Hoje acordei com um sonho. Acordei quase num salto e fiquei na dúvida se não seria antes um pesadelo. Dizem que os sonhos são coisas do nosso subconsciente, coisas do dia-a-dia que levamos apenas para a noite de forma que não pareça realidade. Ou fruto da realidade que queríamos agendar. Não lembro as personagens do sonho. Tenho a sensação que conhecia alguns rostos. Mas a história desenvolvia-se à volta da figura de um padre que decidira deixar tudo para trás. Não sei se era por causa de uma mulher. Não sei se era por causa do bispo. Não sei se era por causa da paróquia. Não sei se era por causa de Deus. Não sei se era eu o padre. Só sei que o padre decidira deixar a comunidade sem padre. A mesma comunidade que o fizera sofrer quando não o tinham compreendido na sua fragilidade, quando não o tinham aceitado na sua pouca disponibilidade, quando conversavam desconfiadamente sobre ele no café, na fábrica ou na vindima, quando diziam mal dele nas costas, quando criavam uns piropos ao padre para apimentar conversas, quando evitavam os olhares com o padre, quando diziam que o padre só via dinheiro, embora não pagassem a Côngrua, quando não queriam saber se o padre estava bem ou mal, e só queriam saber se tinham padre para o que precisavam, quando o padre não era tido nem achado, quando o padre era só mais um padre.
O padre decidira abandonar a comunidade. Decidira deixar a comunidade sem padre. Acordei quando me surgiu a pergunta. E agora que vai ser da comunidade? Por isso é que acordei num salto.
18 comentários:
Meu caro Padre, será que se sente feliz, realizado, nas comunidades que pastoreia? Ou será que o faz porque tem que ser assim? Que diz o seu coração? O seu subconciente?
Meu amigo vou rezar por si.
Abraço
Maria
http://www.youtube.com/watch?v=-bm96ZXV-os
Walk by Faith - Jeremy Camp
Abraço.
LUZ.
Agora... "há-de" vir outro, enviado pelo sr. Bispo. Há-de ser outro arrancado à sua gente... povo também ele, de Deus!
Vivemos um tempo, onde tudo se quer descartável... pense nisso!
Beijinho fraterno.
Confessionario,
Tem uma forma peculiar de comunicar.
Cativa-me de uma forma única, acho que será pela frontalidade com que aborda os assuntos.
Moro numa paróquia marcada por vários "incidentes" com padres.
Do que me contam, um deles foi envolvido numa situação de alegada pedofilia.
Lembro-me de um que abdicou do sacerdócio e casou com uma paroquiana.
O actual é "apontado" por ter um filho, não é muito popular... é rabugento e frontal.
"E agora que vai ser da comunidade?"
Da comunidade a que me refiro posso dizer que está dispersa,
perdida, longe dos principios básicos da fé.
Incapaz de por si mesma voltar ao primeiro Amor.
Estou a fazer um curso de catequistas.
Ontem, o padre formador, apresentava um resumo da forma como é, ou deveria ser, esquematizada a catequese, na sua forma geral e em cada encontro. Olhei o rosto de muitas das pessoas presentes, denotavam expressões perdidas vazias.
É o rosto de uma comunidade sem um "pastor" humano que as conduza a Deus, a Jesus Cristo.
As lágrimas vieram aos olhos, e sinto uma "agonia" no peito depois de ter lido este post.
É como se sentisse o seu estado como meu.
Gostava de o abraçar, com muita força, muita mesmo.
Permita-me deixar-lhe aqui um beijinho.
Força!
Li um relato desses. Dizem que em protesto que não vão celebrar a Páscoa...
Mas que há padres (a esmagadora maioria) intragáveis é verdade. E que há comunidades difíceis também.
Caro Padre, quando sonho fico sempre a pensar e a relacioná-lo com a realidade. Há sempre algo que tem a ver com alguma preocupação ou vivência.Mas penso que não mais.Não fico nem me deixo atormentar quanto ao seu significado. Penso que, no teu caso, será ainda uma reminiscência
dos tempos de mudança de paróquia e a sensação algo dolorosa porque passaste mas, depreendo dos últimos postes, que a situação já está a melhorar. Certamente que, com o tempo e à medida que te vão conhecendo, haverá uma maior correspondência ao teu esforço o que irá permitir que te sintas realizado e feliz.
