quarta-feira, janeiro 23, 2013

Ser padre é um bom emprego

Conversa entre padres, numa daquelas refeições opíparas que se fazem num dia de folga. Ó pá, estou a pensar deixar de ser padre. Disse-o em tom de brincadeira, no meio do palavreado do colega que desabafava um problema da paróquia. Ai, e tal, tenho este problema, é uma chatice, estou cansado destas coisas, e vai que o tal padre, com os lábios a sorrir, num tom de galhofa, solta um Ó pá, vou deixar de ser padre. E um terceiro colega, assim de chofre e para completar o esgar galhofento do outro, acrescentou Não te aconselho, pá. Da maneira como estão as coisas, é melhor deixares tudo como está. Com a falta de emprego que por aí vai... e fez reticências a rir. Todos se riram e concordaram. Eu também. Na verdade, enquanto o comum das pessoas vai perdendo o seu emprego, nós vamos aumentando o emprego, isto é, aumentando o número de paróquias e trabalhos. E claro, não escondamos a peneira, pode não aumentar a generosidade das pessoas, mas aumentam o número das pessoas que são generosas. Ainda me lembro do outro seminarista a quem em tempos ouvi dizer que ia para padre porque tinha emprego garantido! E por mais que a gente diga que este não deve ser o motivo das nossas opções vocacionais, e por mais que se recorde que as ovelhas não são todas viçosas, a verdade é que a realidade é assim. E agora digo eu no meio de uma enorme gargalhada. Vale mais continuar como estou.

16 comentários:

Anónimo disse...

Olá!
"...tinha emprego garantido!..."
Pois é o raio do "emprego" que tanta gente quer garantir, esquecendo-se do "santo" do trabalho.
Há cerca de dois meses tratei de encontrar uma pessoa de preferencia homem, maior, que estivesse disposto a vestir um fato de macaco e a começar como ajudante numa loja de venda e montagem de pneus.
É um trabalho que suja, não é um trabalho sujo.
O vencimento não era aliciante mas era o possivel e dentro da lei, com direito a gorgetas, o que neste ramo de atividade é comum.
Depois de umas quantas entrevistas, todos os candidatos recusaram.
A uns ouvi dizer que como estavam inscritos no centro de emprego esperavam que aparecesse um trabalho mais limpo. Outros diziam que não imaginavam que ajudar o dono da empresa a trocar pneus fosse assim...
E um dos últimos, um jovem que conheço ou penso que conheço... disse-me literalmente: Não quero este futuro para mim (tem de fato todo o direito de querer melhor), no entanto o agregado familiar dele vive do apoio da Segurança Social, e ele não faz nada, literalmente, e permita-me ser um pouco má mas objetiva, pois fiz uma constatação enquanto falava com ele, tem um telemóvel de última geração.
Desculpe a grotesca comparação, o meu jovem "amigo" também preferiu ficar como estava, e continua.
A grande diferença é que o Sr. Pe. tem trabalho e pelo que parece muito, enquanto que ele nem trabalho nem emprego.



Anónimo disse...

Eu tambem acho!..
estou feliz por saber
que esta aceitar melhor
esta nova etapa e as coisas
vao melhorando aos poucos,
como em todas as vidas
ha dias bons e menos os bons,
cabe a cada um de nos
gerir da melhor maneira;

tambem com ajuda de Deus, a vida se torna mais bela e assim vamos superando as dificuldades.

vamos seguindo as indicaçoes do nosso pastor e amigo, que recordamos com saudades.
´
É bom saber que anda bem,
gostei do que li .
um abraço.

Anónimo disse...

Ora aí está o verdadeiro motivo porque 85% dos padres que conheço, não abandonam o sacerdócio!
Parabéns caro confessionário pela coragem em referir tal assunto!
Não há empregos. E assim também não têm que ter a responsabilidade de assumir uma família, por exemplo.
PARABÉNS!

Confessionário disse...

Olá, anónimo de 23 Janeiro, 2013 21:53

Eu acredito que haja padres que possam pensar de verdade assim. Mas 85% não será muito?!

Ana Melo disse...

Quer-nos picar!?

Ei padre! Não sabia que os padres tinham desses jantares! (eu costumo dizer, que não sei do que se fala tanto tempo, à volta de um prato de comida!! normalmente dá para a ASNEIRA).

