quinta-feira, dezembro 02, 2010

A lição da São

A São, diminutivo de Purificação, é daquelas mulheres normais que numa paróquia tentam levar a fé a sério. Não falta a uma celebração, a uma oração do terço, a uma responsabilidade. Assume tudo como boa cristã. Eu penso que até é daquelas pessoas que tem sempre uma palavra a dizer e a ser ouvida. Levam-na a sério tantas vezes quantas a acham inoportuna. Poderá ser fruto da postura ou do incómodo. Mas acontece. E no dia dez veio a minha casa com a lágrima no canto do olho. Olhe, senhor padre, preciso desabafar. E desabafou. Começou numa história e cruzou-a com milhares de histórias. Já pelo final que tive de engendrar porque as histórias eram muitas, abordou-me sobre outra senhora que a tinha feito sofrer. Ela apresentava as suas razões. Eu ouvia. Ela falava. Eu escutava. Percebi que procurava respostas no meu rosto. Só percebi quais quando foi direita ao assunto. Ela fez-lhe queixinhas de mim, padre? É óbvio que, tivesse ou não feito, eu não iria revelar. Não é meu hábito, nem seria bom hábito para um padre, cuido. Não lhe respondi e ela insistiu. Já tinha a porta aberta quando ela quase afirmou que não saia sem eu lhe dizer. E foi nessa altura que aproveitei para dar uma lição de vida e de fé. Sabe, tal como eu nunca direi a ninguém o que a senhora me contou, também nunca direi a si o que outras pessoas me possam contar. Afinal, não é assim que um padre deve ser?

18 comentários:

Anónimo disse...

Pois é Padre, deveria ser assim o Padre, mas infelizmente não é, porque conheço bem alguns que muitas coisas que se passam deveriam calar e nem sequer tornar a repetir, mas até em reuniões as repetem infelizemnte.Ninguém é perfeito, e o Padre tem uma personagem antes de ter o Sacramento da Ordem, que é " HOMEM ", e como tal falha como qualquer ser humano, por isso por vezes tenho compaixão dos pobres padres...Perfeito só o Mestre Jesus Cristo, porque até os discipulos que o seguiam também criticavam o Mestre, chegando mesmo a vendo-Lo, por isso estamos no Advento, e como preparação Acolhemos o proximo, ouvindo, partilhando com serenidade alguma coisa que não está tão bem e partilho um texto de uma Amiga Drª.Sofia:
O lago interior

Imagine um lago cujas águas se agitam com o impacto daquilo que acontece à sua volta, como se pequenas pedras fossem atiradas nas suas águas. A partir da zona de impacto da pedra na água, formam-se pequenas ondas concêntricas que, como uma onda de energia, se vão espalhando pelas águas da superfície desse lago., até chegar às suas margens. Com o tempo, essa energia vai se dissipando, diminuindo de intensidade. E, naturalmente, as águas tornam-se de novo serenas, tranquilas. E quando estas águas estão tranquilas, elas formam um espelho perfeito, reflectindo de forma clara e fidedigna a tranquilidade do céu azul acima delas e o sol radiante.

Assim acontece com o seu lago interior, que se agita com as pedras que recebe nas suas águas e estas pedras podem ser situações, acontecimentos ou mesmo pensamentos. Quantas vezes um só pensamento é o suficiente para agitar essas águas?

Quando essas águas se agitam, ficando até por vezes revoltas, a agitação interior é tal que não permite um pensamento claro, lúcido ou tranquilo. A partir da zona de impacto geram-se ondas que se vão propagando por toda a superfície do lago e fica muito difícil reflectir a tranquilidade do céu azul ou a luz do sol interior. Pelo contrário, o reflexo vai ser também ele agitado; reflectindo essa agitação interior.

Com o passar do tempo, a intensidade dessa agitação, dessas ondas, vai diminuindo até dissipar-se por completo. Não só o passar do tempo o consegue, como também cada momento, como este, em que se permite relaxar, cada momento em que escolha fazer algo que realmente goste de fazer, em cada passeio consigo próprio, em cada momento em que desfruta o presente, estando e sendo o momento.

Então, as águas desse lago ficam novamente tranquilas, pois esse é o seu estado natural, um estado de equilíbrio, de tranquilidade, serenidade. E tranquilas, elas reflectem, naturalmente, a tranquilidade do céu azul, um céu azul em que as nuvens continuam a passar, lá à distância, tranquilamente. E à distância, sendo observadas, elas não podem perturbar as águas desse lago. Reflectem ainda a luz do sol interior, um sol radioso e radiante, onde residem imensos recursos e capacidades que irradiam com a sua luz.

