sexta-feira, setembro 01, 2017

Fiquei sem as minhas irmãs

Fiquei sem elas. Aliás, não fui só eu quem ficou sem elas. Foi toda uma comunidade paroquial. Ficámos sem as irmãs consagradas que há várias décadas aqui haviam construído uma comunidade religiosa, uma presença espiritual. Sim, muito mais espiritual que pastoral, embora se notasse particularmente a sua presença na pastoral da paróquia. Como não têm tido vocações, a sua provincial vê-se obrigada a fechar, pouco a pouco, algumas casas onde estão pequenas comunidades religiosas. Quando anunciámos o encerramento desta casa e desta pequena comunidade de três irmãs, embora com umas lágrimas a deslizar pelo sulco da face, a voz do agradecimento foi mais forte. Nesta hora, dizia eu ao microfone da Igreja paroquial, não podemos prender-nos à lamentação da perda, mas ao agradecimento dos vários dons que cada um recebeu com a sua presença. É isso mesmo que penso. Mais do que lamentar-nos da sua ausência, devemos agradecer a sua presença. 
Foi tudo rápido e agora já cá não estão. Não quero desistir de procurar uma outra congregação ou Instituto de vida Consagrada para aqui estabelecer uma comunidade religiosa. Mas a coisa não está fácil. As respostas ao nosso convite vão chegando com a descrição de dificuldades similares. A maioria delas diz que também estão a fechar casas e comunidades. 
A realidade está ao alcance dos nossos olhos. E nós teimamos em fazer como se nada estivesse ocorrendo na Igreja. Vamos fazendo o mesmo de sempre, com menos vocações consagradas, menos cristãos, menos recursos, numa pastoral de manutenção que não tem mais lugar num mundo em que a fé conta cada vez menos.

13 comentários:

Anónimo disse...

Pastoral de manutenção que não tem mais lugar num mundo onde a fé conta cada vez menos. O atraente e luminoso novo que se aproxima para que o vivamos.

Anónimo disse...

Actualmente fecha-se a porta quando deixa de ser lucrativo.
Lamento profundamente que assim seja mas é a minha opinião.
A igreja católica, sendo o estado mais rico do mundo, tem a capacidade e na minha opinião teria a obrigação de intervir em casos semelhantes ao que descreves.
Mas claro está como teria "que lhe sair do bolso" algum valor não importa.
Gostaria que alguém me convencesse que a religião não é um negócio sujo e desleal.
O nome de Jesus Cristo é usado para enriquecer os cofres da Igreja.
PR

Confessionário disse...

PR,
pode até ser verdade que, às vezes, é usado o nome de Cristo para enriquecer cofres. Mas não me parece algo assim tão comum. As nossas paróquias não têm assim tantos proveitos e capacidades económicas.

De qualquer modo, as irmãs saíram porque não há vocações para as substituir, e elas com idade acima dos 70 já não estavam tão capazes. Noutras comunidades religiosas foram falecendo algumas irmãs, e assim: se antes havias umas 200 para 20 casas, hoje há umas 60 para as mesmas casas, e por isso algumas vão fechando (os nºs são apenas demonstrativos). Além disso, as irmãs que aqui estavam não tinham como ganhar dinheiro. Apenas serviam a paróquia gratuitamente!

Anónimo disse...

Fui e serei sempre escuteira...
foi no escutismo que me encontrei e tenho a raiz....
uma frase que nunca se esquece:
"Procrai encontrar o mundo melhor do que encontrasteis...."
as irmas podem ter ido...
lembremos cristo quando os apostolos foram ao sepulcro e o encontraram vazio!
desistiram??
..... bem alguns nao acreditaram logo que aquele a quem o seguriram,afinal tinham deixado tudo pelo amor....dereepente desaparecia...
A vida nao vai parar...
se a semente foi plantada em boa terra...dara muito fruto!
bora la... ha muitos coraçoes semeados a melhor homenagem que fazemos é continuar a cuidar das sementes plantadas..
quando o sr.padre for...
outro vira decerto,vamos lamentar e chorar a partida mas vamos continuar a cuidar das suas sementes...
porque a nossa força esta em cristo e a nossa fé é alimentada por pessoas fantasticas e unicas...ninguem substitui ninguem.....
mas se podemos mudar o "mundo"
porque ficamos coladas a um ecrã vendo a vida passar...
ha vida e sonhos temos que agarrar nessas pessoas e transformalas nos mais lindos girassois....
c.c

Gui disse...

