sexta-feira, janeiro 27, 2017

Os padres e as paredes

A dor do sofrimento dos padres é muitas vezes partilhada com as paredes. Sim, os padres também são humanos e também sofrem. Não sofrem diferente dos outros. Sofrem apenas com contornos diferentes. Estava eu a querer dizer que a maior parte das vezes que os padres sofrem é a olhar para umas paredes brancas ou para paredes que mudam de cor quando fechamos os olhos e continuam a ser paredes. Fazemo-lo com a vantagem de que elas não se queixam das nossas palavras que não dizemos para fora. É definitivamente uma vantagem. Também não as incomodamos muito. Não as podemos abraçar, e contudo elas abraçam-nos porque estão ao nosso redor e nos fecham dos quatro pontos que formam. 
A esta altura do que escrevo já me estou a imaginar os pensamentos dos que advogam pelo progresso afectivo dentro do clero. Vejo-os a alegar que a vantagem de uma esposa ou de uma família que nos acolhe nos desabafos não se compara à vantagem de uma parede que não fala. Pressinto outrossim a resposta dos que advogam pela conservação da espécie. Estes dirão que o melhor é não haver misturas para fora de si. 
A uns e outros quero hoje dizer que não me ocorreu nada disso. O que hoje senti é que, assim, só com paredes, Deus pode acabar por ser o único que se busca no meio do sofrimento. Atenção que eu não sou daqueles que defendem uma fé privatizada. Mas é verdade que dentro de quatro paredes não precisamos falar para fora porque Ele nos escuta dentro. Tudo na vida tem sempre dois lados. Nem que seja o de fora e o de dentro. Hoje prefiro ver este lado de uma solidão que fica aberta para se encher de Deus

13 comentários:

Gui disse...

Essa solidão é necessária a todos nós mas às vezes esquecem-se, (esquecemo-nos) que quem vos rodeia também se preocupa de vos ver sofrer sem poder fazer nada que não seja observar e esperar.

Anónimo disse...

A sua reflexão me fez chorar, meu padre, sim Deus também esta sempre dos dois lados. E de uma esposa que escuta a palavras malditas de seu companheiro de supra arrogância. E tem que chorar em um quarto falando com Deus. E ter que suportar tudo devido uma família que deve ser conservada perante uma sociedade de máscara suja. Eu nem procurem nenhum padre e nem outro estilo de profissional, somente Deus me entende e me enxuga minhas lágimas. Somos humanos e precisamos sermos inteligente o bastante para calar em certas situações pra não gerar atritos quem tem fé só resta orar.

Anónimo disse...

Peço desculpa pelo atrevimento...
Outrora cheguei a pensar que os padres nao tinham dores de cabeça...pois nao teem que se preocupar com o pao para comer,ha sempre alguem que ate faz questao que o sr.padre (x) va comer em sua casa...
Nao teem que se preocupar se teem ou nao dinheiro para pagar as contas: luz,gaz,electricidade etc...
Teem inclusive alguem que lhe lavr e passe a ferro a roupa...oferecem-lhe BOAS PRENDAS...Roupas de marca,telemovris,tablets do melhor...
Porque é para o sr.padre(x)..
Ao ler o que li...
O seu maior sofrimento sera a solidao...
Mas foi esse caminho que escolheu,na vida fazemos opçoes e decerto estava convicto e consciente disso...
Posso parecer arrogante sem coraçao...
Mas pensemos em todas aquelas pessoas que sao abandonadas,como os idosos;
Nos sem abrigo que se encontrarem uma unica refeiçao diaria qurntinha ja é muito bom!
Nos doentes abandonados em camas de hispital e cujo contacto dos familiares é senão de uma agrncia funeraria!
Nos viuvos e viuvas que permanecem sos o resto da vida...
Nas crianças que morrem nas maos dos terroristas ou ate que sao estrupadas no seio de uma família...
E nos lamenta-mo-nos???
Padre desculpe a minha sinceridade,o sr.padre ja sentiu fome?
Eu entendo a solidao...
Nao é facil!
Dê graças a DEUS por nao passar dificuldades...
As vezes temos de abdicar de muitas coisas e olhar mais ao nosso lado!
Se as suas paredes sao vazias,lembre-se que tem conforto e sao quentes...ha quem durma no chao frio,ao relento envolto num pedaço de ca
rtao que encontrou nu.m caixote do lixo...

Gui disse...

Desculpa-me, anónimo, das 17:58 mas essas dores embora sejam nossas e tenham de ser choradas no silêncio e na privacidade, não devem ser caladas. Um sacerdote ou outro estilo de profissional como diz estão de fora com o discernimento que nos falta quando a dor se sobrepõe. Não se deve conservar uma família em sofrimento ou ter medo de provocar atritos,, vale a pena sim analisar bem a situação, pedir a ajuda de Deus e a orientação de quem seja mais experiente e neutro do que nós. Não se feche em si para que na esperança de salvar o casamento não perca a alegria de viver.
Desculpe-me o modo como lhe falo mas sei lhe dizer, na 1ª pessoa que o silêncio absoluto sobre os problemas dentro de casa trazem mais problemas e com facilidade o aumento da gravidade das palavras ou até dos gestos. Peço-lhe que pondere procurar a orientação de um sacerdote em quem possa confiar, sem receios, pois o seu segredo continua a ser seu mas não estará sozinha. Se quando fala de outro tipo de profissionais fala de médicos, psicólogos ... também lhe podem trazer ajuda, embora possam ter valores em relação ao casamento diferentes dos seus, só lhe peço que não procure soluções "milagreiras".
Um beijito e coragem pois mesmo que sinta que toda a gente à sua volta a pode julgar pelas suas atitudes não será isso que encontrará num padre.

