sexta-feira, abril 22, 2016

“Amor amado a corpo inteiro”

Li nos meus devaneios poéticos um verso de Pedro Casaldáliga a propósito da vocação ao sacerdócio que dizia mais ou menos assim: “amor amado a corpo inteiro”. A frase estremeceu em mim e na minha vocação. Arrancou de mim, do meu corpo, a certeza de que não sou digno de tal sentir. Digo-o. Afirmo-o. Raramente amo a corpo inteiro. Digo-lhe muitas vezes expressões como “toma as minhas mãos”, ou “toma meus pés e meu andar”, ou “toma minha boca e minhas palavras”, ou “toma meu coração”, ou “toma meu pensar”, ou “toma meu sofrer” e por aí fora. Na verdade tenho-lhe oferecido partes de mim, mas não o corpo inteiro. 
Perdoa-me, Senhor, pelas vezes que só te entrego parte de mim.

18 comentários:

Paulina Ramos disse...

Oh! Confessionario depois de te ler chorei... So depois de saber que tinha cancro é que eu me entreguei sem reservas a Ele... Impressionante, pois foi preciso sentir o desespero dos sem esperança para me imolar no Seu Altar e lhe dizer entrego-me por completo sem reservas nas Tuas mãos... Faz de mim o que quseres, a partir desse momento senti em mim uma paz inexplicável.
É como se alguém habitasse o meu corpo... a isto eu chamo uma graça, um milagre.
Se exagerei no meu desabafo estás à vontade para não o publicar.

Anónimo disse...

Só uma pessoa com a sensibilidade à flor da pele, como o Sr. Padre, para escrever um texto tão poeticamente inspirado. Em confronto com o soneto original, os seus versejos ficam claramente a ganhar. É uma questão de alma, penso eu de que.

Confessionário disse...

Paulina, como te entendo!

Confessionário disse...

23 abril, 2016 13:33

Agradeço a palavra, que sinto tão verdadeira como quero apreendê-la com a humildade de que devo transformar essa sensibilidade em verdade para o Senhor!

Anónimo disse...

NOSSA! Belas palavras, hoje sei que realmente estou ciente quando vou dormir, antes de qualquer oração falo com DEUS, "Senhor faça de mim conforme a Tua vontade estou em Vossas mãos, sou tua filha me entrego todo meu corpo e a minha alma."Dai em diante onde rezo para adormecer. Entrego a ELE todos os meus fardos, e peço que preciso descansar o corpo e a alma. Caso ELE confie em mim ELE devolve os fardos pois ELE também confia em mim como sua herdeira em questões aqui na Terra. Falar com Deus é maravilhoso, converso com ELE direto todos dias de vida irei fazer isto.

Anónimo disse...

Verdadeiramente tocante e intenso.
Dos melhores textos que já li aqui, daqueles que tocam mesmo.
Palavras que se sente que foram escritas com o coração, verdadeiras.
Continue assim. Bj

Anónimo disse...

Este pequeno texto tocou-me particularmente, talvez por o Sr. Padre nele abordar de forma tão desempoeirada o acto de entrega do corpo em toda a sua inteireza. Chegada a velhice olhamos para nós, miramo-nos de alto-a-baixo uma vez mais e pensamos no que Lhe faltará entregar e se isso representará o todo ou o que resta das sucessivas entregas que fomos efectuando ao longo da vida. Já lhe entreguei a elegância, parte da memória, a vesícula e quase todos os meus dentes; sou dura de ouvido e curta de vista; a rigidez nas articulações obriga-me a permanecer muito tempo imóvel e a deslocar-me apenas com o auxílio de uma cadeira de rodas. Sofro de Parkinson, incontinência. Halitose e tensão alta, mas dou graças a Deus por até à data não me ter chegado a diabetes, doença que cedo levou o meu querido e falecido marido. No lar as meninas são muito atentas, preparam-me as refeições sem sal, dão-me os medicamentos a tempo e a horas, chamam o médico sempre que dele preciso, deitam-me e tapam-me, e sempre que me queixo da vida e digo “Ai, Jesus já não estou cá a fazer nada” respondem-me prontamente com um belo sorriso: “mulher doente, mulher para sempre”. É esta amabilidade que me anima e dá forças para me agarrar à minha debilitada vida. Isso e as minhas orações nocturnas, momentos únicos em que agradeço com ardor a Deus misericordioso e a todos os santinhos da minha devoção o guardarem-me tão discreta e carinhosamente em suas mãos mesmo sabendo eu não o merecer. A minha família compreende a minha devoção e, mesmo sem eu pedir, leva-me religiosamente à missa sempre que me vem visitar aos domingos de manhã, para que possa comungar. Arranjo-me cedo e ponho o missal a jeito para não os fazer esperar. E é lá mesmo, sempre sob o olhar atento de Deus Nosso Senhor e na presença dos irmãos, que passo em revista os anos passados e tudo o que sou. E é lá mesmo que eu, sempre confiante na divina misericórdia e crédula na infinita sabedoria divina, Lhe peço sentidamente perdão por não Lhe ter entregue verdadeiramente tudo de mim, por não lhe ter oferecido também tudo aquilo que me respeita e me escapa, embora saiba que isso só Deus verdadeiro pode realmente abarcar.

