quarta-feira, janeiro 21, 2009

Meu Deus, porque me abandonaste?!

Acabei há pouco um funeral. E agora refugio-me aqui. No confessionário escuro e frio. Era um jovem de 26 anos que faleceu num acidente de automóvel. Filho único. O emprego conseguira-o há pouco tempo. Depois de vários anos a estudar em Lisboa. A mãe, segundo me disseram, aquando da gravidez, teve imensas dificuldades. Correu risco de perder a criança. Esteve em repouso absoluto e foi guiada por médicos para conseguir os seus objectivos. Dar à luz. Um mar de gente na Igreja. Eu tremia por todos os lados. Ainda bem que não conhecia a fundo o jovem. Mas já estou a rezar por causa de alguns amigos. Fico sem voz ao pensar. Hoje fiquei sem pinga de sangue. O que dizer na homilia. Que não sabia o que dizer. E fui utilizando a expressão de Jesus “Meu Deus, porque me abandonaste?” e fiz entender que também Ele fraquejou. Mas que aceitou. E que à luz da Vitória da Ressurreição, alimentamos a nossa esperança, o nosso ânimo. E que se o levou, era porque gostava muito dele. Que se calhar o queria privar de tanto mal que existe no mundo. E que não há possibilidade de nos conceder todos os milagres. Que senão teríamos hoje gente com milhares de anos. Não tinha sentido nascer. Que devíamos continuar as obras começadas pelo jovem Rodrigo. Que devíamos aprender com isto da morte a lição da vida. Nesta ocasião todos somos iguais. Não há ricos nem pobres. Que não sabemos o dia nem a hora. Que perdemos tempo preocupados com tantas futilidades. Que devemos estabelecer prioridades. Que não devemos estar a mal com ninguém. Que devemos amar enquanto é tempo. Que devemos procurar sentido para a vida. Que devemos… E rezei a pedir fé aos pais, porque ela também me ajudou a segurar o barco em momento idêntico aquando da morte da minha mãe. E vim para casa com os gritos dos pais nos ouvidos.
E pergunto. Porque me custa tanto celebrar funerais?! Porque tenho tanta fragilidade nestas ocasiões, Senhor?!

52 comentários:

bete p.silva disse...

A resposta creio que o senhor mesmo já deu: porque temos tanta fragilidade...

Anónimo disse...

Conceição
Padre, ao ler hoje o seu blog, que conheço à muito pouco tempo, mas do qual gosto imenso, é passagem diária, lembrei-me do caso do meu irmão mais velho que faleceu, faz no dia 22 de Fevereiro 20 anos que tal aconteceu, na vespera de fazer 36 anos, não de acidente mas de um linfoma galopante que supreendeu até os próprios médicos.
A dor que se viveu em nossa casa foi enorme, os meus pais eu e os meus irmãos, pois além de ser o mais velho era uma pessoa muito especial, era a nossa ancora.
Depois da sua morte a minha mãe a falar com uma nossa vizinha da vida inteira, que é como familia, ela que não tem qualquer formação religiosa, disse algo identico: que Deus tinha levado o Aníbal porque ele era bom de mais para viver neste mundo.
Ao ler as sua palavras lembrei-me logo disso.
A essa familia e aos seus amigos vai fazer falta muita fé, que foi com a fé que nós temos, e por acreditarmos na Ressurreição, que nós, especialmente a minha mãe, conseguimos aceitar a sua morte, apesar das imensas saudades que sentimos.
Continue a escrever, pois é um gosto ler o que escreve. Um beijinho (se mo permite!)

P.S. peço desculpa se me alonguei

Renata Cavanha disse...

Que bom ter pessoas como o sr que neste momento ajudou os pais deste menino,com suas palavras, muito sofrimento, sim! Neste momento é dificil escutar a verdade a realidade, pois queríamos que aquela pessoa tivesse ainda viva...mas que bom ter sacerdotes que nos fazem pensar que pode não haver o dia de amanha..e que por isso temos que construir bem o nosso hoje...
Deus o abençoe

Canela disse...

Pe. amigo...

Custa-lhe tanto, porque é humano.

Recorde-se: Jesus antes de morrer disse, Pai nas tuas mãos entrego o meu Espirito.

CONFIANÇA!

Beijinho grande

Anónimo disse...

Padre
Só com Fé... É nestas alturas que tomamos verdadeiramente consciência da nossa fragilidade. É tão efémera, esta passagem pela Terra...
A minha oração de hoje vai direitinha para esses Pais. Acredito que todos os que por aqui passam a ela se unirão e que juntos pediremos a Deus o alívio para a dor que sentem. Confiemos que Ele encontrará um modo de a tornar suportável.
Bj

CrisR disse...

