sábado, outubro 24, 2009

tudo na vida se pode ver de diversas formas

Padre, o meu namorado está longe e há três dias que não diz nada. Um dos meus melhores amigos está a morrer. Tem cancro no pâncreas. Também tem 82 anos. Não quer morrer. Luta pela vida. Quero dormir, mas não consigo. Tenho medo de perder a fé por causa destas coisas. Tenho um nó na garganta e até tenho medo de encarar a realidade. Por isso hoje apetece-me falar com alguém que me possa dizer algo que me anestesie para dormir ou para acordar para a vida.
Tinha de facto uns tons avermelhados na parte interior dos olhos, e à sua volta uma cor entre o pálido da pele e o escuro do carvão. Só por isso se notava o esforço que fazia em vão para dormir.
Há ocasiões na vida em que as palavras não podem ser medidas, porque não sabemos porque as usamos. Ou usamo-las como nossas, mas são do Espírito Santo. Pelo menos, assim creio. Dado que o que disse a seguir me veio à cabeça, sem mais nem meio mas, como se já lá estivesse dentro e esperasse a sua hora de saída.
Ó Juliana, tudo na vida se pode ver de diversas formas. Tudo. Mesmo aquilo que nos parece o nada, como é o caso da morte ou da ausência de alguém que amamos. Experimenta ver. A ausência do teu namorado faz-te perceber quão importante ele é para ti. No meio da tua dor, podes descobrir a beleza de um amor que tens por ele. Não te resolve o problema. Mas parece-me que os problemas nunca têm só um lado negativo.
Por outro lado, o teu amigo que já tem muita idade e que se agarra à vida. Pelo que contas, agarra-se a ela com a força que nós, de tão saudáveis, não usamos. Agarra-se tanto a ela como nós não a agarramos. Porque não possuímos a limitação necessária para dar valor ao que temos. Mais. O teu amigo precisa de fé para encarar a morte e tu a dizeres que a podes perder quando é tão importante que lha dês neste momento a ele.
Nas coisas da vida, poderás sempre encontrar outra forma de as veres. Podes não resolvê-las por fora. Mas podes resolvê-las por dentro.

35 comentários:

Canela disse...

O Espirito Santo; Paraclito/ Consolador...

O Pe. Confessionario só tem que lhe emprestar a voz, as mãos, os pés, enfim todo o seu ser! No fundo é isso que é ser Pe., é ser não para si mesmo, apenas para os outros, com e por Cristo!

Que Deus N. Senhor o continue a abençoar!

A paz de Cristo.

Clara Margaça disse...

São palavras assim, que muitas vezes não usamos, que são o tudo que precisamos, sempre. Simples!

Anónimo disse...

E tão bom termos alguem
que nos ajude a ver as coisas
menos boas de outra forma...
obrigada padre, mais uma vez
mostra o seu lado positivo de
ver as coisas a luz da fe.
DEUS o abençoe.
um abraço.

teresa disse...

amigo padre , sem dúvida que as suas palavras foram inspiradas pelo ispirito santo , e de certeza que ajudaram muito a juliana a ultrapassar essas dificuldades .
bem aja amigo , continue assim emprestando a sua voz , que de certeza vai ajudar todos que passarem pelo seu caminho .

beijinhos .

António Valério,sj disse...

Fez-me mesmo bem ler isto... por vezes não temos muito a dizer a quem sofre, mas o olhar cristão sobre as coisas faz nascer o bem do que é mal, em relação a nós, aos outros...
Desejo-lhe continuação de tanto proveito no seu ministério.

ana disse...

Mais uma vez é de louvar vossa vocação , os padres são pessoas iluminadas por Deus , suas palavras foram decerto uma ajuda precisa , que Deus o abençoe , continue , sempre assim .
Um grande bem haja

Moçambicano disse...

Boa Noite, Caro Amigo P.e "Confessionário".

Já há uns tempos que não saíamos da "Fugitiva"...
Ou seja, sentia a falta dos seus "Posts".

Obrigado por este último (até porque estou num momento menos bom de saúde).

Obrigado pelo seu Testemunho.

Pelo seu e pelo de tantos outros Padres que não são notícia de Telejornal...

(Já agora, não guardou a sua fisga de quando era criança, como recordação, pois não? Veja lá... Eheheheh)

Agora a sério... Um abraço grande!

Moçambicano

laureana silva disse...

