quarta-feira, maio 04, 2011

As inutilidades das nossas Bíblias

Andámos a mexer nas Bíblias de cada um. Convidara as pessoas a trazer a sua Bíblia para a Igreja, numa partilha comunitária. Pelo menos para sacudir-lhe o pó, expliquei. E para percebermos que ela pode usar-se. Que ela tem palavras escritas para serem lidas. Que não é apenas um adorno fácil das nossas estantes ou da nossa cómoda envernizada. Valeu a pena o esforço. O número daqueles que trouxeram a Bíblia foi aumentando aos poucos. Outros pediram que lhes fizesse o favor de lhes comprar uma. Fiquei feliz por poder ajudar. Por poder contribuir. Por proporcionar maior contacto com a Palavra de Deus. Temos a Bíblia em casa e podemos usá-la.
Mas há dias dei por mim a pensar naquelas pessoas que não trouxeram a sua Bíblia ou não pediram para a comprar. Dei comigo a pensar que podiam padecer da timidez dos cristãos que não querem assumir mais do que aquilo que se habituaram. Ou que não percebem que a Bíblia foi uma das maneiras mais excelentes, escolhida por Deus, para falar connosco. Ou que não percebem que os cristãos devem ser comprometidos com Deus também desta forma. Ou que elas não têm a Bíblia em casa porque não a sabem ler. Ou porque têm receio do que ela possa exigir-lhes. Ou, pura e simplesmente porque não a querem ter. O que me entristece. Há tempos alguém me dizia que a Bíblia dos simples era o terço. Achei a afirmação interessante. Mas continuo a julgar que um verdadeiro cristão deve ter a Palavra de Deus Escrita em casa.

35 comentários:

Anónimo disse...

E... não haverá alguém, que precise que o Pe. lhe ofereça a Biblia? Ou só o N.T., para ser mais económico... não sei, ocorreu-me!

Talvez esse gesto quebre o gelo, ou perante a Biblia, ou perante as palavras do Pe.

Fazê-los sentir, que a Biblia não é só para os Padres, Freiras e Catequistas... que é para abrir, ler um peq. Vs e meditá-lo, rezá-lo, escrever num caderno aquilo que esse mesmo Vs fez ecoar no coração.

Não quero ensiná-lo, mas só Deus sabe o que me leva a sugerir isto.

A Paz de Cristo

Unknown disse...

Olá!
Penso que a maioria dos católicos não têm culpa. Não sabem que a Biblia é um grande tesouro, porque receberam uma catequese muito infantil. Eles não conhecem porque ninguém lhes ensinou. Claro que, também existem todos os outros motivos que referiu.

Anónimo disse...

Permita-me, Sr. Padre, discordar. São mais cristãos os que não lêem a Sagrada Escritura e no entanto praticam os ensinamentos de Cristo do que aqueles que a têm na ponta da língua e nada fazem...
Simone.

Vilma disse...

É verdade.
Deus revela-se através da Bíblia e é através dela que também O podemos conhecer e ouvir.
Ela precisa de ser lida em espírito de vida também, porque lida apenas pela letra, mata.
Sou uma pessoa contemplativa, e busco conhecer Deus, através da Sua criação, por meio de pessoas que ele possa colocar no meu caminho, etc.

Como cristã protestante, uma das coisas boas que temos, é o Estudo da Palavra aos Domingos e também a um dia da semana. E temos uma organização, que penso que já ouviu falar, que são os Gideões Internacionais, que fazem distribuição de Novos Testamentos em escolas, hospitais, prisões, hotéis.
Continue a incentivar os fiéis a lerem a Palavra! Só os irá enriquecer!
Abraço em Cristo!

Confessionário disse...

Olá, Filha de Maria

Já ofereci pessoalmente e em nome das paróquias. Os catequistas, por exemplo, já receberam o compêndio do catecismo e este ano na festa de encerramento da Catequese temos para lhes oferecer o Novo Testamento.

Já os coloquei a reescrever um Evangelho, inclusive.

Mas tudo isto não garante que as pessoas a quem se oferece passem a ler a Bíblia! Não é?

Confessionário disse...

Olá, Simone...
Podes ter alguma razão, mas se as pessoas nao lerem/escutarem a Palavra de Deus, como poderão saber quais são os ensinamentos de Cristo?!

Confessionário disse...