Hoje sou eu que sinto isso "Meu Deus porque me abandonaste?". Mas eu sei que ele não me abandonou, eu apenas não O sinto perto.

Anónimo disse...

A rotina, o hábito, por vezes adormece-nos...

Enquanto Padre... senti isso particularmente em relação aos funerais.
O contacto quase diário com a Morte, os funerais, fez com que na maioria das situações o ritual fosse apenas isso: um ritual.

Apesar do esforço (creio que alcançado) que sempre fiz por nessa hora ter uma palavra de Fé, de Consolo e de Esperança para dar...

Mas há momentos, há Mortes que não conseguimos 'disfarçar'... incomodam-nos, inquietam-nos, comovem-nos.

A Morte dos paroquianos que se tornaram Amigos.

A Morte dos Idosos que vimos morrer na solidão e no abdandono das famílias.

A Morte dos que acompanhámos na luta contra uma doença.

A Morte 'estúpida' dos Jovens nas estradas (e eu fiz alguns!).

A Morte de uma Criança que dias antes sorria para nós!!

Caro Padre,
Não há respostas... Apenas perguntas!

Conhecerá o relato de Ellie Weisel sobre a sua experiência em Auschwitz: «quando os nazis enforcaram 3 jovens, obrigaram todos os Judeus a assitir. O mais jovem, uma criança, lutava, pendurada numa corda, pela sua vida. Ouvi então atrás de mim alguém murmurar: 'Onde está Deus?'. E eu disse para mim mesmo: 'Deus... está ALI... pendurado naquela corda!'.

Foi com esta história - com esta pergunta - que comecei as homilias dos funerais da 'Eduarda' - 5 anos - e do 'Diogo' - 18 anos.

Afinal essa é a pergunta que todos nós fazemos nessa hora... É a essa pergunta que os Padres estão chamados a responder nessa hora!

Anónimo disse...

A partida de alguém deixa sempre um vazio.Se esse alguém é um jovem pode entrar-se em desespero se não houver fé.
Só que ter fé não depende de vontade própria e isso é sem dúvida o mais difícil nestas situações.
Questiona-se tudo,chega-se a pensar porque alguém sem ninguém, com idade avançada e desiludido da vida não partiu antes nessa altura.
A boa notícia é que nada é eterno e o desespero também não.Temos uma capacidade incrível de ultrapassar as crises, porque vamos buscar forças onde não supunhamos que existissem.E aí sim, questionamo-nos de novo e com alguma disponibilidade de coração,podemos até encontrar nessa experiência tão devastadora um sinal do Além.
Um abraço confessionário

(mais uma partilha estupenda e de uma grande humildade ao assumir a sua fragilidade perante uma assembleia destroçada)

Vilma disse...

Porque não fomos criados para morrer, porque é anti-natural, porque Deus colocou o desejo de eternidade nos nossos corações, porque é sensivel, porque... também faço muitas vezes essa pergunta.

Anónimo disse...

Olá!

A fragilidade não virá do facto de apesar de ser padre ser humano??? Ter coração??
Para si, é óbvio e graças a Deus que assim o é, não é mais um funeral que tenho que fazer, mas o funeral de alguém que nasceu, viveu e morreu e deixou família que eu Padre/Homem posso ajudar/consolar...
Obrigada mais uma vez, pelas palavras maravilhosas que nos deixa!
Beijos
MJG

Anónimo disse...

Querido Padre, como está?
Nessas situações é que vemos o quanto somos frágeis, mas, paradoxalmente é também nessas ocasiões que sentimos como nunca o imenso amor que DEUS tem por nós,pois só nele encontramos a força e o conforto para cotinuarmos vivendo, mesmo com toda dor e sofrimeto. No mês de março completará um ano do falecimento de minha mãe, foi uma morte repentina e no primeiro momento e mesmo nos dias que se seguiram, a dor era tamanha que eu achava que não suportaria, mas greaças a Deus estou aqui, aprender a conviver com a saudade de quem amamos não é nada fácil, mais Deus tem uma pomadinha milagrosa chamada amor e todos os dias ele passa um pouco dessa pomadiha em nossa ferida e ela vai aos poucos cicatrizando, fica a marca para sempre, mais a ferida fecha. Rezarei pelos familiares desse jovem, pedirei a Deus que use também neles a sua pomadinha de amor.
abraços em Cristo.

Confessionário disse...

Caro colega das 11.51, essa de Auschwitz é estupenda. Obrigado. Vou agorinha mesmo fazer outro funeral. Desta feita, de alguém com mais de noventa anos. Essa ajudou-me a pensar no que vou dizer...

