quinta-feira, janeiro 17, 2013

Um medo meu

As coisas nas novas paróquias estão a correr bem, escrevia eu há uns meses no meu caderno de ideias ou apontamentos só meus. Relativamente bem, escrevi a seguir. E refiz a frase. O padre é novo. Sabe sorrir. Dizem que sabe falar. Dizem que é dinâmico. Que a paróquia agora não pára. A comunidade parece viva, a viver. Um novo produto vende. A imagem também e a do padre não é má. Quero pensar que sim. Mas a verdade é que a imagem que queremos passar aos outros tem muito a ver com os medos que temos. Um dos maiores medos do mundo, senão o maior, é o medo do que os outros pensam de nós. E paralisa-nos. Chega a atrofiar o que somos, a apagar o que de melhor temos, ou ainda a apagar-nos. Criam em nós um outro eu. Tiram-nos a possibilidade de sermos livres. De sermos autênticos. De sermos. E por isso tenho medo de estar a preservar mais a minha imagem que a imagem de Deus. Tenho medo de não ser imagem de Deus.

19 comentários:

Anónimo disse...

Boa tarde!
Magnifico este texto!
Permita-me usar parte desta mensagem ("Mas a verdade ..." até ao final) como base para uma reflexão com os jovens que acompanho.
"A autenticidade na vida do cristão e da comunidade", foi o tema sobre o qual nos propusemos refletir em conjunto.

Também eu tenho medo de não ser a
imagem de Deus.
Melhor dito, sei que não sou uma imagem fiel de Deus, e por saber disso tenho muito medo que Ele um dia me diga também, que eu não deveria ter nascido.



Confessionário disse...

Fico feliz por ser útil!

Anónimo disse...

Padre, o medo de facto paralisa-nos, entorpece o nosso caminho.
Sou leitora assidua do seu blog, parabéns! Há alguns anos.
Pelos vistos a imagem que os paroquianos tem de si é boa... e trabalha para quem e para quê? Para Deus, é a obra do Senhor que se materializa na sua acção e missão.
Como pode Deus não estar feliz consigo? Como?
A paróquia nova, viva e activa...quando estamos motivados, movemos montanhas.
Também tenho um caderninho onde escrevo os meus desabafos. É uma rica forma de terapia!
Continue, Deus seja louvado, por si e em si!

Anónimo disse...

Como tens medo de não ser a imagem de Deus? Olha confessionário, somos feitos à imagem semelhança de um Pai que nos ama desmesuradamente. Gosta de ti e de mim tal como somos e ama-nos muitissimo.Sou teu colega, e reconheço, também tenho estas crises existenciais. Segue o teu caminho, vais bem.

JS disse...

Olá, Confessionário. Folgo em ler que as coisas começam a rolar nas tuas comunidades. Quem vem seguindo as tuas partilhas foi constatando que a mudança de paróquias foi um momento duro para ti, também à conta da situação que foste encontrar, de que não estarias propriamente à espera, e que contrastava bastante com a dinâmica existente nas paróquias anteriores.
Agora começas a ver os primeiros frutos do teu trabalho, que são sempre uma fonte de ânimo e de esperança. Ou melhor: é o teu povo que começa a descobrir e a saborear os primeiros frutos da mudança de pároco, que, porventura, terá gerado neles algumas reticências e desconfianças naturais.
Percebe-se o que dizes acerca do medo sobre a imagem que os outros têm de nós. No entanto, tal preocupação é inerente à nossa condição humana, enquanto seres relacionais. E é muito mais instintiva do que podemos supor. Desde muito cedo uma crinaça capta que, quando os outros estão contentes com ela, isso resulta em seu benefício; e não tarda em saber usar isso, mesmo sem o compreender, manipulando os adultos que a rodeiam. Também na fase de enamoramento damos uma especial atenção à nossa imagem, mesmo inconscientemente, porque isso funcionará como atracção para aquele ou aquela que desejamos venha a ser a nossa companhia para a vida. E, claro, no caso de uma figura pública e/ou com tarefas de liderança, a imagem é algo de muito importante para ser bem sucedido nos seus empreendimentos.
Eu diria que o problema não está na existência do receio, mas no deixarmo-nos dominar por ele, no ficarmos obcecados com a nossa imagem diante dos outros. Aí sim, é que uma pessoa passa a viver das aparências, ou a viver para agradar; e a hipocrisia torna-se a norma.

