sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Tão pecado como perdoado

A senhora é daquelas que não se cala facilmente e que não deixa para os outros os critérios que julga dever ter. No final da Eucaristia veio directa ao assunto. Senhor padre, venho colocar-lhe uma questão sobre o aborto. Li no jornal, disse. O pedido de atenção nem me deixou desparamentar. Aproveitei os poucos segundos dessa acção para pensar o meu cansaço desta campanha e destes dias. Cansei dos extremismos e fanatismos que esta questão trouxe consigo. A questão era emotiva, mas foi demasiado emotiva. Houve demasiada fraude, mesquinhice e oportunismo. Houve demasiado ataque de pessoas e instituições e pouca defesa de argumentos. Houve demasiada obsessão e falta de respeito. Fizeram-na demasiado religiosa. E tanto se aproveitaram uns como outros desta forma de sentir. Vivo a minha fé na vida, mas não sinto que a minha fé possa ser um argumento. Será apenas a minha visão da vida. Não gostei da generalidade da Comunicação Social nem de ver tanta gente de Igreja a encher os ecrãs. Não gostei das intenções escondidas por detrás de alguns discursos. Houve gente séria, bons discursos, inteligentes e honestos. Porém, abundou mais a banalização errada da maioria. Estou convencido de haver pessoas que vão votar sem o fazerem em consciência. Se não estivesse convicto e esclarecido, nesta hora desistiria de votar. Desconfiarão agora que não tive tempo de pensar isto tudo enquanto retirava casula, estola e alva. Mas isto passou-me quase num segundo como se fossem todos os minutos dos meus últimos dias. Acabada a faina e arrumados os paramentos, voltei à senhora. Diga. Padre, é pecado abortar ou não? Engasguei, para ser imparcial. E ela insistiu, porque me ouvira em tempos ensinar que dizer “eu não mato e não roubo” na confissão não era correcto, dado que eram o desfiar de virtudes e deviam dizer o que na consciência os afastara de Deus. Hábitos antigos de desobrigas. Acha normal uma pessoa dizer na confissão que não mata e depois concordar com a morte de um ser que não se pode defender, mas que está provado existir? Aceitar e aprovar e apoiar quem decide matar? Não é tão ladrão o que vai à horta como o que fica à porta? Respondi-lhe, mais por obrigação de pastor que por vontade de falar no assunto. Sabe, Deus é misericordioso. Acredito que Ele há-de perdoar quem precisar do Seu perdão, independentemente do mal ou do pecado que cometer. Ele sempre condenou o pecado. Mas sempre teve o perdão pronto para usar. O pecado será sempre pecado. Mas quem peca poderá sempre, se quiser e arrependido, usar do Seu perdão. Sempre.

33 comentários:

Goldmundo disse...

Gosto muito de ti, Padre :)

Maria João disse...

Alguém que diga alguma coisa que faça sentido. Nas últimas palavras dizes tudo, Confessionário.

Sinceramente receio as consequências desta campanha em relação à Igreja. Está a ser demasiado "religiosa". Na Igreja ao pé do meu trabalho, ontem vi, lá dentro, um panfleto do Não, hoje vi um do Sim. Não sei bem que consequências é que isto poderá trazer. Além disso, receio que os padres no domingo falem na questão do aborto. Acho mesmo que se isso acontecer, só vai contribuir para o mal da Igreja.

Que Deus nos ajude!

joaquim disse...

Costumo dizer, quando tenho de falar nos Grupos de Oração, que a Deus não interessa o "tamanho" do nosso pecado, mas sim a "sinceridade" do nosso arrependimento.
O perdão de Deus é muito maior que o pecado.
O aborto, apoiar o aborto, fomentar o aborto, é com certeza pecado à luz da Doutrina da Igreja Católica, mas o arrependimento verdadeiro conta sempre com o perdão de Deus.
A Igreja não condena o pecador, condena o pecado.
O pecado do aborto, pode, por exemplo, ser confessado e absolvido, no serviço de confissões do Santuário de Fátima, por "autorização" do Bispo de Leiria-Fátima.
Abraço em Cristo

Anónimo disse...

