Ontem à noite, antes de deitar-me, fui à janela, como de costume, olhar a noite, o céu escuro e pensar na vida. É um momento em que, embora não fazendo o exame de consciência, passo os meus pensamentos pelo declinar do dia que passou. E geralmente paraliso no tempo, considerando o meu tempo de vida, o que vivo e como vivo. Fico ali parado a pensar e a olhar. Quase sempre concluo que o meu dia não me satisfez. Há sempre um turbilhão de coisas que não estão bem, que não me trazem a paz, que não me fazem sentir realizado. E por isso rezei. Falei com Ele deste sentir. E neste rezar não me senti melhor. Passaram uns largos minutos, estava já a fechar a janela, quando me vieram estas perguntas à mente. Quem procuro na oração? Procuro-me a mim ou a Deus? E descobri que tinha estado à minha procura e não de Deus. Não deve ser assim a oração. E se ela nos traz paz é porque o estar com Ele faz isso. A oração não deve ser egoísmo. Não devemos rezar para nos sentirmos melhor connosco. Devemos rezar para nos sentirmos melhor com Deus.
22 comentários:
Bom dia,
Chorei muito ao ler o que escreveu.
Percebi nas suas palavras o meu egoismo.
Normalmente quando rezo faço-o para acalmar o meu interior e não porque O Amo.
Neste meu egoismo penso em matar a minha solidão, e iludo-me procurando-O, na minha oração, penso em acalmar a minha dôr, não me dou a Ele, provavelmente porque não tenho fé, não tenho certeza de nada na vida, duvido...
Hoje peço (pensando mais uma vez em mim) peço a Deus o dom da Fé.
Por favor Deus, concede-me esse dom para que o meu coração possa dizer que Te Ama.
Gostei muito,muito mesmo, na verdade por vezes até as nossas orações trazem uma pontinha de egoísmo ,porque rezamos para nosso próprio bem,não para estarmos com ELE em comunhão,estar mesmo de mãos vazias, só desejando que ELE nos encha da Sua Graça.
Mas ELE nos conhece a todos e sabe das nossas fragilidades como seres humanos e ao reconhecermos estamos a chegar bem mais pertinho.
Abraços no Pai…
Estava a ler-te Irmão sacerdote e pensava também nos meus caminhos da oração… se me permites, deixo aqui uma oração que um monge partilhou… acho que ela diz tudo do teu… do meu e de todos os caminhos do Abraço do Pai…
Oração de Thomas Merton
Senhor meu Deus,
não sei para onde vou.
Não vejo o caminho em frente,
nem sei ao certo onde ele findará.
Na verdade nem me conheço
e o facto de pensar
que estou a seguir a Tua vontade
não quer dizer que eu esteja a ser-lhe fiel.
Mas creio que o desejo de Te agradar
Te agrada realmente.
E espero manter este desejo
em tudo quanto fizer.
Espero jamais fazer qualquer coisa
alheia a esse desejo.
Sei que, se agir assim,
Tu me conduzirás pelo caminho certo,
embora eu nada possa saber sobre ele.
Por isso, sempre confiarei em Ti,
mesmo que me sinta perdido
ou às portas da morte,
nada recearei,
pois Tu estás sempre comigo
e nunca me deixarás sozinho
Que grande verdade meu amigo.
Tantas vezes me questiono também nesses propósitos!
Quantas vezes queremos ser mais consolados, do que propriamente procurar a comunhão com Deus e o fazer a sua vontade.
Este ano falámos pouco! Tenho pena!
Um abraço amigo em Cristo
Se não nos sentir-mos bem connosco próprios, também não conseguimos sentir-nos bem com os outros, logo não nos sentimos bem com Deus...
Pelo menos é isto que eu penso e que sinto!
Na minha humilde opinião,a nossa oração deveria procurár-nos a ambos,(eu e Ele).
Eu no sentido de descobrir o que quero e preciso, Ele no sentido de nos ajudar nesta descoberta e indicar qual o melhor caminho.
Gostei muito, e senti que todos nós temos os nossos momentos em que nos apercebemos que deixamos o egoísmo falar mais alto.
Deus é Misericordioso, e nos mostra no exato momento, que não estamos assim a corresponder muito bem ao Seu amor incondicional,que ELE tem por todos nós.
Thomas Merton foi contemplativo, por isso, ele sabia do que falava. Deus tem caminhado comigo de forma intensa, purificadora e libertadora, apesar de procurar viver unida a Deus, e após tantas purificações e graças d'Ele, na verdade, também, existem momentos em que sinto essas mesmas dificuldades, e a oração de Thomas Merton é actualíssima! Obrigada pela partilha da oração.
