A casa fica ao cimo, quando se vai para o monte, do lado esquerdo. É amarela. Quando lhe bate o sol, torna-se doirada. Mas é discreta. Foi comprada a um doutor que gostava da claridade do sol. A casa fica muito iluminada. Hoje ainda está mais iluminada. Fora convidado a jantar por lá, com a família. São ambos professores. Dedicam-se a ensinar. São novos, mas têm vários filhos. Os que são do seu sangue e aqueles que o coração permite. Vão adoptar pelo menos um. Estavam sete pratos na mesa, o número da perfeição. O meu prato completara o número sete. Quis pensar que era algo fantástico. Quis comentar o número. Porém, como não me achei digno para fazer alusões a um número que me é tão distante, não o fiz. A mesa tinha uma simplicidade notória, mas estava recheada dos sinais próprios de uma visita. Senti-me uma daquelas visitas que é importante porque é assinalada a sua presença, a presença da visita, mas que ao mesmo tempo é tão próxima que não precisa de grandes requintes. Senti-me bem.
Depois de sentados, convidaram-me a rezar. Costuma ser função minha quando janto fora. Desta vez não convidara e fora convidado. A estranheza maior veio de seguida. Mas, senhor padre, temos uma forma de rezar diferente. Se não quiser, passamos à oração dita normal. Foram exactamente estas as palavras. Respondi que estava ali para jantar com eles e era com eles que queria jantar do princípio ao fim. Olhe, padre, antes de rezar propriamente, fazemos um pequeno exercício. É como um exame de consciência. Todos têm de contar o que de mais negativo e o que de mais positivo lhe aconteceu ao longo do dia. Começou o pai. A mãe fez algumas perguntas. Pediu algumas explicações. Depois foi a mãe e o pai fez as perguntas. Ficaram a saber o dia um do outro. Depois os filhos que contaram, alegres, o seu dia. Era-lhes mais fácil descobrir o que gostaram mais do que o que não gostaram muito. Reservaram-me o último exame. Falei com à vontade. Foi isto e isto. Deixaram-me à vontade. Não fizeram perguntas. Mas expliquei-me na mesma. Deu-me vontade. No final agradeceram a Deus o que tinha sido aquele dia. Não sei se a comida ainda se mantinha quente. Também não foi importante, porque o melhor de um jantar em casa de paroquianos é estarmos bem.
Depois de sentados, convidaram-me a rezar. Costuma ser função minha quando janto fora. Desta vez não convidara e fora convidado. A estranheza maior veio de seguida. Mas, senhor padre, temos uma forma de rezar diferente. Se não quiser, passamos à oração dita normal. Foram exactamente estas as palavras. Respondi que estava ali para jantar com eles e era com eles que queria jantar do princípio ao fim. Olhe, padre, antes de rezar propriamente, fazemos um pequeno exercício. É como um exame de consciência. Todos têm de contar o que de mais negativo e o que de mais positivo lhe aconteceu ao longo do dia. Começou o pai. A mãe fez algumas perguntas. Pediu algumas explicações. Depois foi a mãe e o pai fez as perguntas. Ficaram a saber o dia um do outro. Depois os filhos que contaram, alegres, o seu dia. Era-lhes mais fácil descobrir o que gostaram mais do que o que não gostaram muito. Reservaram-me o último exame. Falei com à vontade. Foi isto e isto. Deixaram-me à vontade. Não fizeram perguntas. Mas expliquei-me na mesma. Deu-me vontade. No final agradeceram a Deus o que tinha sido aquele dia. Não sei se a comida ainda se mantinha quente. Também não foi importante, porque o melhor de um jantar em casa de paroquianos é estarmos bem.
13 comentários:
Caro Padre, como está?
Lindo, se todas as famílias, inclusive a minha, adotassem esta forma de oração, ao menos uma vez na semana, talvez não houvessem tantos desencontros entre pais e filhos, talvez tantas famílias não se dispersassem por falta de amor. Sim, pois a oração feita desta forma, é antes de uma oração, um ato de amor partilhado.Parabéns para essa família, que Deus continue presente entre eles.
Amo! Obrigada.
É uma boa ideia para a minha família. Às vezes nem temos tempo para falar.
Ó Conf, e eles tinham a TV ligada?!
