quinta-feira, outubro 02, 2014

nulidade do matrimónio

Tenho um amigo que andou quase dez anos a tentar anular um casamento que deveras nunca lhe existiu. Eu disse de propósito a palavra “anular” porque era assim que ele pensava antes de se dar conta que “anular” era dizer que queria acabar com algo que existira. Afinal não existira. Por isso passou a pedir a “nulidade” do seu casamento. A sua vida tinha sido um embuste. Entretanto, descobrira a fé e Deus. Queria começar tudo de novo. Queria participar com todas as letras nos sacramentos, mormente no que o fazia ser parte de uma comunidade concreta e viva, a Eucaristia. Não podia. Durante anos, em tribunais eclesiásticos, juntou forças com desânimos, vontades com paciências. Pedia a nulidade do matrimónio. Era um sacramento que nunca fora. Um casamento que nunca fora. Tem filhos desse tempo. Não se arrepende. Da vida nunca nos devemos arrepender. Mas queria a verdade. Sobretudo a verdade da fé. A Verdade que descobrira em Deus. A verdade que lhe era vedada por uma lei que até fazia o seu sentido. Sim, ele sabia que fazia sentido. Só não sabia que o sentido de uma lei estava acima da vida e da fé. Hoje, num autêntico casamento, é feliz e aproveita o tempo e a voz que possui para dizer que agora não só tem um casamento autêntico como tem uma fé preenchida. Conheço mais casos de gente que a meio do seu percurso de vida e de fé se acharam, muitas vezes sem culpa medida, com um Deus que lhes é próximo mas que lhes pede uma certa distância. Sinceramente, como padre, como pastor, como pároco, como amigo, como crente, eu acho que devemos dizer sempre que o melhor caminho para fazer o caminho é aquele que não tem buracos na estrada, que tem um asfalto de topo, que não tem portagens. Mas quem percebe de carros sabe que nem sempre o carro está como novo. E quem percebe de condução sabe que nem sempre o condutor está em condições. Há cansaços, há sonos, há adrenalinas, há distrações. E assim os caminhos para chegar ao outro lado nem sempre são os que vêm no GPS. Como fazer? Fazemos um stop forçado na estrada para impedir que se chegue ao destino, ou ajudamos a pessoa que se enganou no caminho a voltar ao caminho?

12 comentários:

PR disse...

Confessionário,
"Fazemos um stop forçado na estrada para impedir que se chegue ao destino, ou ajudamos a pessoa que se enganou no caminho a voltar ao caminho?" isto não se pergunta afirma-se.
É um dever uma obrigação ajudar a encontrar o "norte".
A propósito deste assunto poderá ler-se no site da Radio Renascença este artigo.

Sínodo da Família
Joaquim esteve nove anos sem comungar. Mas "Deus vai muito além disso"
http://shar.es/1aSf0C

gralha disse...

Por isso tenho rezado tanto pelo sínodo da família.

Anónimo disse...

http://blogs.periodistadigital.com/teologia-sin-censura.php
2. En los problemas relativos a la familia, la Iglesia debería tener siempre presente que, por lo menos hasta el siglo IV, los cristianos siguieron los mismos condicionamientos y usos, por lo que concierne al casamiento, que el contorno pagano (J. DUSS-VON-WERDT, en Myst. Sal., vol. IV/2, 411). Lo cual quiere decir que los cristianos de los primeros siglos no tenían conciencia de que la revelación cristiana hubiera aportado algo nuevo y específico al hecho cultural del matrimonio en sí. En cualquier caso, es seguro que el casamiento ante el sacerdote, como exigencia obligatoria, apareció por primera vez hacia el año 845, en los decretos pseudoisidorianos y se justificaba por razones de derecho civil, no por argumentos teológicos (J. G. LE BRAS, Histoire des collections canoniques en Occident depuis les Fausses Décrëtales jusqu’à Gratien, Paris 1931. Cf. J. DUSS-VON-WERDT, o. c., 414). Es a finales del siglo XII, en 1184, cuando se habla formalmente y por primera vez del matrimonio como sacramento, en el concilio de Verona (DENZINGER-HÜNERMANN, El Magisterio de la Iglesia, nº 761). Por lo demás, en todo este asunto es básico saber que, hasta los siglos XII y XIII, el tiempo en que se sistematizó la teología cristiana como saber organizado, cuando la Iglesia no sólo se rigió por el Derecho romano, sino que - como es bien sabido - la custodia de la tradición jurídica romana recayó fundamentalmente en la Iglesia. Como institución, el Derecho propio de la Iglesia en toda Europa fue el Derecho romano. Como se decía en la Ley ripuaria de los francos (61(58) 1), “la Iglesia vive conforme al Derecho romano”. Es verdad que la Iglesia iba construyendo su propio Derecho. Pero también es cierto que, a medida que los problemas a los que debía enfrentarse la Iglesia crecían en complejidad, las referencias al Derecho romano se incrementaban. El material romano relevante para la Iglesia se recopiló en colecciones específicas, tales como la Lex Romana canonice compta realizada en el siglo IX. El hecho es que, como han dicho los especialistas en estas cuestiones, “la Iglesia no redujo sus enseñanzas al Evangelio” (PETER G. STEIN, El Derecho romano en la historia de Europa, Madrid, Siglo XXI, 2001, 57). Todo el sistema organizativo y legal de la Iglesia se fue gestando sobre la base, no tanto del Evangelio, sino del Derecho romano, la lex mundialis, como lo denominó el Concilio de Sevilla, del 619, presidido por san Isidoro (Conc. Hispalense II. Cth. 5. 5. 2. ENNIO CORTESE, Le Grandi linee della Storia Giuridica Medievale, Roma, 2008, 48).