Ó Vilma, nisto vós, os protestantes, estais bem mais à frente! E fico muito contente por vós.

Anónimo disse...

Não é por ai amigo Pe.;

Não os ponha a fazer...

Escolha um paroquiano/a, conforme o E. Santo o inspirar e "faça" com ele/ela.

Quando alguém procura/ espera respostas do Pe., ajude-o/a a procurá-las na Sagrada Escritura... reze com a pessoa e peça a N. Senhor a resposta para essa mesma pessoa e em seguida abra a Sagrada Escritura.

As palavras (nossas) leva-as o vento, mas os gestos (nossos) ficam gravados na memória e no coração dos outros.

Atenção; Roma e Pavia não se fizeram num dia!

O problema das ofertas em nome da Paróquia, é que fica o gesto como institucionalizado, a passo que se for uma oferta a nivel pessoal, individualizada e bem contextualizada, poderá assemelhar-se ao banquete que o pai oferece ao filho pródigo.

Experimente...

Confessionário disse...

Olá, Filha de Maria, isso até pode acontecer, mas nao resolve o problema da comunidade e dos outros, e eu sou o responsável pela comunidade e nao apenas por um ou dois...
Essa teoria é boa... e resulta em determinados movimentos. E até devia resultar em termos paroquiais... Mas, depois na pratica... ups, não é assim nao.

Anónimo disse...

Jamais haverá soluções milagrosas!

Se em 100, conseguir que 1 faça... só já lhe restam 99.

A grande questão é que a própria pessoa, terá que sentir a "vontade" de. Na realidade só sentimos falta do que conhecemos, daí o exemplo que lhe dei, que não servirá nunca como método... mas apenas como veiculo apenas para alguns.

A Paz de Cristo

N.B.: Jamais terei a pretensão de lhe ensinar algo, apenas e sómente partilho aqui, o que vou vendo e vivendo em Cristo e para Cristo.

Confessionário disse...

...e claro que podes partilhar à vontade, e eu tb preciso de ser ensinado. Mas não é tão facil como pode parecer, Filha de Maria.
bj

concha disse...

Vou comentar com o meu testemunho.
Sei ler e escrever razoávelmente, mas tive uma Bíblia em casa durante vários anos, sem nunca sentir vontade de a abrir.
Sabe quando o comecei a fazer?Depois de no meu regresso à igreja,ter tido vergonha de não saber responder na missa e ao ser confrontada com anúncios de catequeses para adultos, ter resolvido ir para aprender.É claro que não ensinavam a responder na missa,mas foram suficientemente apelativos estes anúncios, ao ponto de me integrar num movimento.Todas as semanas preparamos uma celebração da palavra em grupo para depois apresentar a todos e de tanto ter de a preparar, comecei a ser capaz de abrir a Bíblia, mesmo sem ser quase por obrigação.A primeira atracção, foi pelos salmos, que quando musicados são uma maravilha.
Tudo isto para dizer,que em minha opinião tem de haver sempre uma razão forte para abrir um livro, que nem sempre é fácil de entender.

Anónimo disse...

Eu acho que a maior parte dos católicos não querem nada com a Bíblia, assim como não querem nada com Formação. Só querem tradições.
Se calhar nem a Deus querem!

Anónimo disse...

Uma vez, durante uma homilia presidida pelo Sacerdote da minha paróquia, foi-nos feita a pergunta sobre quantos de nós abríamos e líamos a Bíblia durante a semana,e que não mentíssemos porque estaríamos a mentir aos outros mas Deus sabia a verdade...
...Levantámos o dedo no ar 5 pessoas...

Sou uma convertida, pela Graça de Deus! Vivo e respiro para Deus, faço o que posso para testemunhar a fé que me enche o coração e a alma, encontro Deus na Eucaristia, na Palavra que me entra no coração, naqueles que ele mete no meu caminho mas vejo também outros irmãos muito entretidos com esta e aquela procissão, este e aquele manto que já devia ter sido mudado na Senhora das Neves, aquela flor a mais naquele sitio... tudo faz falta é certo, mas penso também que se aos Cristãos "veteranos" lhe fossem retirados todos estes afazeres... será que continuariam a ir à Missa?
E a viver a palavra?
Perdoem-me o meu reparo, não quero ferir susceptibilidades.


Paz e bem

Lu

Anónimo disse...