E quando as águas deste lago reflectem, tranquilamente, esta luz, ela irradia a partir de dentro e flui através da sua forma de ser e estar, por toda a sua linguagem verbal e não verbal. Deixe que a serenidade dessas águas flua através de si, preenchendo e envolvendo cada célula, cada molécula, até à mais ínfima parte do seu ser!

Bem Haja Padre e que Deus o abençoe.

Anónimo disse...

Pe.acho interessante este artigo:-
SERVIAM!,
servindo-a com todos os meus sacrifícios,
que são poucos para os que precisavam de ser,
mas que serão mais e mais!,
com as minhas renúncias e jejum,
oferecendo tudo por Ti,
pelo Mal que te fiz,
pelo Mal que fiz ao Teu Sagrado Coração!
Meu eterno Amor,
com as minhas orações, fortificadas, contínuas,
repetindo apenas horas sem fim, o louvor à Trindade Santa que Sofre,
pois é comunhão de Amor e por isso da Dor,
que os Homens causam a Deus!
Que eu causo a Deus!
Servindo-te meu Jesus, como me chamares,
abrindo os braços em sacerdócio,
mas em sacerdócio na Cruz,
pois ser Alter Christus,
implica aceitar a Dor da Cruz de Cristo
Senhor eu quero tomar essa dor,
ser Teu, Anunciar-te, levar-te a Todos,
mas com a Alma crucificada,
pois só a Alma que passa pela dor da Cruz
pode amar-te na tua Dádiva,
e não tendo eu passado o suficente, aumenta a Carga da minha Cruz, Senhor,
Deixa-me completar diariamente a Tua Redenção!
Faz-me participar todos os dias,
da comunhão dos Santos, para que as minhas dores
ajudem a redimir os homens do pecado,
ajudem as almas que sofrem no Purgatório,

para que elas sejam libertas,
para que toda a minha vida seja doação e serviço ao outro,
onde eu veja sempre na sua dor,
o teu sagrado coração a Sangrar!,
e por isso queira viver a aplacar a dor de todos os homens,
que sofrem de modo a que tu Sangres!
Eu amo-te Jesus,
amo o Teu Sagrado Coração,
Sei que é a hipocrisia de palavras dizê-lo,
sm beijar em cada acção uma ferida tua,
sem me dar por Amor a Ti,
sem por Ti, me dar a Todos,
mas do Teu Sagrado Coração eu só quero retirar as feridas,
impedir que sangrem pelos meus pecados,
o que só posso conseguir fazendo o bem todos os segundos do resto da minha vida,
fazendo-o por ver em todos a Tua face sofredora na Cruz,
e ao aliviar todos os que conseguir,
e ao rezar todo o tempo,
me possa doar de tal modo, que te sare algumas feridas Senhor!
Jesus, Amo-te, mas encosta-me a esse fogo do teu coração,
para que o Espírito Santo me ilumine,
e eu viva no Amor que Ele é,
e praticando esse Amor,
incendei-me de tal forma Jesus,
que eu só possa propagar Amor,
porque o Fogo do Amor despoja o maligno,
e as gotas do Sangue do teu Sagrado Coração,
uma única dessas gotas, cura mil almas, porque é Sangue de Amor Oblativo!
Amor redentor, de que o maligno foge eternamente!
Jesus, enche-me de Amor oblativo!
Toma-me,
Usa-me,
Serve-te de mim,
Não quero viver sem ser para cumprir o destino da vida,
Aquele para o qual a Vida foi criada,
e para o qual me foi dada uma alma:

ADORAR-TE!

E nessa adoração rezar em permanência,
espalhar a tua palavra em permanência,
e amar os outros em permanência, com gestos e obras!
E nessa adoração amar a dor, bendizer a dor,
toda a dor que possa oferecer,
para na comunhão dos Santos participar da minha redenção e da de todos,
sobretudo os que de mim não gostem,
pois por esses devo rezar ainda mais
Santa Maria, Minha Mãe Amada, Leva-me pelo caminho,
segurando a minha mão com esse Teu Amor de Mãe de Deus,
que olhando o coração Sagrado de Teu Filho,
eu tenho a Certeza que quero percorrer,
para me redimir, e para redimir todos os que puder,
diminuindo a Sua dor,
que é Tua,
queridíssima e puríssima Virgem Imaculada!
Amo-te Mãe! Amo e Adoro o Senhor Jesus! Que tudo em mim seja Para GLória Dele!

Amén

IN: facebook/Carlos Santos

maria disse...

não me leves a mal:

Foste muito atinado na tua resposta. Mas essa senhora demonstra que padece de um grave mal: passa tempo demasiado na paróquia! E isso não é ser bom cristão.

Eu sei que um padre não gosta de ouvir isto: tem muito para fazer e precisa de braços e pernas e cabeças que acrescentem os seus próprios, para fazer inúmeras coisas sempre para as mesmas pessoas...que de tão rotinadas nessas tarefas arranjam picuinhas para sentirem que estão vivas. E são boas cristãs, pois claro! Porque se dedicam muito à Igreja e seus afazeres.