Inspirado pelo Espírito Santo,
com as palavras certas na hora certa.
Nós leigos vamo-nos tantas vezes abaixo e esquecemo-nos que os padres, também são homens, no sentido lato da palavra. Deus vos abençõe. o Espírito vos fortaleça, Pois precisamos muito de vós, o vosso ministério não é fácil e quantas vezes mal cmpreendido! Dai-nos Senhor muitas e santas vocações, neste mundo tão conturbado.Os sacerdotes estão disponíveis para o seu povo, e nós os leigos? Será que ao menos nos lembramos de rezar por eles? Eu pecadora me confesso. Um abraço. Maria

Carla Santos Alves disse...

Eh pá Deus põe sempre as palavras certas na tua boca.
Saudades de te falar...de conversar!

Bjs

Anónimo disse...

Quero pôr um ponto de ordem no meio de tanto incenso.

A Juliana tem um namorado que não lhe fala há 3 dias!...
Tem um amigo com 82 anos que está com umcancro no pâncreas!...A Juliana está desesperada!...
Só por causa disto?

Quantas Julianas não andam por aí de pé e cara levantada?...
Quem não tem destes problemas na sua vida?
Seria péssimo constatar que a ignorância de que há muita genteem situação muito bem pior...Porquê tanta comiseração?
Porquê tanta loa às palavras do Confessionário? Ainda atiram com o sacerdote para as trevas com as poosíveis tentações de miraculosidade...
Tenhamos caco.
Hei Juliana! Veja o actor António Feio que tem um cancro no pãncreas e terá uns 50 e tal anos!...e não pára de trabalhar...a actriz ..fernanda Serrano, com outro na mama... e enfrenta-o como uma senhora...e por aí fora...
Respeito o seu sofrimento, mas, Lamechices, não.
Quem não tem a sua cruz? Novos, velhos, bonitos e feios, ricos e pobres...

Não quer dizer que não se deva ajudar os que sofrem...Que pensará Jesus disto tudo?

sónia disse...

"O teu amigo precisa de fé para encarar a morte e tu a dizeres que a podes perder quando é tão importante que lha dês neste momento a ele."

Não podia estar mais de acordo!

um bj e uma excelente semana
Na paz de Cristo

pe.cl disse...

A nós só nos é pedido que sejamos canais da graça D'Aquele que É tudo e tudo pode...

E tu tão sabiamente o sabes ser...

Abraço em Cristo.

Teodora disse...

padrí

mi cantchi na cabâna!!!! láláláááá´...

Anónimo disse...

Caro anónimo

Acalme-se. Ninguém ignora que há sofrimentos atrozes no mundo. Se calhar até é por isso que o Saramago anda confundido. Mas todas as dores são dores e a capacidade de as suportar depende da força de cada um. Eu qd chego ao dobrar da esquina da minha rua tenho os bofes de fora e o nosso Sócrates corre 12Km fresco que nem uma alface...

O confessionário não está à altura das estrelas de que nos fala nem elas dele. Têm por certo outras pessoas a apoia-los de perto. Se pudesse acabava com o sofrimento de todos, pobres, ricos, famosos, desconhecidos, novos e velhos. Mas não posso. Só posso é deixar os outros fazer o que podem no local onde estão. As grandes vidas fazem-se com pequenos gestos, sabe?

A Silva

Anónimo disse...

Eu podia ser a Juliana da história, as semelhanças são muitas. Uma relação de 10 anos que acaba, um familiar muito querido que falece com cancro, problemas profissionais que se acumulam … Sim caro anónimo, há gente com problemas muito mais graves. Era isso mesmo que eu me dizia todos os dias. Mas o que parece trivial, mesmo para a própria pessoa, pode ser a gota de água que faz transbordar o copo, por mais forte que se seja.

Finalmente, assumi que precisava de ajuda e marquei consulta com um colega Psicólogo. Como a Juliana, estava exausta das noites em claro e dos ataques de choro que surgiam por tudo e por nada. Exactamente nessa semana, cruzei-me com um Padre na rua (já agora, um parêntesis para agradecer o uso da “coleira”, que deve ser muito chato). E lembrei-me de quando acreditava…

Sem saber muito bem que raio de ideia era aquela, no dia seguinte fui a uma Igreja. Depois de ter confessado todos os mandamentos que tinha incumprido em mais de uma década, acrescentei que francamente nem estava por aí além arrependida, só queria desesperadamente sentir-me melhor. Esperava um sermão, mas ouvi uma grande gargalhada. “Se não estivesses arrependida não estavas aqui. Logo, eu digo que estás arrependida, e quem manda aqui sou eu, OK? “. Olhei-o, mas não vi a pessoa com quem estava a falar . Vi realmente” um Cristo”, naquele olhar cheio de ternura e na pouco disfarçada vontade de rir. Um Cristo que, sem palavras, me dizia ”estou feliz que tenhas voltado”.

