sexta-feira, setembro 25, 2009

A fugitiva

Ia calçada acima e ela vinha calçada abaixo. Estranhei que viesse caminho abaixo àquela hora. Iria passear? Mas a idade não lhe permitia grandes passeios. Estranhei muito. Por isso parei. Cumprimentei. Então que anda a fazer? Vou-me embora, padre. Vou para minha casa. Vinha do Lar e, com a bengala, esperava chegar junto da praça de táxis para apanhar um e fugir para a sua casa que é numa paróquia vizinha. Fugia. Ninguém sabia que ela se ausentara do lar, explicou com palavras dela. Ainda bem que o encontro, senhor prior. Não aguento mais lá estar naquela sala. Já pedi para me tirarem de ao pé daquela senhora no quarto. Não me ouvem. Fazem que não ouvem. Eu nunca quis ir para o lar. Obrigaram-me. Sofro muito. E os seus filhos? Perguntei. Sabem? Foram eles que lá me meteram. Já desde Abril que pedi à minha São que me tire de lá e nada. Ninguém quer saber de mim. Ontem a minha filha veio ver-me e eu estava a chorar à janela. E disse-lhe que ia para minha casa. Sabe que me respondeu? Que fizesse o que quisesse. Chorei tanto. Por isso vou para minha casinha. Lá é que estou bem.
Não sabia que dizer-lhe, pois nas minhas poucas visitas aos lares desta zona, fico sempre triste, apesar de saber que os funcionários fazem o melhor que sabem e podem. Mas é sempre uma mudança de vida numa altura em que já não se sabe viver. É sempre um estar dependente. É sempre uma prisão de pensamentos e de histórias que os nossos lares contam.
Então e de que vai viver? Quem a vai tratar? Respondeu-me que o centro de dia da terra. E os seus filhos? Não era melhor conversar com eles? Pois eles vêm aí por estes dias, é verdade. E eles disseram-me que ficavam mais descansados, sobretudo à noite, sabendo que estava num lar. Está a ver. Eu se fosse seu filho também ficava mais descansado. Nunca se sabe o que pode acontecer. Mas sofro tanto, senhor prior. Imagino que sim. Mas nada lhe garante que não sofresse mais lá em casa. Ali sempre tem quem lhe faça o que precisa. Comida, higiene, limpezas, medicação. Ora pense lá. Vai fugir e isso não é muito correcto. Devia falar com seus filhos e depois resolver tudo com calma.
Eu nem tinha a certeza se queria que ela fugisse ou voltasse atrás, porque um lar faz-me sempre pensar no lado de lá e no lado de cá. Mas falei pelo menos para o melhor no momento. E com uma lágrima no rosto ela respondeu. Obrigado, senhor prior. Vou voltar atrás. Tem razão. Vou pensar melhor, e vou esperar pelos meus filhos.
Despedimo-nos e, como quase sempre no final destas conversas, voltei para casa confuso. Confuso com a vida e com a minha missão.

60 comentários:

Luisinha disse...

Que bom que ela te pôde encontrar!
Como é bonito ver palavras que mudam uma vida! Realmente quem sabe o que lhe poderia acontecer se ela tivesse voltado para casa...?
Olha eu não sou muito a favor dos lares, mas quando não há mais remédio... Quem lhes pode valer? Tu tinhas de estar naquele lugar naquele momento.
só não entendi muito bem a tua dúvida quanto à tua missão. Entendo que mesmo que tudo esteja a "correr bem" e até salvaste uma velhinha, há sempre no que pensar, só não consigo chegar ao fundo da questão... Talvez porque seja uma coisa só tua!
Apesar de tudo, só te posso dizer que estás assim como todos nós, disponíveis para o apoio ao próximo, só depende da forma como encaramos isso, independentemente da vida que temos. Se faz parte de uma missão ou não, não importa! Sendo padre ou não, podemos desempenhar sempre o que for melhor para nós e o próximo! E no fundo acaba por ser na mesma uma missão! Todos a temos! Todos vivemos, todos lidamos com o próximo, todos temos algo a dar, algo de que nos arrepender, algo, sempre temos algo... Talvez seja esse "algo" que procuras... e eu nem te sei explicar o que é. é coisa tua! Mas entendo. Olha, acabei por te entender! lol

Paz e bem
Luisinha

Canela disse...

Não é para menos.

Penso que confunde qualquer um.

A Paz de Cristo

Alecrim disse...

Eu também estou confusa com a vida e com a minha missão, na maior parte das vezes. E o sofrimento na velhice é das coisas que mais me confunde, entristece e atormenta.

Idalina disse...