Anónimo disse...

Anónima de 27 de Abril 19h45,


Durante dois anos lidei de muito perto com idosos residentes em lar. A empatia que com eles estabeleci trouxe-me e continua-me a trazer, muitas vezes à mente, a seguinte questão:

E Eu? Hoje com 40 anos, com que estado de alma vou/quero chegar , se Deus o permitir, à 3ª idade?

Depois de ler o seu testemunho, está decidido! :-) Quero um estado de alma semelhante ao seu , a serenidade e a sabedoria que transmitem as suas palavras.

Que Deus a proteja.

SL

Anónimo disse...

Obrigada querida SL pelas suas palavras tão atenciosas, remocei. Tenho a certeza que a amiga vai chegar à minha idade com uma alma muito mais luminosa que a minha.

Fique com a graça de Deus,

Beijinhos

Anónimo disse...

Será que seria pecado demais para uma mulher que um sacerdote deixasse seu sacerdócio por amor a ela? E seria pecado demais se ela quisesse/aceitasse ser a namorada dele enquanto ele também exerce o ministério?

Confessionário disse...

17 julho, 2016 04:34

Tudo o que fazemos contra o amor de Deus é pecado. Amar é que pode nao ser.
UM padre ter uma vida dupla tb é pecado. Amar é que pode não ser... Mas, não deveria fazer uma opção de ser fiel, seja a Deus seja a uma mulher?!

Anónimo disse...

Porque não amar e ficar com os dois? Por quê medir amor se ambos são nada mais nada menos que amor... Viver concretamente esse amor o faria amar menos a Deus e/ou o tornar impossibilitado de exercer tal ministério com a graça, simplicidade e bondade que tem?

Anónimo disse...

Confesso que pensei que havia feito o comentário em vão pois imagino que deves ter muitos outros para analisar... mas enfim, é um prazer poder ter suas respostas pois sempre acompanho o site e é muito edificante o que é postado aqui rsrs

Confessionário disse...

20 julho, 2016 02:22

Pois eu nao julgo nem quero julgar o que seria ou nao melhor. Eu sei que um padre poderia amar uma mulher e não ser pior padre! Mas tb sei que viver uma vida dupla é doloroso e não faz bem ao seu sacerdócio...

Anónimo disse...

Concordo com você, é realmente complicada uma vida dupla... mas mais complicado ainda é amar duas coisas e ter que abrir mão de outra...

Anónimo disse...

De uma*

Anónimo disse...

Querido Pe. Do confessionário, foi bendito o que disse em julgar ou não. Mas o ser humano para viver em plena comunhão com Deus, deve ama-LO,em primeiro lugar. Amar à Deus sobre tudo e todos, depois a si próprio e depois um ser humano terreno. A pessoa que não se ama não terá condições plena de amar outra, e demais do ambiente onde convivi o. O amor é lindo, não tem cobranças,um exemplo o ciúme, isso não significa que ama alguém. O amor é livre, leve sereno como uma brisa: é doce, as palavras mais sinceras que alguém pode dizer a outra é quando a confessa diante desse alguém; "Eu te amo". Muitos usam para satisfazer o ego e não como sendo algo verdeiro e sincero. Amor são gestos cordiais, simples e olhares profundos. Podemos sim, conciliar as coisas perante uma mente e o espirito emocionalmente equilibrado. Difícil mas é possível.

Anónimo disse...

Sim, concordo que realmente não seria o pior padre. Seria um excelente evangelizador, com mais vitalidade, com homilia de ricas experiencias direcionadas as famílias,a falta de familiaridade que esta decadente para com o ser humano por completo. Se entregando ao mundo sem condições de achar o ponto de referência, suas origens, suas identidades.É triste isso. Seria sim, um padre com vigor e vontade de continuar a sua missão. Já é tempo de que tudo pode ser modificado e acabar de vez com certos martírios. O SENHOR CRISTO VEIO AQUI PARA NOS LIBERTAR, pena que ainda existe muitas escravidões sem controle pelo próprio homem.