quinta-feira, janeiro 17, 2008

De rabo a abanar

Quando entrei na igreja matriz também quis entrar. É uma criatura de Deus este cão, pensei. E embora pudesse ter melhores ouvidos à Palavra de Deus que muitos dos nossos cristãos, não fazia propriamente parte da comunidade. Esbocei um gesto para o afastar. Ou com medo ou com respeito, afastou-se. Dois acólitos que entravam comigo falaram-me da sua amizade. Que eram muito amigos. Aproveitei a ocasião para lhes falar das criaturas de Deus que merecem o nosso carinho. E assim demos início à Eucaristia.
Lá estavam os acólitos nas suas alvas brancas, de velas na mão, em frente ao ambão e eu a proclamar o Evangelho quando, por entre a multidão surge o nosso amigo cão. Algumas pessoas tentaram afastá-lo da ideia de se passear pela coxia. Em vão. Por entre calcanhares e pernas, foge e intenta chegar junto dos seus carinhosos amigos, os acólitos. Eu vou assistindo do canto do olho. Um no livro e outro no desenrolar da situação. Uma jovem mais decidida encaminha-se na sua direcção. Ele foge insistentemente e ela insistentemente corre atrás dele. Desiste depois. Era impossível. Para mim começava a tornar-se impossível também a compostura. Em pequenos trejeitos o meu sorriso ia crescendo. Tentava controlar-me. Por fim o cão chegou junto dos meus acólitos, mesmo à minha frente. Estancou e toca de abanar o rabo. De um lado para o outro. À espera. Parecia querer ouvir melhor a Palavra de Deus. Não teve medo, como muitos cristãos, de ir para a frente da Igreja. Impossível alhear-me da situação. Ainda por cima tinha presente o “de rabo para o ar”.
Um dos acólitos é obrigado a largar a vela e sair da Igreja para que o seu cão amigo o seguisse. Eu assisto. Resisto. Acabo a leitura e não resisto. Lá vai uma Palavra da Salvação que mais saiu como de exaltação. Paaa-lahaha-vrrraa da Salvahahaçã…

14 comentários:

Elsa Sequeira disse...

Glóriahaha a Vós Senhor!

Por aí parece que os animais adoram ir á Missa!


bjts

Anónimo disse...

:)

que giro, também já vi um cão assim atento na missa, e as pessoas mais atentas ao cão que á missa...

hihihi

um abraço amigo

Anónimo disse...

:))) Fez-me rir, hoje que estou mais para baixo do que para cima -o trabalho, em exceeeeeesso, rouba-me o sentido de humor e torna-me intragável...
O senhor tem mesmo que ser um Padre especial.
Não estou lá para ver, mas quase tenho a certeza de que há gente jovem nas Eucaristias a que preside. Estou certa ou errada?
Bjs

Confessionário disse...

Fá, o que é gente jovem? hummmm, deixa cá ver...

Anónimo disse...

Esta fez-me lembrar velhos tempos. O meu pároco de então, já idoso, tinha uma gata, de nome Boneca, que lhe estava muito afeiçoada. Era normal encontrá-la na sacristia, onde o padre fazia o atendimento, e onde ficava fechada enquanto ele ia celebrar a missa. Mas, por vezes, ela conseguia escapulir-se a tempo. Não tendo acesso directo à igreja (as portas estavam fechadas), tratava de o obter pela parte de trás da tribuna do altar-mor. E então, dava-se o espectáculo: ela aparecia no último degrau (onde se expõe o Santíssimo), media as alturas por uns momentos, e calmamente começava a saltar de degrau em degrau por ali abaixo até chegar junto do padre, onde ficava a ronronar. Aí, o sacristão tratava de a apanhar e levá-la para a sacristia. Eu e muitos outros ficávamos fascinados com aquilo; e ansiávamos pela próxima vez que tal acontecesse. O meu pároco, curiosamente, nunca se desmanchava; ele, que era muito severo com as pessoas, derretia-se todo com aquela gata...

Confessionário disse...

Js, se calhar o padre derretia-se com a gata exactamente por nao poder (ou não lhe ser conveniente) derreter-se com mais alguém... eheheh

Anónimo disse...

Fartei-me de rir com esta...

Realmente acho que já toda a gente viu cães em missas, sobretudo no Norte do País. Em Monção, todos os Domingos, há um cão que entra na igreja assim que começa a Missa e sai quando acaba. O estranho disto é que não vai com ninguém, nem é conhecido dos acólitos... Isto era assim até há dois anos atrás, pelo menos,porque o ano passado não fui lá.

