A senhora Alcinda ia escorreita pela calçada, evitando as pedras mais altas, como se de um jogo do pé-coxinho se tratasse. Passou por mim distraída. Dirigi-lhe o meu Boa Tarde, e parou para me olhar e me cumprimentar. Então onde vai tão apressada, perguntei. E ela respondeu que ia a caminho da igreja, tal como eu, para a missa. Quase de braço dado, foi o que fizemos. E no meio da caminhada para a igreja, ocorreu-me perguntar-lhe se sabia o que era a Igreja. A pergunta foi apresentada de forma inocente e ela respondeu de forma igual. Então, senhor padre, não é para lá que vamos, para a nossa igrejinha de Santo António? E assim aproveitei para lhe ensinar algo que ou já se tinha esquecido ou não sabia mesmo ou não dava importância. Olhe que a Igreja não são estas quatro paredes que dedicámos a Santo António. Lá veio ela de novo com o Então, pois gosta de começar assim as frases. Então são os senhores padres a Igreja. Ia interrompe-la quando acrescentou Ai, e o Papa, pois claro. Bom, e então é que me saiu uma ensaboadela de eclesiologia. Ora bem, assim como não é, como a comunicação social costuma dizer, o Papa ou quem está à frente da Igreja, padres ou afins, assim também não são as quatro paredes de Santo António. Ainda pensei em falar-lhe do Concílio Vaticano II, mas como para ela deviam ser alhos e bogalhos, e como já estávamos para entrar nas ditas quatro paredes, disse-lhe mais ou menos o seguinte. A Igreja somos nós, senhora Alcinda. Somos nós os que nos reunimos nestas quatro paredes. Sou eu, que sou padre, e é a senhora Alcinda, e todos os outros. Só faz sentido que assim seja. A minha missão dentro da Igreja é diferente da sua, mas todos fazemos a verdadeira Igreja de Cristo, do qual Ele é a cabeça e nós os membros. E entrámos na igreja de Santo António. Um dia destes tenho de falar de novo destas coisas na homilia. Ainda há gente que confunde a Igreja com paredes e seus ministros.
7 comentários:
Bom...já tem centenas e centenas de anos a idéia que nos foi sendo transmita de Igreja ou seja as paredes mesmo que de lindissimas catedral e depois a cúpula clerical e a massa acéfala e consumidora dos fiéis,como se a hierarquia não tivesse que ser fiel também.
Assim não admira que a senhora Alcinda se manifestasse dessa forma.Mas hoje e sobretudo depois do Vaticano II a Igreja voltou ao seu conceito milenar do corpo de Cristo,com os seus membros em vários serviços sob a presidência da Cabeça ,que vai atraindo todos a Si.Graças a Deus.
Bom mesmo o Senhor Pe retomar e divulgar a antiga e vera definição da Igreja nascente.
"Ainda há gente que confunde a Igreja com paredes e seus ministros."
Verdade, uns pensam assim por ignorância ou falta de informação provavelmente porque se acomodaram não se esclarecendo na doutrina que Jesus nos deixou.
Outros pensam dessa forma para se manterem na sua zona de conforto, pois se a igreja são paredes e ministros eles que resolvam o problema da comunidade fica confinado às quatro paredes do templo bem guardado pelo ministro, ficando dessa forma com a a consciência tranquila, afinal são crentes dizem-se cristãos tomaram conhecimento da situação mas a igreja e o padre há-de resolver... Eles e não nós, dessa forma mantêm intacta/intocável essa tal zona interdita, ou de conforto, não a partilhando com mais ninguém, mas São Cristão devotos.
É mais fácil cómodo e seguro considerar as paredes e os ministros, (os outros) como igreja do que considerar-mos e assumirmos a nossa condição de igreja.
"Um dia destes tenho de falar de novo destas coisas na homilia." As pessoas só ouvem o que querem ouvir, muitas mesma ouvem já predispostas a ripostar, não ouvem com a humildade necessária e indispensável ao ato de aprender, por mim falo.
PR
Ola Padre, constataste mais uma vez que e bastante gritante a ignorancia ou indiferenca de muitos, ditos cristaos. Poderiamos dizer que muitos
permanecem apenas com os conhecimentos adquiridos por altura da 1a Comunhao, o que e manifestamente pouco para uma caminhada consciente. E isso acontece por variadas razoes como a falta de interesse. Ha tambem casos em que nao lhes chega informacao suficiente.
Penso que seria util a existencia nas paroquias de catequese para
adultos. Nao haveria, por certo, resultados imediatos mas sim apos algum tempo.
Mas, falares em alguns aspectos nas homilias, ja poderia suscitar um previo interesse para uma catequese mais especifica.
Um abraco
Ruth
Plageando a Ruth, aqui vai o meu cumprimento entusiasta: Olá Padre!!!
;))
Agora, dirigindo-me aos co-comentadores, gostaria que percebessem que o facto de as pessoas em geral identificarem um edifício com a religiam que professam, não se deve a serem ou não, ignorantes, ou incapazes de raciocinar e compreender.
Em minha opinião, faz o nosso amigo padre muito bem, em lhes cativar a atenção para este assunto, pois assim poderá ajuda-las a criar uma relação muito mais forte e menos impessoal com a fé, o culto e o porquê de todos se reunirem dentro de um edifício, sendo cada um dos fieis ele próprio um edifício que se fortalece quando se congrega e sobretudo se o fizer com um objectivo; objectivo esse, presidido pela doutrina Cristã.
A questão do edifíco-paredes; é uma coisa tramada (o termo tem origem em trama; rede; urdidura).
Os edifícios designados por igrejas, basílicas, catedrais, etc. têm todos uma origem, uma história associada e, esses elementos preduram no tempo e fazem parte de um património que em muitos casos, ajuda e bem a consumir recursos que poderiam ser aproveitados de outras formas, ajudando pessoas que vivem em condições paupérrimas.
Mas isso é outro assunto, o qual não é nada fácil de solucionar.
Um abraço padre e votos de sucesso nessa tua tarefe de derrubar muros e construir espaços.
;)
Deparo-me com coisas parecidas entre Jovens com quem trabalho... Jovens acabadinhos de Crismar, jovens que vêm porque os amigos vão puxando... Há trabalho a fazer... E coisas bonitas para ensinar a esta gente que procura verdadeiramente a Igreja sem ter noção que devem olhar para si e para quem os rodeia... Vamos à luta padre?
È mesmo vital que as pessoas saibam viver a sua Fé de uma forma esclarecida e adulta, e que deixem essas dependências dos “aquários” onde alguém vai amornando as águas, ou alimentando em doses confeccionadas pelas ideias humanas sobre Deus enquanto injecta algum oxigénio ritual para que esses “peixes” que ainda não conseguem viver nos oceanos livres da Graça não sucumbam de vez embora muitos deles já nadem com muitas dificuldades… pois que o Irmão cuidador tenha o coração aberto às verdadeiras necessidades de mudança e vá doseando com coragem e equilíbrio misturando as duas águas para que as mudanças não se façam muito difíceis!
Bom, parece que anda aqui outro Peregrino, pois que seja bem-vindo nesta caminhada que é sempre uma peregrinação da vida...
Como seria bom celebrar Cristo todos os dias dentro das nossas paredes, mas não, que vendaval, Ele nem se aproxima. É uma pena. Posso sempre ficar à espera, na esperança de Ele me ajudar a não desesperar.
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