quinta-feira, maio 19, 2011

Menina não baptizada não entra

A data fora marcada com antecedência pela avó. A hora também. E lá estavam o casal à porta com a menina ao colo, os padrinhos e a avó. Era a avó que trazia a Inês ao colo. Iam baptizá-la. Cheguei apressado, quase em cima da hora combinada, que era a hora da Eucaristia da paróquia. Convidei-os a entrar. Estava frio e não queria que a Inês se constipasse. Entraram todos, menos a avó e a Inês. A mãe da Inês fizera menção de pegar nela e levá-la consigo, para dentro. Mas a avó, pelos vistos, não deixou. Apesar das horas estarem super-marcadas, passo a passo, nos meus compromissos, decidi voltar atrás, à rua, ao frio. Insisti que entrassem, ao que a avó respondeu que não podiam. A menina não podia entrar antes de ser baptizada. Escusado será dizer que a resposta me surgiu pronta. Então fique aqui com a menina, que quando terminar o baptizado, eu chamo-as. Ó senhor padre, disse ela. Mas é a Inês que vamos baptizar! Como pode ser isso? Bom, senhora avó, se a menina não entra, não tem como poder baptizar-se.
São as histórias das superstições que sempre se rezaram assim. As crianças não devem entrar nas igrejas sem estarem baptizadas. Eu pensei que estas coisas já não eram de hoje, mas pelos vistos enganei-me. E enganei, entre aspas, a avó, porque ela acabou por entrar logo atrás de mim.

24 comentários:

Anónimo disse...

Olá Padre

Este texto já não tinha sido publicado?...

Anónimo disse...

Deixe lá padre amigo... ainda há algum tempo (pouco), um colega seu dizia muito satisfeito, que muito antigamente, a pia baptismal era no fundo da Igreja ou até mesmo cá fora... pois os não baptizados não podiam estar presentes nas coisas santas, e lamentava-se que hoje já não era assim!

Ficou confuso?
Eu fiquei... abri-lhe os olhos, franzi o sobrolho e em silencio disse para comigo... não acredito que ainda hoje se pense em Deus assim...

Beijinho fraterno

Confessionário disse...

Olá, anónimo de 19 Maio, 2011 19:45

que eu saiba, não foi nunca publicado. Não o escrevi hoje, de facto, mas que eu saiba nunca foi publicado.
Porque perguntas?

Confessionário disse...

Ó Filha de Maria,
nem sei se acredite!

Anónimo disse...

Boa noite a todos,

Não se admire sr Padre, quanfo fui de férias a Marrocos não me deixaram entrar nas mesquitas. Visitei a mesquita do Rei Hassan II e foi a única que consegui visitar. Sou católica mas nem foi por isso, foi pelo facto de eu não ser musulmana.

Com certeza que se o baptizado era o da menina ela tinha obviamente de entrar na igreja :-)

Clara

Anónimo disse...

Filha de Maria s/ login

Pe. amigo... porque acha que fiquei de olhos esbugalhados...?

O anónimo refere-se a outro texto parecido - acho que os pais casaram no mesmo dia em que batizaram o rebento... já foi há muito tempo, acho!

Anónimo disse...

Bom dia
Este texto já foi publicado!!

concha disse...

Pois a mim também parece já o ter lido aqui.Seja como for,poderá ser sempre uma oportunidade para novas partilhas.
Um abraço

Anónimo disse...

é parecido: http://eupadre.blogspot.com/2010/06/menina-que-era-para-ficar-porta.html

Confessionário disse...

ahahah, tendes todos razão.
Há um texto muito idêntico. Já o descobri e até fiquei embevecido ao lê-lo. Achei-o muito interessante (se calhar mais que este). Foi em 9 de Junho de 2010. Está aqui:

http://eupadre.blogspot.com/2010/06/menina-que-era-para-ficar-porta.html

Acreditem que já não lembrava. E isto só prova que este tipo de situações continua a acontecer. A diferença entre uma situação e a outra está nas personagens. Foram ambas reais (agora que lembro a anterior); só que na anterior era a mãe que não queria e nesta era a avó. Foi real, amigos.