Um abraço
Ruth
Anda a dormir mal!? Precisa de mimos!? Tem de voltar a tentar dormir como criança! (mais daqui a pouco eu vou reensina-lo a rezar)
Queremos reconhecimentos de todo lado. Queremos que os pais, os irmãos, os colegas, os professores, os clientes,os patrões, os amigos, os padres,etc, reconheçam a toda a hora o nosso bem feito, mas! não queremos que os mesmos, nos chamem a mínima atenção para o menos bem feito “que vejam o cisco”.
E nós!! somos assim com os outros!? estamos sempre a reconhecer o bem que os outros fazem!? – para mim isto está tudo trocado/são ansiedades de quem anda a ver ao contrário, e a maior parte de nós anda a ver ao contrário.
PARA MIM, FAZER BEM É PARA O QUE FOMOS CRIADOS, É A BITOLA. Para mim a nossa vigilância deve ir para o menos bem feito, em nós e nos outros, tentando corrigir o menos bem feito, com o máximo de Amor que consigamos. Todos os dias vimos/ouvimos dizer tem de se “remunerar/distinguir” os que fazem bem, mas eu volto a reforçar o nosso dever a nossa obrigação, para os quais fomos criados, É FAZER BEM E O BEM, sem ficar a pedir palmas.
Então, para que não se lembre dos sonhos, para que durma mais descansado aqui vai a receita!!!! (depois das orações pesadas, se calhar obrigatórias); poucas comidas! para que nos mantenha-mos magros e bonitos, poucas televisões! que nos despertem demasiado os sentidos (RTP2-chega e SOBRA), um banho quentinho, roupa leve (não vale três pares de meias e pijamas de ursinhos), vá durante este tempo vá dando conta ao Criador que precisa de um miminho…… entretanto ponha o “passo a rezar” do dia, são mais ou menos 10minutos, aos 6!! já dorme – infalível! é até de manhã sem sonhos.
Padre,
Há cerca de dois meses que acompanho este blogue,com que me deparei por acaso. Obrigada pela fresta que abriu e que nos permite espreitar para o interior dos seus domínios, para o seu universo pessoal. E, através de si, dos seus olhos e da sua mente, perceber melhor aqueles que têm o mesmo múnus.
Obrigada, por partilhar conosco vivências.
Obrigada, por ter a coragem de expor aqui, tão livremente, algumas das suas "fragilidades".
Obrigada, também, pelo que não partilha.
Obrigada pelo que recria, pelo que imagina e pelo que sublima.
Obrigada, por se preocupar em tratar de assuntos sérios, com alguma leveza.
Sabe padre, o vosso "mundo", o "mundo dos padres" é, para mim, um admirável mundo novo. Envergonhada confesso que sempre o vi como uma espécie de "submundo", povoado por seres quase irreais, anacrónicos, incólumes à sua própria humanidade.
Apesar disso, sempre pensei que ter uma grande fé em Deus - como todos os padres supostamente têm - seria a maior das alegrias (ainda que se viesse a verificar que efectivamente Deus nunca existiu). Sempre quis ter uma grande fé para mim. Igual à dos padres e à dos iluminados. Como já se viu, a minha fé, porém, é vacilante. Uma montanha russa.Uma vela bruxuleante. Uma locomotiva em perigo eminente de descarrilamento.(Estas imagens são suficientes, para ter uma ideia). No que toca ao mundo, como tantos outros, nunca percebi porque razão Deus, existindo, permite que hajam guerras, doenças, desigualdades grosseiras e cataclismos. Nem porque nunca encontram provas históricas da existência de Jesus Cristo.
Nem porque Ele, depois de ressuscitado, teve a descortesia de aparecer apenas aos discípulos (e pouco mais). Etc.
Quanto a mim, nunca compreendi, porque é que Deus, a partir de determinar altura da minha vida, se dispôs a tramar-me e insiste em colocar tantos tropeços no meu caminho!
Apesar do que disse, actualmente a minha fé está em fase ascendente. Que assim pemaneça. Gosto desta relativa intimidade com Deus.
Como já referi, sempre pensei que ter uma grande fé em Deus, seria a maior das felicidades. Os padres seriam, pois, seres extraordinariamente felizes (pelo menos, muito mais do o comum dos mortais). E teriam,igualmente,a sorte de uma vida
excepcionalmente fácil: missas, batizados,crismas, casamentos, funerais (toca o disco e vira o mesmo), o bónus das confissões, e uma procissãozita uma vez por ano.
Que insensibilidade, a minha! Perdoe-me, padre.
Motivada por uma grande curiosidade - fundada em razões que agora não interessa discorrer - em perceber algo mais acerca desta realidade, os seus textos ajudaram-me. Abriram-me janelas.
Percebi agora que a vida dos padres é incrivelmente dura.