Faço ideia o drama que vocês Padres, que muito respeito, passam com este tipo de questões...
Não podia ter respondido da melhor forma.

Sandra Dantas disse...

É isso mesmo,
Deus condena sempre o pecado e salva sempre o pecador!
Que nós saibamos fazer igual!

Um abraço!

Confessionário disse...

Ó Gold... fiquei sem palavras...

Sonhadora disse...

Sabe tão bem ler este post... Também eu estou "esgotada" com este referendo, com tanto radicalismo e protagonismo.
Espero que os dois lados respeitem os dias de reflexão pois acho que é preciso limpar a cabeça de tanta "poluição" que nos foi imposta nos últimos dias.
Quanto ao resto... Seja o que Deus quiser!

Anónimo disse...

Padre
Sou mais radical, confesso! Nessa óptica, teremos, então, que ter a mesma postura para com todos os comportamentos desviantes da nossa sociedade... Tudo se relativiza, tudo se consente! Matar é matar, bolas! E um cristão tem que ser pela vida, incondicionalmente. Mesmo (e sobretudo) quando o caminho é difícil. É evidente que acreditamos num Deus misericordioso, que a todos ama. Mas não sei se Ele daria a mesma resposta à senhora com quem conversou... Experimente perguntar-lhe...
Que Deus nos dê, no Domingo, a sabedoria bastante para distinguir o bem do mal!
Um abraço amigo

Mário da Silva disse...

O que eu não gostei mesmo foi de vêr padres a fazer campanha pelo SIM e de alguns dos que fizeram pelo NÃO. Mais valia terem ficado quietos e falarem só com os seus paroquianos.

Infelizmente este referendo pouco tem a vêr com a Vida ou mesmo com a Despenalização já que, especialmente a última, isso já está garantido desde pelo menos Maio do ano passado pelo próprio José Sócrates.

É pena que se tenha falado pouco de Lei e das Leis que já estão aprovadas e escondidas.

Deixo-lhe aqui dois links para três artigos que escrevi mas que pode apagar se achar conveniente:

1. O referendo e a matemática
2. O que diz a Lei e qual o objectivo da sua alteração
3. A Lei que está prevista

Sabe que a maior parte das pessoas a quem eu falei destes argumentos Legais não sabia da maior parte das possibilidades ou sequer da sua existência?
Sabe que a maior parte dessas pessoas iam votar SIM mas com o receio de que esta Lei se convertesse num método contraceptivo?
Sabe que a nova Lei ampliou as anteriores 14 semanas (eram 12 em 84) para 16 semanas e adicionou "razões económicas e sociais" às hipóteses de causa para fazer o aborto legalmente nesse período de tempo?

O NÃO quiz ser discreto e apontar somente os factos mas foi difícil afastar os radicais internos e aguentar os insultos contínuos dos radicais externos, mesmo assim gostei de vêr a campanha discreta e simples da TV.

Espero que não passe este refendo que a Despenalização já é garantida pelas Leis recentemente aprovada e pela nova Lei que já está aprovada na generalidade e pela sua ampla latitude de possibilidades.

A Lei pode e deve ser melhorada.

O Aborto Livre não vai ser bom para ninguém excepto para os que dele vão fazer negócio e pelas perspectivas abertas em relação às experimentações genéticas com os embriões criados em laboratório e excedentes da procriação Médicamente Assistida; porque não se pode dizer que um feto até às 10 semanas é uma "coisa" sem valor e depois querer-se proteger legalmente um embrião com menos de duas semanas.

Desculpe ser longo mas é tanta coisa e fomos tão bem enganados.

Até mais.

adopcaodosanimais@gmail.com disse...

Concordo consigo, tanta manipulação, tanta porcaria junta..

A ver vamos, como isto vai ser no domingo!

www.confissoesdeumasurda.blogs.sapo.pt

Elsa Sequeira disse...

Olá!!!

Ès tão querido!!!
E sabes sempre pôr as palavras no sítio correcto, formado uma balada para quem as ouve!!

Beijinhos!
:))

Ps - Como já sabes, não comento
mais aborto!Adoro a Vida, mas detesto politica...

elsa sekeira
(www.eu-estou-aki.blogspot.com)
(Não consigo comentar, sem ser anónimo...)