Não houve palavras de conforto, nem conselhos inspirados sobre a situação que tinha despoletado a minha ida ali. Nem sempre é através de palavras que o Espírito Santo actua. Mas que actuou, actuou. Não, os problemas não desapareceram como que por magia. Já passaram anos e ainda não estão completamente resolvidos. O que mudou? A minha maneira de ver esses problemas, como diz o Confessionário. Eu acrescentaria apenas que finalmente aprendi o que qualquer criança de um ano sabe: se quero ver, em vez de ir aos tropeções e cabeçadas, é preciso acender A Luz primeiro.

Não se trata de cantar loas ao Confessionário por ser inspiradíssimo no que diz às pessoas com problemas que o procuram. Até podia não dizer absolutamente nada. O que eu acho fantástico, e realmente canto loas, é por aceitarem estar “ali”, quando podiam estar em sítios que a maioria das pessoas acha bem mais interessantes . Para deixarem que o Espírito Santo actue através deles, seja lá de que maneira for. Para que Deus nos possa dizer que nos ama. O que tem um efeito mais poderoso do que conselhos de Psicólogo ou consumo de anti-depressivos.

Juliana II

Anónimo disse...

"tudo na vida se pode ver de diversas formas"...depende sempre do olhar de quem olha
quem sofre, sofre e nesse momento o sofrimento dele é aquele que provoca-lhe dor. Não podemos relativizar, que relativizemos outras coisas. Numa atitude não egoista, numa atitue cristã só tenho que respeitar esse sofrimento e apoiar. Dificil é para quem sofre encontrar esse alguém...ainda bem que as "Juliana" pode contar consigo
Maria

Anónimo disse...

É aqui que eu recordo Epicuro.

Se Deus é omnipotente e ´pode acabar com o sofrimento mas não o faz, não é um deus bom. Se Ele é bom e não acaba com o sofrimento, então não é omnipotente.

Quanto a Saramago, não acho que o homem ande confundido, sabe muito mas muito bem do que escreve.

João.

Moçambicano disse...

Olá a Tod@s!

Ao Amigo "Anónimo" que citou Epicuro, queria apenas dizer uma coisa, com toda a humildade.

SEI O QUE É SOFRIMENTO

E também sei, Graças a Deus, o que significa o Apoio dos Amigos. Alguns deles, Padres.
Padres que para mim, compensam as grandíssimas lacunas que a Igreja-Instituição - sobretudo a Cúria Vaticana -, ainda apresenta, enquanto "sal e fermento" no Mundo.

E também sei que alguns teólogos, quanto mais são "atacados", porventura mais perto estão do "Mistério de Deus". ("Mistério" que Saramago, na sua excelsa inteligência, não é capaz de imaginar. Sócrates era mais modesto...)
Mas aqui fica uma citação de Jon Sobrino *:

"Contra todo o paternalismo milagreiro, isto é o mais característico dos milagres de Jesus e a suprema discrição de Deus:
Curar fazendo que os seres humanos se curem a si próprios."

* Sobrevivente "por milagre" ao assassinato dos Jesuítas da UCLA, na década de 80, pelo governo fascista de El Salvador...

Um forte abraço a Tod@s!

Mª José Tavares disse...

Efectivamente cada um de nós tem a sua cruz.
Também eu tenho a minha e bem mais pesada que a da Juliana.
Mas Deus só nos dá aquilo que podemos suportar. O que para uns parece um fardo imenso, para outros já não será tanto assim.
Não quero questionar se o sofrimento da Juliana era muito ou pouco. Mas para ela, era-o e ponto final. Teve ajuda e é o que importa.

Vou questionar os anónimos.
Porque não são frontais e se identificam? Não gosto de anonimatos. Esta atitude cheira-me a cobardia.

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes disse...