Olá, amigo/a
Não, não tinham a TV ligada. Ela não tinha prato à mesa... lol
Ao ler este texto, faço uma retrospectiva da minha vida familiar e cristã e, pergunto a mim mesma o que andei a fazer durante todos estes anos. Tenho muitas graças a dar a Deus pela família que tenho, mas tenho a certeza de que eu poderia ter feito muito mais, por eles, por mim e pela nossa família. Neste exemplo de vida está a prova. Só posso dizer OBRIGADA
Um homem vai ao quarto do filho para lhe dar boa-noite e vê que o miúdo está a ter um pesadelo. O pai acorda-o e pergunta-lhe se está bem. O filho responde que sente medo porque sonhou que a tia Albertina tinha morrido. O pai garante que a tia está muito bem e diz ao miúdo que volte a dormir sossegado. No dia seguinte, a tia Albertina morre. Uma semana depois, o homem volta ao quarto do filho para lhe dar boa-noite. O miúdo está com outro pesadelo. O pai acorda-o e pergunta-lhe o que aconteceu. O filho responde que sente medo porque sonhou que o avô havia morrido. O pai garante que o velhote está muito bem e manda-o dormir de novo. No dia seguinte, o avô morre. Uma semana depois, o homem vai de novo ao quarto do filho para lhe desejar boa-noite. O miúdo está com mais um pesadelo. O pai acorda-o e pergunta o que tinha sido desta vez. O filho responde que sente medo porque sonhou que o pai tinha morrido, mas este garante estar bem e manda-o dormir novamente.
Contudo, o homem vai para cama e não consegue dormir. No dia seguinte, acorda apavorado. Tem a certeza de que vai morrer. Sai para o trabalho e conduz com o maior cuidado para evitar uma colisão. Não almoça, com medo de que a comida possa estar envenenada. Evita toda a gente, com medo de ser assassinado. Tem um sobressalto a cada ruído e a qualquer movimento suspeito esconde-se debaixo da secretária. Ao voltar para casa, diz para a mulher:
— Meu Deus, tive o pior dia da minha vida!
E ela responde:
— Tu achas que foi o pior? E o vizinho, coitado, que morreu aqui à porta, hoje de manhã?
Olá Confessionário
Desculpa lá. A anedota que mandei, embora tenha piada , deixou-me remorsos de consciência...é imprópria para o lindo quadro que trouxeste para o blogue...
Um grande abraço
Já agora, como foi a refeição a seguir?...Em que tom?...Quem interveio mais?
O tom? foi tão normal que nem lembro. Mas ninguém levantou a voz. A conversa foi saudável e amigável.
Quem interveio mais? acho que todos tivemos tempo de antena. É óbvio que os adultos devemos ter falado mais. Mas as crianças intervinham sempre. Tinham o seu espaço. E a trabalhar tb.
Estou a tentar lembrar-me e a desejar que não tenha sido eu a falar mais. Mas como sou tagarelas, desconfio que se houvesse balança, deveria ter sido eu.
ahhh, e recordo que fui o único que repeti a sobremesa. Guardaram-na para mim, assim que souberam que eu gostava imenso.
Bom dia
Tinha decidido não comentar, um sentimento de vergonha invadiu-me.
O comentário do anónimo, de 25/02 das 22:34, deu-me coragem para falar.
O que andei eu a fazer estes anos todos?
Também eu tenho muitas graças para dar a Deus pela minha familia.
Confessionário permita-me deixar aqui um apelo a si e a todos os que venham a ler este comentário.
Nas vossas orações incluam por favor um pedido pelo pároco da minha freguesia que está internado, penso que já fez um transplante renal, para que o seu organismo não rejeite o novo rim.
Obrigada confessionario por este espaço.
Paulina
Depois de ter lido todos os comentários, e com uma historia de encantar de uma dita Familia Cristã, ainda existem poucas, mas existe...Pois porque o mal hoje é o cancro da familia, a degradação dos laços de Pais e Filhos.Mas de facto Deus é pai e Ele, sabe o que quer da humanidade, e sempre houve momentos altos e baixos, por isso rezemos sempre para que estas Familias voltem, porque hoje infelizmente os divorcios, as separações dos filhos o terem mais que um pai ou mais que uma mãe, enfim....Reze muito Padre para que essa e outras familias continuem com essa grande união. QUe Deus vos ilumine.
Fiquei completamente encantada com esta história. Não me queixo da minha família, muito pelo contrário... Mas se a minha família soubesse sequer o que é rezar antes de jantar... E se soubessem o que é jantar sem ter a TV ligada... seria uma pessoa muito mais feliz. Porque o sou quando janto com amigos nessas condições: oração e jantar totalmente dedicado ao outro, à escuta.
Bastaria um gesto tão simples como o desta família para que tantos e tantos jovens não se perdessem por maus caminhos e para que os pais, depois de velhinhos, não fossem abandonados.
Muito obrigada, amigo. Por tudo o que me continua a proporcionar.
Eu procurei mudar a minha família. Esforcei-me para que rezassem antes das refeições, para que fossem à missa ao domingo, para que se confessassem quando isso era impensável, soubessem algo do catecismo, ouvissem o evangelho, vissem filmes religiosos, mas tudo me pareceu a ferro e fogo. O pior é quando achamos que temos tudo assegurado alguém se lembra de recuar... Depois dei por mim a discutirmos todos os domingos por causa da missa, o que ainda é mais absurdo. Tenho sempre de arranjar uma estratégia nova, às vezes não sei se merece o desgaste. Ainda por cima eles são os pais, e os mais velhos, os papeis estão invertidos. Mas o efeito dessas estratégias não duram sempre e eles não se autonomizam. Bom, pensando bem, não sou nem melhor que eles...
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