A procissão ocorreu longe das minhas comunidades e da minha diocese. Por estas bandas, depois da insistência de um dos anteriores bispos e do esforço enorme de muitos padres, a prática de colocar notas penduradas nos andores ou imagens dos santos, foi amplamente superada. Conheço regiões do país onde isso ainda é prática corrente e onde até se tem de parar a procissão cada vez que alguém se lembra de colocar uma nota no andor. A necessidade de mostrar que se dá e quanto se dá esquece o paradigma evangélico do não saiba a tua mão direita ou que dá a esquerda. Mas a Igreja que repete as palavras do evangelho é a mesma que alimentou ou foi permitindo estas práticas. Sabe-se lá porquê. Ou até se sabe, mas é melhor não o dizer. A procissão, como referi, ocorreu longe das minhas comunidades, mais propriamente numa diocese onde o bispo e os colegas padres estão agora a tentar acabar com esta prática. O bispo, com argumentos teológicos, evangélicos, pastorais, cívicos, e outros que tais, decretara há uns meses a proibição de colocar notas nos andores e nas imagens dos santos. Ora, na referida procissão teve-se em conta o decreto do bispo. Contudo, como este não fez senão alusão aos andores e imagens dos santos, naquela procissão colocaram meninos vestidos de santos como antigamente, por causa da tradição, com fitas para as pessoas colocarem notas.
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Os contactos do Vaticano"
4 comentários:
Mas será que os senhores bispos e padres conseguem reconhecer e exprimir o que de profundo e significativo se encerra numa prática como esta?
Sim, há que ser consciente da ambiguidade, apontar os perigos, denunciar a possível deriva idolátrica. Mas chega acenar com proibições e moralismos, tresler o evangelho e diabolizar o dinheiro? Não haverá aqui nada de bom e positivo a salvaguardar? Que alternativas válidas são oferecidas às pessoas e às comunidades para poderem exteriorizar e manifestar traços das suas necessidades e experiências religiosas? Não admira que seja palpável nas paróquias a resignação (vencidos mas não convencidos), o desejo de recorrer a subterfúgios (como o indicado no postal) e o burburinho dessa frase-feita que me parece cada vez mais verdadeira: "Os padres tiram a fé ao povo."
A mim, mais do que as notas nos santos incomoda-me ver os santos nas notas. As famosas pagelas do santo Onofre que se mete nas carteiras são disso exemplo. Está-se perante uma forma de pensamento mágico, que costuma ter por pano de fundo uma falta de auto-disciplina na gestão das despesas, ou até o vício do jogo.
Teresa
Pessoalmente, tb não gosto nada deste tipo de manifestações. Critica-se a opulência da Igreja, mas depois os mesmos que a criticam fazem coisas parecidas! Caro colega, continue a dizer estas verdades! E não dê ouvidos a quem acha sempre que os padres têm de entender todo o tipo de manifestações e aceita-las como se todas fossem positivas e boas.
Boa tarde Senhor Padre,
Na aldeia onde nasci, sempre pude observar esse facto e como criança que era não entendia, mas achava estranho.
Assim, como o ouro que oferecem às Padroeiras.
Ainda este ano, no local onde passei alguns dias de férias, a imagem da Santa, que tem as mãos estendidas, na Procissão iam cobertas de fios de ouro. Penso que será a mesma situação e sinceramente choca-me.
Um abraço,
Emília
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