terça-feira, novembro 11, 2014

Seminaristas às dezenas

O Juan é padre. Provem da América Latina, de um país que não sei se é muito grande, mas deve ser. Dizia-me que no ano em que entrou para o curso de Teologia no Seminário da sua diocese eram quase cem candidatos. Mais ou menos os mesmos que entraram este ano. Aliás, são ainda mais os que gostariam de entrar, mas não entraram na triagem. Dizia-me que as paróquias, embora grandes, têm vários sacerdotes. Vão muitos aprofundar os mistérios de Deus nos estudos porque são muitos. São da América Latina, embora este acontecer não seja assim tão recorrente. O Juan perguntava-me do meu país. Na minha diocese, respondi, sobram os dedos de uma mão para contar os seminaristas que estão em teologia. O Juan perguntou-me então se Portugal ainda tinha cristãos na missa. Respondi que tem gente na missa. Gente. Gente que vamos supor que tem fé. Há países da Europa com menos gente na missa. E menos fé. Mas ser padre hoje em Portugal é só para um pequenino número de jovens a quem Deus não foi indiferente. O Deus que não é só Deus de alguns sacramentos, das festas e dos funerais.
Alguma coisa tem de mudar na Europa dos cristãos. Talvez olhar para fora seja o primeiro passo.
 
Nesta semana dos Seminários deste ano 2014, queria pedir ao Senhor da Messe que abra os olhos aos trabalhadores da Messe para que vejam para além deles.

13 comentários:

Bruno disse...

"ser padre hoje em Portugal é só para um pequenino número de jovens a quem Deus não foi indiferente." Embora perceba o comentário, acho que vou discordar.
Cada vez mais se veem grupos de jovens a surgir, eventos de música religiosa que há 20 ou 30 anos seriam impensáveis... cada vez mais se vê que os jovens procuram, ou melhor, encontram Deus. Mas também existe outra coisa que há 20 ou 30 anos não existia (ou se calhar já vai em 40 ou 50), alternativas acessíveis, isto é hoje em dia, mesmo com a crise, é mais acessível à bolsa de qualquer pessoa tirar um curso numa faculdade pública do que um curso de Teologia na Católica (e não conheço as ajudas que há para quem tem dificuldades económicas, estou apenas a falar de valores absolutos que estão anunciados nos sites das faculdades), enquanto antigamente o seminário é que era o meio barato de seguir estudos. Não estou a dizer que toda a gente ia para padre, mas certamente houve muitos padres que seguiram esse caminho por terem ido para o seminário "apenas" para estudar (já para não falar dos casos em que os filhos já estavam "destinados" quase à nascença que seriam padres, algo que hoje é impensável).
Se calhar, tudo tem de mudar, os cristãos que "não têm tempo de comparecer no banquete nupcial" (e não percebem quando Deus fala com eles), a igreja que por vezes age como um serviço e não como um modo de vida ou um chamamento, as próprias comunidades paroquiais que por vezes parece que se especializaram em criticar em vez de acolher.
Mas sim, concordo com a última frase "Nesta semana dos Seminários deste ano 2014, queria pedir ao Senhor da Messe que abra os olhos aos trabalhadores da Messe para que vejam para além deles." Só olhando para além do próprio é possível dizer sim

Anónimo disse...

"Se calhar, tudo tem de mudar, os cristãos que "não têm tempo de comparecer no banquete nupcial" (e não percebem quando Deus fala com eles), a igreja que por vezes age como um serviço e não como um modo de vida ou um chamamento, as próprias comunidades paroquiais que por vezes parece que se especializaram em criticar em vez de acolher."
Acolher em vez de criticar, formar em vez de apontar o dedo e levar as pessoas a afastarem-se de outras realidades religiosas pelo "medo" de serem banidas.
Um cristão bem formado sabe dar razões da fé que professa não vai ao encontro das seitas mas também não foge delas, enfrenta-as com a dignidade que um cristão deve ter.
A igreja que age mais como um serviço do que como um modo de vida está a sofrer as consequências, as pessoas afastam-se porque até acreditam que existe Deus, mas onde está a fé? sim onde está aquele estado de graça, aquela ligação intima pessoal e pessoal ao Deus em que acreditamos?
Acho que a Igreja deveria ter a responsabilidade de despertar nas pessoas a fé através do modo de vida.
Acho também que o cristão deve ser um "místico contemplador" do dia a dia, pessoas comuns, à semelhança de Moisés, Elias Jesus Cristo, tocados pelas crueldades da época, mas moldados pela força do "Espírito", com aquele brilho nos olhos fruto de quem se sentiu tocado por Deus.
Só olhando para fora se desperta para a vida, pois quem olha para dentro sonha, mas quem sonha e observa a vida desperta. Entre parêntesis atrevo-me a recomendar aqui a leitura de um livro recentemente publicado "A mística do instante" que pode ajudar a compreender que o quão importante é a promessa no tempo atual.
Ser padre em Portugal é de facto uma grande aventura, mas não acessível a todos e por diversos motivos que não só o monetário.
PR

Anónimo disse...