Não conheço nenhum lar. Acredito que os funcionários dos lares, pelo menos na maioria, até tratem bem das pessoas. Sei que actualmente, os lares são um "mal necessário". Mas lamento que a vida não permita que os nossos idosos não possam terminar calmamente a sua caminhada por esta vida, no seio da família. Já é muito triste sentir-se envelhecer, acumular doenças, ser dependente. Mas sentir isto tudo e ser afastado do meio onde se viveu, por vezes toda a vida, afastado das pessoas que conhece e ama, da sua casa, das coisas que lhe são familiares, não deve ser nada fácil. E apesar de não conhecer nenhum lar, não consigo deixar de pensar neles como uma sala de espera para a morte. Por muito bons que sejam.

Mª José Tavares disse...

Esta história emocionou-me e causou-me mágoa.
Também estou confusa sem saber o que é melhor.
É verdade que num lar eventualmente seremos bem tratados e certamente nada nos faltará... mas o carinho e a ternura de que qualquer idoso necessita? Será que lhe é dado? E a privacidade onde fica?
É mesmo complicado decidirmos o que é melhor.
Isto dá que pensar!...

Utilia Ferrão disse...

Os idosos por vezes têm muita dificuldade em se adaptarem ao lar.
Penso que o apoio domiciliário é também umma boa opção "em alternativa"
com a ajuda da familia.
È o que estou a fazer com os meus familiares.
Comida, limpeza,higiene.
Com a nossa ajuda, pois são nossos familiares.
Espero que o problema dessa Senhora e outros nas mesmas circunstancias se possam resolver
para o bem de todos.
Deixo aqui um abraço amigo

Fernanda disse...

Há uns meses li este blog na diagonal e gostei mas nunca mais me lembrei dele. Hoje veio ter-me às mãos e fiquei presa neste texto! Os velhos são, para muitos, um estorvo da sociedade!É triste e eu arrepio-me em pensar que lá chegarei!! Ainda hoje li a condenação por maus tratos de uma Directora de um Lar!! É por isso que os idosos tentam a fuga, está sempre em jogo o lucro em detrimento da atenção, do carinho e de todos os cuidados de que os nossos velhos precisam. E alguns filhos também estão metidos nesse saco, infelizmente!
Parabéns pelos textos especiais que publica. Vou ser mais assídua. Bom fim de semana.

teresa disse...

ai meus deus , ás vezes a vida tem estas complicações ,
eu tenho imensa pena dos idosos que os filhos põem nos lares ,
deve ser horroroso para uma pessoa nessa idade ver-se privada de tudo
até da sua liberdade ,
sinceramente não compreendo numa idade que mereciam e deviam ter toda a atenção dos filhos
eles metem-los nos lares .
com as desculpas de não ter tempo , de que estão melhores lá vão calando a consciençia ,
mas quando nós eramos pequeninos os nossos pais tiveram sempre tempo para nós , mas agora infelizmente muitos não tem tempo ,para eles
ou em muitos casos não querem ter ,
nesta altura que deviamos retribuir todos os sacrifiçios que eles fizeram por nós quando eramos crianças , muitos retribuem assim.


um abraço para todos .

Emilia disse...

Senhor padre fez com toda a certeza o que devia fazer e so mostra como o sehor é humano.
Abraço em Cristo

noctivaga disse...

Sabe Padre é muito difícil para estas pessoas. O lar é associado ao fim da caminhada cá neste mundo. Tive uma familiar num lar aqui em Beja. Foi sempre muito bem tratada. Todos os dias tinha visitas, em familia fizemos uma escala de forma a que todos os dias alguem a fosse ver. A minha escala era foi sempre igual, todos os dias... às 18 e 30 lá estava eu para lhe dar o jantar. Mas vi "quadros" muitos tristes naquele lar... vi uma mãe esperar pelo filho na vespera de Natal até que desesperou. As funcionárias eram excelentes mas jamais conseguem colmatar a ausencia dos filhos "esquecidos".

Dinarte Gois disse...

Caro Padre,

Ao ler este relato revejo muitas pessoas idosas nestas situações. É difícil saber o que dizer ou saber o que fazer!

O que falta, certamente, é um pouco de atenção, de preocupação e de carinho.

São situações extremamente complicas e que nos leva a pensar: "Quando formos nós? Como será?"

Anónimo disse...

É sempre bom lê-lo, porque quer concordemos ou não com o que diz,questionamo-nos, não nos deixa indiferentes... Obrigado

Fátima disse...

