sábado, março 28, 2015

Os filhos do pecado

Sentou-se à beirinha da cadeira, caso fosse necessário fugir. Ou pela humildade de não ocupar tanto espaço. Penso que a idade lhe ensinou que não se deve ocupar muito espaço, porque o nosso espaço é sempre pequenino. Eu já estava sentado. Pronto para darmos início ao sacramento da penitência. Arregalou os seus olhos pequeninos para dizer que não sabia bem o que dizer. E assentiu resignada: Ó senhor padre, mas todos nós pecamos, pois somos filhos do pecado.
Aquela expressão feriu-me os ouvidos. Ela não pensou no que dissera como eu o imaginei. Mas ser filho do pecado é quase afirmar que somos filhos do Demónio. Por isso emendei-a e pedi-lhe que nunca mais dissesse isso, porque nós somos é filhos de Deus. Sei que ela deve ter aprendido a dizer estas coisas no tempo em que o pecado era aquilo que nos levava para o castigo dos infernos, no tempo em que não havia remédio senão pensar que tínhamos nascido condenados pelo pecado. Era outro tempo, embora os pecados fossem o que são hoje: uma pedra no sapato que dificulta caminhar. Mas é uma pedra que o Senhor Deus aligeira com a sua graça e com o seu amor misericordioso. Às vezes sem pedras no sapato e porque o pé não dói, não percebemos sequer que estamos a caminho. E além disso a pedra não é senão uma pedra, e o caminho é setenta vezes sete vezes maior que a pedra.

10 comentários:

Bruxa Jillian disse...

Filhos do pecado. Isto me lembrou algo de muito tempo atrás. Uma senhora que era a minha vizinha. Vivia a julgar todo mundo do meu prédio. Quem era o seu alvo preferido? Claro, que seria eu. A senhora. Uma catolica fervorosa, julgava a minha religião. Já te disse. Sou uma bruxa e não tenho vergonha disso. Um dia no corredor. Ela olhou e disse uma frase para lá de animalesca. ''Sua filha do Diabo, vai queimar no inferno!" Eu ri bem alto e falei ''Cara senhora. Eu não sou filha do Diabo. A senhora que deve ser filha da ignorância. Eu trabalho com energias cosmicas. E não digo nem o nome que a senhora disse.'' E ela replicou ''Eu amo ao meu Deus e você aos seus Deuses. Agradeço todos os dias que minha igreja matou essa tua raça maldita'' Eu dei uma última cartada ''Eu nenhum momento falei sobre ''Deuses''. Trbalho com energias e respeito a divindade. E creia minha irmã. Até o próprio anjo caído foi criado por Deus. E você e ele são idênticos." Ela perguntou o por que? ''Pela mesma ignorância'' Desde daquele dia. Ela nunca maos ousou em falar comigo. Resumo final padre. Não somos filhos do pecado, e sim de Deus. Nós é que tomamos o caminho errado. Como o senhor é sacerdote da tua religião. Eu também sou da minha, mas no final servimos ao mesmo Deus. Sou uma bruxa que mexe com energias. Auras e corações. Minha aura é rosa. Então as pessoas procuram a mim quando precisam do amor. Onde eu chego isto fica obvio. As pessoas ficam até pensando que sou uma boba alegre. Pela aura doce e amorosa. Então padre. Seria todos nós filhos do pecado? A minha resposta é não. E está senhora está enganada. O problema é que fazemos escolhas erradas e no final da queda achamos tudo inválido. E se ela quis fazer menção aos pecados da carne. Ela está muito errada. O amor pode ter duas polaridades. A linda e a feia. Deus dar as escolhas e cabe a você decidir o caminho. O sexo é algo belo e divino, mas o humano o tornou sujo e nojento. Olha as duas polaridades. Deus te dar a situação. E no final cabe a você o final dela. Um bater de asas para o senhor.

JS disse...

Ó Confessionário, essa de passar um atestado de burro ao santo Agostinho tem muito que se lhe diga...

Coragem para a Semana Maior!

Anónimo disse...

Caro Padre,

Uma questao que tenho ha muitos anos, mas que nunca na verdade perguntei a um Padre: qual o objectivo da Confissao? Para que serve? O que muda? O facto de nos Confessarmos a um Padre altera ou atenua as nossas accoes? Fui educada na religiao Crista e julgo que foi uma boa educacao. No entanto, com o passar dos anos, apercebi-me, com magoa e profunda desilusao, da hipocrisia, da indiferenca para com o outro, da maldade que corrompe a nossa sociedade, as nossas comunidades, incluindo a Crista. Eu, nao sendo crista praticamente (seja la o que isso for), nao indo a missa, nao me confessando, considero-me muito mais crista que certas pessoas que fazem tudo aquilo que e' pedido a um cristao.

