terça-feira, novembro 10, 2009

As perguntas que hoje faço

As luzes da noite avistavam-se ao longe. O ambiente fazia pressentir o ruído das pessoas em casa. Estava na varanda, debruçado e preso ao gradeado em forma de cruz. Estava só, e na presença do vento que se ouvia ou do frio que me entrava nos ossos. Ora um ora outro a fazer-me pensar. Lembrei-me de perguntar Porque entrei no Seminário? Mas as respostas não regressavam. Nem sentidas, nem pressentidas. Procurava no passado uma que outra frase, uma que outra motivação. Não recordei senão que um dia senti que devia entrar no Seminário e que havia de mudar o mundo.
O vento e o frio queriam que os meus pensamentos encontrassem então umas desculpas, uns argumentos, novas perguntas. Que se mudassem as perguntas. Para facilitar-me a vida, para ma enganar. Porque vão hoje os miúdos para o Seminário? Mas os pensamentos teimaram nas respostas sem resposta, sem algo que me preenchesse a noite e as luzes da noite, e me deixasse sossegado.
Exigia apenas um pensamento que toldasse a minha vontade. Porém, as perguntas que hoje faço com respostas rápidas, prontas, leves, certeiras e acertadas, são quase sempre as mesmas. O que tenho de fazer amanhã? Falta-me isto, tratar daquilo, preparar o não sei o quê.
E fico preso entre a vontade de ser mais padre e a força dos meus afazeres. Entre o querer saber o que Deus quer de mim e o viver para o que os outros exigem de mim. Queria gritar Já não sou eu que vivo É Cristo que vive em mim, e dou conta que sou apenas eu que existo, a correr atrás de um Cristo que não cabe nas mãos que estão ocupadas pelo meu que fazer. Tento agarrá-lo. Mas as mãos cheias não fecham, e Ele escapa.
Senhor, quando deixarei de ser teu funcionário, para ser apenas Tu em mim e eu em Ti?

34 comentários:

Anónimo disse...

sr . padre nao resisti a comentar eu sei que e dificil nos tempos que correm ser-se padre , voces cada vez sao mais precisos para esta sociedade que nao tem valores nem acredita em nada , mas sei que tambem tem os seus momentos de duvida , mas nunca baixem os bracos e temtem transmitir com as vossas forcas a palavra daquele que vos chamou a missao , e nunca desmorecam , porque se nao o mundo vai por agua a baixo e ja nao ha quem salve esta humanidade. bem ajam todos os sacerdotes neste ano a vos dedicado.

Anónimo disse...

Olá!

Tu vais ser sempre um funcionário! Enquanto fores padre vais ser sempre um funcionário das pessoas. Agora cabe-te a ti viveres em função Dele.Chorares quando for necessário, desesperares, gritares. Mas depois tens de ter a coraguem para dizeres: ò Tu ai, não te esqueças de mim.Da-me força para continuar a ser eu em Ti, e não somente Tu em mim.

Fica bem.

Alexandra

Idalina disse...

Disse D. António Marto na carta que escreveu aos padres da diocese (Leiria-Fátima) no início do Ano Sacerdotal: "...o Ano Sacerdotal pretende levar as comunidades cristãs a tomar consciência do ministério dos padres como um dom de Deus essencial para a vida e a missão da Igreja, portanto, das próprias comunidades. É que hoje vivemos numa cultura onde se mede tudo pelo funcional. E entre o povo cristão também se infiltrou esta visão deformada e redutora acerca do padre como funcionário duma instituição religiosa, um prestador de serviços de que se tem necessidade algumas horas na vida. Assim perde-se a dimensão sobrenatural do sacerdócio de Cristo e dos padres para o povo de Deus e a humanidade.
Hoje como ontem, os padres são um dom inestimável e necessário para a beleza e a saúde espirituais da Igreja e do mundo.
Onde o bem estar é o limite do horizonte, eles anunciam o Invisível que é Deus-Amor e a esperança que ele suscita e oferece.
Onde o que é rentável e mensurável domina e torna prisioneira a vida, eles querem ser “profetas” do Evangelho do amor e da liberdade autênticos.
Onde as divisões ferem e destroem as relações, eles oferecem o dom do perdão divino e abrem caminhos de reconciliação, de comunhão e de paz.
No meio das mudanças profundas da nossa sociedade, os padres querem ser pastores bons e compassivos, incansáveis testemunhas da ternura e da misericórdia de Deus que salva o mundo. “Um bom pastor, um pastor segundo o coração de Deus, é o maior tesouro que Deus pode dar a uma paróquia e um dos mais preciosos dons da misericórdia divina” (Cura d’Ars)..."