Sr. Padre, tenho vindo a constatar que alguns seus colegas gostam de fazer os fieis sentirem-se culpados, o sentimento de culpa inibe e não deixa progredir. Tem de dar a missa como se dá uma aula, os fieis têm de se sentirem impelidos a levarem uma Bíblia. Via mais ou menos quem não tinha levado a Sagrada Escritura, no fim da missa chegava ao pé dessas pessoas e perguntava-lhes o que achariam de escolher uma passagem na Bíblia para ler durante a missa da semana seguinte...
Simone.

Luis Lopes disse...

Sou católico praticante, mas sempre tive muitas reticências em ler a Bíblia, tive sempre outras leituras em primeiro plano, aconteceu há 3 anos convidarem-me para catequista, tenho feito retiros, estou na escola de leigos, muitas outras formações, agora que leio a Palavra diariamente, digo-o pessoalmente: muito tenho aprendido, mas cada vez exije mais de mim, que pena eu tenho de não me aperceber desta riqueza há mais tempo e aconselho pessoalmente quem tiver receio de ficar "escravo" desta palavra, não perderá nada, só vai ganhar pois como eu, deixei outros vícios, como programas televisivos que não ensinam nada, só fazem perder tempo, que não volta atrás, por isso recomendo que para quem quiser arriscar a ler a Bíblia, Deus fará desse, um ser com uma visão do mundo com uma prespectiva que seguramente, será mais alegre e realista da vontade de Deus para cada um. Um abraço e desculpe este alongamento. Luis Lopes

Anónimo disse...

Tive ontem a oportunidade de ouvir ao vivo a música que tem acompanhado este blog. Lindíssimo, num ambiente agradável, louvar o Senhor, junto com pessoas bonitas por dentro. Não sei se por aqui vou chegar aos autores da música, mas se por acaso chegar, fica o meu agradecimento. Se não chegar, fica a partilha...

JS disse...

Esta história das Bíblias tem sido uma fonte de disparates dentro da Igreja.

O maior deles é esquecer o que é o cristianismo católico. Que não é religião do Livro.

O cristianismo católico bebe da Escritura, mas é, também e sobretudo, uma Pessoa (Cristo), uma comunidade (Igreja), espaços (templos), rito, culto, liturgia, sacramentos...

O cristianismo católico é guiado pela Escritura, mas também e sobretudo pela Tradição: interpretação, história, magistério, hierarquia, catecismo, direito canónico...

Não admira que o sínodo e a exortação papal tenham rapidamente caído no oblívio. Todavia, continua a haver gente (até dioceses!) a insistir na asneira.

nise disse...

Olá Padre.
Sou católida e tenho a biblia em casa. Não como objeto de decoração, mas como livro de cabeceira. Acho sim que a biblia deve ser lida e bem conhecida por todos, mas não costumo levar a biblia à igreja. Ela lá será lida. Não vejo necessidade de acompanhar a leitura com a biblia em mãos.Prefiro apenas ouvir atentamente. Por que levar a bíblia para missa se ela lá estará presente, será lida e ouvida? Não vejo necessidade. Da mesma forma, não vejo motivo para os evangélicos levarem a biblia aos cultos, onde a Palavra será lida pelo pastor. Respeito o costume, mas pergunto-me se não é mais exebicionismo que necessidade.

Confessionário disse...

Olá nnnnn,
A Bíblia não foi levada para a Eucaristia para ser lida lá, mas para "tirar-lhe o pó". E resultou. As pessoas prestaram mais atenção do que habitual à Bíblia.
Ela, de facto, é escutada e lida na Liturgia da Palavra. Mas não chega. Os cristãos devem lê-la e rezá-la mais vezes.

JS disse...

Pois eu acho que fazem muito bem as pessoas que se recusam a comprar a Bíblia; bem como aquelas que, tendo-a comprado num momento de fraqueza, ou tendo-se vistas com ela na mão à conta de alguma oferta, a colocam bem entalada na estante e deixam que o pó se vá acumulando com o passar do tempo.

Durante séculos, a Igreja, sabiamente, interditou a leitura da Bíblia aos leigos. Mesmo nas missas, a dose era relativamente pequena; e em latim, que era para não se perceber.

Hoje, parece que queremos (alguns de nós!) ir atrás dos irmãos protestantes, sem dar conta do preço a pagar por se andar com a Bíblia na mão...

JS disse...