Imagino que depois dessa conversa (SEM muito jeito!) correram todos a confessar-se! (a sensação de vazio! é inerente e automática).

É uma das coisas que mexe comigo!!! Andar-mos de pecadito em pecadito, (!!pecado!!) nada é pecado/nada é nosso inimigo! queremos oferecer ao Senhor o nosso melhor!? queremos pedir ao Senhor farturas!? mas ELE para vaidades não dá.
Depois! depois! os excessos as ansiedades que não nos largam!

Bom!! espero que a baixa dos salários também chegue aos Padres!! Temos todos de fazer mais com menos.

Unknown disse...

Ola Padre, sou de opiniao contraria a Ana Melo;acho que todos precisamos de momentos de descontracaoao e confraternizacao quer com nossos pares quer com outras pessoas. Isso permitir-nos-a debater ideias,discutir e esclarecer duvidas ou, pelo menos,momentos de distracao que nos vao incutir coragem para continuar a rotina. E certo que, no momento actual, para muitos e quase impossivel ter esses momentos com a frequencia e amplitude desejadas mas algo sera possivel, tem de existir vida para alem do trabalho.qualquer que seja a actividade do ser humano.
Por isso, continua com os teus jantares opiparos e sem que seja necessario ser seguido de confissao.
Beijinho
Ruth

Peregrino disse...

Olha Padre, eu larguei o “emprego” certo… uma bolsa na faculdade…não era sacerdote mas o hábito já estava gasto em muitas partes… não fora o cuidado de algumas pombas que sabiam da existência deste ninho e da orfandade e as migalhas não teriam chegado… e vão chegando… a sopa mais aguada e 2º prato nem sempre… e eu que eu podia estar “bem”.. um salário razoável, trabalho como sabes era aos “montes”… e o sabor de alguma fuga com outros a um restaurante… velhos tempos… bons tempos…! Se me arrependo!? Não.. às vezes hesito e a tentação de voltar ao “conforto”… ao prato na mesa certo e seguro… mas depois, lavo a cara com a verdade interior e digo para mim mesmo.. tens fome hoje.. olha, pede, vais ver que te tira todas as manias que tinhas de viver naqueles tempos a pobreza evangélica… mas que é duro é … a fome verga qualquer um… mas o mais dorido é o silêncio e a ausência de muitos por onde andaste a enxugar lágrimas e a alentar o sorriso… isso é que dói ainda mais… mas acredita, quando me deito na cama, ainda que só, sou a pessoa mais livre e feliz.. uma felicidade regada com lágrimas .. um deserto tantas vezes seco e largo… mas sou livre e feliz acredita… oro por ti Padre… oro por todos os que servem na seara do Pai… e publica sim… a vida é para viver com verdade…na partilha fazemos acontecer Comunidade…!

Confessionário disse...

Olá, Peregrino, as tuas palavras comoveram-me...

Anónimo disse...

Peregrino;

mais do que comover-me, admirei a tua coragem.
Sempre acreditei que deixar um emprego seguro, com salario razoavel, fosse uma loucura, mas depois de ler este teu testemunho, considerei-o um ato de verdadeira coragem.
Ainda bem que encontras-te a verdadeira felicidade, sempre é melhor ser-se autentico e feliz no pouco, do que suportar uma mentira e infelicidade no muito.
Parabens!!
Se todos carregasse-mos metade dessa coragem, certamente o mundo seria bem melhor!
Felicidades...

mena disse...

Gostei muito do seu blogue. na verdade, nunca tinha encontrado um blogue de um padre e este além de surpreender, surpreende pela positiva. acabou de ganhar mais uma leitora :)

Joana disse...

Peregrino este texto é para si, é de um livro de um escritor brasileiro que eu adoro (Paulo Coelho).
O livro tem por titulo: "Nas margens do rio piedra eu sentei e chorei."

Depois de ler o seu comentário, recordei-me desta passagem do livro...
Espero que tudo lhe continue a sorrir na sua vida, o seu testemunho é um sinal de que por vezes os sacrificios e as desilusões do momento valem a pena, mais não seja, pela conquista da Verdadeira felicidade.