Anónimo disse...

Olá!

Amigo, obrigada por ter passado no meu blog, fico muito contente... Claro que é a serio e conto com as suas visitas.
Bjinho
MJG

joaquim disse...

Caro Padre amigo

Sou o nono filho de uma familia grande e como já tenho quase 60 anos a morte toca agora aqueles que mais me são chegados e que vão partindo.

Foram os meus pais, foram um irmão e uma irmã e até uma cunhada ainda bastante nova.

Poderá parecer lugar comum, mas pela vida que levaram foram sem dúvida aqueles que mais "santos" foram.

Gosto de pensar que nos estão a "preparar caminho", que claro, depende de nós.

Há uns meses atrás, num funeral ouvi uma homilia que me tocou por vários motivos.

O Padre afirmava aquilo que em que nós acreditamos, ou seja, que não nascemos para morrer, mas sim para vivermos em comunhão com o Criador, pelo que a morte nos é tão dificil.
E disse mais, disse que o único homem que nasceu para morrer foi Jesus Cristo, para com a Sua Morte e Ressurreição nos dar a vida.
Parecem lugares comuns mais uma vez, mas deram-me outra perspectiva da morte, da passagem, da Páscoa.

Abraço amigo em Cristo

Confessionário disse...

Alecrim, é para ti: um abraço bem forte

ainat1987 disse...

Todos sofremos com a morte porque somos humanos e porque ainda não nos convencemos de que Deus lá sabe porque "leva" as pessoas. Normalmente as pessoas que nos fazerm mais falta são as que vão primeiro. Mas eu acredito que mais tarde ou mais cedo percebemos por que foi Aquele ou Aquela que morreu e não outra pessoa, percebemos a "vontade" de Deus.

Coragem!

Teodora disse...

Não sei se percebemos a morte. Julgo que aceitámo-la, ou pelo menos assim deve ser. Quando assim não é pior para nós.

A coisa não se rege por uma lógica terrena, ainda que muito previsível ela possa ser ou por muitos e longos anos ela tenha vivido à nossa frente.

Penso que ela é natural, apenas não a aceitamos porque ela fere e, obviamente, não apreciamos o que não nos é gradável.

Luis Carlos disse...

A mentalidade de que a vida é apenas este pedaço de carne e de tempo em que aqui e agora estamos, é a visão mais redutora de todas sobre o que é a vida. Há vida para além da morte física, e é nesta morte que a vida se expande ao máximo que é possível, lê sobre as EQMs (Experiências Quase-Morte) e os testemunhos que as pessoas dão dessas experiências.

“Ainda bem que não conhecia a fundo o jovem” que grande fuga para a frente, no terror da morte, fica-se contente por não ter conhecido melhor a pessoa, Quando se devia dizer o contrário, ficar triste por não ter a conhecido melhor.

Então “fiz entender que também Ele fraquejou”, dizer que Jesus fraquejou é uma grande blasfémia, segundo a igreja católica, sendo ele o Filho de Deus, quer dizer que Deus fraqueja, que Deus é fraco.

“E que se o levou, era porque gostava muito dele”, e então os outros são umas bestas, uns animais selvagens, Deus não gosta dos que continuam a viver no aqui/agora deste mundo?

“E que não há possibilidade de nos conceder todos os milagres”, outra vez mais, a reduzir a capacidade de Deus, isto é blasfémia atrás de blasfémia, haja coerência.

“Porque me custa tanto celebrar funerais?!”, e eu te respondo, e a resposta está na tua pergunta, “celebrar funerais”, tu não celebras funerais, tu não celebras a morte como um nascimento para outra vida, tu não te alegras pela expansão da alma no momento da morte física, tu apenas vives e relembras os medos ancestrais sobre a morte, vives e relembras os vazios, se o nascimento é uma alegria, por que há de a morte física ser triste?

“Porque tenho tanta fragilidade nestas ocasiões, Senhor?!” Tens fragilidade nos funerais por que ainda não sabes quem foi Jesus de Nazaré, ainda estás como os apóstolos cheios de religião do Templo de Jerusalém e de paganismo, mais os seus medos sobre a morte. A fragilidade vem da tua identificação com o teu corpo, a confusão vem da tua mente que não quer morrer, mas tu não és o teu corpo nem a tua mente, o que Tu Realmente És, és a tua alma essa gota de água do oceano que é Deus.

Até já,
Luís Carlos

Confessionário disse...