Ó Amiga Mª José
Eu também não gosto de anonimatos. Usei-o e uso-o, às vezes, por uma questão estratégica e porque não estive nem pretendo ofender ou prejudicar ninguém.
Quanto à questão em análise, todas as posições expostas são respeitáveis. Até aquela que pôs um ponto de ordem. Já valeu a pena. Ajudou a puxar por outras visões da questão. Como estava era tudo muito etéreo...e teve razão. O Confessionário às tantas, corre o risco de ser beatificado em vida. Faz o seu papel. No caminho que escolheu e dele dará contas. É bom que os haja, asssim, sempre disponíveis para atender quem precisa de quem os oiça. às vezes, uitas, basta ouvir.
Quem vai a um psicólogo ou psiquiatra, sabe que eles se remetem à posição de ouvir. E por vezes, basta. O psicológico é terreno muito especial. Não de puxar como quem arrasta um barco do mar para a terra. Nós os crentes temos uma vantagem extraordinária. Sabemos que temos uma relação de filho para Pai, com Deus. Isto é que é fundamental. Muitas vezes somos como as Julianas. Esquecemo-nos dessa realidade. Nas aflições, basta confiar nEle e orar...

Esta realidade para Saramago é chinês...e é um Nobel. Por isso, ele estrebuxa e só diz asneiras, quando, arrogantemente, se mete por estes caminhos.
Se um dia Deus lhe der a graça da Fé...oxalá que sim...rezo por ele, ( o homem é filho de Deus como eu...)gostaria de o ouvir.

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes disse...

Ainda é preciso acrescentar o seguinte ao que foi dito: cada vez mais, situações como a das "Julianas" são frequentes. Fruto da turbulência confusa desta vida moderna.
Nós não somos, nem só anjos nem só corpo. Somos corpo e alma. Podemos sofrer avarias no corpo e também, na alma. As desta tratam-se com Deus directamente e com a ajuda dos nossos amigos. Incluindo a dum sacerdote. As do corpo carecem da ajuda de quem sabe tratar delas. Muitas vezes, situações daquelas surgem e não se resolvem só com fé, oração e confiança em Deus. É preciso ir ao médico, psiquiatra, psicólogo. O que for mais adequado. Não é vergonha nenhuma. É uma realidade incontornável. Pensam que não há muito sacerdote,ou pessoa consagrada que não recorre a eles?
Não é verdade e ainda bem. Assim é que está certo. Não exerço essas funções, nem eu nem minha família. Estou à vontade. " A César o que é de César...a Deus o que é de Deus"...poderia dizer-se.
Cada vez mais a fronteira entre o físico e o anímico é menor. Mas há-a.
Faltava dizer isto.

Fá disse...

Acrescento duas notas, se me permite, Joaquim.

Rezamos para ter padres santos. Beatos é pouco... E o caminho para a santidade começa aqui na Terra.

Uma fé autêntica, esclarecida e deteminada quantas visitas ao psiquiatra e/ou ao psicólogo poupariam...? Vivemos numa sociedade encharcada em ansiolíticos e antidepressivos que, sendo por vezes, necessários, não são inócuos... Não admira. É muito fácil. Engolir uns comprimiditos? Não custa nada. Mas a solução para a maioria dos problemas que nos consomem não passa por aqui mas por dar dignidade à vida. A todas as vidas. E o contributo dos cristãos sejam eles consagrados ou não, tem que tornar-se realidade. Fé sem obras de pouco vale, diz S, Paulo.

A todos os que por aqui passam desejo um fim de semana cheio da Paz que o Senhor quere para nós.

Um abraço amigo

O Império disse...

Caro Padre.

Há muito tempo que não o visitava. Provavelmente não se lembra de mim mas há cerca de 1 ano tive um debate interessante com o nosso amigo Kephas.

Recentemente voltei a conversar com ele e fiz-lhe uma pergunta difícil (e a meu ver uma pergunta cruel).

Gostaria de ter a sua opinião. Isto é, se me permitir, e com todo o respeito, vou lhe fazer a mesma pergunta:

Se deus falasse consigo directamente e o ordenasse que matasse uma criança cortando-lhe o pescoço você obedeceria?

Repare que é algo muito semelhante ao que aconteceu a Abraão. E embora a ideia de deus, na altura, era ensinar que o sacrifício humano é proibido, Abraão tomou uma decisão sem saber disso. Abraão decidiu obedecer a deus e iria sacrificar o seu filho cortando-lhe o pescoço. Provando a sua fidelidade absoluta a deus.