Nao interprete estas palavras como um ataque, antes pelo contrario. Esta e' a 1a vez que tenho a oportunidade de discutir estes assuntos com um Padre. Cada vez que o faco com amigos ou Familia, das duas uma: ou me ignoram, ou comecam a atacar-me...

Gosto de ler o seu blog, no fundo estas questoes da religiao intrigam-me, talvez por nao as conseguir entender muito bem. E eu gosto do que me intriga. Sou cientista, preciso muito de ver para acreditar, questiono tudo, ate demais... Mas nao sou ateia. Sou agnostica, o que, parecendo que nao, faz toda a diferenca.

Acho que tb gosto de aqui vir pela musica... Tranquiliza-me, e eu gosto de coisas que me tranquilizam :)

Obrigada!
Andrea Serra Marques

Confessionário disse...

JS, porquê?

Confessionário disse...

Andrea,
"qual o objectivo da Confissao? Para que serve?" Na minha modesta opinião, serve para sentir o amor misericordioso de Deus, a graça sacramental, o saber-nos amados e perdoados infinitamente, o termos de assumir diante de alguém o nosso arrependimento, o ouvirmos um conselho que nos ajude a caminhar...
"O que muda? O facto de nos Confessarmos a um Padre altera ou atenua as nossas accoes?"
Tudo depende da pessoa que se confessa... mas o mais importante é que te sintas mais cheia de graça, ou se quiseres, de coisas que te fazem ter vontade de continuar... Há aqui no blogue muitas respostas implícitas às tuas perguntas... procura sobretudo o que fala da confissão.

"considero-me muito mais crista que certas pessoas que fazem tudo aquilo que e' pedido a um cristao."
isso nem eu o posso garantir... não se podem quantificar estas coisas. Tudo é uma questão de fé e de amor...

Respondi de formas bastante simples e simplista... acho que se fostes lendo e vais lendo o que tenho escrito, muitas mais respostas encontrarás...

bj de respeito

Anónimo disse...

O pecado " uma pedra no sapato que dificulta caminhar. Mas é uma pedra que o Senhor Deus aligeira com a sua graça e com o seu amor misericordioso."

E quando o "pecado" se transforma numa força que te impele a continuar a caminhada?

E quando tu não sentes o episódio como pecado mas o "outro" sim sente que pecou?

Se responderes fá-lo de uma forma sincera, sem me remeteres para questões "teológicas". Por favor!

Confessionário disse...

E quando o "pecado" se transforma numa força que te impele a continuar a caminhada?

"Às vezes sem pedras no sapato e porque o pé não dói, não percebemos sequer que estamos a caminho"

E quando tu não sentes o episódio como pecado mas o "outro" sim sente que pecou?

Não é uma questão de se sentir ou não, porque a nossa consciência pode estar mal formada!

Anónimo disse...

"a nossa consciência pode estar mal formada!"
Pois pode!

E qual seria então a consciência bem formada?

Seria a que foi formada sobre a doutrina de Cristo e da Igreja?

Depois de ler o que escrevi soou forte mas vou mantê-lo assim.

Gostava de poder explicar a situação para obter uma opinião mais concreta e isenta, mas não o devo fazer por cobardia ou pura proteção nem sei bem o que lhe chamar.

Fica bem!

Santa Páscoa!
Santa Renovação!

Confessionário disse...

Não podemos reduzir as coisas a uma doutrina, mas a uma forma de vida... e l´
a no fundo de nós todos temos a resposta. Uma coisa é o que nós queríamos e outra aquilo que sentimos. O próprio facto de fazeres a perguntya já indicia que a tua consciência te aponta para dúvidas... ora isso significa o quê?!

E se qusieres ser mais explícita, podes fazê-lo por mail

Anónimo disse...

"a tua consciência te aponta para dúvidas"

Sim é verdade apresenta dúvidas. Gosto quando é assim, habituei-me a duvidar das certezas absolutas.

"ora isso significa o quê?!
Com toda a sinceridade, se eu soubesse o que significa ou de que é indicio não tentava, um pouco atabalhoadamente, obter respostas neste meio virtual.

"Não é uma questão de se sentir ou não"
Acho que me expliquei mal. Quando falo em sentir não me refiro a um sentimento apenas do domínio das ideias, este sentir é o conjunto do sucedido e das consequências diretas do ato em si para mim(que é o que conheço) e para o "outro" que desconheço.

Não é simples explicar isto sem chamar as coisas pelos nomes.
Se ganhar coragem fá-lo-ei por mail, a situação é delicada, e não é fácil de explicar.
Obrigada!