quinta-feira, dezembro 08, 2016

O Natal antropocêntrico

Ó meu menino Jesus, porque não entras nas chaminés? Porque é que só entras pelos corações? Porque é que as prendas que nos ofereces geralmente não as conseguimos ver? Já te imaginaste vestido de vermelho vivo e apelativo? Talvez assim no dia do teu aniversário não te esquecessem. Às vezes imagino-te a percorrer os corredores dos centros comerciais com uma bolsa às costas, ou sentado numa poltrona vermelha para as fotografias. Às vezes imagino-me a ouvir as crianças chamar por ti como chamam pelo Pai Natal. As centenas de cartas que te escrevem a pedir presentes: cura a minha mãe, dá forças ao meu pai, dá-me vontade de amar, ajuda-me a ser feliz. 
Ó meu menino Jesus, gostava que o Natal fosse mesmo Natal, mas o homem transformou o teu Natal e fez um outro natal, um natal antropocêntrico que gira à volta da tecnocracia e da economia.
Valha-nos ao menos que as pessoas se juntam em família, ainda que à volta apenas de elas mesmas.

17 comentários:

gui disse...

Ainda ontem os meus alunos ficaram admirados porque lhes disse que em miúda não tinha conhecido o pai natal, que era o menino Jesus que nos dava as prendas por isso só podíamos pedir uma prenda para nós (a tal boneca especial) mas devíamos pedir prendas para os outros (saúde, paz...). Surpreenderam-se como se fosse uma história com muitos anos e como se eu fosse muito velhota ou talvez seja e ainda não me tenha aparecebido.

Anónimo disse...

É verdade..., quando no meu tempo de criança (á uns 50 anos atrás)o Menino Jesus vinha a nossa casa trazer, nem que fosse só 1 ou 2 rebuçados, umas bolachinhas, a ânsia com que iamos dia 25 de manhã cedinho, iamos ver o que Ele, O Menino Jesus, nos tinha lá posto no sapatinho..., ainda hoje me lembro, era uma sensação de felicidade que nem consigo exprimir por palavra, e ainda por cima, ao outro dia iamos á Missa e o Menino Jesus lá estava deitadinho, e lavadinho, nem se sujava na chaminé!!!
Aquela "ingenuidade" fazía-nos tão felizes...
Que saudades...mas ainda hoje em todos os Natais nos lembramos desse Menino Jesus, e contamos aos mais novos, e depois vem a pergunta: então e não havia Pai Natal? Nem prendas? Porque prendas hoje só são consideradas prendas, computadores, telemoveis, play...qualquer coisa, e derivados.
Mas o meu, ainda o costumo ver todos os anos..

Anónimo disse...

O meu Natal já foi o do Menino Jesus, depois o das trevas a quem aquela noite parecia brilhar para todos mas a mim ofuscavam-me com a dor da ausência de Deus na minha Vida, depois o atual Natal, o da hipocrisia, em que todos tentam mostrar a sua generosidade por uns dias.. confesso que também me deixo tentar e tento colocar comida na mesa de algumas pessoas pobres pelo menos na "noite do Menino", para que não sintam que o Menino está só na mesa do rico: está sim e sobretudo na Mesa do Pobre, mas é preciso que ao menos sinta que tem mesa, que tem carinho, que tem amor..
E é Natal, e o Menino nasceu e precisa muito que eu lhe abra a porta nessa noite para ficar comigo! Foi esta mensagem, dum blogue dum amigo da internet (que vim a conhecer mais tarde no real) que eu frequentava na altura do meu agnosticismo já moribundo, que me fez ter natal pela 1ª vez: já era noite dentro e tinha decidido, como era hábito não ir à missa do galo, e passar o natal errando por uma estrada com o meu carro eu enrolada num cantinho da sala, quando abro o blogue do meu amigo e vejo "Espirito de Natal" com aquela Mensagem. Sem pensar, levanto-me, visto-me com a 1ª roupa que encontro e saio porta fora à procura duma missa que ainda estivesse a ser celebrada .. e assim foi o meu retorno ao Natal.. Obrigada ao meu Amigo, ainda hoje no meu coração e ele bem o sabe.. (obs ele é Espírita, mas não tem mal, fala-me de Deus e salvou-me de momentos de muita solidão).
Agnóstica

Anónimo disse...

Padre, a frase que me fez pensar mais foi a última!
Eu tb vou estar com a minha família!

Anónimo disse...

Eu vou tentar passar com família e 3 ainda visitar e estar com algumas famílias que estão numa fase de maior sofrimento, sobretudo padecendo de carência económica e falta de atenção dos políticos que se deram ao luxo, segundo as noticias recentes, de deixar passar a oportunidade de aproveitar 28 milhões para ajuda alimentar no ano de 2016.
Agnóstica

JS disse...

Jesus não dá prendas, Jesus é a prenda. Puer natus est pro nobis...

Faz-me confusão ver a cada Natal tanta gente entregue ao saudosismo, alimentando-se das memórias de um passado fabulástico, enquanto o hoje parece ser apenas ocasião de lamento e desconsolo. E não faltam homilias piedosas a carregar na dose...
Ó minha gente, não sabeis que a tristeza é um pecado capital?! Deixem-se de Natais idealizados e imaginários. Acolham com alegria este Natal. Deixem Deus nascer!

Confessionário disse...

