sexta-feira, fevereiro 12, 2021

as vacinas do poder

Segundo informações de um jornal da praça pública, mais de 800 padres em Portugal foram vacinados na primeira vaga de vacinas anti-covid que eram destinadas para os prioritários dos prioritários. Os dados fizeram-me pensar, embora o jornal em causa seja um órgão de comunicação social pouco credível e eu deseje crer que, se calhar, muitos desses padres apenas se deixaram levar na onda da vacinação que estava ao virar da esquina e à mão de semear, na IPSS que dirigem ou que algum amigo dirige ou que frequentam sistematicamente. Quero crer que não foram vacinados por chico-espertismo. E por isso evito julgar cada caso, porque cada caso será um caso. Mas quero pensar na generalidade. E a situação, a meu ver, tem no plano eclesiológico, ao nível hierárquico, ao menos, duas frentes de observação. 
Em primeiro lugar, a facilidade com que uma situação destas ocorre, realça que, para além de vivermos num tipo de sociedade que se alimenta de aproveitamentos e cunhas, é uma sociedade em que isso se tornou tão banal e natural que, pelos vistos, nem o clero lhe parece imune, mesmo que ética e moralmente tivesse um certo dever de lhe ser imune.
Por outro lado, esta vacinação menos devida ou claramente indevida, parece também demonstrar como ainda existe dentro do clero quem use o lugar que ocupa, não como um serviço, mas como um poder. Não digo que seja radicalmente aquele tipo de poder que gosta de mandar em tudo. Mas aquele tipo de poder que se acha no direito de poder. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO:  "O padre é o 'tem de'"

8 comentários:

Anónimo disse...

Ou então os padres estão no grupo devido para levar já a vacina: por razão da idade ou das doenças ou do contacto muito próximo com os mais frágeis e débeis dos mais frágeis e débeis... Prefiro pensar que levaram porque tinham de levar, porque a grande maioria dos padres que temos são idosos e/ou porque estão onde outros não querem estar!
Nina

Confessionário disse...

Nina, também desejo e quero pensar que a maioria foi assim...

Ailime disse...

Boa tarde Senhor Padre,
Sou da mesma opinião que a Nina.
Até porque estão ao contacto com muito mais pessoas por inerência do ministério e o fator idade também é importante. Quanto a mim se não são deviam ser prioritários, independentemente da idade.
Desejo-lhe um bom fim de semana, com saúde.
Ailime

Anónimo disse...

Desculpem lá mas eu conheço padres que levaram a vacina sem precisarem e ainda convidaram amiguinhos!!!!!!!

Anónimo disse...

Isso está mal. Aqueles que não estão em serviços de risco para eles e outros com quem estão em contato, ou a idade e a saúde não são fator de risco, deveriam levar a vacina quando chegar a sua vez. Não entendem a missão do sacerdote. Deveriam olhar o testemunho que deixou aquele sacerdote italiano que morreu porque rejeitou o ventilador que a sua Comunidade lhe comprou para que um jovem pudesse viver.

Anónimo disse...

Costumo lê-lo,gosto de lê-lo, mas nunca comentei os seus textos. Hoje, porém, não quero deixar de lhe dar os parabéns por pôr o dedo na ferida. Sim, "chico-espertos" é o que mais há. A igreja não é imune. Contudo, questiono-me qual será a consciência de um padre que conscientemente aceite uma vacina indevida que poderia se aplicada devidamente salvar a vida de outro ser humano. Com que moral se sentará no confessionário para ouvir uma alma crente em confissão? Que Deus lhes perdoe, porque eu...
Cumprimentos.

Anónimo disse...

Para Anónimo de 15 fevereiro, 2021 20:52 que escreveu «...que conscientemente aceite uma vacina indevida que poderia se aplicada devidamente salvar a vida de outro ser humano.»
A vacina serve para prevenir infeções/contágios. Aplicada a um padre, que circula (ou deve circular!) pelas pessoas, pelos hospitais, pelos centros de dia, pelas casas, que administra sacramentos, que faz funerais, SEGURAMENTE salva mais vidas do que uma vacina num idoso num lar, por exemplo. Porque 1 padre infetado pode contagiar dezenas de outras pessoas, que por sua vez exponenciam o contágio potencialmente cada 1x10. Um idoso (os tais que entram no seu «devidamente» atual) não tem o mesmo potencial de contágio. Acho que os padres, como os cidadãos comuns, não devem ser xicos-espertos e fura-filas, também acho que atendendo à sua missão podem e devem ter a vacina antes do comum dos mortais. Para prevenir. Para salvar.

Para o anónimo anterior das 20:50: Comparar o padre italiano do ventilador com o(s) das vacinas são coisas muito diferentes. Era 1 padre idoso, 1 ventilador, 1 jovem, 2 vidas com horizontes muito distintos. Se aquele padre fez bem? Fez. Muito. Mas as vacinas são outro campeonato, não são 2 vidas em jogo. São inúmeras. E não me parece que a vacina que um ou outro padre tenha levado tenha sido deliberada, consciente e voluntariamente roubada para que qualquer outro ser humano fosse impedido de viver...

Acabaremos todos por ser vacinados. Haja calma, e tolerância! Apedrejar não faz parte do ADN do cristão.
SC

Anónimo disse...

Para o Anónimo de 24 de fevereiro, 07h23. Não é tão despropositado comparar o Padre que decidiu morrer (para que um jovem pudesse viver com o suporte do seu ventilador)com a prioridade de vacinação, uma vez que a vacina, salva vidas criando emunidade. E já temos exemplos de Lares em que os idosos apanharam o vírus após terem sido vacinados e as consequências foram muito mais leves. Estou totalmente de acordo quando diz do risco que correm os sacerdotes. Isso sei muito bem, mas há os que são pastores e os que... nem me atrevo a dizer o resto... que não se expõem e acredite que estes deveriam esperar como os outros cidadãos a sua vez. Trata-se de um problema de consciência, algo que já está muito escasso na nossa sociedade onde se cultiva o "salve-se quem poder". Nina