Migalhas disse...

Olá, caro amigo.
Só tenho pena é que estejas cansado. Mas trabalhaste por uma causa. Tu és um homem de causas!!! Entregas-te, entregas-te e, depois... ficas exausto. E também um pouco desiludido com as atitudes de certas pessoas.
Peço-te: continua, assim, como um homem de causas; e não te importes com o resto.
Abraço

Anónimo disse...

Penso que a Igreja Católica foi imprudente e cometeu um erro gravíssimo ao empenhar-se neste referendo.
A partir de agora será legítimo dizer-se que Portugal é um "País Católico"?

Anónimo disse...

Estou triste! No meu País a vida deixou de ser um valor supremo, inalianável. Como pode? Pode.

Um abraço a todos (mais apertadinho aos que votaram "não".

Marco Oliveira disse...

Gente,
Algum de vocês leu o último número da revista Le Monde des Religions?
Tem uma sondagem e várias reportagens sobre o catolicismo em França.

Anónimo disse...

Já lá vai o referendo.
Ganhou o sim, ou melhor, ganhou o absentismo.
Tanto faz para o caso.

Pensei que a Igreja e, directamente os padres, deviam ter tido alguma coisa a dizer sobre a prática do aborto.
Mas infelizmente, parece que a Moral já nada tem a ver com a Religião, que se afunilou nas suas práticas rituais.

Eu, ao contrário, entendo que o aborto não é só um problema para ser resolvido nas estâncias laicas, mas também deve ser encarado no seu aspecto religioso, pois "não matarás" provém da Lei Divina.
Verificou-se que os fiéis foram sumariamente enxotados pelos padres sempre que se acercavam de alguns deles para pedir esclarecimentos e tirar díuvidas.
Muitos padres, sobretudo os que se deixam enredar nas malhas do modernismo e gostam mais de agradar ao mundo do que a Deus, pensam que com simpatias e ambivalências, evangelizam o rebanho. Mas a médio prazo se deparam com as Igrejas vazias, porque não souberam ou não quiseram manter-se firmes e fiéis à verdade e ensinamentos evangélicos, prevalecendo as ambiguidades e os respeitos humanos (com medo do que possam dizer deles) e as pessoas ficam confusas e esmorecem na fé.

Que Deus é Amor e Misericórdia, todos nós sabemos, mas também é Justo e não gosta de pessoas "mornas", o que todos esquecem.
Qualquer bom pai, que ama os filhos e deseja levá-los pelo bom caminho, sabe que é preciso muitas vezes dizer "não" abertamente.
O papel do educador é, por essência, gerador de antipatia, pois o ser humano, por natureza, não gosta que lhe ponham rédeas e freios, mas estes são necessários se queremos uma sociedade moralmente saudável.
Tal como o bom médico, que não olha se o doente gosta ou não do remédio, mas o obriga a tomar para bem da sua saúde física.

Ora bem, posto isto, amanhâ faço um aborto e no dia seguinte vou ao confessionário pedir a absolvição do pecado. Mas entretanto, fiz aquilo que bem me apeteceu e livrei-me de um incómodo que não queria.

Confessionário disse...

hepta, não será assim tão fácil. Uma coisa é a lei e outra a moral. Tens razão quando dizes que, às vezes, podemos ser demasiado mornos. Mas eu, pessoalmente, não quero enviar ninguém para o inferno! E gosto mais de um Deus misericordioso que de um Deus castigador!

Porém, podes acreditar que a questão do pecado continuará. E para que haja uma verdadeira confissão, é absolutamente necessário o arependimento (o que está claro neste meu post). Uma coisa é a confissão e outra o perdão de Deus (embora ambos se complementem)! Explico: Deus quer o bem de todos e perdoa infinitamente... e, à partida, devemos ter a certeza disto! Só depois vem o depois: é que eu só me aproximo de Deus se o quiser fazer!
Não confundamos as coisas...