E depois é muito bom (para acalentar o ego)o reconhecimento dos outros pelas actividades desenvolvidas.

É por generosidade que se faz? Talvez sim, talvez não. É bom meditar nisso.

Abraço

laureana silva disse...

Mais uma vez sensato, caridoso e inteligente. Que o Senhor o abençõe, e o fortaleça, na sua missão e ministério.
Bem haja por ser quem é.
Maria

Anónimo disse...

Este tema reporta para situações que não são exclusivas só das paróquias. Acontecem também noutros ambientes. Estou-me a lembrar das relações entre vizinhos, no trabalho, na colectividade, também nas famílias, etc.
Infelizmente ainda há por aí muita cultura de correio de “dizeres” que descambam em falsos boatos e falatório, provocado com muita perfídia, maldade, com intenções imorais. Mas se o receptor duma mensagem (dizeres) a não a retransmitir a terceiros, as ondas de propagação dessa mensagem perde força. Esta deve (ou devia) ser uma boa prática entre os católicos …
Para mim, este cenário, enquadro-o mais num plano de ética social, na qual a mensagem cristã é clara e defensora (atente-se aos Mandamentos).

Anónimo disse...

Meu caro Padre,

É sempre um gosto ler-te!

E, neste caso, deste mais um contributo valioso para a minha identidade cristã. É que com o "leva e tráz" não se chega a lado nenhum...

E todos devíamos ter um pouco essa atitude de confessor.... De ouvir, contextualizar e calar...

Sede de Deus disse...

Mais uma vez uma grande lição que nos é dada. Na verdade todos os padres deviam de ser assim, mas, infelizmente, existem alguns (quero querer que em pouca minoria)que não cumprem com a verdadeira missão que têm. Mas uma coisa é certa com este texto temos contacto com um assunto que nos podia passar ao lado.

Muito obrigado Senhor Padre, espero que nos continue a fazer crescer com os seus escritos.

Saudações em Cristo.

JS disse...

A história admite fins alternativos.

Poderia dizer: "Sabe, tal como eu nunca lhe pedirei que me conte o que lhe andam a dizer de mim, sobretudo se foi dito em privado, também não me parece justo que me peça para lhe dizer o que outras pessoas me possam contar".

Ou então: "Sabe, não se preocupe com o que possam dizer-me de si. O que lhe pode interessar é o que eu tenho a dizer de si. E isso, digo-o aqui, como o digo diante de outras pessoas:..."

Ou ainda: "Sabe, está na altura de deixar de se afligir tanto com o que dizem de si. Muito do sofrimento por que a senhora passa desapareceria num abrir e fechar de olhos. Imagine o que seria da minha vida se eu levasse a sério o que todos os dias se diz de mim..."

JS disse...

E uma última hipótese, caso a senhora fosse daquelas poucas pelas quais se mete a mão no fogo: "Sabe, ninguém me fez queixinhas de si, porque eu simplesmente não aceito que me falem mal de si".

Confessionário disse...

OLá, JS, gostei da ideia de propor alternativas. Gostei mesmo.

Acho que, a ter de escolher outra que não a que escrevi, escolheria a 3ª.

A 4ª tb é forte; mas nao podemos esquecer que o dever de um padre é ouvir as pessoas nos seus desabafos e, às vezes, eles podem estar relacionados com outras pessoas. Não a escolheria.

A 2ª mudaria o que "eu tenho a dizer de si" por "o que Deus tem a dizer de si".

A 1ª é um pouco estranha: não se pergunta o que dizem de nós a não ser a amigos muito próximos. E de facto nem é preciso perguntar, porque vai-se sabendo.

Anónimo disse...

Olá Confessionário: Sr.Padre passo habitualmente por aqui e gosto muito do blog,acho sempre algum motivo de interesse nos textos que publica, mas este apanhou-me em cheio,qual murro no estômago. Faço-lhe só uma pequena pergunta,que é livre para não responder se assim o entender. E quando é um Padre a julgar alguém só pelas aparências ou pior ainda,só pelo que ouve dizer? Aconteceu com alguém que me é muito próximo,precisamente há dois dias atrás. Um padre que eu admirava teceu comentários só baseado no que os outros dizem.Eu sei que me vai dizer que um Padre está sujeito a errar como qualquer outro.Não ponho isso em causa.Mas sempre lhe digo que há erros que vindos de quem veem nos fazem desacreditar muito no ser humano. E provocam aquela dor que fica moendo dentro do peito e nos fazem morrer mais um pouco em cada dia. Beijos e obrigada pela atençâo dispensada.

Confessionário disse...