Das mais duras.
Uma prova constante.
Envolve doses maciças de sofrimento e abenegação. Afinal, os padres têm os mesmos desejos, as mesmas necessidades de afecto e as mesmas dores dos outros homens.
Papisa
(Continua)
(continuação)
Porém, a vida dos padres, da forma como está moldada, exige um despreendimento total de si mesmo, uma doação total aos outros, que não se traduz só em alegrias.
Em muitos casos, fere, tolhe, fractura, frustra, diminui, senão o padre (ideal), pelo menos o homem.
Muitas vezes sem qualquer retorno, por parte daqueles, a quem se dão.
Esta indiferença, já vi, que o machuca. Com razão.
Mas, porque motivo o clero teima em apresentar-se como uma casta? Para a comunidade, o padre é um paradigma moral, a quem o extremo amor a Deus, que deve sentir, bastará para suprir todas as suas necessidades emocionais. É alguém que veio para servir e não para ser servido.
A quem são colocadas restrições de relacionamento e de linguagem.
A que está interdita a frequência de certos lugares e determinados horários.
Por isso, atentas as suas caracterísitcas supra-humanas, o padre não tem as mesmas necessidades emocionais da gente. Para mais, é "diferente", e, por isso, objecto de comentários e da curiosidade alheia.
Mas a si, padre, não é apenas a indiferença, nem a má lingua da comunidade que o magoa, pois não?
É essa vida que leva.
O vazio que sente, a sensação de incompletude, que Deus, embora enorme na sua vida, não preenche na integralidade.
Nem foi apenas em sonhos, que teve vontade de deixar de ser padre. Nem é de agora. Essa ideia liberta-o e atormenta-o.
Não há dúvida que o seu amor por Deus é intenso e que ser padre, apesar das dificuldades, o realiza.
Os seus textos, os de antes e os de agora, mais na parte do que deixam por dizer, do que na que dizem, revelam um homem tão inquieto e insatisfeito! Um conflito interior continuado entre o homem e o padre. Sente-se dividido entre o que sente,o que lhe é exigido, e o que vive?
Diga-me, pois, para coexistirem pacificamente segundo a Igreja, o padre tem que subjugar o homem? A concreta humanidade do homem tem de ser amputada pela humanidade idealizada do padre? A natural ansiedade do homem de tocar e ser tocado, de amar e ser amado, de se relacionar e de interagir tem de ser artificialmente reprimida pela virtuosa castidade do padre?
Um homem com coração e consciência, não pode fazer uso da liberdade, por o padre ter que subordinar a sua vontade em conformidade com um estrito dever de obediência? O homem e o padre não podem coexistir, em ambas as suas dimensões?
Um homem feliz, pleno, realizado,não é um melhor padre?
O amor ao próximo que o padre deve sentir, impede-o de mandar às urtigas quem merece ir às urtigas, ainda que só de vez em quando?
Resta-me dizer que fiquei com uma profunda admiração por vós, padres, sobretudo pelos puros de coração, que por amor a Deus, doam a sua juventude, a sua vida, e que, sem filtro, com o espírito perturbados pelo desejo ou pelo amor, lutam com todas as forças por serem fiéis ao seu sacerdócio. Eu, por mim, acredito que Deus quer que respeitemos a nossa essência e que sejamos felizes. Desde que permaneçamos no seu amor, Deus guarda um lugar para nós: "Não se turbe o vosso coração ... Há muitas moradas na casa do meu pai".
Siga o seu coração padre, iluminado pela fé, que será feliz.
Papisa
parafraseando uma terminologia em voga: a comunidade aguenta, aguenta.
mas parece-me que estás a colocar mal a questão: não é a comunidade e o padre, o padre faz parte da comunidade. e é nela que o padre (e qualquer um dos outros membros, terá que encontrar os seu caminho.
menos que isso é paternalismo.
beijinho
Também eu descobri este blog por acaso, há poucas semanas. As leituras dos primeiros 'posts' cativaram-me pela genuinidade e pela humanidade que transbordam. Alguns, de tão humanos e verdadeiros, comovem-me.
Posso dizer que, apesar de leigo, me revejo em muitas das inquietudes que os textos traduzem. Abadonar um percurso brilhante. Ousar sonhar com uma vida comum. Tenho para mim que estas questões são frequentes na mente daqueles que enveredam por trajectos pessoais ou profissionais exigentes. O entusiasmo pelo desempenho da tarefa ameniza, na maior parte do tempo, a exclusividade que a mesma exige. Porém, quando o entusiasmo esmorece, revela-se o vazio que nunca foi preenchido.