Relativamente ao que parece quereres referir-te a mim, e dependendo se acreditas em mim ou não: este texto é o resultado do meu cansaço em relação a este referendo. Mas eu lutei, e muito, para defender os mais fracos deste referendo, as crianças. Sem fanatismos nem recriminações, sem ataques, mas com muita convicção e argumentos. Só Deus sabe. De resto, o que escrevi traduz o que penso e assumo.

Pensei não escrever mais sobre este assunto. Não o vou fazer, com certeza, em post. E continuarei a respeitar quem votou de forma diferente de mim. Mais, espero agora, para com mais força ajudar quem precisar. E tenho a certeza que vamos precisar de TODOS para o fazer. Agora é que é!

Oura coisa que é necessário dirimir nesta questão, e respondo, em parte, à Fá: Uma coisa são os católicos de fé e outra o dos "sacramentos" (espero que me entendam). Os de fé são mais autenticos... mas existem muitos que são só de "sacramentos". A mim pessoalmente não me interessa fazer parte de um país de católicos se estes não forem autênticos!

Goldmundo disse...

Estranha fé essa, que "esmorece" na falta de chibata.

Por mim, não quero uma sociedade moralmente saudável. Quero o Reino.

Quanto ao aborto e ao "confessionário" (não o Padre, mas o de madeira ou plástico), por estranho que nos pareça é assim mesmo. Abortamos (ou matamos, roubamos e comemos gulodices) e no dia seguinte pedimos a absolvição. Se O enganarmos, saimos de lá muito bem.

Claro que, se passasse a ser crime a confissão mal feita... não era?

Abraço em Cristo.

Anónimo disse...

Goldmundo

Não é na falta de chibata que a fé esmorece. Não foi isso que eu disse.
Esmorece, concerteza, quando as pessoas se vêm confrontadas com questões postas para as quais não recebem respostas adequadas ou simplesmente os padres lhe viram as costas.

Pensador disse...

Recordamos os últimos momentos da nossa Querida e Santa Irmã Lúcia antes de "Nascer" para a Plenitude do Amor de Deus, a 13 de Fevereiro de 2005 pelas 17:25h.

"Sim, naquele momento, o seu olhar que se apagava para esta vida, abria-se à Luz Eterna de Deus! Num dado momento, inesperadamente, aqueles olhos que tantas vezes contemplaram o Invisível, abriram-se! Olhou todas as Irmãs. Depois voltou- os para a direita e fixou os meus. Não consigo descrever a profundidade desse olhar! Foi impressionante. Coloquei o crucifixo nessa direcção e em seguida voltou a fechá-los. Foi a despedida." (Irmã Celina, Madre Superiora)

Para além de recordarmos o dia do seu nascimento para a Eternidade, convidamos-te a partilhar, em intimidade, no silêncio da alma a Santidade.

Migalhas disse...

Talvez não fique mal, recordar a passagem de Lucas 7,36-50.
"...Por essa razão, eu te digo, seus numerosos pecados lhe são perdoados, porque ela demonstrou muito amor. Mas aquele a quem pouco foi perdoado mostra pouco amor" (v. 47).
Às vezes "faz bem" ter de ser perdoado de muito para amar muito. E para compreender os outros(as). E para se ficar a saber que Deus é mesmo AMOR.
Por isso, gosto do título (e não só) deste post: "Tão pecado como perdoado".
É agora que vem o grande desafio para nós. Claro que seria mais fácil (seria?) ter a lei do "nosso lado"; estaríamos de "consciência tranquila", descansadinhos... O grande desafio vem agora: como é que nos vamos comprometer? Como vamos "sujar as mãos"? Que educação fazemos? Que acompanhamento? Que instituições de apoio? Como vamos mostrar que somos diferentes? Como vamos mostrar o nosso amor e compaixão? Que mudanças na sociedade vamos exigir e ajudar a construir? Que amor e diálogo vamos construir nas famílias? Quem ambiente e que sociedade preparamos para receber as crianças possíveis de abortar?
A partir de agora, tudo se torna mais exigente, mas também mais verdadeiro.
Com amor e misericórdia

Pensador disse...

Recordamos os últimos momentos da nossa Querida e Santa Irmã Lúcia antes de "Nascer" para a Plenitude do Amor de Deus, a 13 de Fevereiro de 2005 pelas 17:25h.