Se isso acontecesse hipoteticamente consigo hoje em dia você obedeceria a deus?


Um abraço

Canela disse...

Feliz de quem tem um amigo Padre!

O padre não conta, nem reconta.
O padre não aponta, nem acusa.
O padre ouve mais do que fala.
O padre não direcciona ninguém, para caminhos menos claros.
O padre por si só, nada pode... mas reza e reza por nós e connosco!

É tempo de olharmos para nós mesmo, e, para a forma de como tratamos os nossos amigos!

Ainda bem que a Juliana, tem um amigo que a ouve, e, melhor ainda... é Padre!

Concordo com a Fá, não queremos Padres beatos (não chega), queremo-los Santos! A santidade é vivida no dia-á-dia... é um recomeçar a cada instante, uma fé que não esmorece perante as quedas e dificuldades!

A Paz de Cristo

Zé Gusmão disse...

Olá,

Pensei muito antes de comentar este post. Tinha prometido não voltar a fazer comentários em nenhum blogue, mas os dois últimos comentários deixaram-me a pensar.

Nos últimos quatro anos da minha vida eu vivi uma mentira e magoei e fiz sofrer muita gente boa e honesta; brinquei com situações muito sérias e graves. Até que há pouco mais de um mês, alguém descobriu a minha mentira e confrontou-me com a realidade.
No momento não fui capaz de dizer logo toda a verdade, de assumir toda a mentira, fui-o dizendo aos poucos e poucos.

Quando me confortei a mim com a realidade e assumi publicamente o meu erro, o meu pecado, procurei o meu antigo director espiritual (há já alguns anos que o não fazia) e confessei-me.
Falamos durante muitas horas e quando vim embora vinha muito mais aliviada, mas era preciso outro tipo de ajuda.

Falei com o meu médico de família, que me encaminhou para uma consulta de psicologia. Tenho regularmente sessões de terapia que me estão a ajudar a compreender o porquê de ter caído assim, de ter perdido alguns valores importantes da vida.

Não é difícil tomar uns comprimidinhos (tomo um antidepressivo e um ansiolítico), difícil é encontrar a resposta para ter perdido esses valores que me guiaram sempre na minha vida, difícil é compreender o porquê de nestes quatro anos viver duas vidas diferentes, sim, porque nem tudo na minha vida foi mentira, difícil é conviver com o mal que fiz a tanta gente, difícil é levantar todos os dias e não voltar a cair, não voltar a mentir, porque a tentação é grande, o caminho mais fácil sempre foi o melhor a ser seguido.

Mas com a ajuda do Senhor Padre, com quem agora me encontro de 15 em 15 dias, com as sessões com o psicólogo duas vezes por semana e com a ajuda de alguns amigos tenho conseguido seguir em frente.

O médico da alma é Deus, que na pessoa do Senhor Padre nos orienta na nossa fé, que nos ajuda a caminhar ao encontro de Cristo; o psicólogo orienta-nos na nossa vida terrena a encontrarmos o equilíbrio mental necessário ao nosso bem-estar individual e social.

A orientação do psicólogo, um dia deixará de ser precisa, poderei caminhar sozinha, mas a orientação do Senhor Padre continuará até ao fim da minha vida.

Confessionário, perdoe-me este comentário, se quiser pode não o publicar, o que eu compreendo perfeitamente.
Um abraço em Cristo!
Pai Nosso...
Zé Gusmão

Hoje não sou anónima, chamo-me Teresa Vieira disse...

Ficaram todos a saber quem sou, não ficaram? E têm todos a certeza que o meu bilhete de identidade não diz Patrícia Gameiro em vez de Teresa Vieira, não têm? E já agora, por favor não me confundam com a vossa vizinha do terceiro esquerdo que tem o mesmo nome, eu moro num sexto direito.

Penso que assim já cumpri os pré-requisitos para poder dizer que gostei muito do comentário do Joaquim M. L. M. Gomes, sobretudo da parte "a César o que é de César, a Deus o que é de Deus". Há casos em que o Padre é mais necessário que o Psicólogo e casos em que o Psicólogo é mais necessário que o Padre.

Eu não exerço Psicologia, mas tenho pessoas próximas que o fazem. Segundo oiço (sempre sem nomes, obviamente, porque isso seria contra a ética profissional), parece que há muitos casos de delírio de encontro com Deus. Do género: "Todos os dias, às dez em ponto, tomo café com Deus na pastelaria do Zé".