E a Carta Pastoral que escreveu "Ir ao Coração da Igreja" é um apelo à comunidade cristã a uma renovada consciência da dimensão espiritual da Igreja, do nosso ser Igreja e da corresponsabilidade pastoral.
Se os cristãos tomarem consciência da necessidade desta corresponsabilidade, aí sim, os padres poderão ser "mais padres" e os muitos afazeres, distribuídos por várias pessoas, tornam-se mais fáceis e menos preocupantes.

Anónimo disse...

Era senso comum dizer-se que o homem era moldado pelo meio geográfico onde nascia e vivia, pelos valores da família e pelo seu tempo.

Se repararemos, hoje os meios de comunicação audio visual são determinantes na formação do homem de hoje, face aos pilares de outrora (geografia e família).

Se há uns tempos atrás era mais fácil optar-se pela vida religiosa, hoje, temos que ser realistas, é muito mais difícil, face aos estímulos externos que antes não havia.

É caso para - como muito bem questiona o título deste post - muitas pessoas, não só os religiosos, se questionarem sobre a validade da propria religião católica e de se sentirem parte da Igreja.

Em todas as liturgias é celebrada matriz única da mensagem de Cristo.

Será que pelo menos todos os participantes têm essa consciência, ou vão à missa como quem vai a ver um espectáculo ?!!

como tentativa de resposta às "As perguntas que hoje faço", muito pertinentes pela franqueza, ocorre-me uma das primeiras frases de SS o actual Papa Bento XVI achou por bem dizer: A fé é a melhor resposta dos cristãos aos tempos de hoje".

A paz de Cristo esteja com todos !

Mª José Tavares disse...

Padre Confessionário, adivinha-se uma crise de identidade e de vocação.
Todos nós temos momentos de grande crise e quantas vezes nos apetece jogar tudo para o alto.
Visito o seu blog, há relativamente pouco tempo e ainda não deu bem, para eu poder avaliar a sua personalidade. Aliás, não será através desta via que conseguirei conhecê-lo com alguma segurança. No entanto, atrevo-me a dizer que tem uma visão de fé e de Deus mais abrangente e sem preconceitos instituídos, que a maioria dos padres. Percebe-se que é um Padre sem papas na lingua e consequentemente, diz o que pensa sem medo de ser criticado ou chamado à atenção, o que de certa forma o torna polémico. Esta sua atitude, é a meu ver louvável. Precisamos de padres assim: corajosos e frontais.
Sou católica, sem ser fanática e tenho uma relação com Deus aberta. Não rezo as orações que os homens fabricaram. Apenas falo com ELE. Digo-lhe das minhas angústias e das alegrias também. Sabe, depois destas conversas sinto-me em paz.
Quanto ao Padre (embora eu não seja a pessoa indicada, porque nada sei disto), não queira agarrar Deus. Abra sòmente o coração, não o feche e verá que Deus entra de mansinho e nele ficará e então já poderá gritar: NÃO SOU EU QUE VIVO, É CRISTO QUE VIVE EM MIM!
Que Deus o ilumine e ajude.
Seja feliz.

laureana silva disse...

Padre, o Senhor o chamou para uma grande e preciosa Missão.O senhor tem muitos carismas, o Espírito Santo encheu-o de Dons. Por aquilo que já li no seu blog o senhor, não poderia ser outra coisa senão padre. È disponível tem um coração grande, ama os seus paroquianos fisicos, e os seus penitentes virtuais, está sempre lá quando é preciso. Acredito que o senhor, bem como outros sacerdotes que têm muito trabalho e pouco apoio dos paroquianos, se sintam por vezes sós, mesmo com Jesus ali bem pertinho a tocar o seu coração, nos momentos díficies e nos bons. Nunca desista, Jesus quer-lo. E depois tem certamente, momentos muito gratificantes. Que o Senhor o ilumine e que a paz transborde do seu coração.
Beijinhos
Maria

noctivaga disse...

Eu acredito que deve ser difícil ser padre...até porque se fosse fácil não se ouvia falar em crise de vocações...

Moçambicano disse...

"Não recordei senão que um dia senti que devia entrar no Seminário e que havia de mudar o mundo."

