domingo, julho 12, 2020

O ministério sacerdotal não é um privilégio

Estava ordenado há pouco tempo e fora enviado pelo seu bispo a estudar em Roma. Numa daquelas universidades famosas no meio eclesiástico. Encontraram-lhe alojamento num típico colégio de estudantes que eram, ao mesmo tempo, sacerdotes. Independentemente das virtudes deste jovem sacerdote, oriundo de um país de missão ad gentes e que não conheço nem quero ajuizar, contaram-me que, como no colégio se organizavam por grupos para executar algumas tarefas, e que lhe tocara levantar, com outros, as mesas do almoço e jantar de uma semana em cada mês, este sacerdote se dirigira ao director do colégio para lhe manifestar que não faria aquele serviço, porque, e cito: “isso colocava em causa a sua dignidade sacerdotal”. Claro que, à distância da realidade e das palavras no tom em que foram usadas, facilmente abrimos a mão para apontar com o dedo indicador. Mas depois descobrimos os restantes dedos, o médio, o anelar e o mínimo, a apontar para nós. Como de facto. 
Parece-me muito fácil que nós, os consagrados, por nos termos entregue a Deus de uma forma total, ou quase total, caiamos na tentação de pensar que isso nos traz uma dignidade que Deus não concede aos outros. Ou que nos devem respeitar, não pelo que somos e porque somos, mas pela dignidade do nosso múnus sacerdotal. Ou, num extremismo despropositado, chegar a pensar que a Igreja, no seu conjunto e no povo que é de Deus, nos tem de agradecer porque já nos entregámos a Deus. Que tolice! 
O ministério sacerdotal não é um privilégio. É uma forma de vida e missão. É uma vocação para os outros e não para nós. É um serviço. Nós é que temos de agradecer a quem nos dá a possibilidade de viver essa missão.

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Quer vir jantar connosco?"

3 comentários:

Ailime disse...

Boa tarde Sr. Padre,
Esse sacerdote/ estudante decerto não encarou a sua missão como serviço e tudo o que estas palavras implicam.
Que seria da humanidade se não houvesse pedreiros, agricultores, eletricistas, padeiros, mecânicos e tantas outras profissões dignas como outras quaisquer que são essenciais e das quais depende tanta coisa que faz mover o mundo.
Isto para mim não é uma questão de dignidade, mas antes de vaidade, por parte desse sacerdote.
Sacerdote, homem tocado por Deus para a missão e serviço tem de ser o primeiro a dar exemplo.
Boa semana.
Ailime

Anónimo disse...

Pois é Padre Confessionário, esse jovem padre tem ainda muito que aprender! Imagino o próprio Mestre, Jesus, a receber com peixe assado por Ele na praia, a Pedro e compamheiros que regressavam da pesca. Jesus pôs a mesa e assou o peixe. Se esse padre reclama pelo fato de "sujar as mãos" para levantar as mesas... repito tem mesmo muito que aprender mas a vida vai encaŕregar-se disso. A autêntica autoridade conquista-se no serviço.

Anónimo disse...

O gesto! 1 dedo aponta o outro e 3 apontam para nós, nunca tinha pensado nisto. É assim mesmo, somos muito rápidos a julgar os outros e esquecemos que de uma forma ou outra todos nós estamos na mira do dedo dos outros com verdade ou mentira. Além disso é preciso sempre ver " o homem e a sua circunstância!" O porquê dessa atitude. Sofi