Ao ler os comentários anteriores, fica-se com a ideia que os lares são terríveis.
Trabalhei durante 5 anos num lar e devo dizer que, foi a experiência de vida mais extraordinária que eu já vivi. Tínhamos utentes que se encontravam lá contrariados mas, também havia quem gostasse tanto de lá estar quem nem o Natal queriam ir passar com as famílias. Vinham os filhos propositadamente dos E.U.A e França para passarem uns dias com a mãe e acabavam por serem os filhos a consoarem no Lar.
Eu sou a favor dos Lares desde que, a pessoa que o frequenta não seja esquecida. Ir buscá-la ao fim-de-semana, nas férias e datas especiais, é um dever que cabe aos familiares.
Afinal, nós não colocamos os nossos filhos na creche durante o nosso horário de trabalho? Porquê? Precisamos de trabalhar porque o sustento da família não cai do céu, não é verdade?

Nuno Andrade Ferreira disse...

Ao menos ela pode contar com a visita dos filhos.

Durante alguns meses, na fase terminal da sua vida, a minha avó viveu num lar. Estava acamada, gravemente doente e a família entendeu que não tinhamos condições em casa para a tratarmos condignamente. Entre todos suportámos os custos da estadia. Não houve um dia, até ao fim, em que a minha avó não tivesse a visita de - pelo menos - um filho ou um neto. Embora inconsciente, tenho a certeza de que ela sempre soube que estavamos ali, ao lado dela.

Neste caso, o lar foi a melhor opção. A minha avó teve um fim de vida digno.

Contudo, foi durante esses meses que vi de perto como há homens e mulheres que são completamente esquecidos pelos seus familiares. Gente que passa semanas - meses - sem receber a visita que espera.

Lembro-me em particular de uma senhora e de um episódio: Ela chamava-se Alice. No Domingo de Páscoa esteve o dia todo à porta do lar porque a filha prometeu que a viria buscar. Não veio.

Perante isto, pergunto: o que é que andamos a fazer aos nossos maiores sábios?

ana disse...

Penso muito nos idosos, as pessoas esquecem se , deles , são vecedores ultrapassaram todos os problemas e chegaram á beleza da velhice, porque um idoso é algo de belo é sabedoria, presentemente inscrevi me num curso de idosos , e futuramente pretendo criar um espaço , onde os idosos em vez de estarem sozinhos em casa, na solidão , possam conviver , sentirem se uteis, sentirem que não são um peso , e ao fim do dia regressarem a suas casas , peço a Deus que me ajude e me dê coragem para poder tornar meu sonho possivel , obrigado por a sua missão
Bem haja

Teodora disse...

Teresa

A senhora trabalha por conta de outros e com horários variáveis?

Depende do seu salário?

A senhora sabe o que é lidar com toda a degradação física e não ter disponibilidade de tempo e conhecimento para dar os cuidados específicos? Sabe o quanto se sofre ao assistirmos a tudo isto?

sabe o que é fingir até ao tutano que está tudo bem? que tudo vai ficar bem, quando sabe que nada vai ficar bem?

é capaz de perceber que por muito que queiramos fazer, há momentos em que precisamos de fugir (por umas horas!) porque não dá mais?

Sabe o que é estar dias e dias a assistir ao sofrimento de alguém?ao suplicar de alguém? Já sentiu esse desgaste?

por exemplo, sabe o que é lidar com um paraplégico ou tetra? Conhece-lhes as rotinas? conhece-lhes a tristeza do olhar?

Sabe o que é trabalhar (numa profissão desgastante) e conjugar tudo isso?

não ter noites de sono contínuo e não haver férias ou fins-de-semana (para descansar)?

eu sei que há filhos negligentes como há pais muito negligentes, seja lá de que forma, mas há filhos que não têm alternativa.

A propósito das crianças estarem com os pais em pequeninos, digo-lhe que os meninos vão para o infantário e quando no primeiro ciclo passam lá o dia todo. para felicidade e alívio de muitos pais.

se me disser que o ideal era termos os nossos pais em casa, com espaços adaptados e com um enfermeiro o tempo todo, concordo inteiramente. teríamos alguém que nos ajudasse, que não está emocionalmente ligado e que consegue manter maior distância dos factos.

declaro que uma mãe ou um pai nunca/jamais deverá abandonar os seus filhos, tal como considero que um filho jamais deve abandonar os seus pais.

ninguém deve abandonar ninguém. para mim é assim; mas há contextos que nos forçam a menorizar esses valores, embora sem nunca estarmos ausente.

sorte daqueles que chegada a sua hora adormecem na sua cama e simplesmente não acordam.

JS disse...