Caro Amigo P.e "Confessionário", quer melhor motivação?

Enquanto tiver "forças" para manter este Blogue, e outras coisas interessantes que decerto fará no dia-a-dia, não será decerto um "padre funcionário".

Um abraço solidário!

Moçambicano

joaquim disse...

Meu caro amigo Padre “no confessionário”
Perante este teu texto, coloco-me a reflectir para mim próprio e o que escrever será com certeza como se estivesse a falar alto com os “meu botões”.
Porque nos perguntamos tantas vezes porque abraçamos determinada vocação e neste caso o sacerdócio?
A resposta parece-me óbvia e resumida num servir a Deus, servindo os outros.
Ah mas isso é um lugar comum, dirão muitos!
Mas para mim é um lugar comum que diz tudo e em que tudo está envolvido.
Vivo uma vocação em discernimento ao Diaconado Permanente, (que não sei se será concretizada, pois não depende só de mim), e muitas vezes me pergunto porquê, porque hei-de querer abraçar essa vocação?
E penso e repenso e coloco tudo no prato da balança, no cadinho da reflexão, meço o orgulho, a vaidade, o auto-protagonismo, mas também a vontade de servir, a vontade de falar deste Deus de imenso amor que mudou a minha vida, a vontade de testemunhar a presença do Deus vivo no meio de nós, e depois de tudo isto e muito mais chego sempre à mesma pergunta que me vem ao coração:
Não te chega Eu querer precisar de ti?
E serei eu capaz, farei eu a vontade de Deus, ajudarei eu a construir um mundo novo?
E que causas devo abraçar, que serviços devo fazer e que tempo dedicar a cada um?
E a resposta lá vem:
Não te conheço Eu melhor do que tu próprio? Não saberei Eu das tuas capacidades e das tuas fraquezas? Confia que quando estiveres fora do caminho que te peço Eu to farei sentir.
E então percebo essa necessidade da oração, essa necessidade de tudo fazer em oração, em entrega, porque se assim o fizer estou com certeza a testemunhar Deus na minha vida. (Tomara eu conseguir fazê-lo sempre, mas Ele não se incomoda com isso, pois conhece-me e sabe das minhas lutas.)
E curiosamente sinto que quanto mais rezar, meditar e adorar, mais tempo tenho para tudo o resto!
Não é Ele o Senhor do tempo?
«Apascenta o meu rebanho», diz-nos Ele claramente.
Ora para eu apascentar o rebanho preciso de conhecer o rebanho, preciso de conhecer as ovelhas, de saber dos seus medos, das suas dificuldades, das suas alegrias, das suas tristezas, enfim tudo o que lhes diz respeito.
Para isso tenho de estar disponível para elas, pelo que percebo que essa é a missão mais importante, apascentar o rebanho, guiar o rebanho, proteger o rebanho.
O resto vem por acréscimo, dirá Ele!
Fico assim a reflectir, sabendo que as perguntas não acabarão, que as dúvidas não cessarão, mas que se estiver com Ele em oração, em comunhão, então tudo será como Ele quiser e Ele me dará o que for preciso para fazer a Sua vontade em mim.

De nada te servirá, meu amigo, esta escrita sôfrega e atabalhoada, mas olha que a mim já serviu agora neste momento e para a frente!

Abraço amigo em Cristo

Mais uma vez desculpa a extensão do "comentário".

Vítor Mácula disse...

diria que

a forma do sentir-se e procurá-Lo oriente e configure os passos, como os degraus de uma escada envolta em névoa e luz.

não há funcionários em Deus; a pessoa não é um meio mas um fim: a sua humanização crescente até à plenitude de imagem de Deus.

o administrativo ou se vivifica conforme os passos de cada qual, ou arrisca-se a ser uma escada de Babel; e Babel já é porta ;)

abraço, padre

Luis Carlos disse...

Olá Confessionário,

“Senhor, quando deixarei de ser teu funcionário, para ser apenas Tu em mim e eu em Ti?”

Esta frase prendeu a minha atenção, eu que há 25 anos atrás pensava em ir para padre, mas a vida levou-me a ser irmão em vez de padre (pai), pois os pais só servem quando o outro ainda é menor de idade ou menor em entendimento, e isto num determinado período da vida; agora irmão é tratar os outros seres humanos como iguais, é não tentar ser maior que os outros nem melhor, é olhá-los ao mesmo nível.

