domingo, janeiro 11, 2015

Como penso que deveria ser um bom guia espiritual

Um dia destes uma paroquiana, com idade para ser minha mãe, entrou pela sacristia dentro só para me dizer que tinha uma admiração especial pelo padre da freguesia, sobretudo porque tinha sempre uma palavra, uma resposta, um caminho para apontar às suas inquietações. O senhor padre é um bom guia espiritual. Agradeci amavelmente e prossegui nos meus afazeres, para que a vaidade não subisse para cima da mesa de altar. No mesmo dia, porém, e talvez para o Senhor Deus reforçar a ideia de que o altar não tem espaço para vaidades, alguém se dirigiu a mim para uma outra palavra, num sentido quase igual, mas diametralmente oposto. Tinha idade para ser minha irmã, a senhora que me disse que não entendia como tinha sempre uma palavra, uma resposta para todas as perguntas que me eram feitas. Não se coibiu, inclusive, de acrescentar que lhe dava ideia de que eu tinha a mania que sabia tudo. Mas não sei. E também não sei se quero saber tudo, pois acho que no dia que soubesse tudo, deixaria de caminhar. Acabei por partilhar com esta segunda senhora o que há muito me parece uma verdade, ainda que não tenha a certeza. Um bom guia, inclusive ou sobretudo o guia espiritual, não é aquele que tem todas as certezas, mas aquele que as aponta.

5 comentários:

Bruno disse...

Bom dia e um bom ano (na graça de Deus... nos bons e maus momentos).
A última frase leva-me a pensar outra coisa. Um bom guia (espiritual ou não) é aquele com quem temos empatia para vermos como um amigo. Da mesma maneira que pessoas diferentes esperam coisas diferentes de um guia espiritual, a mesma palavra dita por pessoas diferentes pode ter em nós um efeito totalmente oposto. Um simples aviso/alerta (dito com as mesmas letras e sinais de pontuação) tanto pode ser entendido como um conselho que iremos seguir, como ser entendido como uma censura que só nos apetece continuar a fazer para desafiar... depende de quem o diz.
Ou seja, parece-me que um bom guia deve ser aquele que conhece os "guiados" para saber se precisam de uma palavra, ou simplesmente de serem ouvidos na maioria das vezes. Há quem prefira a primeira opção, há quem prefira a segunda. Resta tentar perceber qual a mais adequada.

Anónimo disse...

"Um bom guia, inclusive ou sobretudo o guia espiritual, não é aquele que tem todas as certezas, mas aquele que as aponta."
Concordo, pois acho que saber "apontá-las" também não é fácil, pois cada pessoa é diferente, e mesmo apontando as mesmas certezas,tem que ser apontadas com outras palavras, pois nem todas as "ouvem" da mesma maneira.
Mas pode continuar, porque eu sei que o senhor encontra sempre a melhor maneira de as apontar, porque o seu "Guia" não o"larga".
MM

Anónimo disse...

"a mania que sabia tudo"
A maior parte dos padres tem mesmo a mania que sabe de tudo e esse quanto a mim é um problema digno de nota.
Prepotentes pavoneiam-se como se fossem senhores da "verdade" que há muito esqueceram ou diria mesmo que nunca conheceram.

O tal bom guia espiritual deveria ser antes de mais humilde, muito humilde, aparentar apenas a génese de que também é constituído e não tem que ter certezas absolutas nem a obrigação de apontá-las a todas, a sua tarefa é antes demais conduzir a pessoa ao encontro pessoal com Deus e com a fé, as certezas só são válidas quando adquiridas por conta própria, caso contrário existirá sempre o "condor" da dúvida.

"Um bom guia (espiritual ou não) é aquele com quem temos empatia para vermos como um amigo. Da mesma maneira que pessoas diferentes esperam coisas diferentes de um guia espiritual, a mesma palavra dita por pessoas diferentes pode ter em nós um efeito totalmente oposto."

"depende de quem o diz." na minha opinião depende da forma como o diz da intenção com que o faz... É que isto percebe-se.

Anónimo disse...

Até estou de acordo com a tua espíritualidade, para transmitir aos
teus guiados!.. Mas pensa um pouco.
Para entrar no santuário duma alma, é preciso muita experiência de Deus!
Pois hà zonas dentro das pessoas que ainda não foram trabalhadas por Deus. O guia espíritua, tem que ajudar o guiado a ver o que precisa de fazer, para chegar às alturas a que Deus a chama. Penso que é bom ser amigo, ter confiança, paciência, e muita humildade. Acima de tudo é preciso uma grande carga de santidade.
Bom trabalho. Confiança que estás em bom caminho. Gostei da tua sinceridade e zelo pelos teus paroquianos.

Unknown disse...

Um bom guia espiritual, como você refere, a meu ver e antes de mais tem que ser uma pessoa disponível para escutar aquele que quer caminhar, aquela pessoa que lhe aparece à frente e diz quero seguir isto ou fazer aquilo.
De que vale ser humilde, paciente e até transmitir confiança se depois, na hora em que se encontra com a pessoa, não tem tempo para a escutar?? Por vezes os "guias espirituais" estão sempre cheios de pressa e atolados em trabalho e nos seus pensamentos, que nem tempo têm para olhar para pessoa que esta a sua frente. Pessoa essa, que pode ter tanto para dizer, mas que devido à falta de tempo e falta de coragem e facilidade em "deitar para fora" o que lhe vai na alma, acaba por fechar-se e ir embora, uma vez mais sem sentir-se realmente a caminhar. Sim, vocês não sabem tudo (normalíssimo, são humanos e acho que muita gente se esquece disso) mas nós, nessas alturas, precisamos de quem nos oiça sem pressa e sem julgar! De que serve marcar um encontro se depois o Padre não tem tempo e 15min depois diz, bem... então, ficamos assim... então e eu??? Então que faço? Para onde caminho?? Como disse o Bruno, «um bom guia deve ser aquele que conhece os "guiados"».. pois a mim as vezes apetece-me perguntar ao meu "que conhece você de mim??" Sabe qual seria a resposta? Nada! Ou então, remeteria-se ao silêncio. Porque a verdade, nua e crua, é essa: há falta de vontade e falta de tempo para conhecer aquele que quer caminhar, e assim fica difícil...
Já nos é difícil caminhar desacompanhados e com um "acompanhamento" assim, ainda mais.