Confessionário disse...

Eu até fico contente... só prova que estais atentos e que me seguis! E que os textos vos ficam na memória! Que fixe!

Anónimo disse...

Olá Confessionário:
Pois...pois... sobre o seu ultimo comentario de 20/05 as 14.48 só me apetece dizer "se não os podes vencer junta-te a eles".
Ah..ah ..ah pensava que nos apanhava distraidos?
Mas foi uma saida airosa.Lá isso foi. Beijinhos Maria Ana.

Confessionário disse...

Olá, Maria Ana, não foi "uma saída". Foi a sério. A história, ou o seu conteúdo, repete-se, não porque eu estivesse distraído, mas porque aconteceu de novo e eu nem lembrei que já tinha contado coisa semelhante.
Mas vistas as coisas pelo lado mais positivo, até é bem bom dar conta que há gente por ai ou por aqui que está "atenta".

M Rosário Luís disse...

Não vai acreditar, mas na minha paróquia ( muito perto de Lisboa), os meninos que se baptizam na Vigília Pascal não assistem à Eucaristia! São pura e simplesmente postos na rua depois de o sacerdote rezar por eles. A 1ª vez que assisti, não percebi... pensei que estava distraída! Depois tomei mesmo consciência da situação... e todas as vezes que aconteceu, senti uma indignação muito pouco cristã... Continuo sem compreender! O que podemos fazer?

JS disse...

Rosário,

Vejo duas possibilidades de explicação para o sucedido na sua paróquia:

Por um lado, poderá ter que ver com o factor de perturbação da liturgia. Várias crianças, àquela hora da noite, numa celebração longa, num ambiente estranho, facilmente entram em stress, dificultando às pessoas seguirem com atenção e concentração as cerimónias. E lembro que se trata da missa mais importante do ano.

Por outro lado (sendo que esta pode estar acoplada à anterior), é possível que o seu pároco queira deixar um sinal de que aquelas crianças estão apenas a dar os primeiros passos no seu processo de iniciação cristã.
Quando se trata de adultos a prepararem-se para os sacramentos da iniciação cristã, durante o catecumenado acontece que, quando participam nas eucaristias da comunidade, são convidados a retirarem-se antes da oração dos fiéis. Só na vigilia pascal (e a partir daí), em que recebem o Baptismo, a Confirmação e a Eucaristia, é que participam na missa toda.
Ora, como as crianças só recebem o Baptismo, ficando adiados os outros sacramentos, o senhor padre pode querer assinalar que elas não são ainda cristãos completos, e que a sua caminhada está ainda a principiar. Como não estão aptas, ainda, a participar plenamente na missa, o sacerdote convida-as a retirarem-se.

Anónimo disse...

"...Como não estão aptas, ainda, a participar plenamente na missa, o sacerdote convida-as a retirarem-se..."

"Deixai vir a Mim as criancinhas que elas fazem parte do Reino de Deus."

Lógica dos homens vs lógica de Deus...

Anónimo disse...

Deus quer salvar todos. Como é que se pode excluir alguns só por uma formalidade da igreja?!
Não posso concordar com a teoria que o JS falou.

Confessionário disse...

JS, desculpa a pergunta, pois costumo gostar muito do que escreves (demonstras muita sabedoria), mas quem é que está apto a participar na Eucaristia?!

JS disse...

Confessionário, e outros:

A ver se nos entendemos.
Quando me referi à "participação na eucaristia" das crianças baptizadas, não usei tal expressão no sentido lato. Tive o cuidado de lhe juntar o advérbio "plenamente", e de remeter, antes, para o processo de catecumenado, em que um adulto não cristão tem de realizar uma caminhada intensa de três anos (normalmente) e recheada de etapas até ser aceite à celebração da eucaristia.