Jesus jamais poderia ser padre, e muito, os apóstolos e os discípulos, lhe pediram para ser um pai para eles, e Jesus sempre recusou, e reafirmava a sua irmandade com todos.

Deixa a função (funcionário) de padre, e sê, pura e simplesmente, irmão como Jesus o foi para com todos que com ele conviveram.

Até já,
Luís Carlos

António Valério,sj disse...

Faz tão bem ler estas partilhas. Por detrás do que se faz, esconde-se um seguimento que nem nós temos consciência. Por vezes basta aceitar o dom que nos ultrapassa, é porque é assim, porque Deus me quer assim. Existe uma fidelidade total já oferecida e cada dia continuada e isso é um porto seguro. Nunca deixar de olhar Deus, revela-nos quem somos. Abraço amigo

teresa disse...

olá meu padre amigo .
o amor que o levou para o seminário está ai , no seu coração .
a vontade de ser padre é que o levou para o seminário .
e para quê ?
tenho a certeza que você sabe essa resposta , e tenho a certeza que se a procurar bem fundo do seu coração ela vai vir ão de cima .
meu querido amigo , não lhe querendo dar concelhos,
[coitada de mim] mas na fé que lhe pode ajudar , acho que o meu amigo precisa de uma conversa franca com ELE . uma conversa verdadeira , sincera , realista , e paternal .
e tenho a certeza que o meu caro amigo não é um funcionário , isso é impossivel , pelos textos que o meu amigo aqui deixa você é um padre no verdadeiro sentido da palavra !
já viu quantas pessoas você ajudou e ajuda ?
isso não é de um funcionário , mas sim de um discipulo de deus .

beijinho e muita força e coragem .
procure no seu coração as respostas que anda á procura , tenho a certeza que deus vai permitir que as encontre .

Confessionário disse...

Uma pessoa amiga escreveu-me isto por mail. Como gostei, tomo a liberdade de fazer copi past... porque me fez bem ler o que escreveu. Só isso. E agora apetece-me partilhar.

"Deu-me a sensação que querias que a tua vocação fosse possível de uma forma mais "liberta", sem te sentires preso ao "ser" padre ou "ser" isto ou aquilo. Querias simplesmente ter e ser em Jesus e pronto! E se calhar poder ser mais útil na Palavra que Deus tem para nos dar. Acho que a tua dúvida ficou mesmo no porquê ter querido "ser" padre, que implicaria seguir um seminário, seguir as suas regras, etc. Talvez sintas que se calhar se não fosses sujeito a essas regras serias mais capaz de realmente mudar o mundo como querias!! Mas um "sem regras" organizado e estruturado, mas... De alguma forma estás "preso" a uma Igreja que amas mas que ao mesmo tempo te condiciona para ires mais além... "

Canela disse...

"Queria gritar Já não sou eu que vivo É Cristo que vive em mim..."

Porque quis ser Pe.? Ainda pergunta? Será que não vê, ou não quer vêr?

Anónimo disse...

Caríssimo Padre,

Passo pelo seu blog de vez em quando... desta vez não resisti. Queria apenas dizer-lhe que, todos, seja qual for a nossa vocação, passamos por momentos de cansaço em que nos sentimos presos e onde o coração reclama uma falsa liberdade que - bem o sabemos cá dentro - não o levaria a seguir a Ele mas a procurarmo-nos a nós mesmos.

Se este é um local de confidência, deixe-me fazer-lhe uma. Tenho 30 anos, sou casado e pais de três filhas (4, 2 e seis meses)sou professor universitário e preparo a minha tese de doutoramento. Para além disso exerço uma profissão liberal necessária para o sutento e educação dos meus... Por vezes chego a casa esgotado. Subo as escadas de mansinho...abro a porta: gritos - a do meio bateu na mais velha, a mais velha faz uma birra, a mais nova chora com fome, a minha mulher está com os nervos em franja, é preciso dar banhos, jantar, brincar no tapete da sala e deitar a criançada... lá para as 21h30 haverá sossego para ainda acabar uma tarefas...

Às vezes apetece-me fugir, dar dois berros, reclamar o meu descanso, o tempo para aquele livro, para aquela conversa, para poder investigar fora, etc... Mas aquele é o meu lugar, onde me entrego aos outros e por eles a Deus.