Anónimo disse...

Padre, Bom dia! Moro no Brasil e é com muito carinho que acompanho seu blog. Sou católica praticante desde que nasci, assim como toda minha familia, desde os antepassados, todos europeus. Neste post senti a necessidade de lhe escrever... Assim como os padres sempre dizem que são pessoas "iguais a nós", também o digo que somos todos nós também iguais aos padres. Dividir uma casa repleta de pessoas, não quer dizer, necessariamente, que não se está sozinho. Aliás, na hora de "abrir" sem reservas o nosso coração, principalmente se precisarmos de um "ombro" verdadeiramente AMIGO, quem O será, senão apenas DEUS? Neste mundo, só não está sozinho quem tem a companhia de DEUS!

Um abraço fraterno,

MARIANA / from Brasil

Anónimo disse...

Padre, Bom dia! Moro no Brasil e é com muito carinho que acompanho seu blog. Sou católica praticante desde que nasci, assim como toda minha familia, desde os antepassados, todos europeus. Neste post senti a necessidade de lhe escrever... Assim como os padres sempre dizem que são pessoas "iguais a nós", também o digo que somos todos nós também iguais aos padres. Dividir uma casa repleta de pessoas, não quer dizer, necessariamente, que não se está sozinho. Aliás, na hora de "abrir" sem reservas o nosso coração, principalmente se precisarmos de um "ombro" verdadeiramente AMIGO, quem O será, senão apenas DEUS? Neste mundo, só não está sozinho quem tem a companhia de DEUS!

Um abraço fraterno,

MARIANA / from Brasil

Anónimo disse...

Depende do padre!

Anónimo disse...

Meu maior medo é viver sozinho e não ter fé para receber um mundo diferente e não ter paz para se despedir. Meu maior medo é almoçar sozinho, jantar sozinho e me esforçar em me manter ocupado para não provocar compaixão dos garçons. Meu maior medo é ajudar as pessoas porque não sei me ajudar. Meu maior medo é desperdiçar espaço em uma cama de casal, sem acordar durante a chuva mais revolta, sem adormecer diante da chuva mais branda. Meu maior medo é a necessidade de ligar a tevê enquanto tomo banho. Meu maior medo é conversar com o rádio em engarrafamento. Meu maior medo é enfrentar um final de semana sozinho depois de ouvir os programas de meus colegas de trabalho. Meu maior medo é a segunda-feira e me calar para não parecer estranho e anti-social. Meu maior medo é escavar a noite para encontrar um par e voltar mais solteiro do que antes. Meu maior medo é não conseguir acabar uma cerveja sozinho. Meu maior medo é a indecisão ao escolher um presente para mim. Meu maior medo é a expectativa de dar certo na família, que não me deixa ao menos dar errado. Meu maior medo é escutar uma música, entender a letra e faltar uma companhia para concordar comigo. Meu maior medo é que a metade do rosto que apanho com a mão seja convencida a partir com a metade do rosto que não alcanço. Meu maior medo é escrever para não pensar.

Dulce disse...

Bom dia.

Eu não vi o seu post como uma queixa, muito pelo contrário.
O recolhimento , o silêncio e a solidão são muitas das vezes uma oportunidade para escutarmos o que Deus tem para nos dizer. Talvez porque nessas alturas não estejamos assoberbados com as tarefas do dia a dia, os problemas quotidianos ou distracções.
Na verdade até senti uma ponta de inveja dessas paredes vazias onde se guarda o silêncio. E sem dúvida que ser padre permite ter muitos desses momentos (que eventualmente poderão pesar a alguns homens).
Não sei se Deus é o silêncio ou se encontra no silêncio mas por vezes também eu me sinto mais próxima de Deus no silêncio.

Confessionário disse...

Dulce, tb eu queria que tivessem visto mais esse lado que o outro. Porque era disso que falava. Da possibilidade de, apesar de nós nao termos grandes facilidades em partilhar os nossos pequenos ou grandes problemas, sempre temos essa intimidade com Deus para o fazer. No fundo, mesmo que seja difícil, era isso que eu queria dizer a mim mesmo!

Confessionário disse...

30 janeiro, 2017 09:41
gostei mt do teu texto

Anónimo disse...

30 de Janeiro 9:41,
Impressionante o teu desabafo.
Falo-te a partir do encontro de todos os teus medos que eram e serão também os meus. No entanto vimo-nos à medida que me vou encontrando com eles e vou fazendo o luto a cada um devagar muito muito devagarinho cuidadosamente pois não quero que me fiquem para sempre!
PR

maria s disse...

Aii... Senhor Padre, onde é que já vi uma situação igual, só que com uma doença muito grave e as quatro paredes e três gatinhas por companhia, por vários meses e para continuar...só que eu sei, que embora não o veja Deus está comigo.