Por tanto, si la Iglesia no vio dificultad alguna en adaptarse a las leyes civiles y laicas de los pueblos y culturas en los que fue creciendo y a los que se ajustó sin poner oposición o resistencia, ¿por qué ahora, cuando el cristianismo es una institución de ámbito, no ya europeo, sino global, vamos a rechazar que la Iglesia acepte e integre en su vida los usos y costumbres, las tradiciones y normas de conducta, que en cada momento y en cada país se vean más convenientes?

Lucy disse...

que o ESpírito Santo e muito bom senso e compreensão estejam no Sínodo

George Sand disse...

Não pode.
Também não pode comungar se for divorciado.
Não se pode.
E não se pode, porque Jesus afastou da sua mesa todos os que não podiam. Judas por exemplo...ele não ceou. Ele ficou sentado a ver os outros comungarem da ceia de Jesus. E foi dormir de barriga vazia.
Creio que Jesus, também atirou pedras à Maria Madalena e a mais uma imensidão de gente que merecia. Olá se merecia! Andava sempre com pedras na mão e com o dedo apontado.
E nós, seguimos placidamente o seu exemplo, tal como fomos ensinados. (quem não queria estar na pele de quem nega o corpo e o sangue a alguém, sei eu quem era)
Se quisermos entrar numa igreja simplesmente para rezar, pois também não podemos: elas estão fechadas. É muito mais importante salvaguardar os santinhos de pau (que podiam ficar sossegadinhos num museu ) do que abrir as portas das igrejas. Sendo assim, tudo em paz!
Mas será realmente esta, a igreja de Cristo?
Façam igreja dentro de cada um. E sejam igreja, para os irmãos.
No sentido de dar.
A igreja de Cristo está a ser massacrada. Literalmente massacrada. Neste preciso momento, em algumas partes do mundo, os cristãos são perseguidos e mortos. Dou de barato o facto de não poder comungar, para a igreja os tentar salvar. E o Vaticano, por os seus recursos, que são de todos nós, igreja, à disposição dessas famílias que fogem à guerra e a morte.
Porque não vão lá acolhê-los? Há relatos de padres desesperados em zonas de guerra, com populações perseguidas...são cristãos. São comunidades cristãs. São nossos irmãos. Porque não vão lá os bispos dos sínodos recolhê-los? Depois de os recolherem e salvarem da morte, então, talvez fosse a altura de invocar o seu nome...sei lá, é só uma sugestão.
É que não se ouve falar de nada. Só dos apelos, dos cristãos perseguidos. Será que a igreja está a tentar salvá-los e nós não sabemos?
Eu lá ando, no senta e levanta da missa, mas confesso que cada vez com menos vontade.
Ultimamente tenho visto um fenómeno curioso: umas pessoas que jogam a missa toda. Elas, e as respectivas crianças. Levam os tablets, os telemóveis, e apanham bolinhas, saltam comboios...palavra de honra que fiquei colada ao banco. Não, não é caso esporádico, há muitos.

Cumprimentos



Confessionário disse...

George,
Não acho que a preocupação principal da Igreja (e acrescentaria hierárquica) deva ser as perseguições e massacres que tem havido nalguma regiões do mundo. Não que não seja uma necessidade vital e que precisa mais atenção de todos. Mas porque a revolução de Cristo se faz no interior de cada um... e disso muita dessa tal Igreja tem esquecido. Parece-me mesmo que os cristãos mártires dos nosso tempos estão muito mais à frente que nós! Perceberam melhor que nósó que é ser Igreja de Cristo...

Anónimo disse...

este assunto é dos mais difíceis da Igreja... Por mim o amor deveria resolver tudo... o Amor autentico

Cisfranco disse...

