Ela tem uma discrição que é uma graça. É mais linda ainda por dentro que por fora. Nunca incomoda. Nunca implica. Nunca complica. Vinha com o sorriso habitual e cumprimentou-me, como faz sempre. Então, Senhor Padre, anda bem? Apanhara-me com dor de costas, daquelas dores que eu acho que partem do coração e se prolongam para todos os órgãos do corpo. Sentia-me, como dizem por aqui, apezinhado. Nem sei se existe a palavra, mas existe a sensação. E disse-lhe. Ela perguntou Então porquê, Senhor Padre? Repete sempre Senhor Padre, pelo respeito que me tem. Nunca se dirige a mim sem me tratar por Senhor Padre. E respondi-lhe que andava com muitas preocupações nos ombros. Estavam pesadas. Mas tem algum problema, Senhor Padre? Acrescentei que não eram meus. Eram daqueles que me procuravam. Mas que acabavam por se tornar meus. E por mais que lhes desse palavras de conforto ou de solução, para mim eram sempre insuficientes. Com um olhar ainda mais profundo e mais sorridente que o habitual, ela afirmou que eu já fazia muito pelas pessoas. De certa forma calou-me, sossegou-me, trouxe-me uma evidência que difícil ou raramente dou conta. Mas eu não queria só fazer muito. Queria fazer tudo. Ao que ela me respondeu que tudo é só Deus que faz, Senhor Padre.
17 comentários:
«Ao que ela me respondeu que tudo é só Deus que faz, Senhor Padre.»
Os japoneses que o digam...
Bom dia Senhor Padre.
Um belo texto como sempre e um encontro com um anjo de carne e osso ao que parece. E então não é que ela (o anjo) tem razão...Pois é, já dá tudo a Deus e aos irmãos, meu caro padre que mais poderá fazer?
Só Deus pode tudo e se Ele achar que ainda deve dar mais, Ele colocará nas suas mãos e em seu coração, sábias palavras e soluções, confie e verá...
Beijinho
Maria
No hospital, diz o médico:
- O senhor é o dador de sangue?
- Não, eu sou o da dor de cabeça
Se houvesse mais gente assim, talvez de vez em quando seriam asas a nascer nas costas e não dor.
Simone.
Bom dia,
Confessionário
Conheço a sensação, e conheço o termo se bem que deste lado do oceano não se usa.
Sabe o que tranquiliza os que se sentem dessa forma (e atrevo-me a afirmar que oprimidos e opressores já se sentiram em algum momento da vida "apezinhados"), é a consciência do dever cumprido... Filtrados pelo Espirito Santo, numa balança, o "mérito" supera o débito.
Onde estiver, que Deus o guarde
Como Pense, que Deus o use
Como se encontre, que Deus o ilumine
Com quem esteja, que Deus o guie
No que fizer, que Deus o ampare
Em todos os seus passos que Deus o Abençoe.
Fique bem
Seja Feliz,
ao anónimo de 03 Abril, 2011 04:03
Parece que a sua opinião foge um pouco ao sentido que o confessionário expõe. Porém, a sua observação é pertinente.
No entanto, será que Deus é que fez o tsunami do Japão? O homem não tem provocado desiquilíbrios na natureza? A central nuclear construida naquele local, por opção do homem, estava no local mais indicado?
Creio que Deus deve ter sofrido com o que aconteceu no Japão. Creio ainda que muitos japoneses devem ter sentido o braço de Deus.
Mas Deus não pode substituir o homem, porque o criou livre.
Tenho a sensação de que neste século XXI, pela quantidade, frequência e pela enormidade dos distúrbios que acontecem diariamente, pelo mundo inteiro, estamos em plena guerra mundial. Entre as forças do Bem e as do Mal. E parece que as deste estão a levar a melhor...Deus permite tudo isto para bem da Humanidade. Mas está atento. Não como um árbitro, mero observador que se conforme com o resultado. Mas como Alguém que é capaz de intevir. Em favor do Bem, claro. Para isso, apenas espera que os que estão do lado do Bem, O solicitem... Pela Oração. Parece que estamos a perder.Porque se reza pouco...As forças do Mal instalaram por todo mundo dito desenvolvido, a convicção de que o mundo é de quem nele vive. Não precisa de nada mais, senão do seu poder...Para mim, todos estes fenómenos naturais, que eu pensava jamais assistir, tsunamis e medonhas derrocadas, que irrompem, num abrir e fechar de olhos, sem que alguém possa impedir, ou travar, são sinais de Deus à Humanidade...São assobios do Árbitro...cartões vermelhos...Só a cegueira impede de constatar tão evidente realidade.
Por iso, é tempo de Orar, Orar...Pedir a Deus que escorrace o Mal...e Ele volte a reinar.
Desculpem. Foi isto que o seu post me sugeriu.
Um abraço
Ola
Em jeito de explicação o termo "apezinhado", (na minha zona ) utiliza-se, quando alguém "faz e desfaz", de outrém. Utiliza-se quando determinados seres julgam que podem "despejar" tudo em "cima de alguém" e que esse alguém tem que ter sempre a solução para o problema.
O que me pareceu no caso do confessionário, foi que, ele ouve as pessoas, ouve os seus problemas, aconselha-as e faz o que está ao seu alcance como ministro de Deus, para ajudar... E está a sentir o peso das situações alheias sobre os seus ombros.
Peço desculpa se captei mal a mensagem.
Deus não fez a tsunami acontecer, o que aconteceu foi fruto da acção desregrada dos homens, ao longo dos séculos, que se julgam senhores e donos desta planeta.
Quanto a esta matéria tenho poucas dúvidas apesar de não ter formação académica nessa área.
