terça-feira, janeiro 10, 2012

Uma passagem de ano com sandes

O Mário tem pouco mais de vinte anos. Não é bem como os outros jovens da sua idade porque a maioria deles anda a gastar dinheiros, tempos e, às vezes, estudos, nas Universidades e afins. O Mário optou por deixar os estudos, juntar os trapos com a Vera, e trabalhar para sustentar a primeira filha, primeiro, e agora a segunda. O Mário tem pouco mais de vinte anos. Mas que interessa a idade quando a vida nos ensina que ser jovem nem sempre é sinónimo de ter facilidade de emprego ou ter futuros garantidos. Conheço o Mário há tempo suficiente para perceber o que lhe vai na alma e no coração, mesmo sem ele dizer uma palavra. Gosta de desabafar comigo. Gosta de confiar em mim. Não fala muito. Guarda-se. Mas quando fala, parece que nunca mais acaba a história das coisas que conta. Uns dias antes do ano mudar de 2011 para 2012 esteve comigo, e falou. As coisas não estão fáceis desde que perdeu o último emprego já lá vão dois meses. Tem dívidas de empréstimos e já perdeu a casa. Mora em casa emprestada. Com o pouco que ganhava, conseguia ter uma vida organizada. Mas agora tem a vida organizada que os amigos lhe organizam com pequenos sacos do lidle ou pingo doce. Dizia-me que havia almoços em que a mesa tinha apenas umas sandes. A filha mais velha comia na creche, o que era uma sorte, pois não pagavam. A mais nova ainda tem o leite da mãe. O Mário e a Vera são jovens de hoje, dos tempos modernos, e têm almoços de sandes sem macdonald. A emigração está à vista, e até lá, que hajam mais pequenos sacos a entrar em casa. Na passagem do ano veio-me este diálogo ao pensamento. Imaginei-os à mesa com umas sandes. Imaginei-os o ano todo à mesa com umas sandes. O que vai ser deste país e dos jovens deste país?

10 comentários:

Anónimo disse...

Boa pergunta!
Que será de nós pe?
Só Deus sabe o que será...
Bom ano novo!
Bjs

Joana disse...

Olá pe :)
Que forma pessimista de começar a reflectir no novo ano :(
Seria suposto dár-nos palavras de animo e esperança. Mas entendo que também está a ser realista,assim demonstra o seu lado humano, realmente o futuro é incerto e desconhecido a todos nós.
Vamos rezar e continuar a acreditar em dias menos sombrios.
Que seja um ano "passageiro", que a crise seja passageira e que as sandes sejam passageiras, pois apesar de tudo manteem-nos vivos para continuar-mos a lutar pelos nossos sonhos.
Espero que apesar das sandes ninguém desista de lutar, para poder visitar o macdonald's.
Feliz 2012 a todos que por aqui nos encontramos neste bonito espaço.
Ah, já agora pe, adorei o novo video, já o tinha visto no face book, vamos transformar 2012 em actos e não só em palavras e dessa forma aqueceremos os nossos corações.
Bjs Joana :)

Porthos disse...

Meu caro:

Apetecia-me começar pela política, mas não o faço... Deixemos isso para outros palcos.

Dizia (uso o passado, porque já está junto do Criador) um dos mais famosos palestrantes do Youtube dos últimos tempos, Randy Pauch, que sempre que não conseguimos atingir os nossos objectivos, ganhamos conhecimento e experiência...

Ora, o truque para esta tua reflexão é mesmo esse... Devemos ter sempre objectivos altos para que, mesmo que não consigamos alcançá-los capitalizemos a experiência e conhecimento que nos fica do percurso de lhe tentarmos chegar. É essa experiência que nos faz avançar... a mim, a ti, ao Mário e, de forma mais acutilante, às filhas do Mário... Sim porque quebrar os ciclos de pobreza é um objectivo tão meritório como melhorar a situação de um pobre.

Abraço e bom 2012.

Perergino disse...

“Espero que apesar das sandes ninguém desista de lutar, para poder visitar o macdonald's.”

Ó Joana … fiquei tremendamente inquieto no coração por este pedaço de comentário!

Provavelmente é uma jovem, foi uma frase irrefletida, e a Joana ainda não fez, e desejo do fundo do coração que nunca faça a experiência de muitos Mário’s que infelizmente abundam no nosso País, porque uma sandes ofertada por algum coração já experimentado e forjado nos Evangelhos, doada se calhar também nas muitas dificuldade de quem também tem à mesa outros para alimentar, posso assegurar-lhe Joana que essa oferta num momento de profunda fome e abandono vale mais do que milhões de bigmacs!