"Sim, naquele momento, o seu olhar que se apagava para esta vida, abria-se à Luz Eterna de Deus! Num dado momento, inesperadamente, aqueles olhos que tantas vezes contemplaram o Invisível, abriram-se! Olhou todas as Irmãs. Depois voltou- os para a direita e fixou os meus. Não consigo descrever a profundidade desse olhar! Foi impressionante. Coloquei o crucifixo nessa direcção e em seguida voltou a fechá-los. Foi a despedida." (Irmã Celina, Madre Superiora)

Para além de recordarmos o dia do seu nascimento para a Eternidade, convidamos-te a partilhar, em intimidade, no silêncio da alma a Santidade.

Confessionário disse...

Hepta, independentemente da história da chibata, achas mesmo que a minha resposta não foi adequada? Se não foi, pergunto em quê? Ou estás a referir-te a outras situações semelhantes?

É que se te referes à minha resposta, posso garantir-te que o conteúdo dela é correcto teologica e moralmente... e tem em si uma profundidade muito para além das palavras que se possam ler sem atenção...
Um abraço

Goldmundo disse...

Hepta, o ponto que levantas é muito importante. Mas a verdade é que a questão referendada foi, tão-só, a da aplicação da chibata: o Estado ignora - e ainda bem!!!! - o que sejam o "bem" e o "mal".

Foram muitos poucos os católicos (mesmo que "autoproclamados") que, no plano da salvação e não no da lei, vi defenderem que o aborto nem pecado fosse.

O que eu digo (e não estou a ser arrastado por estados emocionais, que em mim são raros) é que no estado actual da civilização, Deus deve demarcar-se de César. Mil vezes mais do que em qualquer outra época.

Note-se que, quando "eles", os "abortistas", falam da "derrota da Igreja" neste referendo, falam - e bem - da clivagem entre o Portugal "profundo" do Norte e o Portugal "urbano". Eu tenho imensa pena da "civilização cristã" que está a morrer (não é o Cristianismo que está a morrer, note-se!): tenho, como o Fernando Pessoa, saudades dos sinos da minha aldeia... Mas curiosamente, não vejo do "nosso" lado - quando os políticos ou os colunistas de jornais que estiveram connosco falam de "economia" e não de "religião" - grandes reservas à chamada Globalização e ao chamado Capitalismo.

Gostava imenso, por exemplo, de ver a "dinâmica" da "pró-vida" a olhar para os refugiados africanos que naufragam ou são devolvidos como se fossem cartas sem endereço às terras de fome de onde fugiram. Um olhar que não fosse o da Caridade (a boa) mas também o da "esta lei é insuportável". Não admito que se fale do argumento da natalidade e não se deixe entrar na Europa bébés senegaleses, guineenses ou marroquinos.

É como a história da mulher de César, que tinha de ser mesmo honesta sem que bastasse parecê-lo: à Igreja, como mulher decente e casada, não basta não ter adultério com os Césares do Mundo: é preciso que o pareça, aos olhos dos não-crentes. Pelo menos, dos não-crentes de boa vontade.

Isto é um aspecto a pensar, creio eu, em complemento à questão que colocas, que me parece ser a da Obediência. E que é para nós, somente.

Desculpa, Padre, a extensão do texto.

Abraço em Cristo.

Anónimo disse...

Sr. Padre, peço desculpa por não lhe ter respondido ao seu comentário ao meu comentário, mas foi porque o aceitei e nada tinha a objectar.

Mas já que me pergunta directamente, eu respondo directamente.
De facto, cai-me mal quando vejo pessoas que se abeiram de alguém, neste caso de padres, colocando questões e pedindo esclarecimentos e recebem respostas com rodeios ou, no pior dos casos, são repelidas.
Em princípio, cada um recorre àqueles em quem confia, cujos conselhos e opiniões lhes merecem confiança e que vêm neles alguma autoridade e exemplo.

A senhora fez-lhe um pergunta concreta e devia ter recebido uma resposta concreta, sem rodeios, sem medos, mesmo que a resposta não lhe agradasse.