Como eu já tinha escrito, na altura do crash do Blogger (a propósito, Confessionário, vai pensando em emigrar para outra plataforma), acho que foi um sinal do céu que o sínodo sobre a Palavra e a exortação papal tenham caído tão rapidamente no esquecimento.

Infelizmente, o nosso querido Papa teve recentemente um momento de fraqueza. Estava tão bem lançado no seu primeiro livro sobre Jesus ao colocar os exegetas às portas do inferno, e neste segundo volume deixou-se seduzir pelo pagode e decidiu entrar na brincadeira: parece que a quinta-feira santa afinal foi na quarta, e coisa e tal...

Confessionário disse...

JS, achas que devo mesmo mudar? Mas para que plataforma?
De facto a blogspot tem tido alguns problemas...

Peço sugestões, amigos...

Confessionário disse...

Olá, de novo, JS

A tua relação com a Bíblia é quase nula? Não cheguei a perceber! Costumo gostar bastante dos teus coments e opiniões. Mesmo quando não concordo, inclino-me aos argumentos e à tua reflexão.
Mas agora fiquei sem perceber muito bem. Sabes que a Sagrada Escritura é Deus Feito Palavra? Ela é o centro dos valores e da vida em Cristo.
Não me vais dizer que o catecismo ou o Código de Direito canónico estão acima da Sagrada Escritura!

abraço

JS disse...

Bem, o assunto é complicado e a caixa de comentários demasiado pequena. Mas vou tentar, mesmo assim, arrotar algumas postas de pescada.

"Sabes que a Sagrada Escritura é Deus Feito Palavra?"
Pois. O problema é como entender isso. Estarás a par de que a Comissão Bíblica Pontificia já há uns bons tempos anda entalada com a questão da inspiração; de tempos a tempos, o Papa lá lhes dá um chazinho, mas não tem adiantado quase nada. O impasse é bem revelador da dificuldade da questão.

"Não me vais dizer que o catecismo ou o Código de Direito canónico estão acima da Sagrada Escritura!"
Certo, não estão acima. Mas têm de estar ao lado. De nada adianta dar às pessoas a Bíblia sem dar também os outros dois. E até dar estes primeiro.

O Catecismo é de facto a Bíblia mastigada, e enquadrada/integrada no quadro mais amplo da Tradição. Aliás, a Bíblia é ela própria sobretudo um catecismo, embora não em forma expositiva ou organizada como os que conhecemos.

O Código de Direito Canónico é Bíblia mastigada, e aplicada à organização da comunidade eclesial. Aliás, a Bíblia é também código de direito, canónico e civil (comercial, administrativo, penal...); e se algumas dessas leis e regulamentos são obsoletos, outros há que se mantêm plenamente em vigor.

JS disse...

A Bíblia é realmente uma obra complexa, originada numa cultura que não é a nossa (embora a nossa esteja, bem mais do que se pensa, enformada pela Bíblia), uma mistura enorme de estilos e de autores, com muitas repetições, confusões e contradições, com páginas chocantes e outras que não interessam ao menino Jesus.

Pôr a Bíblia nas mãos das pessoas sem lhes dar as ferramentas necessárias para a sua interpretação, literária e orante/eclesial, ou é perder tempo (logo, logo, ela estará arrumada ou a servir de bibelot), ou é arriscar lançar a confusão na cabeça das pessoas, deixá-las perturbadas e prontas a entrar em parafuso na sua quase sempre simples fé.

Ora, estas ferramentas não se adquirem num dia ou dois, ou numa semana, ou num ano. Seria preciso um investimento tremendo, a nível de cada comunidade e de cada indivíduo, para tornar as pessoas aptas a lidar autonomamente com a Bíblia. A verdade é que não há recursos para isso; nem há verdadeiramente necessidade disso.

JS disse...