Bjinhos


"É preciso correr riscos, dizia ele. Só percebemos realmente o milagre da vida quando deixamos que o inesperado aconteça.
Deus dá-nos todos os dias - junto com o sol - um momento em que é possível mudar tudo o que nos deixa infelizes. Todos os dias procuramos fingir que não nos apercebemos desse momento, que ele não existe, que hoje é igual a ontem e será igual ao amanhã. Mas, quem presta atenção ao seu dia, descobre o instante mágico. Ele pode estar escondido na altura em que enfiamos a chave na porta, pela manhã, no instante de silêncio logo após o jantar, nas mil e uma coisas que nos parecem iguais. Mas esse momento existe - um momento onde toda a força das estrelas passa por nós, e que nos permite fazer milagres.
Às vezes, a felicidade é uma bênção - mas geralmente é uma conquista. O instante mágico do dia ajuda-nos a mudar, faz-nos ir em busca dos nossos sonhos. Vamos sofrer, vamos ter momentos difíceis, vamos enfrentar muitas desilusões. Mas tudo isso é passageiro e não deixa marcas. E, no futuro, podemos olhar para trás com orgulho e fé.
Mas pobre de quem teve medo de correr riscos. Porque esse talvez não se decepcione nunca, nem tenha desilusões, nem sofra como aqueles que têm um sonho a seguir. Mas quando olhar para trás - porque olhamos sempre para trás - vai ouvir o seu coração a dizer: «o que fizeste com os milagres que Deus semeou nos teus dias? O que fizeste com os talentos que o teu mestre te confiou? Enterraste-os bem fundo numa cova, porque tinhas medo de perdê-los. Então, esta é a tua herança: a certeza de que desperdiçaste a tua vida.»
Pobre daquele que escuta estas palavras. Porque então acreditará em milagres, mas os instantes mágicos da vida já terão passado."

Confessionário disse...

Obrigado, Mena, e sê bem-vinda!

Anónimo disse...

Ola Confessionário, sou o anónimo de 2323 Janeiro, 2013 21:53
Nah, posso ter errado um pouco na matemática, mas 85% não me parece nada muito! Refiro-me a sacerdotes na casa dos 40/50 anos. Ainda se sentem capazes de constituir uma família, ter uma nova vida, mas... o emprego é o pior. Isto porque a instituição igreja não lhes dá o apoio, que em determinadas alturas necessitam. Sentem-se abandonados, sós. Então constroem uma ideia que talvez com uma vida diferente, talvez com uma família constituída por eles próprios não sentiriam esse sentimento de solidão. O que também não é sempre verdade. Há outros problemas, como em todas as formas de vida. Mas o importante mesmo, penso que cada um deve procurar a felicidade. Seja quando e onde for. Dou os meus parabéns ao
Peregrino, a quem desejo toda a felicidade, assim como a todos os outros, muito em particular pela coragem que teve em procurar um novo rumo. Com certeza se não o tivesse feito, hoje era mais um "frustrado" como tantos que conheço. Mas esses não têm coragem. Parabéns!

23 Janeiro, 2013 22:26

Anónimo disse...

Peregrino;

Com a permissão do nosso amigo Confessionário:

Não se esqueça; fazer o bem, sem olhar a quem. As lágrimas que ajudou a enxugar, e os sorrisos que ajudou a desenhar... lá terão o seu mérito, junto do Pai Celeste. Se ainda assim, se esquecem do bem que fez, são humanos... e como tal, desejam que o "outro", seja como eles idealizam.

A coerência, faz parte da vida cristã, e viver na verdade é ser coerente!

Um Padre amargo e frustrado, pode afastar muitos do caminho de Deus, mas um homem recto, pode aproximar muitos de Deus. Pense nisso!

Que bonita partilha nos deixou, Peregrino.

Abraço fraterno.

Anónimo disse...

Boa tarde!
"Um Padre amargo e frustrado, pode afastar muitos do caminho de Deus, mas um homem recto, pode aproximar muitos de Deus. Pense nisso! "
Muito boa esta frase.
Mas um padre é um homem... e também há padres que são homens retos que aproximam os corações de Deus, e ao aproximá-los de Deus aproximam-nos deles mesmos de uma forma intensa... muito forte, inigualável.
São amigos que se sentem com o coração.


Anónimo disse...

Mas o problema do emprego, vem já aqui... Oh! temos que ser honestos para arranjar emprego. Nos tempos que correm é difícil!