Lembro-me bem do teu último beijo. Foi o último dos teus murmúrios de beijo. Tirei-te a máscara de oxigénio, encostei a minha cara nos teus lábios e tu moveste-os na direcção dela. Só isso. Mas tanto e sem medida. Mentiria se não dissesse que guardava cada beijo com receio que fosse o último. Fazia por guardar cada milésimo de segundo do movimento de cada beijo em ralentando. Era a minha forma de lidar com o adeus a qualquer hora. É difícil desmistificar as partidas, desconstruir a vida humana num segundo de morte que se arrasta. É difícil viver a pensar nisso. E não obstante, é a sequência natural da vida. E depois lembro esse beijo. Lembro-o bem. Lembro que fechei os olhos ao aproximar-me dos teus lábios. Foi o gesto natural de quem queria encerrar o beijo por dentro para o poder ir buscar sempre que precisasse. Como agora. Na altura fui o filho mais feliz do mundo. Desde que ficaras a oxigénio que apertavam as saudades dos teus murmúrios de beijo. Por isso fui o mais feliz dos filhos. A felicidade não cabia em mim. Foi o último beijo. Tinha quase a certeza que o seria. E hoje fui buscá-lo. E de olhos abertos, cai uma lágrima, sem que a consiga guardar dentro de mim… como guardei esse beijo.
6 comentários:
Tão bonito e tão sem palavras!
Que linda mensagem, mas muito emocionante também, sei bem o que um abraço e um beijo de amamos. Mas Deus proverá o seu coração ❤️ para novas alegrias.
Obrigado por partilhares connosco os teus sentimentos. Obrigado pela beleza das palavras. Com elas expressas de forma tão bela o que, por ser tão íntimo, é difícil expressar. O teu pai, como a tua mãe, tiveram em ti um amor correspondido, tão próximo, tão atento, tão terno, tão carinhoso, tão belo. E - parece-me - tão raro... Confesso. Eu não tenho a mesma capacidade de o manifestar... Nem por palavras, nem por gestos! Invejo-te. Admiro-te. Agradeço-te. E lembro os teus pais com saudade. Dou graças por eles.
LPS
Na verdade, não nos conhecemos, mas leio as suas palavras e, se pudesse, dava-lhe agora um beijo na face e um abraço. Sei que nenhum beijo ou abraço alguma vez poderá substituir o beijo de um pai ou de uma mãe que partiu ou apagar a saudade, mas dava-lhe na mesma um beijo na face e um abraço.
Um beijinho e um abraço, Sr. Padre.
que texto tão cheio de ternura!
Boa noite Senhor Padre,
Muito belo e tão sentido o seu amor filial pelo seu querido pai!
Um texto que me emocionou muito e que já li várias vezes e, só hoje, consegui deixar algumas palavras.
Um beijo, o último, que o acompanhará até à eternidade, quando ambos se voltarem a encontrar.
Permita-me que também lhe deixe um beijinho e um abraço, Senhor Padre.
Emília
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