É apenas para lembrar que no dia 1 de Outubro se comemora o Dia Mundial do Idoso; e para deixar duas sugestões de leitura:
- "A sublime arte de envelhecer", de Anselm Grün, recentemente editado pelas Paulinas;
- "El don de los años: saber envejecer", de Joan Chittister, também editado há pouco tempo pela Sal Terrae (ainda indisponível em português).

JS

teresa disse...

teodora
como toda a gente trabalho por conta de outros e tenho um horário muito complicado , conheço a realidade dos lares porque fui voluntária de um , e o meu pai é director de um lar , por isso sei muito bem do que estou a falar ,
não confunda aquilo que eu disse, e o infántario nada tem a ver com um lar , quem dera que tivesse mas , sinceramente não tem nada a ver uma coisa com a outra .
o que eu quis dizer e que se calhar vosse não entendeu , foi que os nossos pais sempre tiveram tempo para nós e nós agora no fim da vida não temos tempo para eles não digo que são todos assim mas alguns , e é nesses alguns que eu estou a falar ,
quando digo isto refiro-me aqueles que os deixam e nunca mais voltam lá ,,
como eu conheço muitos casos .
não condeno ninguem que ponha os seus pais nos lares quando a situação se torna insustentavél , ou quando não á mesmo opurtunidade de ficar com eles , mas revolta-me sim quando vejo pais á porta do lar á espera que os filhos cheguem e eles não vem ,
revolta-me ver os idosos a chorar a perguntar o que estão lá a fazer já que os filhos os deixaram lá e nem disseram que eles iam lá ficar simplesmente deixaram e foram-se embora sem explicação ,,
desculpe mas isso não se faz ,
claro que á aqueles que deixam lá os pais porque não podem mesmo ficar com eles ,
e até ficam com pena de os deixar , mas não á outra solução , mas visitam os seus pais e preocupam-se com eles .
não é nesse que eu falo , mas nos outros ,,
que os deixam e nunca mais quiseram saber é desses que eu falo ,,


opiniões são mesmo assim vosse tem a sua e eu tenho a minha .

CJovem disse...

Até do que parece "confuso" poderemos extrair luz!
Cumprir a missão que Deus nos confia é fonte de tranquilidade. E, mais ainda, se ajudamos outros a fazerem o mesmo.
Abraço

Anónimo disse...

Para que não haja mais "fugitivos" temos que criar projectos que escutem o que o idoso quer. Há tantos projectos interessantes que podiam ser uma mais valia para responder às verdadeiras necessidades do idoso. Por exemplo, participei num projecto nos Serviços Sociais em Madrid que consistia, de uma forma muito breve, no seguinte:
O idoso estabelecia com os Serviços Sociais um contrato de prestação de serviços, consoante as suas necessidades. Desde de serviços de alimentação, de limpezas, de alguem acompanhar o idoso nas suas saidas e de companhia...se viviam sozinhos podiam usufruir de um serviço em qual os serviços ficavam com a chave de casa, se fosse necessário para qualquer eventualidade, tal como um numero directo para qualquer emergência, 24 horas por dia, etc. Ou seja, o idoso e/ou a familia trabalhava com a equipa técnica no sentido de saber o que lhe fazia falta para continuar a viver na sua propria casa, mas mantendo a qualidade de vida.
Primamos muito por fazer escolhas por eles .Porque não são os próprios a dizer o que querem e tentamos responder o melhor que podermos? Claro, temos que pensar noutras soluções

Maria Oliveira

Anónimo disse...

Olá confessionário.

Olha Padre, Deus em sua infinita sabedoria, usa seus Anjos nos mais diversos momentos e você foi usado por ele para impedir sabe-se lá que tristeza ainda maior para aquela senhora. Deus o abençõe sempre.

Ailime disse...

A realidade dos lares é muito dura!
Pessoas como essa senhora que me pareceu ainda lúcida têm muitas dificuldades a ambientar-se, porque como visitadora de idosos na paróquia da minha residência, tenho observado muitas coisas, que me custam calar!
Como a Teresa diz há muitas pessoas que são ali colocadas sem se sequer darem a sua opinião e depois vêem-se ali sós e muitos filhos não as visitam.
O tratamento é diferenciado e nem sempre é correcto.
Por vezes fico com a minha consciência intranquila porque assisto a situações que não posso denunciar: maus modos no tratamento e apenas uma TV na sala como companhia....Muito mais haveria a dizer, mas fico-me por aqui.
Penso que os Srs. Padres, pelos menos nos lares visitados por grupos das Paróquias deveriam conhecer melhor esta realidade e falar delas nas homilias.
Um abraço.

Maria disse...

Sou aposentada e vivo com a minha Mãe de 100 anos.