Num sentido amplo, poder-se-ia dizer que qualquer pessoa que esteja dentro de uma igreja no momento em que se está a celebrar missa, está a participar na eucaristia. Por esta forma de pensar, participam na eucaristia: os turistas que estão a visitar o templo, e que por curiosidade até vão comungar (como costuma acontecer com as famosas excursões de japoneses em Fátima, que tanta aflição provocam nos servitas); pessoas de outras religiões que estão ali a marcar presença por solidariedade; agnósticos ou ateus, como alguns dos nossos governantes, que assistem às cerimónias por obrigações de Estado; aquele grupinho de jovens que esteve em amena cavaqueira do princípio ao fim da celebração lá no fundo da igreja; aquele adolescente entretido a jogar no telemóvel até o deixarem fugir dali para fora; aquela criancinha adormecida nos braços da mãe...

Poderíamos chegar ao cúmulo de dizer que até um morto, dentro do caixão, participa na eucaristia de corpo presente. Aliás, como diz o meu pároco, em algumas missas nem dá para distinguir: ninguém canta, ninguém sabe responder, ninguém quer comungar...

Estou também lembrado do último casamento em que participei. Éramos mais de 300 convidados, e 99,9 por cento era capaz de jurar a pés juntos que tinha participado na eucaristia. O azar é que o senhor padre não celebrou missa; foi apenas o rito do matrimónio com as leituras. Mas a verdade é que praticamente ninguém deu conta. Nem, para a malta, fazia qualquer diferença.

Confessionário disse...

Entendo bem o teu raciocínio, JS, e até me fartei de rir com a história do casamento. Mas nisto de exclusões prefiro pensar que não é Deus ou a Igreja que exclui, mas nós é que nos excluímos. E repara que tudo o que contaste, no fundo, são as pessoas que se auto-excluem.

JS disse...

Quando eu falava de "participação na eucaristia", falava num sentido minimamente rigoroso: participar de forma consciente, activa, convertida e comprometida.
Isto implica, claramente, um processo, uma caminhada, uma maturação a todos os níveis, até se estar verdadeiramente apto a captar/experienciar o que se celebra, porquê, para quê e como.

Isto nada tira ao amor de Deus por todos e à vontade de Deus de a todos salvar. Significa, apenas, que cada um de nós tem um caminho a percorrer até saber reconhecer esse amor, querer acolhê-lo, deixar-se converter por ele, estar disposto a corresponder-lhe, comprometer-se a testemunhá-lo na vida e celebrá-lo na eucaristia de cada domingo.

Por este prisma, deve ser fácil de entender que uma criança baptizada não está apta a participar plenamente na eucaristia. Aliás, basta pensar na Primeira Comunhão: para que uma criança baptizada seja considerada apta a comungar pela primeira vez (e é impensável a participação plena na eucaristia sem admissão à comunhão), exige-se, pelo menos, que tenha chegado à idade da razão (7 anos) e que tenha um x tempo de formação catequética.

Curiosamente, cerca de metade das crianças que cumprem estes requisitos e que por estes dias são admitidas à Primeira Comunhão, estão, na prática, a fazer a sua última comunhão, encontrando-se prestes a abandonar a Igreja por muitos e bons anos. O que mostra que há algo de muito errado na forma como as coisas estão a ser feitas...

JS disse...

Um último ponto: quando digo que uma criança acabada de baptizar não está (ainda) apta a participar plenamente na eucaristia, não estou a dizer que ela deva ser excluida da celebração ou ser obrigada a ausentar-se; mas apenas que a criança pode perfeitamente ser dispensada de continuar presente na celebração.
Ou seja: não está obrigada a ficar até ao fim, a cumprir o preceito. Pode retirar-se ao fim das cerimónias que lhe dizem directamente respeito (o baptizado). Pode mesmo ser conveniente que o faça. Pode até ser instrutivo para a comunidade.

Anónimo disse...

Pelo visto vossa reverência não conheces o Ritual Romano.

Confessionário disse...

Conheço, conheço.