Como serão os funerais quando não houver padres? E quem os fará?
Apetece-me deixar a questão assim, no ar, sem respostas, sem nuances, sem rodeios, sem certezas, sem vontade maior que fazê-la sem elaborações.
Contudo, depois apetece-me dizer que a Igreja é de Cristo e é natural que sempre haja padres. Digo eu. E também não se sabe se daqui por uns anos vão querer os padres a fazer funerais, quando já hoje muitos dizem à boca cheia que não querem padres para nada e garantem que não precisam deles.
Ainda refaço a pergunta para me entender. Como serão os funerais sem missa?
Mas não sei se me entendi. São perguntas que faço sem me dar conta que as faço. São perguntas de quem está a pensar nessa coisa que é não se precisar do padre para nada, como dizia há dias um jovem de óculos de sol. De quem vê o número de padres na europa cristã a diminuir. São perguntas de um padre que em algumas ocasiões precisava que aceitassem com fluidez, que é como quem diz, com naturalidade, que fosse o diácono a presidir ao funeral. Mas não. Não é fácil impingir um diácono nestas cerimónias. E já vimos porquê. Imensas razões culturais, sentimentais e outras que tais. Eu próprio sinto que são ocasiões de evangelização ímpares. Assim como é uma forma de a Igreja estar com quem sofre. É nosso dever estar presente no momento culminante da vida das pessoas, porque é esse que muitas vezes nos dá a vontade de Deus. Ou então não. Então é apenas a dor que precisa de ombro amigo que o padre pode ser por excelência. São só tolices, amigos, porque eu bem sei que devo estar presente o mais possível nestas ocasiões e não há volta a dar.
Mas há dias, a propósito de alguém que queria missa para o pai, mesmo sem nunca ou quase nunca lá ir, nem pai, nem filha, mesmo que para isso o padre tivesse de sacrificar o seu único dia de folga, veio-me esta tolice ao pensamento (mesmo sabendo que o padre tem mais folgas do que as que precisa e que só tem trabalho aos domingos. Fora de brincadeiras). Mas se em vez de 60 ou 70 padres que uma diocese possua, passe a ter uns 10, com trinta paróquias cada um, quem fará os funerais? Como serão os funerais?
22 comentários:
Boa tarde!
Sem padres também se fazem funerais e acredita com excelentes reflexões.
Há algum tempo atrás assisti a um funeral sem padre católico mas mais cristão do que muitos dos que assisto na igreja católica.
Não sei como será mas para alguns seria mais coerente. Sei, no entrando dizer-lhe que é doloroso, ver chegar o dia da partida de um dos nossos, daqueles que nos ensinaram, pelo exemplo, que devemos ir à missa todos os domingos e sempre que possível nos outros dias (e o possível implicava uns quilómetros a pé) e não haver um sacerdote ou leigo disponível na paróquia e mesmo a autorização para a ida de um colega tardar. A única coisa que de facto valia a para quem partiu era a oração se possível a missa. Não teve grandes flores, não teve uma coroa sequer, porque nada disso servirá de nada.
Não sei como será quando partirem os outros a quem amo mas decerto que preferiria a presença de um sacerdote mas acima disso gostava que cada um dos presentes se lembrassem de pelo menos fazer uma oração por quem partiu.
Custa me ver que ficam na rua a fazer feira perturbando até o decorrer da missa ou irem atras do carro funerário a ver se o morto não foge (ou a continuar a feira)
É uma boa questão, obrigada por colocá-la, fez-me pensar em várias situações que já vivi: funerais com padre onde o morto não era crente, funerais sem padre, funerais onde o padre falou mas não chegou ao coração de ninguém e funerais onde o padre fez aquilo que ninguém da família pode fazer, porque são sempre momentos de partida e de dor - consolou, evangelizou e deixou mais serenos mesmo os que não são crentes. O seu post fez-me pensar que poderá haver cada vez menos padres e funerais sem eles. Na minha opinião, é pena. Parece que fica algo por fazer e por dizer. E que Jesus fica mais longe.