Olhe que não estou a falar no vazio, também sei o que significam muitas sandes comidas em dias de abandonos e fomes… não foram corações escondidos na sua generosidade e compaixão… e olhe que não tenho filhos nem esposa como este Jovem que o nosso irmão Padre aqui nos partilhou, senão nem quero imaginar-me a carregar em mim tais sentimentos que estes dois jovens quando sentados à mesa com os tesouros mais preciosos que Deus lhes ofertou, os dois filhos, lhes restar apenas os olhares aflitos nas muitas lágrimas escondidas da impossibilidade de conseguirem algum alimento para oferecer-lhes!

Joana sei que não o fez por mal, perdoe-me a dureza deste comentário! Sabe, também fui formador de muitos jovens e aquilo que mais gostaria de ter como certezas é que nos seus caminhos eles fossem o rosto de Jesus em cada encontro com os Mários da nossa vida! E acredito que também a Joana deseja fazer e fará certamente esse caminho.

Grato eternamente irmão Padre por este tesouro que hoje nos ofertastes! Um belo começo para a caminhada deste ano com Cristo que está sempre reflectido no rosto destes Mários…

HD disse...

Obrigado ...

por esta história real....

que nos incita a não ficarmos cegos.

que nos senbiliza para a dor que nos rodeia...

que nos nos obriga a não ser indiferente...

que reza as dores alheias...

onde Lhe pedimos para nos fazer artifices de Esperança..

os jovens precisam de quem lhes dê Sentido no caminho...

cruzamo-nos com vidas de angustia, por isso a necessidade de gestos profeticos suscitando mudanças de vida....
E a vida nem sempre é um conto...
HDias

Joana disse...

Querido peregrino;)

Esta expressão: "Espero que apesar das sandes ninguém desista de lutar, para poder visitar o macdonald's." tem um significado oculto, que acho que o sr. não entendeu.
E se eu tivesse escrito desta forma: "Espero que apesar da tristeza, e das dificuldades ninguém desista de lutar, para poder alcançar a alegria e superar as contrariedades."
Desta forma penso que entenderia a minha metáfora, que apenas utilizei para transcrever da reflexão do texto do pe. confessionário.

Sim sou jovem, é verdade que ainda não formei família, talvez também pelo facto desta instabilidade social do nosso país, este texto também foi escrito para mim, uma vez que não sei como será o meu futuro.
De qualquer forma não sou alheia, nem insensível aos problemas dos outros, muito menos quando se trata de crianças que passam fome, mas pelo que deduzo do texto as crianças por enquanto estão salvaguardadas, uma pela creche, outra através da mãe.
Pelo que a minha expressão foi de incentivo para os pais,( o Mário e a Vera ), para eles não deixarem de lutar por elas, não baixarem os braços e continuarem a sonhar e poderem num futuro levá-las a comer um happymeal ao macdonald's.

Espero ter-me explicado melhor e que me tenha entendido, se não peço desculpas, não era minha intenção ferir susceptibilidades.
Mas obrigada pela chamada de atenção, pois deu-me oportunidade de esclarecer, pois poderia não ser o unico a não ter entendido.
Bjs Joana :)

Dulce disse...

Bom dia padre, não sei bem como me deveria dirigir a si...
Antes de mais parabêns por este ponto de luz que criou. Adorei ver o vídeo dos rapazes (fiquei aqui ao PC a chorar incontrolavelmente!)
Quanto á questão das sandes, como é possível ajudar? Fazer chegar um mimo áquele casal?
Obrigada.Dulce

Rosa disse...

É de lamentar mas vai haver muitos Mários no nosso país,onde só vai á mesa umas sandes, porque os jovens sem emprego e se não tiverem alguém que lhes dê algo como podem construir uma família,está muito bom é para aqueles que tem brutas reformas e agora ainda vai ganhar uma quantia vergonhosa,perante tanta miséria,tiram os subsídios,aumentam a electricidade para os pobres,porque não dão eles esse dinheiro distribuindo pelos que não tem ,se dizem que o País está mal...é uma vergonha...pobre dos que começam agora a viver,jovens coragem,muita coragem...Sinto-me mal sempre que ouço determinadas situações

Confessionário disse...

Não sei, Dulce. Deeve haver tantos casos assim! Se quiseres, entra em cointacto comigo por mail a ver se ha alguma forma... Bigada

laureana silva disse...

Olá Padre,
quantas centenas ou milhares de pessoas no nosso país estão passando pelo mesmo? Nós é que não sabemos, é a pobreza envergonhada...fazem-se campanhas de solidariedade nas datas festivas, mas é preciso mais, muito mais. É preciso um sentido de partilha que se entenda pelo ano inteiro. E nós católicos às vezes somos tão frouxos... A riqueza está mal distribuída, há aqueles que tudo têm e os outros que vivem na miséria. Sociedade consumista, egocêntrica e cada vez mais fracturante. Nós católicos pecamos muito por omissão, quando deveríamos estar sempre presentes. Eu pecadora me confesso. Será que eu estou sempre lá, ou só de vez em quando? É uma reflexão que me faço muitas vezes...
Grande beijinho e feliz ano Novo
Maria