Se pensarmos no Apocalipse, a mensagem vai nesse sentido, no meu entender no Livro do Apocalipse temos a antevisão dos tempo actuais.
Fique bem
O DEUS DE MOISÉS
Aos cumes altos do SINAI,
Algures,
No oriente,
Quis a MAJESTADE
Suprema e transcendente,
Chamar, um dia,
Lá, muito atrás,
A Humanidade inteira
Na pessoa de Moisés,
Homem simples,
Vontade
Recta, pronta e obediente.
Em glória,
Omnipotente,
gravou, numa pedra,
A fogo, incandescente,
O seguinte acordo eterno
Com o povo de Judá:
“Sou o Deus
Único e verdadeiro.
Criador de tudo
Quanto existe.
Por amor, primeiro,
Fiz o homem, sublime,
À minha imagem.
Com destino,
Livre,
À glória
Do meu reino…
Só este caminho lá vai dar:
Amar-me –ás,
Com toda a alma
E coração…
E,
Como a ti mesmo,
Amarás o teu irmão…”
Com louvor,
Em aliança para sempre,
O povo de Moisés
Aclamou seu Rei,
No deserto, peregrino,
O Senhor daquela Lei,
Ditada
Por Amor divino…
"Tudo é só Deus que faz".
Parece-me que esta afirmação só possa feita com a mesma intenção que aqueloutra: "Santo só é Deus", ou "Perfeito, só Deus".
Tal como se esconde no nome do grande Arcanjo ("Quem como Deus?"), a ideia é pôr um travão à soberba de nos equipararmos a Deus, e de tomarmos consciência das nossas limitações.
Todavia, defender um Deus que faz tudo, ou pode tudo, revela-se escandaloso quando nos confrontamos com o mistério do mal.
Isso mesmo ficou patente na abertura dos comentários: E os japoneses, pá?...
Uma hipótese é teimar na afirmação: é Deus quem dá a morte e dá a vida... Ou, como dizia o falso Job: Deus o deu, Deus o tirou; louvado seja Deus. Come e cala.
Outra hipótese: para livrar a cara de Deus, atira-se a culpa para os homens. E cai-se num outro escândalo, o de negar a um ser humano a condição de vítima. Deitam-se na cama que fizeram. É para aprenderem.
Ainda uma outra possibilidade: ninguém tem culpa; são as imperfeições da natureza. Uma ideia perfeitamente aceitável para descrever fenómenos a milhares de quilómetros de distância; um pouco mais difícial de engolir quando se assiste a uma criança a morrer nos braços...
Talvez o Deus verdadeiro não seja de facto um deus que pode tudo; pelo menos no sentido em que entendemos a omnipotência.
Talvez Deus faça apenas tudo... o que pode.
O Deus-que-faz-tudo pode gerar também perplexidades a nível da autonomia.
Querermos fazer tudo pode ser uma foma de ateísmo: recusarmo-nos a aceitar um Deus que age independentemente de nós, não sujeito aos nossos desejos, ordens ou vontades. Alguém que não é domável nem controlável, que não se submete a planos e projectos pastorais cientificamente traçados. Pelo que preferimos colocá-l'O fora de acção, prescindir d'Ele, agir como se Ele não existisse. Confiar no Espírito, que sopra onde quer, é (demasiado) exigente; saber aguardar pela Sua moção dá muito trabalho...
Mas do lado oposto, temos a mentalidade infantil: Deus é pai, Ele que resolva. Ele que acabe com a fome no mundo e termine com todas as guerras; Ele que cuide dos órfãos e das viúvas, e converta todos os pecadores; Ele que dê prosperidade aos vivos e o eterno descanso aos mortos.
O Deus-que-faz-tudo pode ser afinal o Deus a quem piedosamente pedimos (exigimos!) que faça tudo. Mesmo aquilo que é suposto sermos nós a fazer, aquilo que nos compete, que está nas nossas mãos, que é nossa obrigação fazer. Com que facilidade nos esquecemos que "Deus dá o pão, mas não amassa a farinha"...
De volta aos anos 60!
Visita http://palavrasdechocolate.blogspot.com/2011/04/de-volta-aos-anos-60.html
E descobre varias curiosidades sobre os anos 60 em Portugal!
É estranho, as pessoas opinam sobre Deus como se o conhecessem pessoalmente...Ele é isto, é aquilo...e faz isto, e faz aquilo...
Simone.
Simone:
Não deixas de ter razão. E contra mim falo.
A maneira como, pelo menos alguns, nos referimos a Deus é, por vezes, fruto do descaramento típico da ignorância, à mistura com alguma arrogância.
Às vezes, precisamos que nos recordem: "e a inefabilidade, pá?"
Todavia, a verdade é que a fé cristã se atreve a dizer que Deus pode ser conhecido. Mais: que Ele se deu e dá a conhecer, de muitas formas e de muitos modos; e especialmente por meio de Jesus Cristo. Mais: que é nesse conhecimento de Deus que nos conheceremos a nós mesmos, a nossa razão de ser, o sentido da vida e o caminho para a felicidade.
Espero que não tenhas medo de embarcar nesta aventura de conhecer um Deus que te ama.
Sou como a igreja do Confessionário é por vezes: não há espaço para Deus em mim...
Simone.
Anima-te, Simone! Só precisas de descobrir que realmente Deus não ocupa lugar. Quando o procurares, verás que Ele já está a teu lado.
Cumps!
Belíssimo...
Pessoa linda... Ainda mais linda por dentro que por fora... E não duvido.
É bom ser rodeado por pessoas assim, não é, Senhor Padre? ;)
Beijinho.
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