Olá, anónimo último

Eu não sou ninguém para julgar, e o que fiz neste texto em concreto nao foi julgar. Foi dar uma lição que acho fundamental. Não se contar o que se ouve.

No entanto, como dizes, isto não serve apenas para leigos. serve para todos, número no qual me incluo. E por ter reagido daquela forma, não significa que, por vezes, tb eu não caia nesse erro.

O que é preciso é irmos crescendo. O que esse teu padre amigo precisa é de ir crescendo e, quam sabe, com a tua ajuda. Porque não falas com ele?

abraço amigo

JS disse...

Penso que o texto reflecte uma das maiores dificuldades de um líder (como um padre).

E que é esse precário equilíbrio entre a necessidade de ouvir o que se diz, para estar bem informado e compreender as pessoas que lidera, e o perigo de "emprenhar pelos ouvidos", deixando-se influenciar pelo que vai ouvindo, muitas vezes não fundamentado na realidade ou então fruto de intrigas que se geram em qualquer grupo.

Torna-se necessário um grande discernimento, para saber ouvir e calar, para esperar por um "ver com os próprios olhos", para confrontar diferentes opiniões ou versões, para reconhecer o que se esconde por detrás do conto, para ir identificando os/as especialistas no boato e os famosos "jornais com pernas". E para não se deixar queimar no meio disto tudo.

Por vezes, o líder pode ter necessidade (ou mesmo a tentação)de entrar no jogo, pondo ele próprio alguns rumores a circular. É o que se chama de contra-informação. Mas há que perceber que se trata de um jogo perigoso, que não é nada lindo de se ver e tem factura pesada.

JS disse...

Por outro lado, é preciso educar as pessoas no sentido delas próprias saberem discernir os seus pensamentos.

Ao contrário do que se possa pensar, a franqueza e a sinceridade nem sempre são uma virtude. E quando alguém as apregoa, há que ficar de pé atrás. Porque muito daquilo que nos passa pela cabeça e pelo coração é asneira. É algo mal pensado, influenciado por más emoções, injusto e não correspondendo à verdade. Pelo que a atitude certa a tomar seria a de tentar afastar essas ideias da cabeça, evitando ficar a ruminar nelas e construindo com elas verdadeiros castelos assombrados. Ou, se tal não for possível, pelo menos fechar a boca bem fechada: assim, "não entra mosca nem sai asneira".

Há gente que acha que isso lhe faz mal ao organismo, e que o melhor é desabafar tudo cá para fora. Mas isso revela apenas falta de auto-domínio.
Claro que pode haver pessoas muito perturbadas com o que lhes vai na alma. Mas a essas cabe-lhes encontrar a pessoa certa com quem desabafar. Alguém que seja capaz de as ouvir com respeito e em confidência; mas também que possa ajudar a fazer sentido do turbilhão que as habita e a recuperar a paz. Essa pessoa chama-se: um bom amigo.

Mas bons amigos são raros. Todos os querem ter; mas poucos se dão ao trabalho de os fazer e de os manter. E assim, infelizmente, há (demasiadas)pessoas que preferem "despejar o saco" no meio da rua. Depois, é ver o pinhal a arder...

JS disse...

Outra coisa em que as pessoas precisam de ser formadas é no saber conviver com a crítica e as opiniões desfavoráveis.

É certo que todos temos necessidade de reconhecimento. É algo instintivo. E por isso nos doi a desaprovação. Mas há que ter um mínimo de amor-próprio. Senão, qualquer reparo que seja feito, por ínfimo que seja, já é motivo de lágrimas e leva as pessoas a desistir do que andavam a fazer.

Há pessoas que, por conta dos cargos que ocupam, estão especialmente expostas a críticas e a ataques pessoais. Aí, há que se ter alguma fortaleza de ânimo e um sentido esclarecido de missão. E o conforto de saber que se conta com o apoio e confiança dos superiores: se a pessoa se sente sozinha e isolada, é muito mais difícil perseverar.

Cabe também saber reconhecer a justeza de muitas críticas que nos são feitas. Faz falta modéstia e humildade. E a coragem de mudar o que estiver errado ou de tentar fazer melhor.

maria disse...

desconte-se o meu abuso (em caridade cristã) ;) mas sugiro aos diversos intervenientes neste diálogo (e não só) a leitura desta entrevista (um pequeno extracto, que nem é o mais importante): "Os leigos são bons só quando estão alinhados, quando cantam no coro, e é a hierarquia que dá a partitura e que rege."

toda a entrevista aqui:http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_entrevistas&Itemid=29&task=entrevista&id=38952

Confessionário disse...

Maria, já li as duas primeiras partes (dps arranjo mais tempo) e gostei muito. Aconselho!

Anónimo disse...

Obrigado por Blog intiresny