Dois viajantes no tempo encontraram-se num tempo que, digamos, se chamava intermédio. O que vinha do sul tinha uma tez morena, barba escorreita, olhos da cor do mar. O que vinha do norte possuía uns traços típicos de homem rude do campo. Ambos levavam um bastão na mão direita. Ambos eram peregrinos. Ambos faziam da vida um caminho e possuíam muitas semelhanças. O que os distinguia deveras era o deus que professavam. O do sul acreditava num deus muito parecido com o deus Sol dos antigos. Dava-lhe um nome estranho e dizia que era o dono das energias e das forças da vida. O que viajava do norte acreditava no deus a que chamava Deus dos cristãos. Eram homens de boas intenções. Saudaram-se com simpatia e desejaram uma boa viagem um ao outro. A conversa não durou muito, pois não eram propriamente proselitistas. Falaram dos seus deuses. Um dizia que o meu é que salva, e o outro repetia que o dele é que salvava. Sim, que a salvação era no final do caminho e ambos eram caminhantes. E por ali morreram as palavras, pois não havia mais nada a dizer. O que contava era a salvação. Isso é que define um deus. Cada um seguiu o seu caminho, pelas estradas que escolheram.
Passados uns anos os dois viajantes encontraram-se de novo, num tempo que seria ou que eu chamaria de céu. Feitos os cumprimentos habituais, abraço para aqui e para ali, o que viajara desde o sul agarrou o seu irmão do norte e disse Afinal foste salvo. Este sorriu e concordou que sim, que o seu Deus o tinha salvo. Então o do sul encolheu os ombros e disse que também tinha sido salvo. Depois sorriu e acrescentou Foi o teu Deus que me salvou.
Esta história não existiu senão no meu coração, mas tive vontade em a partilhar.
3 comentários:
Às vezes só encontramos quando deixamos de andar à procura.
Felizmente estes peregrinos souberam respeitar-se um ao outro. Cada um era firme na sua fé, mas respeitou a do outro. Como isto é tão urgente hoje, quando tantos se digladiam e matam em nome de Deus. Combatem e morrem por ideais tão contrários ao próprio Deus.
Uma partilha muito interessante, em que vale a pena pensarmos, pois acho que realmente o Deus é o mesmo, e nós é que fazemos com que ás vezes Ele pareça diferente. Mas Ele lá está para nos receber e fazer ver o quanto também nós somos "iguais" apesar das lutas e desrespeito que ás vezes temos uns pelos outros.
Obrigada, pela partilha.
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