam a ver outros lados da coisa. E escreve muito bem, ou melhor, não precisa de uma escrita muito elaborada para que se goste de ler. Eu escrevo de modo um pouco mais lírico e sentimental. Não há comparações possíveis. Mas ele é um grande comentador… tipo Marcelo… ahahahah…
Quanto ao convite que lanças, não sei que te diga, pois não sei como seria possível essa mistura! Além disso, para pena minha, não nos conhecemos pessoalmente. É uma coisa daqui. Eu sou o confessionário e ele o JS. Não sei se ele porventura sabe quem sou. Mas de todo eu não sei quem é. Por acaso, ó JS, um dia destes podíamos marcar um encontro, um copo, um café, um almoço…
Sr. Padre se esse dia se proporcionar, eu também quero ir.
E agora vou ser como as crianças... oh por favor,por favor,por favor!
Maria Ana
Confessionário, Ana:
Certamente um dia os nossos caminhos se hão-de cruzar. :)
Quanto às minhas visitas a esta casa, remeto para o que deixei escrito há uns tempos atrás.
Um forte abraço!
Enviar um comentário