JS disse...

É certo que, com o passar dos anos e o acumular de experiências, uma pessoa tende a tornar-se menos combativa, menos ousada, com menos vontade de cortar a direito, contra tudo e contra todos. Mas isso também se deve ao percebermos que o caminho a seguir é para ser feito com as pessoas e não contra elas; que o provocarmos a hostilidade dos outros não vem propriamente ajudar o nosso trabalho; que podemos ter muita razão naquilo que pretendemos, mas tudo pode ser deitado a perder se não atendermos à forma de o apresentar.
Por outro lado, cada vez mais desconfio de frases como ”o que os outros dizem de mim não interessa”, ou “não me importa o que os outros pensam de mim”. Está-se perto de afirmar que os outras pessoas não interessam nem importam. E isso parece-me muito mau sinal.

JS disse...

Lembro ainda aquela máxima sobre a nossa identidade: uma coisa é o que nós pensamos que somos; outra coisa é o que os outros pensam que somos; e outra coisa ainda é o que realmente somos.

Anónimo disse...

"...um Pai que nos ama desmesuradamente. Gosta de ti e de mim tal como somos e ama-nos muitissimo. ..."

"motivados, movemos montanhas."

Gostei muito de ler este comentário.


Ana Melo disse...

Agrada-me essa inquietação!
É a inquietação de não querer que lhe façam altares, (porque se o padre deixa! É mais uma procissão!!!)

Se com todos os medos! O padre não têm deixado de: dar um sorriso largo ao homem do lixo, ao arrumador de carros, ao jardineiro da junta de freguesia, ou até passar (rápido) por uma festa de gente “mais vagabunda”, deixando de fora o olhar condenatório, objectivando um efeito “purificador”, lembrando os que quiserem ver, que logo ao lado da “estrumeira” está caminho seco. Ainda se os velhotes lhe sorriem, e se o garoto que joga à bola, a deixa fugir de modo a que o padre tenha de dar uma corridita.

Descontraia-se .(qualquer farrapo lhe fica bem).

Luz disse...

Boa noite.
Medos todos nós os temos,medo de não ter saúde, medo de não passar no exame , medo de não conseguir aquele emprego etc....medo disto, medo daquilo... enfim o ser humano tem medos...
Quanto o não ser a imagem de DEUS tranquilize-se pois, DEUS serve-se de si "todo" do seu sorriso, da sua juventude...da sua imagem... para mostrar o Seu Rosto
«Não tenhais medo»
Um bom fim de semana.

Unknown disse...

Fico feliz, Padre, por saber que as coisas estao correndo bem nas tuas paroquias e isso ja da um novo alento para continuar e, pelos vistos, para continuar com a mesma imagem e dinamica, pois esta agradando.
Acho que o medo e inerente a um qualquer que esteja num lugar de lideranca, pois ha sempre o perigo das mas interpretacoes. Com o tempo e um melhor conhecimento das pessoas ira surgindo uma maior confianca em ti e nos outros e desaparecera o sentimento de falta de autenticidade e poderas sentir
que estas cumprindo o que Deus quer.
Beijinho
Ruth

maria disse...

hummm...estou como o JS, não devemos desprezar a opinião que os outros têm de nós, mas tenta lá pôr em diálogo interior (se tiveres e puderes, depois partilha com alguém)estás mesmo preocupado com a imagem de Deus ou com a imagem que os outros têm de ti? ou com ser aceite? é que isto é comum a qualquer mortal. Fora disso é a busca de uma perfeição que em nós não existe. e só nos cria conflitos interiores (e exteriores). Infelizmente, isso cultiva-se na nossa Igreja. Aceita-te como és...a vida fará o resto.

beijinhos

Anónimo disse...