Caro confessionário quanta verdade está nesta frase
As nossas paróquias não têm assim tantos proveitos e capacidades económicas.
E mesmo assim ouvir certos comentários...
Então em pequenas paróquias do interior, envelhecidas muitas vezes o saldo é negativo,mesmo indo de casa de duas ou três os detergentes, as vassouras, as flores... E ainda nos perguntam para onde levamos o dinheiro. Às vezes fico triste e pergunto se vale a pena o esforço, dar do meu tempo ou da falta dele, por uma comunidade e ouvir comentários desses.
Desculpe-me o desabafo mas hoje tive de ler o relatório de contas do mês.

Paulina Ramos disse...

Sou natural de uma paróquia do interior centro de Portugal e bem sei as dificuldades que se sentem, mas também sei acerca da generosidade típica destes meios pequenos, tantas vezes ignorados pelas hierarquias da Igreja.
Actualmente faço parte de uma paróquia igualmente pequena.
Creio que, para cativarmos vocações temos de voltar ao "primeiro" amor voltarmo-nos para Jesus com simplicidade humildade despojados de luxúria.
Durante alguns anos apoiei um jovem que decidiu entrar para o seminário. Fui a alguns encontros e os desabafos dos seminaristas eram em tudo semelhantes e sem entrar em pormenores sórdidos resumo no termo cinismo.
Sem dúvida que há falta de vocações, mas há ainda mais falta de boa conduta por parte daqueles que sendo em tudo humanos deveriam ser exemplo. É que a tal frase "fazei o que eu digo é não o que eu faço, passou a ser obsoleta.
O mundo carece de seres humanos capazes de errar, perdoar, sacudir o pó e seguir em frente.
E na maioria dos casos não é isso que se verifica nos actualmente" consagrados".
É falo com algum conhecimento de causa sem esquecer que o exemplo é a melhor forma de educação.
As pessoas podem até ouvir atentamente as palavras, mas hão-de seguir o exemplo.

Dulce disse...

Tenha esperança.

A Igreja está em mudança, é inevitável, o mundo moderno com todas as suas questões assim a obriga.
Para nascer algo novo é preciso que o velho morra.
Será que há mesmo menos vocações? Ou há cada vez mais vocações que são verdadeiras e por isso em menor número?
Não nos esqueçamos que durante muitos séculos muitos foram ordenados e muitos não o mereciam e vocação não tinham nenhuma. Há maus exemplos em todo o lado (e eu não gosto de falar neles mas quem não conhece) e as congregações de irmãs não são imunes.
Num mundo onde se questiona tudo, a honestidade , a integridade, não cabem padres e irmãs assim assim, ainda que em menor número terão de ser melhores. E isto aplica-se a toda a comunidade cristã, fieis e clérigo.
Sinceramente não me preocupa o número mais baixo de vocações, ou que os edifícios fechem (são tantos... alguns terão o seu fim inevitável). Talvez se prepare o terreno para algo novo. É a minha esperança.

Confessionário disse...

Dulce,
o problema é se as vocações que agora começamos a ter não são melhores do que as que tínhamos!

Mas que nunca se perca a esperança. A Igreja não é nossa, e a salvação não depende de nós!

Eatamos numa fase que eu acho que é uma "oportunidade"... mas até lá tem de se partir muita pedra! E não tá fácil. A pedra está mt dura!

Anónimo disse...

A força do universo a força Divina pode quebrar todas as pedras para edificar o novo. Diante de Deus tudo e possível. E para isso Deus os dons aos homens de boa vontade.

Febe disse...