6h30 da manhã: toca do despetador. A noite foi péssima. A mais velha tem uma otite, a do meio vomitou e a mais nova tem os dentes a nascer... Levanto-me e arranjo-me. 7h00 entro numa Igreja para estar 30m a só com Deus e assitir à Santa Missa(sem a missa não viveria!)... Muitos vezes estou ensonado - que importa, estou por amor! - e só Lhe consigo dizer: Jesus, meu Jesus, estou cansado... quero oferecer-Te todo o meu dia, cada palpitação, para Ti, por amor... e quando à noite regresso a casa e subo as escdas de mansinho vou muito feliz, totalmente feliz: sei que me estou a dar em holocausto, até à última gota. E enquanto afino a voz para uma canção que anime a minha mulher vou dizendo baixinho: Jesus, que eu faça boa cara...

Um abraço

j disse...

Às vezes também desejo deixar esta parte funcional e ficar a saborear a relação amorosa com o Senhor... mas parece que o nosso caminho é assim, sem ter onde (nem como) reclinar a cabeça...
Obrigada pelo seu escrever, que ajuda a sentir a Vida!

Luisinha disse...

Anónimo das 16:55 adorei a tua confissão!! E até deu para rir, no bom sentido, claro!
E vais ver que em tudo há recompensas. O amor é a maior de todas. Em tudo o que vives e fazes viver em casa e fora dela, é sempre expresso pelo teu amor, porque dás de ti, e essa gratuitidade é que tudo transforma! E em especial o pedires a Jesus que faças boa cara na canção à tua esposa! Poucos, muito poucos homens há assim... Por isso admiro-te!

Confessionário, sabes melhor que ninguém que nem preciso comentar este teu post... Rezo por ti, sei que ao teu lado Deus tem-te num enorme abraço e sorri por saber do enorme amor que tens no coração... A vida é tão bonita não é? ...

Paz e Bem
Luisinha

Anónimo disse...

Foi precisamente nos momentos em que só vês um par de pegadas que peguei em Ti ao colo!
Ele está sempre consigo, sempre connosco.
Temos de lhe saber louvar e agradecer.
Um abraço em Cristo

Anónimo disse...

Como sempre gosto de dar uma olhadela pelo confessionario
e para alem do post ser de uma grande humildade e refleçao séria,
fiquei perplexa com a confiçao do anonimo das 16:55.

sim quantas vezes nos queixamos sem razao, porque se olhar-mos ao nosso lado a luta ainda e maior,
e nao e facil ao fim de um dia de trabalho e exigente, conseguir sorrir para a a familia e
e ter ainda tempo para DEUS.

Que grande exemplo de vida
nao ha palavras.

quanto a si amigo confessionario
nao desanime na sua caminhada
DEUS sabe porque o escolheu
por alguma razao,
muitos sao chamados e poucos
sao escolhidos,
e pelo que conheço tem muito para
LHE agradecer.

obrigada por mais este post
que nos ajuda a refletir e a ver a
nossa vida de forma diferente.

um abraço amigo.

Alma peregrina disse...

Caro amigo Confessionário:

Reflectir sobre tudo isto também me vai fazer muito bem, porque também eu estou em processo de discernimento. Mesmo de um ponto de vista de uma vocação leiga, vou ter de fazer uma escolha muito em breve que poderá condicionar toda a minha vida futura.

1) "Lembrei-me de perguntar Porque entrei no Seminário? Mas as respostas não regressavam. Nem sentidas, nem pressentidas."


Você entrou no Seminário porque foi "chamado" por Deus. E Deus não lhe explicou porquê, nem nunca lho vai explicar nesta vida. Por isso, você não tem as respostas. Nem as pode ter. Mas pode e deve procurar a resposta quanto à melhor forma de viver essa vocação...

1º Livro de Samuel, capítulo 3


2) "Porque vão hoje os miúdos para o Seminário?"


Espero que pelos mesmos motivos que você foi...



3) "O que tenho de fazer amanhã? Falta-me isto, tratar daquilo, preparar o não sei o quê."


Olhe para os lírios dos campos ou para as aves do Céu...

Evangelho segundo S. Mateus, capítulo 6



4) "Queria gritar Já não sou eu que vivo É Cristo que vive em mim, e dou conta que sou apenas eu que existo, a correr atrás de um Cristo que não cabe nas mãos que estão ocupadas pelo meu que fazer."

Como é que você sabe que Cristo não vive em si e você n'Ele? Acho que é por causa desta outra frase:



5) "Não recordei senão que um dia senti que devia entrar no Seminário e que havia de mudar o mundo."