Para os restantes "penitentes" te entenderem nas tuas palavras e pensamentos e opiniões, Luís Carlos, convém dizer que não professas a fé católica e professas outra fé. Digo isto, não porque não possa usar a tua forma de pensar para eu próprio reflectir. Mas precisamos de ser claros com aqueles que podem não saber que comungas outra fé.
De facto, amigos, e sem qualquer malícia, o Luís professa uma fé diferente da nossa com algumas coisas iguais. Nâo sei se é propriamente protestante. Mas tb nos poderás elucidar, amigo!

Um abraço deste já há muito amigo.

Anónimo disse...

Boa Tarde!

Muito bem Sr Luis Carlos, mas à uma coisa que penso eu se esqueceu quando estava a redigir o seu texto, é que qualquer pessoa para além do seu cargo seja ele qual for, é em primeiro lugar um ser humano com sentimentos.

Ah!!
Muitas verdades estão implicitas no seu texto, mas não me levar a crer que é dessa maneira que reage à morte, pois não?

...

Haja coerencia, por amor de Deus.

Helder

Anónimo disse...

Não registo aqui muitos comentários mas hoje impressionou-me o comentário do Luís Carlos.
Realmente é impressionante como ele se aproxima de mim e do que eu entendo que é a vida e a morte e a experiência de fé em Cristo. Não sei se ele é católico ou não na sua profissão de fé, o que sei é que Cristo nos veio libertar do pecado e da morte e nós ainda vivemos oprimidos pelo pecado e cheio de medo da morte. Os católico sim. Cheios de medo da morte, a falar de morte em vez de vida. A gritar nunca mais te vejo em vez de gritar aleluias de ressurreição e um até já.
Para quem não sabe eu também faço parte daqueles que são chamados a estar presentes nos funerais. Não me custe estar lá, custa-me ver que na celebração dos funerais estou rodeado de homens e mulheres que não entendeream nada de Cristo e choram o que não tem nada para chorar.
Digo muitas coisas de ânimo e de esperança e confiança, mas também digo que só se chora por aqueles que não viveram o amor, não viveram como filhos de Deus, não mergulharam a sua vida na vida de Deus. Esses choram-se porque estão vazio e perdidos no nada de si mesmos por terem vivido só para eles.
Eu sou católico e sou padre
Parabéns Luis Carlos

Anónimo disse...

Axo interessante afirmações como Deus leva primeiro aquelas pessoas que nos fazem mais falta. Não será antes que percebemos que nos fazem muita falta aquelas pessoas que Deus leva e que não percebemos a falta das pessoas enquanto elas não nos faltam?

Anónimo disse...

"Hoje sou eu que sinto isso "Meu Deus porque me abandonaste?". Mas eu sei que ele não me abandonou, eu apenas não O sinto perto."

Estou na mesma situação. Deus nunca nos abandona, mas por vezes não o sentimos perto. Às vezes parece estar tão longe... Parece que não nos ouve, mas isso não é verdade!

Tenhamos fé e peçamos a Deus que aumente cada vez mais a nossa fé.

AMDG
Teresa

Confessionário disse...

Atenção, caro colega. Mas peço-te mesmo muita atenção, caro colega padre.

Uma coisa é acreditarmos na ressurreição, termos a certeza da vida eterna, termos o dever de ser gente da alegria da ressurreição, da alegria de sermos Dele, do encontro com Ele celebrado na morte... e outra a dor da partida de quem se ama.
Até parece que nunca tiveste essa experiência!
Eu por mim falo: não podia haver mais verdadeira alegria na morte da minha mãe por saber que ela tinha cumprido a sua missão e ia para junto de Deus; e não podia haver maior dor e tristeza pela saudade, pelo amor que lhe tinha e tenho. Aliás, deixa-me dizer-te que não há coisa mais dolorosa no mundo do que a dor da partida (seja de que forma for). Não poderás ser assim tão insensível. Deves ter apenas sido demasiado expontâneo. Penso que ambos concordamos em pensar que existe excesso de culto aos mortes e pouco à vida. Mas isso é diferente de reflectir sobre a dor de quem sofre a perda de alguém querido. Já perdeste alguém que te tenha custado deveras?!

Por outro lado, e embora tb me tenha ajudado a reflectir algumas coisas, o Luís fala coisas no seu comentário que são totalmente contrárias ao pensamento católico. Atenção tb a isso, colega.

Confessionário disse...

Ia dirigir-me agora ao Luís, mas de repente lembrei-me ainda de acrescentar ao meu colega padre: quem chora com honestidade num funeral chora não com pena da pessoa que morreu, mas pelo amor que lhe tem e com a dor que isso lhe causa.

