Passara por mim, apressada, com um ramo de flores nas mãos. Ía para o cemitério. Ainda não tinha tido tempo de limpar a campa do seu pai. Mas hoje tem de ser. Hoje é dia de ir ao cemitério. Hoje é dia de romagem para visitar as campas dos nossos. A conversa durou muito pouco. Trocados os bons dias, pouco mais trocámos que palavras relacionadas com o frenesim do dia de hoje, a ida ao cemitério da parte da tarde, depois da missa, e os adornos das campas. Costas já voltadas, ainda se virou para me dizer. Que necessidade temos de ir hoje ao cemitério?! Não sei se era uma pergunta se era uma afirmação. Se era uma pergunta, também não deu tempo para responder. De igual modo não sei se ela ia ao cemitério por hábito, por tradição, pelo facto de todos ou quase todos lá irem, se por não parecer mal, se por devoção, se por fé, ou sei lá. Não conheço suficientemente o seu coração.
Antes da minha mãe falecer, eu estava convencido que havia um excessivo culto aos mortos e tornava-se mais visível nesta ocasião. Por estas datas dos santos, dos finados ou fiéis defuntos. Continuo a achar que há um excessivo culto aos mortos, inclusive dentro do grupo dos cristãos mais formados. Mas também recordo que, a partir daquela data fatídica de 7 de Outubro de 2001, o meu olhar para estas coisas alterou ligeiramente. A campa da minha mãe passou a ser o seu santuário, aquelo espaço físico que me religa a ela ou ao que ela é para mim, mesmo depois de ter falecido. Por isso de vez em quando dou lá um salto, dou um beijo na foto que se vai gastando com o tempo, e ofereço-lhe a minha oração. Creio que é isso que fazemos quando vamos visitar uma campa no cemitério. Não vamos visitar propriamente os “nossos” porque os nossos já não estão ali. Ali foram depositados apenas seus corpos. O dia de hoje é, na minha opinião, um dia de homenagearmos quem tanto continuamos a amar e que nos precedem no céu. É um dia de acção de graças pelos dons das suas vidas. É um dia para lhes ofertarmos a nossa oração, que é a melhor prenda que se pode dar a alguém que se ama assim. É um dia para pensarmos na vida como esse tão grande dom que Deus nos dá e que não tem fim, mesmo diante da morte.
3 comentários:
estava a ler e gostei..como gosto sempre
De repente apetece-me escrever uma coisa que eu sinto a muito tempo , e cada vez mais..estupidamente...mas as vezes tou a rezar o meu pensamento vagueia.......
perco-me......... todos os dias me entrego ao Sagrado coração de Jesus antes sair de casa ----Mas rezar as vezes não rezo falo ..ponho-me a imaginar no lugar do Sr Jesus nos Seus anjinhos e todos os Santos e (Eles) já não poderem ouvir sempre a mesma coisa então se nos falar-mos conversar-mos será melhor..fizer-mos coisas boas
............tontinha
Boa noite Sr. Padre,
Um texto muito elucidativo sobre a prática do culto aos mortos.
O melhor que lhes podemos oferecer é a oração, como diz, e é isso que tento fazer, mesmo que não vá com frequência aos cemitérios.
Ailime
Bem lembrado as palavras ditas no texto, hoje em dia mais parece passeio turísticos ou melhor que realmente pode ser feito aos campos santos, como dizia minha vozinha nas lembranças daqueles que dia esteve conosco. Fiz uma viagem somente para visitas assim e irei fazer outra no norte de Minas. Valeu a mensagem que passaste neste post.
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