Vê? Aqui é que está o seu problema! Não se iluda, meu amigo... esse seu sentimento ocorreria quer você fosse padre, casado, médico, político, artista, etc...

O que você está a passar é a frustração típica da maior-idade, na qual o indivíduo adulto confronta a realidade com as perspectivas utópicas da sua juventude.

Não há nenhum jovem que não tenha pensado que ia mudar o Mundo.

Mas quantas vezes é que o Mundo mudou?

Como é que você sabe que Jesus não está a viver em si? Só porque está muito atarefado? Só porque não sente a paixão da sua juventude? Só porque a sua tarefa não é tão "grandiosa" como você estava à espera?

Mas quando você faz uma homilia num casamento, não diz aos nubentes que o Amor não está naquela paixão muy caliente que rapidamente se esfuma... que o Amor está, isso sim, na partilha da Cruz num quotidiano rotineiro?

Você pergunta quando é que vai deixar de ser funcionário de Jesus. Pois bem. Isso vai acontecer quando você deixar de se ver a si próprio como um funcionário. E aceita-Lo na vocação que Ele lhe deu. Aí Ele será tudo em si e você n'Ele.



Espero que não interprete mal estas palavras. São mais dirigidas a mim do que a si, na verdade.
:)


Pax Christi

Anónimo disse...

Sr.Padre
Quero dar-lhe uma palavra e de coragem e desejar-lhe um bom ano sacerdotal e que seja sempre a pessoa e o padre que é.
Não seja como alguns seus colegas que criam intrigas nas suas paróquias, que levam as pessoas a afastarem-se da Igreja, pois do altar dizem uma coisa e fazem outra, será que foi isso que Deus nos ensinou? será que isso é que é ser Padre? Será que isso é Igreja?
Apergoar a Paz e criar a Guerra....
Tanta Hipócrisia....
É triste...

Confessionário disse...

Uma palavra ao "Alma", ao qual quero daqui enviar um sinal de força. Gostei muito do raciocínio que me obrigaste a fazer. Obrigado.

Mas tb te queria dizer que ainda não perdi a paixão da minha juventude. O problema é mesmo esse: compaginar a paixao da minha juventude, o querer ainda fazer mais coisas, o querer ainda dar mais, com aquilo que consigo, para o qual ainda tenho forças...

Moçambicano disse...

Caro Amigo P.e "Confessionário":

Se ainda não perdeu a paixão da sua juventude, "está tudo bem"!

Aliás, penso que a criação e a manutenção deste Blogue é uma das "provas" de que ainda não perdeu essa paixão.

Quanto àquilo que se quereria fazer, e ao que se consegue fazer... como eu o percebo (no meu caso, também é o "meio século" que já se aproxima...).

Não sei, é apenas uma sugestão de leigo ("sem querer ensinar a missa ao Padre"... Eheheheh):
- Canalize ainda mais (decerto já canaliza) alguma da dua paixão para levar alguns dos seus paroquianos a "apaixonarem-se por Cristo". E delegue tarefas, se isso for possível.

Toda a minha solidariedade, num grande abraço!

Como diria o seu Colega P.e "Migalhas":
- "Unidos na Esperança, estamos em Comunhão!"

Moçambicano

sónia disse...

O que tu hoje fazes, e bem, é o caminho que te levará a essa quietude...

Pensamento Positivo disse...

“Senhor, quando deixarei de ser teu funcionário, para ser apenas Tu em mim e eu em Ti?”