Deus é um mistério que a inteligência humana não tem capacidade de entender. Todos falam nEle, uns para O proclamar, outros para O negar. Sempre foi assim e há de continuar a ser. E aqueles que O negam têm necessidade de o fazer e fazem-no com uma militância maior do que aqueles que O proclamam. É a militância de certos ateus que me espanta. Preciasam dEle para o negar, militam contra o que não existe, o nada. O que nos caracteriza a nós humanos é a aptidão intelectual que é usada diferentemente por cada um. Se caissem pozinhos de perlim-pimpim por Ele mandados para modificar a inteligência dos homens, não seríamos como somos. Uns crentes outros ateus: somos a Humanidade.

Confessionário disse...

Cisfranco, porventura este teu comentário não veio para este post por engano? Parece que teria a ver com o post de "Deus pouco omnipotente"!

Maria José disse...

Não quero comentar o tema central, porque não tenho conhecimentos teológicos para tanto. Gostava apenas de comentar uma observação da anónima de 08 Outubro, 2014 17:52 , que diz:
“Se quisermos entrar numa igreja simplesmente para rezar, pois também não podemos: elas estão fechadas. É muito mais importante salvaguardar os santinhos de pau (que podiam ficar sossegadinhos num museu ) do que abrir as portas das igrejas”.
Pergunto-lhe se já fez alguma coisa para ajudar a igreja x ou y, que é bela e está fechada (pelo menos em alguns dias da semana), já fez alguma coisa para a manter aberta? Já alguma vez ofereceu parte do seu tempo em regime de voluntariado para que essa igreja possa permanecer aberta? Quantas obras de arte não são roubadas por as igrejas estarem desguarnecidas de guardas. Sejamos realistas: vivemos em tempos em que já ninguém respeita nada. Vamos, por isso, transferir os “santinhos de pau”, como diz, para os museus? E o que faz com os castiçais, com o altar, com o sacrário, que pode ter píxides que julgam ser de ouro, mas só sabem quando os roubarem e abrirem? Também vai tudo para o museu? E as talhas das igrejas? Há espaço para tanto nos museus?
Já pensou nisso? Já falou com amigos e amigas e lhes disse: vamos lá fazer uma escala de semana para nos responsabilizarmos pela abertura da igreja? Não deite a responsabilidade toda para cima da Igreja ou do padre da igreja x ou y, cujas esmolas mal chegam para ligeiros trabalhos de manutenção. Nós, todas e todos nós, somos Igreja. A nós cabe-nos um quota parte de responsabilidade no serviço de uma comunidade religiosa. Antes de criticarmos, façamos o nosso exame de consciência.
São gastos milhares de euros em fogo de artifício e contratações de conjuntos musicais para abrilhantar os bailes de festas do santo padroeiro, mas a mesma comissão de festas ou mordomos são os primeiros a esquecerem-se de que há necessidades básicas para resolver os problemas dos edifícios e do recheio da igreja onde está o seu santo. Tudo isso custa dinheiro, mas à Igreja só vão com exigências, não contribuem com nenhuma ajuda. E já não falo em dinheiro. Basta umas horas do seu tempo livre.
Desculpe o desabafo, mas estou cansada de ver, ler e ouvir críticas deste género no interior da Igreja, sem pensarem nos problemas que estão implícitos. Não, não sou religiosa(i.e. freira e muito menos padre). Apenas alguém que colabora com uma paróquia dentro do tempo livre que a jorna diária permite e que está cansada de ouvir comentários como este.

Confessionário disse...

Maria José, gostei

Anónimo disse...

A George Sand, um divorciado só não pode comungar se viver maritalmente com alguém ou se se casou civilmente. Num casamento, como em qualquer relacionamento, existem sempre perdões a dar e a receber. O divórcio é uma rutura drástica que atenta contra a unidade da família, a pessoa que avançou para o divórcio sem razões suficientemente fortes como sendo, por ex.: o perigo de vida ou o bem estar dos filhos, encontra-se impedida comungar, deve fazer todos os possíveis para ser reposta a unidade familiar, recorrendo ao auxílio de Deus, se, de todo, já não for possível, deve fazer um profundo exame de consciência, receber o sacramento da penitência com arrependimento e pode voltar a comungar. Todos os divorciados que não tiveram culpa no divórcio, ou seja, sempre fizeram esforço para que se mantivesse a paz familiar, podem receber os sacramentos de forma regular, não estão impedidos de comungar. Devemos procurar ler os documentos da Igreja.
Jesus não recusou a comunhão a Judas, este embora não quisesse comungar, acabou por o fazer porque tinha o olhar de Pedro sobre ele, foi a primeira comunhão sacrílega. Quanto a Maria Madalena, Jesus não a afastou, mostrou-lhe a realidade da sua vida perante a Luz d'Ele. Diante da Sua Luz ela viu os seus pecados e converteu-se. A sua conversão foi tão notória que mereceu ser lembrada pelos séculos fora... Deus nunca afasta quem quer que seja, o impedimento vem sempre de nós, da nossa recusa em aceitar viver na Sua Luz. Bom Ano!