O problema da crise de vocações está entranhado num outro, muito mais vasto e profundo e, por isso, mais preocupante: a crise espiritual que atinge a nossa sociedade, particularmente as camadas mais jovens. Parece-me que o foco da atenção deve ser posto neste problema, caso queiramos minorar o outro.

Confessionário disse...

Bruno, infelizmente o problema é maior do que como o apresentas. É verdade que quando se têm poucas alternativas, ser padre passa para a frente. Mas a questão é que as pessoas querem pouco a Deus! Logo não podem entregar-lhe a sua vida.

O 13 Novembro, 2014 14:22,toca um pouco no assunto, mas não se trata apenas de uma espiritualidade. A meu ver os jovens não estão nem aí, como se diz em brasileiro. A espiritualidade vem depois de uma conversão, e não se chega sequer a ela.

Anónimo disse...

Estamos totalmente de acordo. Não me expressei bem com essa da “crise de espiritualidade” (sorry), mas o que pensei foi mesmo nesse “não estão nem aí”.
Aí é que está a crise! Deus foi apagado e a religião é vista como uma grande fantochada. Vocações?! Puf!
E sair daqui?

Confessionário disse...

é uma autentica bola de neve, amigo... mas devíamos sentar-nos (ou de pé, se calhar melhor) a pensar

Bruno disse...

Ok, acho que me expliquei mal. Acho que queria mais dizer que antes havia mais padres por só haver o seminário como algo acessível, e não tanto o facto de hoje haver menos por causa das alternativas (sim, eu sei que parecem uma e a mesma coisa). Se é verdade que haveria mais padres do que agora sem terem vocação para tal, também é verdade que a frequência do seminário lhes dava um contacto mais vivo com Deus (que nas nossas universidades hoje em dia não existe) o que tornava mais provável sentirem e prestarem atenção a esse chamamento que muitas vezes existe, mas é desvalorizado continuadamente (e correndo o risco de me expressar mal outra vez, também mudou bastante a visão que a sociedade tem dos padres, para ser uma opção que é menos vezes tida em conta).
Quanto ao "não estão nem aí", ou vivo numa paróquia/vigararia muito estranha ou tenho uma visão muito deformada do que vejo à minha volta. Na minha paróquia, cerca de metade dos catequistas (entre 40 e 50 no total) tem menos de 30 anos, um número que sobe para mais de 2/3 se contarmos os que têm menos de 50 (ou seja, com idade para ser pais de muitos jovens), sendo que aqui e nas paróquias à minha volta há vários casos de pais/mães e filhos/filhas que são ambos catequistas. Na vigararia sei que há vários agrupamentos de escuteiros (e também de escoteiros, que não sendo de inspiração católica, costumam participar nas atividades da igreja, pelo menos num ou noutro agrupamento), tal como há vários grupos de jovens que programam atividades a nível vicarial, incluindo retiros/meditações e celebrações. De todo o pais vão milhares de jovens às jornadas mundiais da juventude. Não consigo perceber como é que se pode dizer que os jovens não querem saber de Deus..., já que não me parece que seja possível frequentar esses movimentos sem se querer saber de Deus (pode até não ser uma procura muito ativa, mas tem-se consciência dEle e está quase de certeza presente na organização das atividades). Por outro lado, é um facto que mesmo na minha paróquia é pouco frequente ver pessoas mais jovens na missa (sem querer julgar ninguém, se em tempo de catequese até se poderia explicar por irem a essa missa, no tempo de férias essa ausência também se verifica) e se calhar o problema está mais neste ponto, o sítio onde os jovens menos veem Deus, talvez seja na missa. Esta ainda (ou cada vez mais) é vista como uma obrigação e não como uma ação de graças e "ter de passar uma vida inteira a ir à missa todos os dias", como acontece com os padres, não é algo que apeteça a muita gente (lembro-me de ter ouvido a um padre que está na Suiça que uma vez uma criança lhe disse que quando fosse grande queria ser pai... para não ter de ir à missa).
Não estou a sugerir que se transforme a missa num folclore para chamar mais pessoas, nem que podemos ser Cristãos sem a Eucaristia, mas apenas que em muitos casos a missa é mais assistida do que vivida (e se antigamente isso também acontecia, hoje em dia as exigências são muito diferentes, como está bem explicado no livro "um padre na aldeia global", em que está bem descrito que os jovens de hoje precisam de interagir para estarem envolvidos, que é algo que não acontece na maioria das missas - exemplo de como se pode minimizar isso é levá-los a acompanhar os cânticos, projetando a letra, mas de certeza que há outras hipóteses)