Claro que se olharmos em termos pessoais pode ser desgastante,mas não há dúvida que Jesus nos concede uma graça suplementar:

"O que fizerdes a um destes pequeninos,a Mim o fazeis."

E o que são eles senão esses pequeninos?

pe.cl disse...

caro colega oportunamente, como sempre,Deus colocou-te no lugar certo e na hora certa, bem hajas pela forma como afirmas o teu ministerio e o teu amor incondicional ao Deus da nossa vida.

sónia disse...

E quem n tem esses momentos?!
É sempre bom questionar, reflectir, chegar a uma conclusão que traga paz aos nossos pensamentos...

qto a mim, estiveste mto bem..
fugir n é solução. De cabeça quente nada se resolve. O melhor é ela falar com os filhos e chegarem todos à conclusão do que será melhor p ela.

um bj grande e bom fds!

disse...

Mais uma vez tocou num ponto sensível: a velhice. Vou contar um episódio que aconteceu comigo algum tempo antes deste post ter sido publicado (ou escrito...). Discutia-se, numa das minhas aulas, a ideia -apresentada no manual escolar adoptado- de o aumento da esperança média de vida não ser garantia de vida com qualidade. As intervenções faziam perceber que a esmagadora maioria dos alunos não estava preparada para viver aceitando o sofrimento. Mostraram-se muito receptivos à eutanásia mesmo se, por hipótese, fosse aplicada a alguém que lhes fosse muito próximo. Ouvi, ouvi, ouvi. Na minha cabeça estava sempre presente a minha Mãe cuja idade nos faz sentir um tempo cujo ritmos quero mas não posso travar… Conceitos de vida tão diferentes meu Deus… Alguns querem eliminar as cruzes; outros tentam colocar nelas Cristo mesmo sem saber como…

Um abraço amigo

Teodora disse...

oi padri

mi cântchi ná cabâna junto à praia... entí às nuvens e os canaviau lálálá!

só o vento e o marrrrr lálálá!

padri fali dos chilrear dos passarinho, das flor, das estrela e do marrrr.

só o vento e do mar.... lálálá...e as gaivotas falam desse amor!!!!

Anónimo disse...

Olá Confessionário
Senhor Padre
Li o seu "post" que me impressionou, porque eu já vivi essa realidade com uma velhinha avó de minha mulher, que vivia em Santarém, eu vivo na Amadora, ea avó de minha mulher teve um AVC e ficou com paralisia do lado Direito, a qual depois de tratada uns tempos No Hospital de Santarèm veio para minha casa onde eu vivo e vivia a minha Sogra conosco pois a minha mulher é filha Única, e como tinha um outro filho mas emigrado nos E. Unidos (logo após o 25 de Abril ficou desempregado e foi para os E. U para fazer pela vida. Como eu trabalhava mais a minha mulher e a minha sogra era a Enteada (porque ficou sem mãe de tenrra idade)e foi criada por esta Senhora com se fosse filha em segundo casamento.
Dizia que por a situação dela não ser de molde a ter o apoio que precisava quer de assistência Médica quer outras, combinamos eu e o meu tio (filho dela)colocar a Senhora num lar.
E ela também não queria ir para o lar mas lá se convenceu, e eu sei o que sofri para a colocar-mos no Lar.
E acabou por ter de ser mudada para outro lar que tinha mais condições e tratavam melhor a Avó. Eu amava muito a Avó, como se pode amar a Avó que eu ainda tive a felicidade de conhecer 2 avós de minha parte. esta senhora acabou por falecer no Lar e lembro.me ainda da Felicidade dela quando iamos na visita semanal.
Tive ainda a minha mãe que faleceu em 2001 num Centro de Dia da minha freguesia de nascimento em Castelo Branco,e á noite ía para casa, e o meu "medo" era de noite, que lhe pudesse dar "uma aflição" e não ter ninguém ao seu lado pois vivia só na terra, porque eu tendo duas Irmãs, uma vive em França imigrada há muitos anos e a irmã mais velha que tenho (e eu tenho agora 67 anos) vivia e vive com muitos problemas de saúde e ela ainda precisava de cuidados, e a minha mãe acabou por falecer no Centro de Dia quando estava a almoçar, e eu dei Graças a Deus por lhe dar uma morte Santa sem sofrer nem ficar a sofrer de qualquer AVC Ou Emfarte, mas foi a ajuda que na minha aldeia tinhamos disponível que é o Centro de Dia integrado numa propriedade com casa antiga (era Asilo) e Horta e vinha deixado á freguesia, pelo Grande Benemérito Padre João da Póvoa de Rio de Moinhos, e soube agora pelo jornal da Região de Castelo Branco que finalmente vão construir um lar na minha Terra. Depois deste comentário "confissão" quero dizer que o Senhor Padre foi o Anjo de Deus colocado no caminho da Senhora para lhe dar o conselho adequado, que era de voltar para o Lar onde lhe poderia ser disponibilizado a ajuda necessária e atempada, e depois com a família resolver o que fosse melhor para a senhora. pois ainda bem que há Lares lares onde as pessoas mais idosas poderão estar bem e com cuidados de Saúde, Alimentação e atenção porque nos Lares que visitei embora privados aqui em Lisboa no Restelo, cuida bem das pessoas e dão carinho, pois quer a avó que passou a gostar de lá estar, quer a minha mãe gostava de lá estar e sei que as empregadas tratavam as/os idosos com carinho.
Este Problema é já o que me povoa o meu cérebro que certamente será o meu destino e só espero que os meus filhos quando chegar a idade certa (qual é) me colocarem num lar, pois que um dos meus dois filhos não pode por estar em França e o outro ainda está solteiro (é solteirão), e não posso a aspirar a que noras cuidem de mim e minha mulher, e netos só tenho uma e está em França com o pai.
Termino deixando-lhe um abraço de amizade, e o meu obrigado pelos seus lindos posts profundos que nos dão matéria de reflexão, e amor.
Continue Padre e que o Senhor Jesus o Abençoe!