Boa tarde Exmº Padre!...
Uma vez que o texto é demasiado grande vou ter que o partir em pelo menos 3...
Raramente passo por estas páginas, mas sempre que venho gosto imenso... Hoje venho "penitenciar" pela primeira vez e logo, talvez sobre a mais extraordinária, extravagante, talvez chocante e por certo intrigante, mas ao mesmo tempo bela, simples e concreta afirmação que já alguma vez ouvi a um Padre!... Quando estudei Filosofia na UNL, faz já uns bons aninhos tive um Professor que frequentemente dizia "que tristeza estarmos sujeitos a esta coisa da logística..." E de facto é triste estarmos sempre limitados aos afazeres do quotidiano. Temos de aprender a lidar com isso e a descobrir sempre e em cada dia esta frase que em boa hora este meu Mestre nos quis transmitir!... Para, por via da melhor organização do tempo, encontrarmos aquele momento próprio para estarmos sós com Ele... E verá que é possível!... Tem de ser possível!... Não há alternativa!... Pouco mais tenho a dizer sobre a parte pessoal da questão. Quem sou eu que nem o conheço!... Dou-lhe apenas os parabéns pela coragem de colocar isto neste espaço... Muitos haverá que não gostaram... Como alguém dizia: “Não precisamos de padres santos... Precisamos de verdadeiros Santos Padres!...”, isto é, não precisamos de Padres sempre prontos a apregoar uma moral da qual, se sabem incapazes de cumprir se não forem mesmo de todo incumpridores, mas sim de Padres que desta forma tão simples são capazes de se assumir como verdadeiros Homens de Deus com as suas forças, mas também as suas fraquezas e as suas limitações!... Pode acreditar que esses são os melhores!... Ainda que façam muito pouco, fazem o melhor que têm, podem e sabem!... E são infelizmente uma pequeníssima minoria!... A única coisa que os compensa é que são geralmente estes poucos que conseguem ter muita gente de todas as idades nas suas Igrejas!... E conseguem cativar as crianças e a juventude!...

Pensamento Positivo disse...

Mas, desculpe-me ser tão longo, o que é facto é que esta expressão tem também um sentido que nos convida a olhar para a Universalidade da Santa Igreja de que ainda ninguém aqui falou... Afinal, será que a própria Igreja sabe o que os seus Ministros Sagrados e mesmo os seus Fiéis Leigos querem ou necessitam dela?... Uma pergunta pertinente neste mundo que não sabe Amar, sempre em profundas mudanças constantes!... Sim, é que felizmente já não estamos na Idade Média!... Não vou falar do papel da mulher na sociedade ou das chamadas “questões fracturantes” que por aí abundam cuja complexidade fruto da feliz evolução humana da qual temos que dar graças a Deus pois sem ela viveríamos todos nas grutas à luz das fogueiras, mas que acarreta também os seus pontos fracos, exigiria mais que um blogue inteiro... Vou apenas falar daquelas questões mais simples do dia a dia das nossas comunidades... No Sábado passado fui à Mssa numa Igreja que escolhi por ser perto do lugar onde tive alguns afazeres... Como gosto de chegar cedo, cheguei 20 minutos antes. Á porta da Igreja estavam 2 senhoras já de idade avançada assim com um ar de quem espera que a morte as leve... Perguntei se não havia Missa, pois na internet estava lá que havia, mas entretanto podiam ter mudado o horário... Disse-me que sim, mas que como não havia sacristão, as catequistas é que abriam a porta e ainda não o tinham feito... Sorte nossa vieram nesse instante... Estava uma fria tarde de Inverno... Depois chegaram uns não mais de 20 miúdos, adolescentes e jovens... Era a missa da Catequese... De resto a Igreja ia enchendo de “velhotes” quase todos assim com aquele tal ar de quem espera que a morte os leve... As Catequistas ensaiaram os cânticos... Adequados a uma Missa com crianças, mas sem a ajuda de instrumentais valeu o querer, a sabedoria e a voz da “maestrina”... Chegada a hora entrou o velho Prior... Sem grande jeito, talvez mesmo já sem grande força para lidar com as crianças tentou fazer o que pôde... E em 45 minutos “Ide em Paz e que o Senhor vos acompanhe!”... Mas a verdade é que não basta o querer... As crianças e os jovens de hoje são muito exigentes!... É preciso disponibilidade... E então, será que quem de direito quer apenas esta Igreja de “funcionários” ou não seria preferível uma Igreja de “ Tu em mim e eu em Ti”?...
Concederam a Missa Tridentina aos Irmãos Integristas afim de que voltem?... Concederam uma Prelatura Pessoal aos Irmãos Anglicanos descontentes com o Anglicanismo para que voltem?... Não o vou discutir!... Mas, pergunto-me: E nós que sempre fomos e somos o “Povo de Deus” fiel à sua palavra, ficamos esquecidos?... Bem conheço a parábola do Filho Pródigo... Mas mesmo nela, o Pai nunca esquece o filho que sempre esteve com ele... Simplesmente expressa o seu Amor igual para com todos na partilha fraterna!... Deus Ama sem excepções!... Deus perdoa sempre e esquece sempre!... É Misericordioso e bom para com todos!... A cena que vi no Sábado não é diferente da que se vê em 95% das paróquias de Lisboa e se calhar de Portugal ou do mundo inteiro!... Estará a Igreja à altura de mudar este estado de coisas?... Passar de uma Igreja ritualista, tradicional e formal de funcionários para uma Igreja Evangelizadora e Santificadora em que todos proclamem a uma só voz que estarás Tu em mim e eu em Ti Senhor?!...