Todos nós, os que andamos pelo mundo, andamos à procura de qualquer coisa. Somos seres tendencialmente insatisfeitos. Essa procura é a mola que nos impulsiona a levantar todos os dias e a continuar. E como nós somos o nosso próprio ponto de partida, mesmo sem nos apercebermos, passamos a maior parte da vida à procura de nós próprios. Mesmo quando procuramos o outro. Não é voz corrente dizer que procuramos outro que nos complete? Está, pois, mais que visto, que buscamos no outro a parte perdida de nós mesmos. Ao fim-e-ao-cabo, continuamos a procurarmo-nos no outro.

O problema surge quando procuramos ver no outro não a parte que nos falta, mas apenas o aumento do brilho do nosso próprio reflexo. Neste caso, por muito luminosa que seja a imagem espelhada, sabemos sempre tratar-se de um nosso falso reflexo. E esse autoconhecimento, mais cedo ou mais tarde, turva o nosso brilho natural. Ainda assim, insistimos. Muitas vezes nem é por vaidade, mas simplesmente devido a uma inerente necessidade de amor ou de aprovação. Transformamo-nos em função do outro. Daquilo que pensamos que o outro gostaria que nós fossemos. Ou do que nós gostaríamos de ser para mostrar ao outro uma imagem melhorada. E, dizemos, que é falta de autoconfiança. Que fulano ou sicrano não é autêntico porque não gosta si como é.

Mas não nos mostramos como realmente somos porque não temos confiança em nós, ou porque não temos verdadeira confiança nos outros? E não confiamos porque os outros não merecem confiança, ou porque nós não somos capazes de confiar? E, é por estes e outros medos, que passamos a maior parte da vida sem nos relacionarmos autenticamente com os outros. Vivemos a meio gás. Por medo. Mas medo dos outros. Em nos confiarmos.

Anónimo disse...

Que cena! Este comentário ficou muito perdido e esquisito! É o que faz escrever e ver televisão ao mesmo tempo! Como diz um conhecido meu: “Nunca faças isso, convence-te: o teu cérebro não comporta”! E não mesmo. Coitadinho (do meu cérebro), não tem a profundidade suficiente para poder mergulhar em coisas profundas, sem bater com a cabeça no fundo e ficar profundamente magoado! Até fiz um galo! (Que logo hoje cedo me acordou!!!).

Anónimo disse...

Tenho ME-DO do papão!

Anónimo disse...

Não sei porque receia o que os outros pensam de si. Receie antes o que Deus pensa de si. Não o conheço, nem tenho a mínima ideia de quem seja, mas por vezes parece-me um paradoxo.

Confessionário disse...

Olá, anónimo de 16 de Agosto de 2013, não se trata de receio do que os outros pensam, mas de não ser imagem de Deus! Se calhar não percebeste bem o texto! lol

Soulmate disse...