Olá! eu já fui o rapaz de óculos escuros, nele vai concerteza muita revolta, muita angustia e, como infelizmente a Igreja ainda não desce muito dos altares, até anda pelo mundo mas sem se envolver no mundo, existe um amargo de boca nestes jovens que precisam de referencias vivas de Cristo, andam perdidos à procura de si proprios e, a não encontrarem um sacerdote que viva em pleno a Mensagem de Cristo, que os deixe berrar no ouvido que Deus não presta para nada, ao inves de gritarem "eu não presto para nada" e mesmo assim lhes diga "Deus está contigo na mesma e ama-te tal qual és, Deus ama-te até mais do que os não zaques da vida..", dificilmente voltarão a si próprios pelo menos sem antes passarem por um submundo de desamor.. eu fui assim, eu tive aquele padre que infelizmente já partiu e deixou uma igreja à minha volta muito pobre no geral..
Peço desculpa pelo desabafo, mas não é por isso que deixo de amar Cristo, apenas a minha caminhada tornou-se muito solitária, só isso. Mas aprendi que Deus não só esta comigo no sofrimento, como está no âmago do sofrimento.. agora conjugar isso com o ser omnipotente que é, que não se deixa atingir pelo nosso sofrimento, deixo a quem sabe de teologia...
Agnostica Portuguesa
Quem fará os funerais?
Talvez aconteça como os ministros extraordinários da comunhão.
Quando começaram a aparecer em alguns sítios não foram muito bem aceites.
Hoje parece que já não se estranha que a celebração dominical seja feita por um leigo.
Eu posso dar o meu testemunho pessoal. Desde gente que se recusava a participar na mesma celebração na ausência do presbítero, a gente que na hora da distribuição da comunhão me contornava e ia comungar ao padre, porque só com ele a comunhão era válida.
Hoje tudo isso mudou. Primeiro estranha-se depois entranha-se.
Maria Ana
Um diacono nao me causa qq especie de confusao, porque 'e a base da hierarquia do cleto, mas jaum ministro da comunhao, na minha modesta opiniao, nao me deixaria tranquila..sao momentos que requerem um toque de transcendencia e de quase confronto com o divino...para mim devera ser intermediado por alguem que, apesar de todas as impetfeicoes que lhe reconheca, eu as esqueca momentaneamente e ouca Deus sem pensar no ministro...
De qq modo 'e so uma opiniao, de entre tantas outras e espero nao ser ofensiva ..
Agnostica Port.
"Como serão os funerais quando não houver padres?"
O que pode ser feito para que os padres não deixem de existir?
05 novembro, 2016 21:49
Eu diria que era importante rezar, a pedir a Deus mais vocações e sobretudo melhores!
Tb seria importante contribuir com o testemunho, e com convites, e com apoio emocional ou até espiritual aos sacerdotes que existem...
São só umas pequenas dicas
Agnóstica, quando pensamos naquilo que é a verdadeira Igreja de Cristo, e apesar da diferença de dons que tem um sacerdote (ou um diácono), acabamos por ir aceitando que sejam leigos a fazê-lo. Eu acho que um dia ainda vamos assistir a paróquias inteiramente entregues a leigos (em Africa há locais onde os padres vão só uma vez por mês - ou até menos - e as paróquias e os serviços paroquiais são assegurados por leigos idóneos.
Maria Ana
É um pensamento positivo... mas até lá, cá estamos nós com batatas quentes nas mãos. hahahah... não que isso seja mau de todo, se entendermos que é esta a nossa missão. Mas ás vezes cansa!
03 novembro, 2016 07:06
eu entendo esse desejo, que tb eu próprio era bem capaz de ter, independentemente de ser sacerdote... mas temos de ir aceitando que um funeral não pode ser apenas uma forma da nossa cultura. Não deveria ser uma forma da nossa fé?
Talvez no grandes meios urbanos se torne cada vez mais frequente que sejam leigos a fazer funerais. Imagino que a maioria das famílias quando se despede dos ,vê o Padre pela primeira vez.
Mas nos meios mais pequenos,como o meu, será muito difícil que as pessoas o aceitem.
E infelizmente, pelo que observo, se o leigo pertencer à comunidade ainda se torna mais difícil de ser aceite.