Bem Haja por partilhar os seus pensamentos.
AM
Gostei imenso do comentário da Papisa. Quanta verdade contém. Rezo por vós. Que Deus consiga preencher os vossos vazios para que vós consigais ajudar-nos a chegar até Ele!
Um abraço bem forte :)
Quando falam do padre da minha paróquia as beatas encolhem os ombros e colocam no rosto aquele sorrisinho de quem, por dever de reserva, deixa algo esconso por dizer.
Aquilo ensombra. Aflige. Intriga.
Afinal, que mal tem ou fez o padre? Qual o seu defeito escondido? É fraco, doido, tarado…???
Descobri no outro dia.
À espera do pior, enchi-me de coragem e forcei uma resposta junto de uma piedosa senhora. E ela veio. Não é o que o padre tem, mas o que não tem: o dom da palavra!
Só estava habituado a lidar com jovens… A senhora parecia envergonhada.
Ah!...
Nunca me tinha apercebido de tal falta, em tal pessoa.
Mas, agora que penso no assunto, as senhoras são bem capazes de ter razão.
Como pude não dar conta que o padre não domina a ciência da oratória?! Logo eu, que sempre me pelei por uma boa homilia. Porquê?!
O padre da minha paróquia é reservado.
Porém, quando se aproxima do ambão, para a leitura do evangelho e prelecção da homilia, ganha confiança.
Umas vezes, apoia as suas grandes mãos na estante; outras, entrelaça-as e aperta-as contra si, sob o diafragma, para se compenetrar. Inclina o corpo ligeiramente para a frente. Cora.
Começa.
Ultimamente, o que diz, parece pouco ter a ver com a leitura do dia.
Além do mais, aborde a temática da epifania ou o milagre da multiplicação dos pães e peixes, acaba sempre a dizer o mesmo: só fala de amor.
Do imenso amor que Deus sente por cada um de nós… Da Sua infinita misericórdia… Exorta a abandonarmo-nos em Deus… A confiarmo-nos totalmente a Ele…A abrirmos-Lhe o nosso coração…
O padre da minha paróquia é atento e intuitivo.
Há partes da homilia que parecem ser subtil e exclusivamente dirigidas a cada um de nós. Às vezes, apanho verdadeiros choques eléctricos: fico sem saber se o padre é telepata ou se Deus anda a pisar por ali.
Penso que seja precisamente para ir ao encontro dos seus paroquianos – sobretudo daqueles que, espontaneamente, nunca iriam ao encontro dele - que o padre desvia a homilia da leitura do dia, comprometendo a oratória.
As suas homilias não são prodígios na forma, nem na estrutura, mas a sua espiritualidade entusiasma, dá fé.
O discurso é sentido, genuíno. O tom de voz é calmo, sincero, despretensioso.
Por vezes, perturba-se, embarga-se-lhe a voz. Ouve-se a respiração, pesada. Necessita de pausar.
Parece que Deus, habita nele.
No meu caso, considero a peculiaridade e originalidade da sua homilia mais do que eloquente. Por isso nunca tinha dado com as deficiências da sua oratória. Mas é verdade, que pode melhorar.
Aliás, parece-me que a embirrância das senhoras, deve-se sobretudo ao facto deste padre, ao contrário dos seus antecessores, não lhes passar muito cartão.
O que aliás não deixa de ser um grave pecado.
Mas e se não for? Qual a razão de todo aquele schittt!, schittt!...? Porquê tanta suspeição? O que é que eu não sei? Será o padre, fraco, doido, tarado…?
Papisa
Alguns (muitíssimos) são malcriados. Ponto. Não é timidez é má criação. Entram e saem como se nais ninguém existisse. Comum nas paróquias. Repare, Papisa...
Queres ver que o teu sonho era um prenuncio da reforma do Papa?!
Continua a sonhar!
É sempre bom dar esperanças... Pois é! O problema é a falta de emprego!
Espero que já tenha resolvido o problema!Isso faz-me lembrar a história de um padre que muito chateado pensou sair da sua comunidade e ir viver para sua casa! A comunidade não o estimava, não o queria, não o amava, achava ele... vou embora de onde não me querem. Foi preciso dizer ao Sr Padre que não foi a comunidade que o pôs lá, mas deveria ser a comunidade a tira-lo de lá caso o não quisesse, e não ele a sair. Não estava 100% convencido, porque o envolvimento de coração tolda a mente, mas deu a mão à palmatória. Aposto que ele teve desses sonhos muitas noites...
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