Uma comparação: advogar que se coloque nas mãos das pessoas o Cray's Anatomy, para bem da sua saúde. Evidentemente, a maior parte das pessoas não está capacitada para o entender. Alguns eventualmente tentarão, mas acabarão com minhocas na cabeça (como se queixam os médicos quando lhes aparece gente que andou a ler coisas na internet...). Capacitar as pessoas para o Craig's leva anos de formação especializada. Nunca haveria forma de formar uma população inteira. Mas também não há verdadeiramente interesse nisso. Não é preciso que todos sejam médicos, tenham formação em medicina e dominem seus livros.
Para o comum dos mortais, basta que se tenham umas noções básicas de higiene e saúde familiar. Quem tiver curiosidade, tempo e capacidade poderá investir no aprofundamento dessas noções e eventualmente tornar-se um especialista. Mas isso é caminho apenas para alguns. Para a grande maioria, não interessa ser médico nem saber de medicina; querem é que haja médicos suficientes e capacitados que os ajudem quando e se deles precisarem. O Craig's Anatomy que fique para os médicos, ou quem quiser sê-lo; para o resto das pessoas chega as conversas com familiares e amigos, as dicas de alguns programas de televisão e artigos de revistas, e os conselhos dados nos centros de saúde.

JS disse...

A Bíblia havia de ser vista como um depósito de biblioteca: lá estão guardados os livros que são considerados importantes (embora de forma desigual) para a religião cristã (e, pode-se dizê-lo, para a humanidade). Estão lá conservados, para que não se percam. E é bom que a biblioteca esteja aberta e seja de fácil acesso a quem queira consultá-los e lê-los. Mas não há necessidade de pôr todas as pessoas em fila para entrar, ou de esperar que elas leiam os livros de fio a pavio.

Até porque o que realmente interessa não é que as pessoas leiam os livros, mas que conheçam as histórias. De facto, a Bíblia não foi feita para ser lida, mas para ser contada. A essência da Bíblia são as histórias, as narrativas, os encontros e desencontros entre Deus e os homens, que vão passando de boca em boca e de ouvido em ouvido, de geração em geração, que são escutadas e recordadas, meditadas e rezadas, recriadas e vividas. Essas histórias foram passadas para escritura, para melhor viajarem no espaço e no tempo, mantendo (dentro do possível) a sua coerência e integridade. Mas isso não significa que a leitura da Bíblia seja o acesso mais adequado.

JS disse...

Infelizmente, hoje em dia, estamos muito, e cada vez mais, dependentes da leitura da Bíblia. Não temos quem nos conte a Bíblia; e não temos porque achamos ser suficiente que as pessoas tenham bíblias e as leiam em casa.

Também é claro que nestas últimas gerações houve uma falha enorme na transmissão da fé; de modo que a muitos lhes resta começar pela leitura. Mas seria importante que a esses lhes fosse indicado um acesso mais simples e directo, estilo reader's digest. Aliás, a minha iniciação fez-se dessa forma, através da "Bíblia Escolar" que pertencia à minha mãe.

No mercado existem muitas opções deste género, mas infelizmente quase todas viradas para o target infantil. É quase impossível imaginar um jovem ou um adulto a usá-los para leitura pessoal. Há que investir em novos projectos de síntese/adaptação, e dar-lhes um cunho oficial (como, curiosamente, acaba de acontecer com o Youcat).

JS disse...

E faz falta cruzar as outras artes com a Bíblia, para que as suas histórias não fiquem reféns da escritura.
Muitas formas, é questão de as recuperar e de captar o seu real valor: teatros, encenações, procissões, músicas, filmes, pintura, escultura... E não falta espaço para inovar e inventar.

Imagina, por exemplo, que nestes dias em que se está a ler os Actos dos Apóstolos na missa, a leitura era acompanhada por um powerpoint que ia assinalando num mapa as deslocações e os lugares onde se passam as cenas: v. g., a maior parte dos cristãos a fugir de Jerusalém, alguns a chegarem a Antioquia, uma nova comunidade aí a nascer, as notícias a chegarem aos Apóstolos, estes a enviarem Barnabé como embaixador, este a ir depois a Tarso recrutar Paulo, os dois a trabalharem em Antioquia, o salto a Jerusalém para levar esmolas àquela comunidade em aperto, o regresso a Antioquia com João Marcos, o envio em missão que os leva até à costa, a viajem por mar até à ilha de Chipre, o atravessá-la duma ponta à outra, o embarque para Perga...

Outra hipótese: imagina que tinhas tempo e uma boa equipa, e decidias apostar a valer na vigília de Pentecostes. Punhas um grupo a encenar a lenda de Babel, outro encenava o momento em que o povo de Israel acolheu a Lei; alguém com jeito para desenho fazia um pequeno filme animado com a visão de Ezequiel; e ainda ficava a profecia de Joel para o que te desse na mona. Depois, era arranjar gente boa de música e dar-lhes os salmos para as mãos: um podia ser cantado no estilo Taizè, outro no da Irmã Glenda, outro no do P. Rossi... A seguir, era lida a carta e fazia-se nova encenação, do evangelho: Jesus em plena festa dos Tabernáculos, a procissão com a água de Siloé, as pessoas a rezarem por chuva e para não passarem sede esse ano, e Jesus a erguer a voz: Quem tiver sede...