O caminho faz-se andando com tudo o que temos e somos a cada momento, confiando sempre em Deus.
Maria Carminho... grato pelas suas palavras e testemunho, realmente é uma das orações que tem acompanhado a minha vida e caminho de oração…. já desde aqueles tempos em que também fiz a experiência da vida contemplativa, certamente sem a intensidade, profundidade deste Irmão da ordem da Trapa da Abadia de Gethsemani, Kentucky USA… enquanto os meus passos soaram pelos claustros de uma abadia na Europa!
Cada abadia da ordem é autónoma mas a vida contemplativa é semelhante...e quando leio-oro os seus textos sinto totalmente o odor da oração do deserto que também experimentei na alma naqueles lugares do silêncio já lá vão alguns anos…
Recentemente passei por uma experiência de alguns anos, totalmente diferente da vida contemplativa, numa missão paroquial no sul (Montijo) ao lado de um sacerdote com um coração também genuinamente contemplativo e cheio desse amor de Deus!
… dois discípulos e dois corações tão diferentes… ele, mais organizado e metódico e de uma fidelidade a toda a prova no caminho da fé… este outro que te fala agora, como descrever-to, olha, talvez mais ao estilo "vagabundo de Deus" como alguém me chamou lá pela Missão... mas acredita, ambos corações tremendamente cheios desse AMOR do Pai…!
Nestes últimos meses, longe de tudo e de todos (às vezes é vital para a alma e saúde espiritual e também física romper e parar com tudo e todos, e recolhermo-nos em nós mesmos um tempo no deserto mesmo que o nosso coração se recuse a isso…)… mas sobretudo nestas últimas duas semanas tenho estado a passar terrivelmente por um processo de CONVERSÃO… doloroso mas ao mesmo tempo purificador e libertador! Ora também por este peregrino, para que seja fiel ao Amor do Pai!
Para Peregrino. Obrigada pela sua partilha plena de humanidade e que considerei como um presente de Deus para mim.
O caminho da purificação tem-me sido muito doloroso, mas muito rico em bençãos de Deus. Há momentos em que apetece dizer: esquecei-Vos que eu existo!Ele tirou-me a fazenda das minhas mãos, está-me a ensinar o abandono completo e a confiança total, mas quantas vezes fraquejo....a minha força está nos sacramentos...ainda hoje me fui confessar. Quantas lutas interiores até para uma confissão já enfrentei! E sair de lá mais vazia ainda? Não há palavras...Contudo Deus tem estado sempre muito presente e os caminhos d'Ele são muitas vezes mistério...temos apenas que ser como a criança no colo da mãe.
Vivo no meio do mundo, vivo uma separação de anos que nunca quis, estou a criar dois filhos, Deus não me tem poupado, mas digo-lhe a felicidade que sinto ultrapassa tudo, e creia-me a felicidade interior não tem preço!Essa felicidade nem sempre se sente, mas eu sei que Deus está em mim.
Rezarei por si todos os dias, também, o entregarei a Deus na eucaristia. Mas, por favor, nunca desista, porque a seu devido tempo vai colher e vai verificar que tudo valeu a pena! Mas eu também não vejo o caminho, mas Ele vê!Deixe-se guiar como a cego.
Tenho um livro de Thomas Merton, que ainda não li todo, mas vou procurar lê-lo este verão: Sementes de contemplação.
Um abraço em Cristo.
Amigo Peregrino voltei a ler a tua mensagem e partilho que também algumas das vezes em que vou para o deserto (infelizmente raramente porque a vida não me tem permitido mais-na vida do dia a dia o deserto dentro do coração é mais difícil)faço-o contrariando-me!
Não estranhes se essas duas semanas se prolongarem no tempo, apenas não desistas!A oração muitas vezes é difícil, Deus livra-nos de nós mesmos! Um abraço fraterno.
Maria Carminho
… o Pai sempre tem o cuidado de ir acendendo por onde passa a sua Graça aqueles vaga-lumes ou pirilampos tão luminosos que Ele vai colocando nas bermas dos nossos caminhos de vida…
Como me iluminaram tanto agora as suas palavras… grato eternamente. Também orarei por si e por todos aqui… deixo-lhe um beijo do Pai na sua alma… para que nunca essa luz se apague…
O deserto é sempre um lugar de purificação...de desapego...de deixarmo-nos e deixarmos o que não interessa para nos encontrarmos com Ele....