Anónimo disse...


Bruno,

Durante muitos e muitos anos, o seminário era a única forma dos filhos varões das famílias pobres terem acesso a educação gratuita, escaparem à fome e à miséria, e poderem sonhar com um destino menos duro que o dos seus pais, ingressando numa ocupação remunerada e socialmente valorizada. Ainda bem que os seminários deixaram de ser a resposta a uma necessidade social, concentrando-se na componente vocacional. É claro que a frequência de uma instituição desse tipo, desde tenra idade, incentiva ao “chamamento” a que te referes e proporciona condições imediatas ao seu acolhimento e encaminhamento. Se formos a ver, também muitos dos miúdos que estudam nos “Pupilos do Exército” se sentirão fortemente motivados a enveredar por uma carreira militar. O que me assusta é a “doutrinação” que advém do contacto exclusivo com uma determinada realidade. Os padres de aquário. Por muito boa-fé que tenham, os candidatos a padres a que falte experiência do mundo não estão em condições para decidir conscientemente acerca da sua vocação e dificilmente virão a ser padres convictos e actuantes. Perante as contrariedades, os entusiasmos transformam-se rapidamente em conformismos, arrependimentos e desvios. Mal por mal, prefiro conviver com a falta de padres do que com remedeios de produção massificada.

Anónimo disse...

O valor de uma Missa
Este caso verídico foi relatado por um sacerdote do Sagrado Coração de Jesus, Padre Stanislau

“Há muitos anos atrás, numa pequena cidade do Luxemburgo, um capitão da Guarda Florestal estava entretido numa animada conversa com um carniceiro, quando uma mulher idosa entrou no talho. O dono do talho interrompeu a conversa para perguntar à velha senhora o que desejava. A mulher explicou-lhe que tinha ido até ali para conseguir um pequeno pedaço de carne, mas que não tinha dinheiro para pagar.
O capitão estava a achar muito divertido o diálogo entre a pobre mulher e o carniceiro:
- Apenas um pequeno pedaço de carne, mas quanto poderá pagar?
- Desculpe-me, senhor, eu não tenho dinheiro, mas assistirei à Missa por si, em sua intenção.
Ambos, o carniceiro e o capitão, eram bons homens, mas muito indiferentes à religião. De imediato começaram a troçar da resposta da pobre mulher.
-Tudo bem, disse-lhe o carniceiro, você vai assistir à Missa por mim e, quando voltar, eu dar-lhe-ei tanta carne quanto a Missa pesar…
A mulher saiu, assistiu à Missa e voltou. Aproximou-se do balcão e o carniceiro, ao vê-la, disse-lhe:
- Pois bem, vamos lá ver…Tomou um pedaço de papel e escreveu nele: “Eu assisti à Missa por si”.
O carniceiro, então, colocou o papel num dos pratos da balança e no outro, depositou um osso pequeno e fino. Mas nada aconteceu. De seguida trocou o osso por um pedaço de carne. Mas agora o papel já pesava mais que a carne!
Os dois homens começaram a sentir vergonha da sua troça, mas…continuaram com a brincadeira. Um grande pedaço de carne foi colocado na balança, mas o papel manteve-se mais pesado. Exasperado, o carniceiro examinou a balança, mas esta estava perfeita.
- O que é que você quer, minha boa mulher? – perguntou o dono do talho. Precisarei de lhe dar uma perna inteira de carneiro? Enquanto falava, colocou uma grande perna de carneiro na balança, mas o papel ainda superava o peso da carne. Então, uma peça ainda maior de carne foi colocada naquele prato, mas novamente, o peso permaneceu no lado do papel. Aquilo impressionou tanto o carniceiro que, naquele instante, se converteu e prometeu oferecer à mulher, dali por diante, uma porção diária de carne.
Quanto ao capitão, deixou o talho e, transformado, tornou-se um ardente frequentador da Missa diária. Dois dos seus filhos ordenaram-se sacerdotes, um deles, como jesuíta, o outro como Padre do Sagrado Coração. E Padre Stanislau termina este testemunho dizendo: “ Eu sou aquele Religioso do Sagrado Coração e o capitão era meu pai.”