Mas agora dirijo-me mesmo ao Luís:
- Jesus fraquejou porque asusmiu a nossa humanidade; não podia ser de outra forma, assumindo-a; que tipo de Deus seria se não a assumisse?
- Deus gosta de todos, até dos selvagens e animais
- Deus não podia fazer-nos todos os milagres porque se não seria condicionado apenas pela vontade dos homens em que Ele fizesse milagres e não pela Sua própria vontade; isso mostra que Ele é Deus
- Eu não tenho medo da morte nem de morrer; nos funerais celebro sempre a vida; isso é diferente de sofrer e ser sensível a quem sofre

Um abraço amigo. Obrigado por me ajudares a reflectir e ir mais longe na minha reflexão. Mas não tenho muito tempo para responder a todas as questões. Estas apeteceram-me em particular. Peço desculpa aos amigos que, às vezes, esperam tb uma resposta que eu não consigo ter tempo para dar.

Luisinha disse...

Gostei do que li sobre todos, sem concordar, sem discordar, apenas lendo e sentindo, conhecendo como as pessoas vivem as coisas de diversas formas e eu também as vivo, mas nem vem ao caso a minha forma de sentir!
Só acho que é sempre bom opiniões diferentes porque nos ajudam a pensar, reflectir, a ter novas ideias e conceitos, a abrir a mente, a pensar em conjunto. No final cada um recolhe aquilo que mais lhe interessa e o que não, talvez sirva para outra pessoa e assim nos vamos completando, conversando, aceitando e vivendo. Não é bonito?! :)
Ver partir os que nos são queridos dói bastante e bem o sei de diversas formas... Mas a vida é mesmo assim e graças a Deus que sempre lá vamos encontrando formas de as superar e recordar com mesmo amor de antes.
Que a todos quantos sintam a dor da separação, saibam que esse amor é a verdadeira união!

Paz e Bem! :)

Anónimo disse...

Olá!

Mas para nós Católicos a morte não é o princípio da Vida?!?!?
Não devemos estar bem quando sabemos que para lá da morte vamos encontrar a Vida e Vida em plenitude?!?!?!
Que um dia nos vamos encontrar todos na Tenda de Deus?!?!?

Para conseguir chegar até aqui foram alguns anos de dor, tristeza por ter perdido os meus pais e outros amigos e familiares em tão curto espaço de tempo, por uma doença que quase me tirou a vida, mas por favor digam-me: estou errada???????

Beijinho
MJG

Anónimo disse...

Srs Padres assumam a vossa humanidade. Deus, que também se fez um entre nós, agradecer-vos-à.

Anónimo disse...

Sei que o meu querido Pai está perto de Deus. Infelizmente isso não me torna imune ao sofrimento que a ausência me causa. Faz-me falta o seu abraço, faz-me falta a sua opinião sempre lúcida e ponderada, faz-me falta o seu olhar cúmplice, faz-me falta... E se o amei em vida! E se ele me amou também! Sorte a daqueles a quem o afastamento não causa dor... Serão mesmo pessoas?
Alguns comentários aqui feitos não são inocentes nem feitos de boa fé. Têm o propósito de baralhar e desacreditar. Traduzem algum mal estar a precisar de justificação (e de perdão). Somos assim pequeninos. Infelizmente.

Obrigada Confessionário amigo.
Faz-me bem senti-lo perto sem o ver. Tal como Deus

Anónimo disse...

Eu sou aquele colega a quem pedes que tenha atenção.
Aproximo-me do Luís Carlos no que respeita ao que ele deixa transparecer de força frente a morte e de certeza da vida eterna.
Claro que não quero mais do que isso.
Não sou insensível à dor dos que ficam, mas também não posso concordar que se esqueça tudo o que diz respeito à comunhão com Cristo, só porque morreu um amigo ou familiar e depois, dias, semanas ou meses volta-se de novo atrás para dizer que me revoltei sem sentido. A fé ilumina. Caem as lágrimas, mas não se desvanece o ânimo.
Tenho experiência sim. Já vi partir o meu pai quando tinha 16 anos, a minhas mãe há 7 anos, o meu cunhado há dois anos e já vi partir muitos amigos, alguns bem jovens.
Não sou imune à dor, nem sou herói da fé. Entendo é que, como diz Paulo "não quero que fiqueis na ignorância no que respeita aos defuntos para não vos entristecerdes como fazem os que não têm esperança".
Obrigado pelas tuas palavras.

joaquim disse...

Permite-me padre amigo que tente dar uma resposta ao comentário do amigo Luís Carlos e daquele que se afirma teu colega padre, do que francamente tenho algumas dúvidas.