Paulo disse...

Os animais também são criatura de Deus. Muito honestamente não vejo mal de um cão ou um gato, entrar na igreja e ali ficar a assitir à celebração eucaristica ou, sentar-se a adorar o sacrário. Tantas pessoas que vão e não prestam tanta atenção como "esses" animais.
Em tempos idos, também conheci um cão que lá na paroquia onde residi, todos os Domigos ia à missa e deitava-se no meio da igreja até ao fim da missa, mas não dormia, ficava ali a ouvir as palavras de Deus.

Confessionário disse...

Acabei de ler e achei que devia partilhar... a propósito e despropósito:

Bênção de animais na Praça de São Pedro

Na festa de Santo Antônio abade, mensagem do Papa aos pecuaristas


CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 17 de janeiro de 2008 (ZENIT.org).- Hoje, por ocasião da festa de Santo Antônio Abade, padroeiro dos pecuaristas, foram levados à praça de São Pedro, do Vaticano, numerosos animais para que fossem abençoados pelo cardeal Angelo Comastri, arcipreste da Basílica Vaticana.

Depois da missa para os pecuaristas, na Basílica, aconteceu a bênção do gado. Havia vacas leiteiras e de carne, cavalos, burros e outros animais, que atraíram a atenção (e as fotos) dos turistas e peregrinos que nesse momento passavam pela praça.

Bento XVI havia saudado os pecuaristas ontem, durante a audiência geral, sublinhando que são «uma realidade importante para a economia».

O Papa os exortou «a trabalhar cada vez mais pelo respeito do ambiente e a favor da segurança alimentar dos cidadãos».

«Que a festa litúrgica de vosso padroeiro, Santo Antônio Abade, acrescentou, suscite em vós o desejo de amar com generosidade a Cristo e de testemunhar com alegria seu Evangelho.»

Santo Antônio Abade, conhecido também como «o ermitão» ou «o grande», que viveu no Egito entre os séculos III e IV, foi o monge fundador do movimento eremítico.

A tradição conta que era um grande amigo dos animais e que quando via um ferido, ele o curava.

Anónimo disse...

Este Domingo tb na minha paróquia haverá a benção dos animais...mas na rua. É a festa de S. Antão.
Tenho que confessar que os meus cães tb já assistiram à missa. Também se passeiam muito pela igreja, à nossa procura. Os outros riem, mas eu fico embaraçada sempre que isto acontece.

MAria João

Alma peregrina disse...

Quando Deus revelou a Noé a ameaça do Dilúvio Universal, nenhum homem ou mulher entrou na Arca (exceptuando a família de Noé). Todavia, os animais não hesitaram em seguir a salvação.

De igual modo, quando as pessoas se recusaram a escutar S. António, este foi pregar aos peixes... e estes ouviram o sermão com interesse.

Quando S. Francisco de Assis repreendeu o lobo de Gubbio, este arrependeu-se imediatamente e deixou de atormentar os camponeses. Quantos homens e mulheres não terão permanecido surdos às pregações deste santo ou de qualquer outro agente de Deus.

Ou seja, quando o Mundo vira as costas a Deus, Ele mostra-nos como a Criação está orientada para Ele. Nesse momento, a nossa razão torna-nos os animais irracionais. Um grande paradoxo, mas lógico se pensarmos que Deus é a Razão pura, o Logos.

Continua a abanar a cauda, fiel canino! Envergonha o homem moderno com a tua alegria simples e bucólica em participar na Verdade Absoluta! Naquele Evangelho, foste mais sábio que os sábios deste Mundo (que, geralmente, rejeitam a fonte de toda a Sabedoria)!

Alma peregrina disse...

A propósito padre, quando vai criar o link para "Spes salvi", tal como o fez para "Deus caritas est"?

Marcelino Teles disse...

E de pequenino que oiço esta advinha:
"Porque razão o cão entra dentro a Igreja"?
Resposta: Porque a porta estava aberta!

Anónimo disse...

bom dia. Em primeiro lugar queria dizer que gosto muito do seu blog.
E queria perguntar porque não deixaram o ao ficar?ao é por nada mas eu venho de Africa de sul e normalmente todos os padres tem cão. Mas tinha um igreja em particular aonde um padre levava os seus dois cães á missa, Ele celebrava a missa com os cães ali, eles não faziam mal, ficava quientos e as pessoas nem davam conta que os cães estavam lá, pois o mais importante era celebrar a eucaristia, independentmente havendo lá cães ou não...