domingo, dezembro 18, 2016

A personagem do presépio que não conta

Nesta época do Natal é hábito a Câmara Municipal juntar os idosos dos lares do concelho para uma festa. A mim costumam convidar-me para celebrar missa com eles, e vou com agrado. Para a celebração deste ano escolhi o evangelho da Missa da Vigília de Natal. Quem foi à missa hoje também deve recordar este texto evangélico, pois era o mesmo. 
A propósito desse texto, comecei a homilia questionando qual era a personagem do presépio a que dávamos mais atenção e importância. A maioria gritou que era o Menino Jesus, embora se ouvissem igualmente algumas vozes proferindo o nome da sua mãe. Concluímos juntos, e ainda bem, que a personagem que mais nos chamava a atenção era Jesus. Depois dele, era Maria. E depois… referiram baixinho o nome de José. Disseram baixinho, como se ele contasse pouco. Ou como se tivessem medo de errar. Disseram a medo o nome de José, esse que às vezes até fica atrás do burrito e da vaquita. Aquele José que Deus adoptou para ser pai do seu filho. Aquele que humildemente aceitou o papel secundário na encarnação de Deus. Aquele de quem tão pouco se fala na Sagrada Escritura. Uma das personagens da Bíblia mais silenciosas, que menos conta, de quem menos nos lembramos. É aquela figura que parece não fazer falta, mas que dá nome ao Messias. Olhem que não é coisa menor dar o nome ao Messias, não senhor. É humildade maior. Digo-vos que por vezes me apetece dizer que José é ainda mais humilde que Maria na aceitação dos planos de Deus a seu respeito. José afinal é aquele que parece não contar muito, mas conta tanto! 
E foi este José que apresentei como modelo àquela plateia. Àquela gente que, muitas vezes, também cuida que não conta, que não é importante, que não faz falta. E para terminar a homilia, aproximei ainda mais o microfone da boca, e fiz a pergunta. Quando pensardes que a vossa vida não é importante, ou que o vosso papel na história, na sociedade, no mundo e na Igreja não conta, quem havemos de lembrar? E todos responderam em coro. José.

12 comentários:

Anónimo disse...

Oh!!! Meu Bom José, homem simples mas de coração livre e caridoso, bondoso, compreensivo, compassivo nem consigo encontrar palavras para descrever este JOSÉ. Nome de meu pai e de quem amo muito neste...

paula disse...

obrigada pela partilha.
rezarei por si.
feliz natal.

abraço,
paula

JS disse...

Pois eu gostei que o meu pároco chamasse a atenção para aquele casamento que, estando ainda a começar, esteve a milímetros de acabar em separação e divórcio.

JS disse...

Bem, S. José é o patrono universal da Igreja.
Sempre que há missa, o seu nome tem de ser mencionado (embora pareça que alguns senhores padres ainda não sabem disso).
De hoje a três meses, lá estaremos a torcer um pouco as regras litúrgicas para poder festejá-lo e, com ele, todos os pais do mundo.
Curioso, o mês de Maria começa sempre com S. José...

JS disse...

Ó Confessionário, e chegaste a ler a parte da genealogia? Com as pouco recomendáveis avós de Jesus? Olha que isso também era capaz de dar um tema interessante para aquele teu auditório...

JS disse...

Aviso: não recomendável a fés mais sensíveis.

O relato da infância de Jesus elaborado por Mateus tem como intenção apresentá-lo como o novo Moisés. Assim, a figura de José é composta por traços retirados do Patriarca José, o homem dos sonhos, bebendo também das histórias populares em circulação no período intertestamentário sobre o pai de Moisés.

Confessionário disse...

JS, só a li para mim. Nas missas foi a forma breve... mas era castiço era... é pá, tu sabes muito! Eu diria que sabes muito mais que eu!

JS disse...

Ó Confessionário, a única coisa que eu sei é fritar batatas. :)

Confessionário disse...

Js, e achas fácil fritar batatas?! ahahahah

Anónimo disse...

Pois é, José, sem querer, é muito posto de lado! Fez-me pensar muito, padre.
Beijo

Anónimo disse...

São José: meu padrinho de batismo (ainda bem que nasci na altura em que era permitido tal) que nunca morre!!; parte do meu nome! ; meu santo protetor nas oras de maior aflição e também na qualidade de padrinho; Homem justo, Homem Trabalhador, Homem Bom!
Agnóstica

Febe disse...

Maria e José, pobres em tudo, mas não de amor, estão abertos ao seu próprio mistério, porque se há alguma coisa na terra que abre o caminho para o absoluto, essa coisa é o amor, lugar privilegiado onde os anjos virão. O coração é a porta para Deus.

"...José levou consigo Maria e a criança, um filho que não gerou, mas para quem vai ser o verdadeiro pai, porque o amará, o fará crescer, o fará feliz, ensinar-lhe -á uma arte de homem e a sonhar e a acreditar no amor. José não tem sonhos de imagens, mas de palavras. Um sonho de palavras também é oferecido a todos nós: o Evangelho.

E ainda nos são oferecidos anjos : para cada uma das nossas casas Deus envia os seus mensageiros, como para a de Maria; envia sonhos e projectos, como para aquela de José. Os nossos anjos não possuem asas, são pessoas que compartilham o nosso pão e amor; vivem na nossa casa, mas são mensageiros do invisível e arautos do infinito: anjos que nas suas vozes carregam a semente da Palavra de Deus."

Da reflexão sobre o Evangelho do IV Domingo do Advento pelo Padre Ermes Ronchi