Já disseste e bem que o Luís Carlos não vive a fé católica, pelo que os seus comentários expressam essa sua vivência espiritual.

Mas, tirando aos comentários as afirmações redundantes, tais como, « Tens fragilidade nos funerais por que ainda não sabes quem foi Jesus de Nazaré, ainda estás como os apóstolos cheios de religião do Templo de Jerusalém e de paganismo, mais os seus medos sobre a morte.», o que constitui desde logo um julgamento gratuito, tudo o resto nos dois comentários anda à volta da “vivência” da morte, que deve ser encarada com alegria e contentamento, como se Deus ao criar-nos não nos tivesse dado emoções, laços afectivos, e como se nós não fossemos frágeis perante a dor da partida, embora possamos acreditar que a pessoa que nos é querida parte para uma vida melhor.

Mas podemos ver a qual a reacção de Jesus Cristo perante a morte em pelo menos duas vezes, nos Evangelhos.

«Quando estavam perto da porta da cidade, viram que levavam um defunto a sepultar, filho único de sua mãe, que era viúva; e, a acompanhá-la, vinha muita gente da cidade. Vendo-a, o Senhor compadeceu-se dela e disse-lhe: «Não chores.» Aproximando-se, tocou no caixão, e os que o transportavam pararam. Disse então: «Jovem, Eu te ordeno: Levanta-te!» O morto sentou-se e começou a falar. E Jesus entregou-o à sua mãe.» Lc 7, 12-15

Jesus Cristo compadeceu-se, ou seja entendeu a dor daquela mãe, e Ele próprio, digamos muito humanamente, teve pena daquela mãe e daquele jovem e ressuscitou-o embora soubesse que a vida não acabava ali naquela morte.

Outra passagem de todos conhecida, a ressurreição de Lázaro.

«Quando Maria chegou ao sítio onde estava Jesus, mal o viu caiu-lhe aos pés e disse-lhe: «Senhor, se Tu cá estivesses, o meu irmão não teria morrido.» Ao vê-la a chorar e os judeus que a acompanhavam a chorar também, Jesus suspirou profundamente e comoveu-se. Depois, perguntou: «Onde o pusestes?» Responderam-lhe: «Senhor, vem e verás.»
Então Jesus começou a chorar.» Jo 11, 32-34

Jesus comoveu-se, Jesus até chorou, porque era Homem como nós, embora verdadeiro Deus também.
E mais uma vez arrancou Lázaro da morte, que Ele sabia bem que era passagem para outra vida melhor.

Curiosamente a nota da Bíblia desta passagem remete-nos para a nota dada em Hb 4, 15.

Esta passagem diz-nos o seguinte:
«De facto, não temos um Sumo Sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, pois Ele foi provado em tudo como nós, excepto no pecado.» Hb 4,15

2 notas da Bíblia sobre esta passagem:

“Cristo assume a nossa natureza humana e passa pelos sofrimentos, podendo assim compreender-nos e ter compaixão de nós. Como homem, Ele encarna a compaixão divina.”

“Foi provado em tudo”

Temos assim que na nossa humanidade frágil, é normal, e Deus entende-o perfeitamente, que sejamos fracos perante a morte de alguém que nos é querido, embora acreditemos que essa morte, passagem, vai levar essa pessoa a uma vida eterna na comunhão total com Deus.

Eu posso chorar a morte daqueles que me são queridos e no entanto ter a paz e a tranquilidade no meu coração, na minha vida, porque acredito na «ressurreição dos mortos e na vida que há-de vir».

Coisa diferente, essa sim “condenável”, é viver agarrado à ideia da morte, com medo da morte, com obsessão pela morte.
É viver agarrado à recordação doentia daqueles que já partiram, não dando paz às nossas vidas, não aceitando a compaixão de Deus que nos alivia, tranquiliza e pacifica, quase numa simbologia sobre aquelas duas passagens que nos leva a acreditar que Deus compadecendo-se de nós, ressuscitará aqueles que agora foram para Ele.

Peço desculpa pela extensão do comentário.

Abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

cara MJG

Com certeza que estás certa, mas isso não nos impede de vivermos as emoções características da humanidade, desde que não nos dtenahmos nelas, ou seja, desde que não vivamos para recordar a morte, mas para viver a vida.

Do sofrimento da paixão à alegria da Ressurreição.

Abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

Já agora quero pedir desculpa ao colega padre, (colega do "confessionário" claro, que eu não sou padre), pelas minhas dúvidas quanto ao modo como se identificou.

Não tinha o direito de o fazer.

Peço-lhe que aceite um abraço amigo em Cristo

Anónimo disse...