A tua ideia e filosofia é boa, JS. Mas será um saudosismo ou um querer ver o essencial? Ele, de facto não da as prendas que recebemos no Natal eventualmente. Mas dá-se como prenda que muitos não querem sequer enxergar... porque não vem com embrulhos. Isso não sei se será saudosismo! parece-me

Anónimo disse...


Sinceramente as prendas pouca importância têm. Mas que alegria posso eu ter ao ver o que se passa no mundo... qdo nos é dado a conhecer situações como as de Aleppo.

Conheço a alegria e a força que brota da fé, mas cada vez tenho mais dificuldade em conjugá-la com os horrores que vejo...

Pe. dá-me uma luz pq eu anda confusa.

Confessionário disse...

13 dezembro, 2016 23:45

A resposta não é fácil, pois como tu tb me custam aceitar alguns desses horrores. E não aceito. Mas tb nada faço.

Isto, para te dizer duas coisas, que se calhar não te vão ajudar muito:

1. A nossa igreja ou religião é acima de tudo uma Igreja do sofrimento; explico: uma das nossas características é encontrar sentido no sofrimento (daí a cruz); não temos de ver o sofrimento somente desde uma perspectiva negativa. Creio mesmo, como diz um amigo, um colega que está a estudar o sofrimento de Deus numa perspectiva dogmática (eu sou muito mais pastoral), Deus sofre connosco e só assim faz sentido um Deus real e vivo; Deus não está desatento, Ele sofre com o nosso sofrimento!

2. Tb é importante referir a nossa participação nestas coisas, como seres humanos que complicamos a vida humana (vivemos uma época demasiado individualista, interesseira, consumista e por ai fora, que nos leva a ver o outro como descartável); neste sentido, penso que estes horrores nos interpelam a nós (mesmo quando nada podemos fazer em casos concretos, mas apelam a nossa atenção ao outro, à nossa mudança, à nossa conversão), interpelam-nos para agir mais fraternalmente e mais interiormente.

Ajudei um pouquinho?

Anónimo disse...

Interessante, no outro dia já tinha dito isso, que sentia que mais do que estar comigo no meu sofrimento "Deus sofria comigo" e isso ser um conforto (mesmo que algo egoísta) para quem tem fé, mas questionava-me também, se ele é Omnipotente, como se conjuga o sofrimento de Deus com esse atributo? Confuso..
Mas só quem tem fé talvez possa aceitar estas zonas cinzentas como é o sofrimento..
Durante muitos anos não tive fé e era uma alma errante, num deserto sem luz, sempre à procura da sua casa que nunca encontrava.. um dia encontrei-a, cheguei exausta, tão exausta e ao mesmo tempo tão agradecida que só queria deter-me a adorar a minha querida casa perdida..
Agnóstica

Anónimo disse...


Nem por isso Pe., não me disseste nada que não soubesse :-(. Essa alegria com o nascimento do Salvador que ouço ser anunciada nestes últimos 3 domingos na Eucaristia não me invade.

Mas obrigado por este teu abraço virtual :-). Fossemos todos assim no mundo, seria o ideal.

Confessionário disse...

Agnóstica, e porque não pensar na "omnidebilidade"? ou na omnipotencia não daquele que tudo pode, mas daquele que ama infinitamente?

Anónimo disse...

esqueçi-me no ultimo comentário de me identificar como

13 dezembro, 2016 23:45

Anónimo disse...

Muito bem visto!! Desculpa mais uma vez a comparação com o meu Amigo padre falecido, mas ele também dizia "Deus ama-nos tanto que até nos faz acreditar que precisa de nós". Explico: eu reaproximei-me de Deus mais pela via afetiva e não tanto da fé. Estive à beira do abismo como já disse algures, esse sacerdote salvou-me do suicídio numa tarde de inverno em que lhe queria fazer ver que a minha vida não tinha mais sentido e que, apesar de não acreditar em Deus, queria partir com o perdão do pecado maior que era por fim à minha vida ... esse sacerdote, que me abriu a porta sem conhecer de lado nenhum, conversou comigo durante cerca de 3 horas (ou melhor choramos juntos quem sabe?) e nesse tempo todo percebi que não me dizia que Deus existia, sim que Deus me amava incondicionalmente e como uma filha única, especial, que tinha um projeto de vida para mim, não de morte e esse projeto era necessariamente de amor.. durante uns tempos percebi que o acento tónico estava sempre no afeto de Deus por mim.. julgo que ele terá percebi que afetivamente estaria estraçalhada e seria pela via da afetividade que Deus chegaria mais fácil até mim. Daí que um dia lhe tivesse perguntado como é que se diz que Deus, omnipotente, não precisa do Homem para nada? (sim durante o meu agnosticismo cheguei a ouvir isto de sacerdotes e nunca pedi uma explicação, daí a minha revolta, se não precisa de mim, então o que faço aqui?) e ele responde "porque ama-nos tanto que nos faz sentir que precisa de nós"!
Agnostica!

Confessionário disse...

Agnóstica,
Só para sermos mais precisos: a vida afectiva tem tudo a ver com a fé!

Confessionário disse...

Agnóstica
... ou melhor, talvez tenhas confundido a fé com a razão!

Anónimo disse...

Pois sempre pensei que sim, mas depois vejo evangelhos como os de São João, sempre falando de um Deus Amoroso, depois vê-se outros com tónicas mais racionais, como os de Paulo penso eu, que era jurista de formação, não? E deve haver mt padre que prefere os de Paulo... eu prefiro São João.
Agnostica