Anónimo disse...

Construir família é o sonho de ualquer pessoa. Criar os filhos e dar-lhes o melhor é o fim superior que consome todas as forças e se sobrepõe a tudo. Porque a família é a base fundamental duma sociedade equilibrada. O Estado ajuda a criar os filhos até certo ponto, criando escolas apropriadas por todo o lado e preocupa-se com os direitos das crianças. Tudo até a pessoa se tornar capaz e contribuir...Quando as forças se acabam e deixam de poder contribuir, tornamo-nos todos seres inteiramente dependentes de quem pode em nosso nome. Os filhos e dependentes são os primeiros obrigados a cuidar de nós. É a sua vez. Se a vida não lhes permite, então, o Estado, a sociedade em geral deve assumir esse dever como fundamental. A forma mais correcta será criar as condições mais aproximadas da família. Às crianças, erguem-se creches e escolas. Aos idosos, deve dar-se-lhe centros de acolhimento, muito bem geridos, onde haja pessoas que prestem o serviço de cuidar e assistir aos idosos com respeito, dedicação e atenção permanente. Tudo com permanente e rigoroso controlo para que não haja falhas nem abusos. DEe preferência, tais centros deveriam aproximar-se de aldeamentos, inseridos na comunidade da freguesia, intercomunicados com as escolas e infantários. Essa rede deveria ter dimensão geral, jamais deveria ter fins lucrativos. A sociedade é que deverá suportar. Os lucrativos, só para quem os queira frequentar e sujeitos a uma carga fiscal adequada.

Pela atenção que uma sociedade presta aos idosos se mede o verdadeiro desenvolvimento e maturidade dum País.

Anónimo disse...

Os avós são excelentes enquanto são capazes de trabalhar para os filhos está claro. Depois passam a ser lixo que convém colocar num sítio onde não incomodem. Muitos dos nossos idosos ficam abandonados à sorte e sentem na pele o peso da ingratidão. São os pobres entre os mais pobres. Mas há um ditado que diz "filho és, pai serás como fizeres assim acharás."

A Sra Professora que comentou no dia 11 de Outubro disse que tinha ouvido os alunos mas não nos disse como tinha reagido. Quem cala consente. Os pais hoje não têm tempo para os filhos e será que os professores se preocupam com a formação dos jovens? Actuam de maneira a corrigir essas situações? Eu sei que a moral não está na moda e que o mais fácil é fechar os olhos mas não sei se é o mais correcto.

Obrigada pela oportunidade que nos dá de pensar sobre estas coisas.

António Barrradas

Anónimo disse...

escolas apropriadas? was? disse o estado constroi escolas apropriadas? ahahahahahahahahah

Anónimo disse...

o estado instala contentores apropriados. alunos e profs pró galinheiro.

o dinheiro do estado é para pagar salários de muita gente que vive agarrado à mama da autarquia.

Teodora disse...