Gosto muito da imagem do deserto quando falo da minha experiência com Ele.Foi na dor que O conheci...
Foi no deserto que olhei para Ele...
O deserto enquanto experiência de purificação,conversão,trás sempre dor....Mas não caminhamos sós...Ele vai connosco!
Deixo estas palavras do místico e contemplativo São João da Cruz,especialmente para o Peregrino e a Maria Carminho:
"Oh alma quando vires teus desejos apagados, tuas afeições na aridez e angústias, e tuas faculdades incapazes de qualquer exercício interior, não sofras por isso; considera-te feliz por estares assim. É Deus que te vai livrando de ti mesmo, e agora te leva pela mão."
Abraço em Cristo.
Teresinha.
Uiiii…. S. João da Cruz… ufa Teresinha, não ofereces pão de 2ª a tal mesa da partilha… não… este é pão feito do melhor trigo dessas searas de Deus!
…sim, como amo tanto esta Igreja ainda que tão cheia de misérias e fragilidades humanas mas que abrigou e abraçou no seu seio tais tesouros de vidas como Merton.. S. João da Cruz, as outras Teresas e tantos outros… meu Deus misericórdia…!
Peregrino: Muito obrigada pelas palavras e pela oração. Continuemos o nosso caminho até Ele, com fé, esperança e caridade, e unidos pela oração.
Teresinha: Tenho caminhado com Deus ao longo da minha vida. A minha separação quando veio eu já estava em plena noite escura, não foi este o acontecimento que Deus aproveitou para aprofundar a Sua Vida em mim. Sem dúvida que veio agravá-la. Passados que estão quase 12 anos, desde o início da purificação, a aurora está a começar a raiar e é linda e plena de Paz. A aurora vem aos poucos...as trevas ainda permanecem.... A noite varia de pessoa para pessoa, só Deus sabe...para Sta. Faustina foi 1 ano, para Camille 20 anos, ....
Obrigada pela sua partilha de vida.
Devemos orar para nos ligar ao Pai, e com isto iluminar-nos a alma. Eu quando falo com Deus, faço-o como uma filha, pequenina, quase insignificante diante do Seu Amor incomensurável. Peço, agradeço, me aconselho, questiono, e isto me deixa leve, pois Ele me responde assim; deixando-me leve como a filha agasalhada pelo amoroso abraço do Pai.
É por isso que a Igreja propõe a "sua" oração, a Liturgia das Horas. Uma pessoa pode ter dificuldades em iniciar-se na oração dos salmos, ou então, em perseverar nela; mas é, sem dúvida, a melhor vacina contra o umbiguismo espiritual.
Boa noite, acreditava em DEUS e no puder da oração, contudo começo a ficar baralhada, será que DEUS existe? Será puro egoismos que rezemos apenas para pedir? Eu agradeço e nos momentos de maior angustia, quando gostava de ter uma luz, apenas encontro a escuridão... a cada dia que passa acredito menos.... Será que DEUS existe ou será uma forma de passar o tempo? Se é amor que sentimento é este que nos faz sofrer....Desculpem!!!
Tambem, muitas e muitas vezes,sinto uma grande insatisfacao pelo que fiz (ou nao fiz) e que, nao raras vezes, culmina num grande desalento que, so atraves da oracao. e possivel encontrar alguma paz interior.
Porem, um dia tendo por unica companhia a natureza,qual um eremita,pensando e tentando encontrar respostas para o meu passado e presente costumo encontrar uma maior proximidade de Deus e uma maior paz interior.
Um abraco
Grande texto.
Apetece-me responder aqui a uma pergunta que fez (se não fez, tencionava fazer), há uns tempos atrás.
Eu não te conheço. Mas tenho a dizer: és um bom padre. :)
Pelo que escreves. Pela sinceridade. Pela busca constante de Deus. És um bom padre.
Ano passado. Noite perfeita de Verão. Noite de azul profundo. Noite nítida. Noite cálida. Noite soprada. Noite aromática. Banho de noite, estendida de costas no chão do terraço. Não pensei na vida, nem em Deus, saboreei simplesmente a noite. Raras foram as ocasiões em que alcancei maior paz e estive mais próxima d’Ele em oração.
li...
A nossa oração em última instância é sempre egoísta. Nós queremos sempre algo de Deus, ou para agora ou para depois. Mas Ele não se importa, porque nos leva a rezar precisamente para que peçamos, e para nos dar. O Amor é assim, dá-se continuamente. O Amor existe, sem pedir nada em troca.
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