Apesar de ser um assunto que envolve Deus, é obviamente um caso de Psicólogo, que facilmente identifica a terapia adequada. No entanto, eu se fosse Psicóloga ... teria uma grande tentação para perguntar a morada da pastelaria do Zé... Não fosse dar-se o caso...

Império, qualquer pessoa a quem reste um mínimo de discernimento, se ouvir Deus a pedir-lhe que corte a cabeça a uma criancinha, interroga-se se não está em delírio. E, de preferência, procura ajuda o mais rapidamente possível.

Quanto à história de Abraão e a várias outras do Antigo Testamento que podem levar a perguntas semelhantes, procure informar-se sobre a sua interpretação. Seja do lado Cristão, seja do lado dos Judeus. vai ver que descobre muitas coisas interessantes.

Anónimo disse...

Porque hoje é dia de todos os Santos...
E porque hoje a minha frase preferida na Missa foi "Todos os santos têm um passado, e todos os pecadores têm um futuro"...

... o que eu queria dizer era: Bora aí pessoal! Podemos não ter um passado muito limpo, mas quiçá ainda podemos vir a ser comemorados neste dia.

Um beijinho especial para a Zé. Força!

E.

Confessionário disse...

Olá, Zé.
Publiquei, como é meu hábito fazer, o teu comentário.
Podes vir sempre, comentar o que quiseres, participar nos debates e reflexões. Mas, por favor, não nos contes mais essas coisas da tua vida que podem servir apenas para, mais uma vez, chamar a atenção!!! E isso seria apenas continuar no mesmo.

Se precisares mesmo de mim, sabes bem onde me podes encontrar e contactar.

Confessionário disse...

Império... não queria dar a entender que não presteui atenção á tua pergunta.

Mas a gestão dos S(es) não é bem como a apresentas. Porque existe um S? Porque equacionamos o que faríamos se em cada circunstãncia nós agimos segundo a mesma circunstãncia?

Neste momento, e com toda a fé que tenho, se Deus me pedisse coisa idêntica, eu não o faria, porque isso não seria de todo um pedido do Deus que eu amo e anuncio

Se quiseres analisar a história em si... poderás recorrer à tua vida para dares conta que já pedistes coisas impensáveis a pessoas que, depois, sabias que não ias deixar que elas acontecessem. Pensa bem!

Mas continuamos no mundo dos Ses e isso so acontece nese mundo...

O Império disse...

Caro Padre.

Gostei muito da sua resposta. Não me passaria pela cabeça que me dissesse que obedeceria.

Eu sei perfeitamente que deus não deixou que Abraão matasse o filho. Pelo que eu percebi dessa passagem, foi um ensinamento dado por deus para que o seu povo não praticasse sacrifícios de humanos e em particular de crianças tal como se praticava com outros deuses da época.

O que eu queria perceber era: face à interpretação da historia de Abraão o que é que os Católicos dão mais valor? A fidelidade absoluta de Abraão? Ou o ensinamento de deus?

Porque eu imagino que Abraão, na altura, também teria pensado como o senhor ("porque isso não seria de todo um pedido do Deus que eu amo e anuncio"), e mesmo assim ele estava disposto a matar o seu filho.

Eu fiz esta pergunta (cruel eu sei) porque normalmente eu coloco-me na pele das personagens da bíblia e pergunto-me que comportamento eu teria.

Mas para mim, que tenho fortes convicções de que deus não existe, é-me muito fácil dizer que desobedeceria a deus.

Para um católico convicto, parece-me que desobedecer a deus é muito mais difícil. Daí esta situação hipotética.

Espero que nenhum leitor tenha ficado com ressentimentos (estou convicto que o senhor não ficou).

Um abraço sincero

disse...

Uma jovem adolescente que frequenta um Colégio religioso em Coimbra, fazia-me no Verão passado, uma pergunta muito semelhante à que o Império colocou ao Confessionário. Porque é que o Deus de infinita misericórdia em que acreditamos, pediu a Abraão o sacrifício de seu filho? Estava apreensiva. Dado que o sítio e o contexto não permitiam grandes conversas limitei-me a responder o que era suposto: testar a sua fidelidade, Clara. Senti que não fui convincente. Bem pelo contrário: gerei mais confusão naquela cabecita onde os exames à amizade não são aceites com agrado. Como se não bastasse vi esboçarem-se sorrisos triunfantes dos adultos que nos rodeavam. Sim, porque o facto de uma família optar por um colégio de orientação cristã significa, muitas vezes, que se lhe reconhece qualidade científico-pedagógica. Nada mais! O Cristianismo continua a ser entendido como um conjunto de preceitos castradores quando, de facto, é um caminho para a LIBERDADE vivida em plenitude e em consciência. Jesus libertou o Seu povo da escravidão do passado e quere libertar-nos, hoje, da escravidão do presente. Se nós deixarmos. Se nós quisermos!