Anónimo disse...

Alguma coisa tem que mudar nos Cristãos e muita coisa tem que mudar na igreja.
Neste momento em que o Inverno rigoroso chega ás comunidades cristãs em fuga no médio Oriente, ONDE ESTÁ A IGREJA?
Conhece algum grupo que tenha ido em socorro dos Yazidis? Conhece algum grupo que esteja a caminho de Mossul? Não há dinheiro no Vaticano para acudir a estas comunidades? MAS O QUE É ISTO? ESTA É A IGREJA DE CRISTO???
Estou indignada! As comunidades cristãs estão a ser dizimadas. Mortas, escravizadas. Os apelos dos padres que já não sabem o que fazer fazem-se ouvir...e ONDE ESTÁ A IGREJA???
NEM MAIS UM CÊNTIMO PARA OS COFRES do Vaticano geridos pelo Sr. da Goldman Sachs e para uma igreja que se diz de cristo e não socorre os Cristãos.
Peço desculpa, mas chega de sínodos de bispos gordos, a debaterem minudências, a gerirem um estado cheio de dinheiro que não é posto num momento como este, ao serviço das comunidades cristãs.
Estão a ser mortos, esturpados, vendidos como escravos. A realidade é esta E o que faz a igreja? NADA!
Cumprimentos.

Confessionário disse...

cara amiga de 16 Novembro, 2014 21:38

Não se trata de enviar tropas, armamento ou dinheiro. Trata-se sobretudo de alertar a comunidade geral, e isso, honra lhe seja feita, a Igreja hierárquica (talvez mais nos últimos tempos, de facto) tem-no feito, o Papa sobretudo. É necessário buscarmos informação para afirmarmos com verdade.
Por outro lado, e nesse aspecto o Papa Francisco tem sido excelente, tem havido partilhas do Vaticano com algumas necessidades. Ainda há uns dois meses o Vaticano ofereceu 100 mil euros à Fundação Auschwitz-Birkenau, que administra o Museu do maior campo de concentração nazi, localizado em Oswiecim, como sinal da preocupação pela realidade passada. Ainda esta semana o papa mandou construir balneários na praça de S. Pedro para os pobres. Claro que estas realidades não são tão gritantes... mas não devemos generalizar!
Pessoalmente tb gostava de ajudar mais esses cristãos, mas não sei como. Fico-me na oração por eles, para que sejam fortes e capazes. Muito temos a aprender com eles, nós que nos queixamos por tudo e por nada da Igreja.

Anónimo disse...

vai-me desculpar,padre mas eu não me fico pela oração. Cristo também não se ficou pela oração. Quanto a Auschwitz-Birkenau, sou das que esperam pacientemente, e com muita fé, a abertura dos arquivos do vaticano, entre 39 e 45. Penso que essa informação é importante: ONDE ESTAVA A IGREJA, QUANDO SEIS MILHÕES DE PESSOAS FORAM MANDADAS PARA CAMPOS DE CONCENTRAÇÂO? E nesse caso, falamos do povo de Deus. Uma vez que Cristo, era judeu.
Cumprimentos Sr. Padre e se tiver informação diga.
Não é o Sr. Padre que tem obrigação de ajudar no terreno. Mas a igreja tem!!!

Na língua do povo de Deus,ao qual Cristo pertencia

Shalom

Confessionário disse...

19 Novembro, 2014 10:32

mas que entendes por Igreja?
Igreja não é um Papa nem um Vaticano. Somos nós os que fazemos parte dela e por isso todos temos responsabilidades.
Eu entendo onde queres chegar e até entendo que se deveria fazer muito mais. Mas tb te queria alertar para o facto de que generalizar é errar.
Além disso, a Igreja não pode ter nos seus ombros o encargo de ser salvadora de todos os males do mundo. Deve assumir papel de fazer tudo o que estiver ao seu alcance, mas atribuir-lhe o condão de, porque é Igreja, ter de ser pau para toda a colher (salvadora por excelência) acho um exagero.
Eu vejo a Igreja numa optica muito mais próxima a cada um de nós, numa caminhada comunitária.

shalom