Por fim, uma sugestão: numa reunião que tenhas com adolescentes, conta-lhes a história de Josué e o cerco a Jericó. Depois, põe-nos a ouvir a canção do Tiago Guillul. Vais ver que não é preciso dizer muito mais. Quando eles tiverem um obstáculo pela frente, é observá-los: são sete voltas p'ra muralha cair...

Confessionário disse...

Eh pá, JS, falaste tanto! Mas gostei muito de te ler... e concordo em muito contigo:
- O catecismo e o Código de Direito canónica são a Bíblia mastigada; mas atenção que não são a Bíblia: ela é que é fonte; quando muito o catecismo e o CDC são uma torneira. E se achas que o catecismo ou o CDC são mais fáceis, para mim, que os estudei, não me parecem tanto...
- Os livros da Bíblia não estão todos em pé de igualade; por isso costumo dizer aos meus que leiam e releiam o NT e só depois o resto
- Para mim a questão da inspiração é clara.
- As pessoas, os cristãos, precisam de materiais e métodos para entender e compreender a Bíblia; por isso temos de arranjar estratégias (tu apontaste muitas e boas); por isso propús de início que a usassem de forma que nem precisam confundir-se (tra~zê-la até à comunidade) e a seguir queria propor grupos bíblicos com materiais didacticos(mas ta a ser difícil chegar lá)

Tudo isto, e mais que poderia dizer), não obsta a importância imprescindível da Sagrada Escritura para os cristãos...

JS disse...

Confessionário, comentando o teu comentário:

A relação da Bíblia
com o Catecismo, ou o Código de Direito Canónico, ou outros, é bem mais subtil e complexa do que normalmente se supõe. Remeto apenas para a Dei Verbum e a referência às duas fontes da Revelação: Escritura e Tradição...

Que o Catecismo ou o CDC não sejam fáceis de entender, é precisamente um dos meus pontos. Certamente não vais andar a gastar tempo e energias em tratar de convencer as pessoas a comprá-los. Nem te vais lamentar por as pessoas não os terem em casa. Mas, se calhar, já aconselharás a que as pessoas comprem o Compêndio do Catecismo (o catecismo em resumo), e que o leiam, e até promoverás algumas sessões de esclarecimento. E, no que respeita ao CDC, lá encontras formas (no fim de uma missa, no jornal da freguesia, numa reunião específica...) de transmitir às pessoas o essencial, conforme as circunstâncias e as necessidades (quem pode ser padrinho de baptismo, qual o processo a seguir para tratar dum casamento, o que está previsto para o caso dos divorciados...).

E talvez seja isto que muitos católicos estão a precisar: ter um acesso simples e claro às regras que rejem a comunidade e seus membros, e aos princípios doutrinais que os orientam. Isto, antes mesmo de se atirarem à descoberta da Sagrada Escritura (ou de serem santamente empurrados para isso).

Anónimo disse...

Ao falar de tantos assuntos, me deparei com as cotações de postagens, e uma me chamou atenção. A BÍBLIA, que coisa poucos dizem sobre a Sagrada Escritura. E se nas fontes de revelação são ditas em duas etapas; a Bíblia e a Tradição. Os acontecimentos foram narrados perante certas tradições dos homens dai se encontrou as Revelações de Deus. E da sua existência.
A minha companhia antes do café da manha ou durante, sempre estou com a Bíblia aberta em Salmos ou Eclesiásticos, ou Cânticos e leio a palavra de Deus depois vou trabalhar. Isso já faz parte da minha vida. Então estou pedindo ao Pe. que durante uma de suas homilias sugiram isso as pessoas, que façam, e tenham os demais sacerdotes a santa paciência de informar a quem leu algo e não entendeu e repasse as explicações a esta pessoa. Assim é uma forma de evangelizar. O que o senhor acha?
Vidalinda

Confessionário disse...

Vidalinda, é uma ideia, sim senhora.

Anónimo disse...

AH!!! Sim, claro, dai como será feito só por Deus e os senhores iluminados.