Olá, olha sou a anónima de 16 de Agosto de 2013
Não sei porque postei aquilo. Desculpa.
E agora tentei pensar e sinto que não cheguei bem lá.Se calhar nem bem nem mal : )
Este texto deu-me a volta à cabeça!
Mesmo assim arranhei qq coisa!
Pensei e se fosse eu, se fosse comigo… ? …se a imagem que quero passar (considero queremos = eu quero), está relacionada com o medo particular do que os outros pensam ou podem pensar de mim, algo que me paralisa, atrofia, apaga, me tira a possibilidade de ser livre e autêntica, a principio deixa-me apreensiva, parece-me estranho… Deus dá-nos naturalmente a liberdade!? Deus, dá-nos naturalmente a autenticidade!? Se algo me tira a liberdade então sou prisioneira, talvez escrava. Serei escrava da imagem que quero passar? Se sim, porque sou escrava? Sou escrava devido ao medo que sinto do que os outros pensem… (Então tenho medo de estar a preservar mais a minha imagem que a de Deus. Tenho medo de não ser a imagem de Deus! ) Medo que obtém como resultado Medo. Mas de repente pergunto-me … e se me apago por Ele? E se o que me tira a Liberdade não é afinal a escravidão, mas Deus? Como distinguir? Creio que se abdico da minha liberdade para fazer a vontade de Deus, serei livre, mas se abdico da minha vontade para servir o medo, sou escravo. Mas se eu me sinto incomodada(o) quando digo: apaga-me, tira-me a possibilidade de ser autêntica…” serão as exigências de Deus e fala a minha submissão ainda inconformada às exigências d’Ele? Ou ao contrário falo como o prisioneiro da minha própria prisão? Penso ainda, talvez Deus me exija bastante e tenha medo. Me exija no fundo do meu coração dar o meu melhor e isso se confunda com o meu amor próprio. Talvez Deus me fale da dignidade de um sacerdote e eu receie estar a valorizar-me… Mas sinto-me espartilhado por Deus ou pela fragilidade que há em mim? Pelo medo, pelo amor próprio de ser amado, de ser querido, de ser desejado, de ser reconhecido? Porque se é Deus, quando estou a preservar a minha imagem é a d’Ee que estou a preservar… e quando tenho medo de não ser a imagem de Deus é a Ele que estou a zelar. Mas se é a minha que preservo, se sirvo os meus medos, procurando esconde-los, encobri-los estou focado em mim, e quem se foca em si não está focado totalmente em Deus. Quem adopta uma atitude defensiva é porque tem algo a esconder ou com o qual não consegue conviver. Quem ama/se preserva a si mesmo mais do que a Deus, talvez não reflicta ainda muito a Deus… Mas quem ama muito a Deus também provavelmente possa sentir escrúpulos ou cuidados de se sobrepor a Ele. Mas desejo voltar ao principio… porque é que uns fazem a vontade de Deus e possuem força e outros fazem a vontade de Deus e possuem medo? Porque é que uns se sentem minúsculos ao pé das exigências de Deus e outros se sentem o próprio Deus? Saio fora do âmbito da reflexão. Talvez tenha afinal falado apenas com referência a mim mesma, talvez também não reflicta Deus… mas, que me importa, afinal sinto que sou d’Ele, e não sou senhora do que reflicto, só Ele é Senhor de Se reflectir quando entende, e uma vez que sou d’Ele, ora Ele, ora eu, a minha felicidade é esta, prosseguir na total confiança sem saber se é Ele que preserva a minha imagem ou se sou eu…

Soulmate disse...

O anónimo de 20 de Abril 2013 00:20 fez-me agora questionar-me… “passamos a maior parte da vida à procura de nós próprios. Mesmo quando procuramos o outro” O outro que nos complete…que buscamos no outro a parte perdida de nós mesmos… afinal continuamos a procurarmo-nos no outro… E achado que é verdade o que o anónimo disse: onde fica Deus? perguntei-me. Sinto que Deus que é completo, cessa a procura do que me completa. No fundo todos procuramos Deus, como se Ele tivesse registado no nosso ADN ou em algum local indecifrável. E ainda que o meu desejo humano de encontrar a parte perdida de mim exista – a que entendo que Ele separou…o outro que Ele me destinou… mas isso não passa da minha humanidade, da minha necessidade, da minha aspiração… quando chegamos ao pé de Deus, Ele apresenta-nos tantos caminhos que parece que nada disto existe, no entanto, esta alma gémea, esta metade, também pode existir, n’Ele, através d’Ele… mas essa parte que nos dá Deus, não é aquela onde me procuro a mim, é a parte onde O encontro a Ele (…) (Penso eu)