Olá novamente,

Certo Joaquim. Também creio que não devemos estar "agarrados" à morte, mas sim à vida e claro que quando perdemos alguém que amamos muito vivemos as nossa emoções de humanos. Aquilo que eu queria dizer é que o próprio Cristo nos disse: "Quem crê em mim, jamais morrerá."
Beijinho
MJG

Anónimo disse...

Caro 'Confessionário'

Obrigado por me chamares 'colega'... Já o fomos. Já não o somos, porque eu já não sou Padre.

Leio-te sempre com imenso interesse. Porque ao ler-te revivo muito dos momentos desse passado de que, por vezes, acredita, sinto imensa falta.

Sobre a história de Ellie Weisel... Aconselho-te a ler dois pequenos livros:
«O Dia» e «A Noite»
Encontrarás facilmente em qualquer boa livraria.

Esse pequeno relato ajudou-me em muitas ocasiões de profunda dor e angústia. Minhas, pessoais, e minhas na minha condição de Padre e Pastor (Pároco).

Não há nada que nos doa mais, enquanto Padres, que é ouvir uma Mãe perguntar-nos: 'Se foi para a levar (a minha filha - 5 anos), porque é que me a deu?'

Aceita um abraço fraterno.
'És' o Padre que gostaria de ter sido!

Canela disse...

Fomos dotados de sentimentos,
para quê?

Para os vivermos com sinceridade (acho eu).


A Paz de Cristo.

Confessionário disse...

Ó Colega (serás sempre colega...lembras? uma vez padre, padre para sempre) agora deixaste-me sem palavras.
Eu não sou melhor que ninguém. Sou até muito simples. Assumo é esta minha forma de ver as coisas com muita garra.
Não queres falar por mail?
um abraço forte

CrisR disse...

Se relamente o Luis Carlos é protestante (o que duvido peloque li no seu blogue), deixe-me lhe dizer que para falar da forma como fala com o padre que escreve neste blogue, o seu processo de santificação ainda está muito pelo inicio....e ainda é um "bebé de fraldas" no que diz respeito ao crescimento espiritula, que tem como uma das suas essencias o amor pelos outros, coisa que o seu post não tem nada.
Pense bem antes de escrever o que escreve como escreve, pois pelo seu olhar já tem idade para o fazer.

Carla Santos Alves disse...

oh pá...até eu chorei so de te ler !
Perder um filho, nao tem qualificação possivel!
...nao tenho palavras!
Um bj

Paula disse...

o que digo ao meu grupo do 5ano catequese??
um amigo, colega deles com 10anos, morreu ontem acidente de carro; ia com pais ver jogo de futebol o carro despistou-se e morreu logo, os pais ficaram estado grave...

eu nem a adultos sem o que dizer..
Paula

Anónimo disse...

Caminhando lado a lado com Crito...
Nascendo com ele, vivendo e sofrendo e finalmente, sem espaço nem hora, morrendo em sua paz...
A vida é mesmo assim, mas sem ele seria muito pior...
Parabens Pelo Blog,
Ass. Teólogo do Seminário de V. Real

Anónimo disse...

"Ellie Weisel sobre a sua experiência em Auschwitz:" ?

Estranho, eu parece que li isso em Léon Wells...
"Para que a Terra não esqueça".
Conhece?
Não percebo porque que nunca ouço falar desse livro - só de outros...

Anónimo disse...

Fui católico até aos 17 anos e daí fui para a Igreja Mórmon. Aí aprendi a realidade da ressurreição e a certeza de um dia poder estar com os meus entes-queridos na presença de Jesus e de Deus. A vida levou a que hoje eu duvide da existência de Deus e se haverá uma igreja verdadeira sobre a Terra. Para mim não há nenhuma que ensine o Evangelho de Cristo na sua pureza.

Para mim o que deveria ter sito a esses pais é o que a sua igreja ensina, a realidade da ressurreição e a certeza de que um dia nos voltaremos a encontrar, por mais difícil seja para a nossa mente humana acreditar.

Um abraço,

Miguel Lomelino
www.miguellomelino.com

Anónimo disse...

Há algum tempo que não passava por aqui, voltei com muito agrado. Um muito obrigado por continuar a ser autentico.Há muito pouco tempo perdi um amigo já na casa dos 80.
È posssivel sentir que foi um anjo que partir e que esta em união comigo?

Confessionário disse...

Amigo ou amiga anónima,
os que amamos ficam sempre connosco, no nosso coração... e como podemos sempre encontrar forças no nosso coração, sempre encontraremos forças naqueles que amamos e que, apesar de terem partido, continuam no nosso coração. Anjos? Não sei. Mas no nosso coração sim.