ó anónimo das 16:20

desculpe mas às vezes acho que os nossos velhinhos também não merecem muito melhor.

quando os autarcas se lembram de lhes ceder as camionestas da autarquia para irem passear (não interessa se é a Fátima ou não!) e mais uns magustos e uns jantares, umas rosacas de bolo-rei no Natal, eles vão a correr e dizem que melhor presidente do que aquele não há.

se assim é, é porque está tudo bem "na paróquia".

apreciem a forma como as autarquias esbanjam o nosso dinheiro em palermices e o povo aplaude.

existe algum documento público em que refira o número de trabalhadores por autarquia? se há ninguém fala dele. não dá jeito. há sempre um irmão, filho, sobrinho etc. o povinho vende a alma ao diabo para andar bem vestidinho e adoptar ares de quem já é pessoa muito influente na terra faz qq coisita. adoram ser qq coisa de sonante- nem que seja administrador de condomínio!

leia-se os resultados eleitorais para ver de que estirpe esta povo é. (Um abraço ao Marco e a Felgueiras - esses sim já começaram a abrir os olhos!)

nunca se sabe se vamos precisar do sr. presidente. todos querem um emprego limpinho! e os que já o têm querem arranjar um tacho - tacho não! panelão) para pôr a pata em cima dos outros.

isto ´+e um país de anões em bicos de pé.

é a ditadura da democracia.

Teodora disse...

o estado está a marimbar-se para as pessoas e muito menos para a célula familiar.

repare-se na alteração do direito de gozo dos dias de nojo. agora já nem ao funeral de um tio(a) se pode ir com falta justificada.

morre o cão ou morre o tio é indiferente. vão ao médico buscar um atestado.

ainda por cima todos temos cada vez menos tios. e a geração atrás de mim ainda menos.

a legislação de apoio à família também vai de excelente para óptima.

Anónimo disse...

Tem andado um bocadinho afastado deste espaço. Já não nos liga nenhuma! Está mal!!! Os amigos virtuais tb são de carne e osso.
Vá lá, deixe a preguicite de lado e dê-nos um post novo...

Bjinho

Teodora disse...

nesta treta do apoio à terceira idade também dava para falar do papel benemérito da Santa Casa da Misericórdia!

só se for misericórdia dos ricos!

Teodora disse...

quando diz: "É a sua vez. Se a vida não lhes permite, então, o Estado, a sociedade em geral deve assumir esse dever como fundamental. " esquece-se que essa não é a mensagem que tem vindo a ser passada pelos nossos governantes. e os tansos, clarividentes apoiam-nos. o modelo dos seguros americanos era muito bom. e agora ainda é? ainda acham que podem confiar nesse modelo. agora não os ouço.

apreciam dizer (pelo menos antes desta recessão) o estado social deveria acabar. que o modelo neoliberal americano seria o paraiso.

só pensa nestas questões de uma forma séria e humana quem por elas passa, porque os ricos e os jovens só se lembram quando a desgraça lhes bata à porta. até lá desde que haja futebol, cerveja e dinheiro no bolso, tá tudo porreiro pá!

os ricos safam-se e os outros que se ....

Teodora disse...

ó padre desculpe é que estou aqui na autarquia sem nada para fazer e tenho de ocupar o tempo.

Teodora disse...

padri

mi cantchi à cinderellaaaaaa

Confessionário disse...

pois é, tenho andado tão ausente da net!!! pufaaa...
Mas nao sei como o explicar. Tenho ideias,mas nao tenho o tempo que queria para as escrever.Este início de ano pastoral está a exigir muito de mim.
Não sei o que Deus pretende...
chiça, e eu que tinha prometido algumas novidades neste ano sacerdotal!!! pff

Carla Santos Alves disse...

Ainda bem que se cruzaram.
Naquele momento tera sido o melhor a fazer sim!

Bjs

Anónimo disse...

Olá, boa tarde.Claro que fez o indicado para o momento, não se pode deixar um idoso perdido na angustia, na solidão.Eu vivo perto do lar aqui da terra e já fui lá levar alguns , e até já levei algumas palmadas nos braços. Faço lá animação, duas vezes por semana.É muito triste ver muitos dos idosos, que alí residem, sem visitas de ninguem. Vou confessar-vos o que eles me dizem, por vezes,não nos deixe, a senhora dá-nos vida. Aproveito para fazer um apelo, quem tiver tempo visite estas casas e dê um pouco do seu tempo.

Canela disse...

Oh Pe. amiguito...

Pra ouvi-lO tem de fazer silêncio!

Talvez seja tempo de fazer uma pausa (eu não acredito que disse isto...)

A Paz de Cristo

Teodora disse...

na hora da morte, uns convertem-se, outros carregam a arma com zagalotes e pensando que a Igreja é um javali disparam a matar!!!


o perdão do Senhor ééé infiniitoo!

Anónimo disse...