- "Padre, é pecado abortar ou não?"
- "Respondi-lhe, mais por 'obrigação' de pastor que por vontade de falar no assunto".
E contornou o assunto com amores e perdões, como se a senhora fosse daquelas (não sei se é ou não) intolerantes sempre prontas a apontador o dedo a todas as faltas dos seus semelhantes.

Mas, em todo o caso, sr. Padre, é compreensível o seu cansaço e acredito na sua boa-vontade e na sua boa-fé.

Sabe, esta conversa muito em voga, do amor e do perdão, acaba por se tornar cansativo, visto que, em muitos casos, não passa de desculpas e confusões muito oportunas, para aqueles que pretendem fazer tudo o que lhes apetece e para quem tudo é relativo e todos os motivos são justificáveis.
Pouco se fala na necessidade de verdadeiro arrependimento, de conversão interior e da necessária remissão.
Só depois, os rituais têm valor.

Migalhas disse...

Alguém, que saiba teologia e psicologia, me saberá dizer o que é "verdadeiro arrependimento"?
Humildemente digo, que gostava de ser esclarecido.
Abraços

joaquim disse...

Não sei teologia, nem psicologia, mas posso dizer da minha experiência de vida o que é para mim o “verdadeiro arrependimento”.

Para mim o verdadeiro arrependimento é eu conseguir reconhecer que não correspondi ao amor que Deus tem por mim, com o meu amor, por causa do meu interesse pessoal, da minha vontade, da minha auto-satisfação, não acreditando que tudo o que Ele quer para mim, é o melhor para a minha vida.

É também o desejo, mais que o desejo, a vontade de não voltar a repetir aquilo que me causou essa tristeza.

É ainda reconhecer que essa tristeza, essa mágoa é “extinta” pelo amor de Deus ao qual eu não correspondi, naquele momento, e deixar-me envolver no Seu perdão, na Sua misericórdia.

Abraço em Cristo

Goldmundo disse...

Joaquim, também penso assim.

E por isso mesmo resisto um bocadinho ao "isto é pecado?". Lembro-me de um livrinho, aliás muito saudável moralmente (Condessa de Ségur) que li em pequeno. Uma menina dizia de outra "ela pecou, virou-se para trás na missa"; ou pelo menos foi assim que li as palavras que estavam no livro. Durante anos vivi a missa no terror de me virar para trás quando alguém me assustava com um barulho, por exemplo. Uma vez uma pessoa caiu atrás de mim. E senti-me pecador.

Quero dizer com isto que o arrependimento tal como o Joaquim o definiu não pode estar desligado de um certo tipo de compreensão de em que é que o meu acto magoou Deus (se assim nos podemos exprimir). Compreensão que não será, nunca, "total": a dimensão do Mistério é inultrapassável. Mas que tem ir um pouco além do "está na Lei".

Abraço em Cristo.

Anónimo disse...

Migalhas

o arrependimento (verdadeiro, foi uma forma de expressão), é algo que não é passível de definição.
É uma experiência interior que cada um conhece por si mesmo, quando o sente.

Mas só quem erra poderá ter acesso ao arrependimento.
Sabe-se lá, concerteza o Migalhas não precisará nunca de o sentir.

Anónimo disse...

Migalhas

o arrependimento (verdadeiro, foi uma forma de expressão), é algo que não é passível de definição.
É uma experiência interior que cada um conhece por si mesmo, quando o sente.

Mas só quem erra poderá ter acesso ao arrependimento.
Sabe-se lá, concerteza o Migalhas não precisará nunca de o sentir.

Anónimo disse...

Migalhas

o arrependimento (verdadeiro, foi uma forma de expressão), é algo que não é passível de definição.
É uma experiência interior que cada um conhece por si mesmo, quando o sente.

Mas só quem erra poderá ter acesso ao arrependimento.
Sabe-se lá, concerteza o Migalhas não precisará nunca de o sentir.

Goldmundo disse...

A Porta já é suficientemente estreita; não a queiramos estreitar mais com a nossa dureza.

laureana silva disse...

Precisava de me confessar, mas falta-me a coragem, será que o "diabinho" me anda a tentar para eu não me reconciliar com Deus?
Maria