terça-feira, abril 05, 2016

Não estar agarrado ao meu sacerdócio

Tem dias que me penso sem ser padre. Como se fosse um simples leigo. Penso que nos acontece a todos pensarmo-nos, de vez em quando, como não sendo aquilo que somos, ou não fazendo aquilo que fazemos. 
E é altamente curioso que durante esses dias e pensamentos a sensação seja de uma certa paz. Digamos uma paz estranha, para assinalar que se trata de uma forma de estar que não sei muito bem dizer, mas que não me desassossega. Uma forma de pensar que não me faz desejar não pensar. 
Imagino-me sentado nos bancos da Igreja como qualquer leigo, e dou por mim a rezar como rezo, a caminhar como caminho, a viver a fé como vivo. Talvez não me fosse dispensado tanto tempo para o Senhor ou não fosse obrigado a ter tempo para o Senhor. Ou fosse um tempo de Deus que não precisasse dizê-lo ou pensá-lo. Mas eu seria na mesma Dele. Porventura até seria mais capaz Dele, porque mais livre de me obrigar a coisas Dele. 
Imagino-me a dar catequese como os meus catequistas, pois gosto muito de ensinar e partilhar, e a cantar no coro, pois gosto muito de cantar. Imagino-me a animar um grupo de jovens, pois gosto muito de vê-los crescer para Deus. Imagino-me ministro a levar a comunhão aos doentes, a visitar quem precisasse, a participar nos retiros ou nas formações da paróquia. Pode parecer pretensioso da minha parte, mas quase me imagino melhor leigo que padre. 
Penso agora que isso me pode ajudar a falar aos outros como eles, a partir de Deus e não a partir de mim. Falando e pregando a pensar neles. Naqueles que não são padres mas podem ser tão ou mais crentes que eles. E fico em paz, porque todos estes pensamentos me trazem a certeza de que não precisava ser padre para ser de Deus. Isso dá-me a certeza de que Deus é mais importante que o meu sacerdócio. Isso dá-me consciência de que não devo estar agarrado ao meu sacerdócio, mas a Deus.

15 comentários:

Anónimo disse...

Tenho pena que vos seja vedado, a vós padres, tanta coisa. Embora entenda o sentido do celibato, tenho a certeza que a paternidade, o matrimónio não faria de vós menos de Deus. A questão era se faria de vós pessoas mais felizes. Isso parece-me importante.

De qualquer forma tal como o "Coimbra" uma vez padres, para sempre padres.

Paulina Ramos disse...

O ideal é não estar agarrado a nada, nem mesmo a Deus, acho que foi essa a grande lição de liberdade que Jesus nos quis transmitir.

Anónimo disse...

Dou a mão à palmatória. Fiquei rendida. É interessantíssima a forma pacífica, elegante e bem-humorada com que aborda a sua relação com Deus e o sacerdócio e os estranhos exercícios de imaginação a que se sujeitou para demonstrar a sua perspectiva. Continue a falar a partir de Deus, que dá gosto ouvi-lo.

Anónimo disse...

Acho muito interessante esta tua abordagem, e embora não porve que não precisemos de padres, diz de si que se calhar não são o mais importante na Igreja de Cristo. Estarei certa?

Confessionário disse...

Paulina, a liberdade não pode nunca significar individualismo ou egoísmo!

Confessionário disse...


06 abril, 2016 22:39, soube bem ler-te! heheheh


07 abril, 2016 11:17, claro que não são nunca o mais importante, pois o mais importante é Jesus Cristo, ou se quiseres, Deus. Pena que muitas vezes se esqueça isso!

Anónimo disse...

No post, estavas a falar mesmo a sério?

Confessionário disse...

07 abril, 2016 15:27, não percebi a questão.

Anónimo disse...

A questão nada tem de especial. O post é claro, bem estruturado, está a ser muito bem apreendido e desenvolvido, etc. Mas para quem acompanha este blog há algum tempo, como é o meu caso, parece conter uma contradição nítida. A tranquilidade que diz sentir ao pensar-se leigo, advêm-lhe de saber-se padre, agarrado ao sacerdócio. Se tivesse dúvidas quanto ao seu sacerdócio se calhar a sensação seria mais próxima do sobressalto. Não sei se me consegui explicar bem.

Confessionário disse...

07 abril, 2016 17:52, sim explicaste, e fizeste-me pensar muito, pois és bem capaz de ter razão! Se me pensasse mesmo como leigo sem a condição que tenho, talvez fosse diferente a percepção.
No entanto, o prisma com que escrevi o texto, ou o que reflecti, tem mais a ver com o que é mais importante: se é estar agarrado ao sacerdócio ou a Deus, com tudo o que isso implica!
Também não sei se me expliquei bem

Anónimo disse...

Não foi isso que disse, percebeste-me mal; mas, sim, explicaste-te bem.

Confessionário disse...

07 abril, 2016 19:02, e eu a pensar que tinha percebido. Ainda bem que me expliquei bem. Mas já agora, que querias dizer mesmo? lol

Paulina Ramos disse...

Não se trata nem de uma nem da outra, trata-se de amor. Se amas não precisas de te agarrar a nada porque vives n'Ele.
Estou com alguma dificuldade em me expressar.

Anónimo disse...

Nada de importante. Só dizer que estou convencida que é um excelente pároco, que os seus paroquianos têm imensa sorte em o terem à frente da comunidade e que é uma pena haver tanta falta de vocações ao sacerdócio. Muitas felicidades para a sua vida.

anonimo disse...

Meu querido "Padre", pense nessa expressão "somos pensamentos de DEUS", caso esteja pensando assim é ELE, manifestando a sua vontade, ELE é MISERICORDIOSO jamais ira obrigar filho algum ser prisioneiro. Em estilo de vida seja qual for. Até o ser perdido ELE busca reorganizar seu viver. O por que de muitas religiões, sabemos que nelas encontramos cada vivente, que ACEITOU JESUS, e hoje é um evangelizador, sem tortura, sem receios. O que sabemos que DEUS, não abandona ninguém. Quando somos catequizados, sabemos que Jesus, na terra não cursou nenhuma faculdade de teologia e nem medicina; mas na vida ELE é mestre para doutores e evangelizador sem restrições. A humildade a serenidade, a dignidade e a bondade é DIVINA. Entre outros estilos de vida podemos muito bem servir à DEUS e ao próximo.Por isso que o Reino do Céu é maior,que existem pessoas que nem precisa de religião somente de DEUS.