Pessoalmente não acho mal que sejam feitos por leigos. Mas terão que ser leigos muito bem preparados. Que não se limitam a cumprir os preceitos e consigam chegar ao coração dos que sofrem.
Se me perguntassem o que acho mais difícil na vida de um Padre, eu diria que são os funerais. Não consigo imaginar o quanto pode ser devastador às vezes fazê-los... Mas quantos anos levaram para se preparar? Toda a vossa vida, todos os anos de discernimento que fizeram e continuam a fazer.
Mas há aqui algo que me escapa... Por conta da falta de vocações temos cada vez menos padres. Como tal, considera-se que sejam leigos a substituir-se aos padres numa boa parte das tarefas. E pergunto, não serão esses leigos as vocações que tanto faltam? Se estão aptos a desempenhar uma boa parte das tarefas destinadas a vós padres, porque precisamos de mais padres?? Serão os padres uma espécie em vias de extinção e será esta a forma de "sacerdócio" do futuro?
06 novembro, 2016 22:25
Tens razão, os leigos têm de estar preparados e ser idóneos...
Tb tens razão quando dizes que deve ser o que mais nos custa. A mim é. Além de me desarranjar os horários e os programas, é sempre uma dor, e se é uma pessoa mais próxima, é dolorosissimo.
Só não tens razão quanto à ultima pergunta. Nós precisamos de leigos mais comprometidos, porque é assim que se é leigo. E vamos sempre precisar de padres, por causa da Eucaristia e porque não há rebanho sem pastores. Porém, temos de nos habituar à ideia aqui na Europa de ter poucos padres com enormes rebanhos.
Sr Padre, quando tenho um Bom padre na minha frente sou capaz de rezar por ele, mas tenho de o conhecer bem. A desconfiança tomou conta de mim, como deve saber pelo blog da Alice (do brasil), estou mt ferida pela Igreja nesse aspeto e por isso abstenho-me de rezar por vocações, deixo isso para Deus. Que Ele me perdoe.
Agnostica Portuguesa
Agnostica Portuguesa
Os padres que não são bons, ainda precisam que se reze mais por eles...
(e já nao recordo ou não sei essa da Alice... sorry)
Foi uma expriencia traumatica, só indo mesmo ao blogue dela (confessionario dum amor possivel) e ver.. prefiro nao relmbrar...
Padre,
06 novembro, 2016 22:25
eu até conheço alguns leigos que assumiriam o compromisso. Alguns que até teriam ponderado seguir o sacerdócio, se isso não lhe exigisse o celibato. Porque desejaram ser também pais e maridos.
e nesse caso padre, se mais leigos se comprometessem, qual seria a função maioritária de um padre que hoje acumula nove ou dez paróquias? Coordenar? Consagrar "em massa"? Quem seria o pastor daqueles fieis que acolhem o leigo de coração aberto? Tu, o padre?
deixei-lhe um email sr Padre.
Agnostica Portuguesa
Vou ver, Agnostica
06 novembro, 2016 22:25
eu até coloco a hipótese de que um leigo poderia tb ser um pastor. Mas um padre será sempre necessário pela sacramentalidade da Igreja. Eu vejo-o acima de tudo como pastor e coordenador, e poderia vê-lo como aquele que acolhe, fora e dentro da Igreja, como sinal de Cristo. Creio que não haveria verdadeira Igreja sem padres, embora a Igreja seja mais que isso.
Pe.,
06 novembro, 2016 22:25
tenho profundo respeito pela entrega de um Padre. Há padres excepcionais e imagino que sejas também um deles.
Às vezes questiono-me se não vivem desiludidos na maior parte do tempo. Acabam por se entregar a uma clericalidade que há uns dias falavas num post. Sobretudo nos meios mais pequenos onde o Padre, mesmo que não tenha esse objectivo, ocupa uma posição social alta, acabando algumas vezes por se deslumbrar e perder-se um pouco daquilo que, imagino eu, o moveu inicialmente.
E receio bem que esses padres deslumbrados, aliviados da carga dos funerais e de algumas celebrações, se percam e afastem aqueles que em silêncio estão atentos. Aqueles que reconhecendo-se como pecadores procuram um pastor que vive em busca da Santidade.
06 novembro, 2016 22:25
és bem capaz de ter razão
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