Porque vejo o Sol nascer todas as manhãs, acredito que Ele nos ama independentemente das escolhas que tenhamos feito na véspera…

Um abraço amigo

Teresa Folgado disse...

Padre se um/a jovem o abordasse e lhe fizesse a pergunta que fez à Fá o que é que lhe respondia?

Eu tb não percebo muitas das afirmações que estão na Bíblia. Ou melhor não percebo Deus.

Fá disse...

Disse que não obedecia a esse "deus"... porque não é esse o Deus que ama e anuncia. Mas não diz como reagiria se a pergunta viesse de uma pré-adolescente em formação. Quando relatei o episódio aqui, tinha em mente, tal como a Teresa, que alguém me desse pistas de resposta para estas perguntas difíceis que decorrem da leitura de certas passagens da Bíblia. Peço desculpa por voltar a martelar na mesma tecla mas estou convicta de que este é o grande busilis da evangelização dos nossos tempos. A Igreja continua a ignorar a especificidade do presente. Estou convencida de que a única forma de evangelizar é colocar Cristo na vida. É missão de todos os que creem mas com o apoio de quem dedicou mais tempo a esta dimensão da vida. Constato, porém, que a grande maioria dos sacerdotes não estão disponíveis para aceitar este tipo de desafio. Ou se concorda com TUDO à primeira -a hipocrisia grassa mas pouco importa-, ou é um sarinho... A igreja raramente acolhe a diferença. Discrimina sob formas que nem ao diabo lembra. E olhe que não falo de cor...

Então, Padre, venha de lá a resposta... bem esmiuçadinha... Como apresentar aos adolescentes aqueles assuntos delicados que moem a cabeça dos adultos e que os sacerdotes vão amontoando na caixinha (ou no caixote) dos tabus...?

Um abraço amigo

Confessionário disse...

"Neste momento, e com toda a fé que tenho, se Deus me pedisse coisa idêntica, eu não o faria, porque isso não seria de todo um pedido do Deus que eu amo e anuncio"

Essa seria a primeira coisa que responderia. E explicava-lhe porquê. Quem é esse Deus.

Depois enquadraria o texto no conexto e na situaçao; no que pretendia o autor (nao se pode interpretar à letra). Logo ai ficaria claro que Ele não pretendia o sacrif´cio humano... mas valorizar a fidelidade da entrega, de quem o segue (que até está dispostoa deixar tudo por Ele)...

Seria este o rumo da conversa, em resumo. é obvio que daria pano para mangas... ma seriam estas, sem dúvida.

O que falta ao pessoal é mesmo uma exgese adequada. Se imaginarem Deus om as características que eu tant lhe aponto, deprssa serão capazes de ler as entrelinhas dos textos da Sagrada Escritura.

abraço.

Anónimo disse...

Acho este blog extremamente interessante e é curioso ler as discussões/conversas que surgem entre os leitores :)


É uma pena que as pessoas leiam os textos bíblicos dando-lhes um significado tão literal, "levando tudo à letra"... não se apercebendo da mensagem subjacente. Mas o papel do padre é (também) explicar o significado das palavras.


Deus está dentro de cada um de nós e nós fazemos parte Dele. Mas não podemos pensar que Ele possa ser a causa do sofrimento e de todas as desgraças que acontecem! Ou que por outro lado Deus não acaba com o sofrimento porque não é omnipotente... Deus é a força e a clarividência que temos de encontrar dentro de nós para enfrentar e resolver os nossos próprios problemas! Não adianta tentar "humanizar" Deus, procurando defeitos inerentes à condição humana...

E não vale a pena tentar medir o sofrimento... o sofrimento próprio será sempre superior ao do vizinho, porque é aquele que conhecemos. (Já a galinha da vizinha é sempre melhor do que a minha...)

Um último desabafo... como eu gostava de ter um padre assim perto de mim!...

Margarida =)