Anónimo disse...

Artigo com alguma densidade humana e espiritual, interrogações e refência à fé.

Notável desabafo.

Fernando Gonçalves

Alda disse...

A fragilidade vem da alma, por isso por mais funerais que faça continua a sofrer, continua a sentir a dor e partilha-la até com familiares. A sua sensibilidade vai sempre fazer com que custe sempre, não só os funerais mas também o sofrimento de cada ser. Alivia-nos pensar que a morte é apenas uma passagem para outra vida. e acreditando que apenas deixamos o corpo fisico, faz minimizar a dor. Acrditandoque nada acontece ao acaso, que tudo tem uma razão de ser e "ELE" é que sabe, é quem manda.Continuação de um santo e feliz natal, cheio de paz e muita luz

rozane disse...

sabe estou no meu pior dia minha unica filha saio de casa para viver com um cara casado com fiho ja rezei mas a inpresao que tenho e que deus me abandono porque que dor se puder me ajude pois tudo oque quero e me matar
rozane

Confessionário disse...

Rosane, não pense que Deus a abandonou. Quem a abandonou foi a filha, e tudo pode ser apenas uma fase. Mais, ninguém pode escolher por outros a sua vida. As opções são de cada um.

Vou rezar por si, mas nao se deixe abandonar por nada, pois a Vida vale mais que tudo e Deus ainda vale mais que a vida.

Teresa disse...

"devíamos aprender com isto da morte a lição da vida. Nesta ocasião todos somos iguais. Não há ricos nem pobres. Que não sabemos o dia nem a hora. Que perdemos tempo preocupados com tantas futilidades. Que devemos estabelecer prioridades. Que não devemos estar a mal com ninguém. Que devemos amar enquanto é tempo. Que devemos procurar sentido para a vida."

Adoro o que escreve...
bjs

Anónimo disse...

Há cerca de meia dúzia de anos, abri a Bíblia ao Deus dará, com um pedido urgente de resposta. Fui imediatamente confrontada com esta passagem, que me surpreendeu, por coincidir com o que procurava e precisava, naquele exacto momento. Pensei: fui ouvida. Isso, fez-me muito bem. Essencialmente, dá-nos uma perspectiva divina do tempo, na vida. Deixo-a aqui transcrita, e não apenas indicada; pode ser traga consolo a mais alguém.

A MORTE PREMATURA DO JUSTO

«Porém, o justo, mesmo que morra antes da idade, gozará de repouso
A honra da velhice não consiste numa longa vida,
E não se mede pelo número de anos.
Mas a inteligência é que faz os cabelos brancos,
e a verdadeira velhice é uma vida imaculada.
Ele agradou a Deus e foi por Ele amado,
e transferiu-o do meio dos pecadores onde vivia.
Foi arrebatado para que a malícia não lhe corrompesse a inteligência,
nem a astúcia lhe pervertesse a alma.
Porque a fascinação do vício escurece a beleza moral
E o movimento das paixões transforma uma alma ingénua.
Chegado rapidamente à perfeição,
Viveu uma larga vida.
A sua alma era agradável ao Senhor,
E, por isso, Ele apressou-se a retirá-lo do meio da perversidade.
Os povos que vêem este modo de agir não o compreendem,
Nem refletem nisto.
O favor de Deus e a Sua misericórdia
são para os Seus eleitos,
e a Sua assistência está no meio dos Seus santos.
O justo, ao morrer, condena os ímpios que sobrevivem,
E a juventude, chegada rapidamente à perfeição, confunde a larga vida do pecador.»
(Sab. 4, 7-16)

Anónimo disse...

Hoje lembrei-me por instantes dum padre falecido, e pedi-lhe que me ajudasse, que me levantasse da lama em que tem estado a minha vida. Pouco depois percebi que hoje se rezava missa por sua intenção, não sabia. Se o dia começou nublado, não terminou melhor. Durante a celebração apoderou-se de mim uma angústia tão grande que toda a vida parecia esfumar-se para cada rosto numa brevidade de tempo incompreensível. Era como se vivêssemos todos uma ilusão. Como se o tempo fosse outro. Ah o tempo! Por vezes temos estados e visões que nos viram a alma do avesso. A finitude tornou-se tão presente que eu não sei ainda que sentido dar à vida. Todos os que faziam fila para a comunhão em breve também fariam celebrar missas. Outros mais novos não podiam garantir-nos nada. Nesse momento vi a vida de outra forma. Deixei passar pela mente algumas imagens do tempo saudável daquele sacerdote, e a sua morte parecia repercutir-se numa qualquer generalidade assustadora.