Não sei se este poema de um padre já falecido responde tb de certa forma ao cadente assunto das vocações:
Oração do Sacerdote - numa tarde de Domingo
Esta tarde, Senhor, estou sozinho.
Na Igreja, pouco a pouco, os ruídos calaram-se.
Foi-se embora toda a gente,
E eu voltei para casa,
Passo a passo,
Sozinho.
Cruzei-me com gente que voltava de um passeio,
Passei pelo cinema: vomitava uma pequena multidão,
Vagueei ao longo de esplanadas de cafés onde, cansados,
Os domingueiros tudo faziam para esticar um pouco mais a
Alegria de viver um Domingo de festa.
Esbarrei nos miúdos que jogavam à bola na rua.
Os garotos, Senhor!
Os filhos dos outros, que não serão nunca os meus.
E aqui estou, Senhor,
Sozinho!
No silêncio que me dói
Na solidão que me oprime.
Tenho 33 anos, Senhor,
Um corpo feito como os outros corpos,
Braços moços para o trabalho,
Um coração reservado para o amor,
Mas tudo isto Te dei.
É verdade que de tudo precisavas,
Tudo Te dei, Senhor, mas é duro Senhor.
É duro dar o próprio corpo: ele queria dar-se a outro.
É duro amar toda a gente e não possuir ninguém.
É duro apertar a mão sem poder retê-la.
É duro fazer que brote uma afeição, mas para a dar a Ti.
É duro nada ser para mim mesmo,
a fim de ser tudo para eles.
É duro ser como os outros, entre os outros e ser um outro!
É duro dar sem cessar, sem procurar receber.
É duro alguém ir ao encontro dos outros, sem que jamais
alguém venha ao meu encontro.
É duro sofrer os pecados dos outros, sem poder recusar
acolhê-los e carregá-los.
É duro receber os segredos, sem poder compartilhá-los.
É duro arrastar os outros sem cessar e nunca poder, um
instante sequer, deixar-me arrastar pelos outros.
É duro sustentar os fracos sem poder apoiar-me sobre um
forte.
É duro estar sozinho.
Sozinho diante de todos,
Sozinho diante do mundo,
Sozinho diante do sofrimento, do pecado, da morte.
Não estás sozinho, meu Filho,
Estou contigo,
Eu sou teu,
Eu precisava, na verdade,
de uma humanidade a mais para continuar a minha
Encarnação e a minha Redenção.
Desde toda a eternidade, Eu te escolhi.
Eu preciso de ti:
Preciso das tuas mãos para continuara abençoar,
Preciso dos teus lábios para continuar a falar,
Preciso do teu corpo para continuar a sofrer,
Preciso do teu coração para continuar a amar,
Preciso de ti para continuar a salvar.
Fica comigo, meu Filho.
Senhor, eis-me aqui:
Eis o meu corpo,
Eis o meu coração,
Eis a minha alma.
Fazei-me bastante grande para atingir o mundo,
Bastante forte para carregar com ele,
Bastante puro para o abraçar, sem querer guardá-lo.
Fazei que eu seja um ponto de encontro, sim, mas ponto de passagem.
Caminho que não pende para si próprio,
porque nele não há nada de humano a encontrar, nada que não conduza a Ti.
Esta tarde, Senhor, enquanto tudo em volta está em silêncio,
dentro do meu coração sinto morder duramente a solidão.
Enquanto o meu coração uiva longamente a fome de prazer,
enquanto os homens me devoram a alma
e eu me sinto impotente para a saciar,
Enquanto sobre os meus ombros pesa o Mundo inteiro,
com todo o seu peso de miséria e pecado,
eu repito o meu Sim.
Não às gargalhadas, mas lentamente, lucidamente,
humildemente.
Sozinho, Senhor, sob o Teu olhar,
Na paz da tarde...
(in Poemas para rezar, de Michel Quoist)
Trad. Ir.Victor

Anónimo disse...

Amei esses dizeres, simplesmente divinas palavras.

Anónimo disse...

LINDO...
C.C

Febe disse...

Uma correcção...a tradução não é da autoria do Ir.Victor...ele referiu q já encontrou esta oração traduzida.