Pensamento Positivo disse...

Exmº Padre... Permita-me uma última palavra... Posso usar o seu texto integral no meu blogue, “Pensamento Positivo”, obviamente citando a fonte para ajudar à reflexão dos meus leitores, acompanhada de uma boa música como costumo fazer? Neste caso talvez use um cântico meditativo de Taizé...

Muito obrigado pela paciência e atenção dispensadas!...
O Pensamento Positivo

Confessionário disse...

Olá, pensamento Positivo,

Claro que podes usar... desde qu devidamente citado.

Um abraço

Pensamento Positivo disse...

Boa noite Exmº Padre!...
O prometido é devido... Aqui está o link com o seu texto, o meu comentário e a mais que devida citação...

http://opensamentopositivo.blogspot.com/2009/12/confessionario-dum-padre.html

Muito obrigado por tudo!...
O Pensamento Positivo

Anónimo disse...

Anónimo disse...
Quando trilho este post faço sempre o mesmo percurso: perco-me no início, sobrevoo o meio e faço uma aterragem difícil no fim. É que, por mais que me esforce, nunca consigo experimentar aqui o peso dos afazeres, nem o gotejar de suor com as canseiras e correrias da vida de padre. Talvez porque o que mais me agrada é a aparente banalidade da duas ou três primeiras linhas. Aparente, porque apesar de parecerem linhas descontínuas, são, a meu ver, as linhas de força deste post. Por isso, é nelas que me agarro e encontro o mote. Sente-se aqui o imenso poder da solidão, quando traja com o manto fusco da noite. Avista-se um quadro de fundo negro, em que apenas brilha a chama da casa dos outros. O alto-contraste. À distância, a luz, o calor, o som pressentido, a pluralidade. Na proximidade, a escuridão, o frio, o som ouvido, a unicidade. Interior-exterior. Dentro-fora. Conforto-desconforto. Liberdade-imposição. Outros-eu. O isolamento vivido na varanda, intensificado pela companhia da casa dos outros acesa na noite escura. A angústia da solidão infligida pela cruz do teu gradeamento. O gradeamento a estabelecer o limite máximo da varanda. A consequente sublevação do espírito. O apertado interrogatório que se segue, conduzido pela mão da solidão, a inquisidora-mor. A casa dos outros como instrumento de tortura. A solidão como exigência exterior para ser padre e poder servi-Lo. A solidão como dor sem sentido em si, a que tem de ser atribuído um sentido último, divinamente frutuoso, única forma de ser suportada. A insatisfação com o padre que efectivamente se é, por força de circunstâncias exteriores. Depois, a dúvida se em face à realidade vivida o sacrifício pode ser justificado e alcançada um dia a plenitude da unicidade não solitária. A pergunta que se impõe, A imolação do meu corpo e espírito é-Te valiosa Senhor? Ser o Padre que eu sou, põe-me no caminho sem distância da perfeita comunhão, em que és apenas Tu em mim e eu em Ti?!
O que retorquir?! Cada questão mais difícil de responder… Por isso mesmo é que a minha aterragem no final do teu post é sempre difícil… A enormidade das questões que te surgem na varanda!!! Então, irrito-me!!! E o meu espírito, que não é menos que os outros, também se subleva e questiona: Mas que raio foste tu fazer para a varanda naquela noite escura, fria e ventosa… em que nem um cigarro se mantinha aceso…???!!! Como pode a tua mente entrar-nos em casa como uma acendalha… será cobiça da casa dos outros acesa na noite escura?!

Confessionário disse...

excelente análise... das melhores que já fizeste. Obrigado...
Com todo o teu texto, dei por mim com vontade de fumar um cigarro.

Anónimo disse...

Li o teu comentário ontem, mas só agora senti necessidade de dizer algo respeito. Se sentires que estou a ser invasiva com os comentários que faço, não te acanhes em dizê-lo. Eu aguento. Respeito. Não me parece nada mal. Simplesmente não publiques, ou diz-me para parar com determinada forma de comentar. Às vezes fico a pensar se não perco a noção das coisas e se não acabo por magoar as pessoas ao dizer aquilo que me vem exactamente à cabeça.

Confessionário disse...

no problem...