Teodora,

Pelo timing do teu ultimo post (19 Outubro), deduzo que estejas a falar do Saramago. Não vou comentar as ideias e acções dele, porque penso que a serena resposta da Igreja já disse tudo.

Queria apenas partilhar que este tipo de situações, além de me divertirem à brava, acabam sempre por me fazer crescer. Convenhamos que os ateus activos têm muito mais piada do que os crentes indiferentes. Deve ser por isso que Deus diz o que diz sobre os tíbios... Mas o mais divertido da questão é que esses ateus acabam, mesmo não querendo, por ser instrumentos de Deus. Pergunto-me sempre quantos crentes “dorminhocos” (nos quais me incluo muitas vezes) não acordam quando um ateu desata a abanar o sistema. Obrigam-nos a relembrar em que é que acreditamos e porque é que acreditamos, e isso não pode ser senão a mão de Deus.

É verdade que também podem causar dano. Mas Deus arranja sempre maneira de nos fornecer meios de “dar a volta” à questão. Os meios diferem de pessoa para pessoa, basta cada um estar atento. Pessoalmente, dei-me conta de duas coincidências a semana passada: O lançamento em Português do livro “A Cabana”, que vi em estrondoso destaque na FNAC, e o lançamento de uma nova versão da Bíblia, que vi na TV.

Li “A Cabana” na versão inglesa e adorei. É um livro verdadeiramente inspirador, que me ajudou muito a repensar a minha relação com Deus. Fiquei surpreendida que um livro com semelhante conteúdo estivesse no top dos best-sellers Americanos. O Marketing para o mercado Português é que é um bocado “rafeiro”, se eu não tivesse já lido o livro achava que era mais uma dessas espiritualidades esquisitas...

Quando à nova versão da Bíblia, imagino que se possa tornar mais atraente para algumas pessoas, sendo o meio que Deus lhes dá em resposta aos ataques desta semana. Eu não me sinto particularmente atraída por esta versão, por mim gosto de ter títulos e referências, é mais fácil encontrar o que procuro.

O que esta notícia me trouxe foi o renovar de um propósito antigo, que nunca consegui concretizar. Na minha paróquia temos um Sacerdote que faz umas homilias fantásticas (não Teodora, ele não é giro, mas perfeito só Cristo...). Em sete minutos consegue explicar a relação entre a leitura do Antigo Testamento e a do Novo Testamento, e ainda a aplicação prática do tema. Apesar de, pelas estatísticas apresentadas na TV, eu fazer parte dos 1/10 dos crentes que já leu a Bíblia toda, apercebi-me de quão pouco sei sobre o assunto. Sobretudo na relação entre o Antigo e Novo Testamento, estas homilias fizeram-me perceber que estou muito perto do zero. Assim, resolvi inscrever-me num curso de Estudos Bíblicos, que algumas paróquias organizam.

Infelizmente na altura em que tomei a decisão, todos os cursos existentes na área de Lisboa eram à noite, em dias em que tinha aulas. Depois, por uns tempos esqueci o assunto e só me voltei a lembrar com a polémica desta semana. Vou fazer uma pesquisa para ver os cursos que vão decorrer nos tempos mais próximos, mas se algum dos “penitentes” que por aqui passa souber de algum em Lisboa, que não seja às segundas ou sextas à noite, ficaria muito agradecida que me informasse!

Confessionário, tou com saudades dos seus posts! Dão sempre temas lindos para levar à oração. Volte depressa!

D.

Teodora disse...

olá D.

pareceu-me que o pe. carreira das neves não estava muito sereno. não o conheço, mas do que ouvi na rádio pareceu-me algo irritado com o que saramago afirmou.

o pe carreira das neves "desafiou-o para um duelo" - compreendo o "cansaço" que o dito pe. possa sentir.

efectivamente é bom que haja gente que "despenteie" o pessoal. "a paróquia nacional" anda muito acomodada (relativamente a demasiadas coisas)

até insuspeitos bloquistas reagiram negativamente ao estrondo.

mais serena foi a reacção de Esther Mucznik. gosto sempre de ouvir esta senhora.

como não sou de lisboa não a posso ajudar na sua busca.

talvez na paróquia do lumiar???

Teodora disse...

portanto D.

constato que o seu padre é um homem encantador. é um mário crespo do púlpito!

Teodora disse...

ó senhor padre

gostava de lhe fazer uma singela perguntinha: se o nosso papo aceita a "entrada" de padres casados anglicanos, poderá estar ele a pensar que assim brevemente o senhor padre e seus coleguitas poderão também casar?

o que é feito da fátima, aquela criatura brasileira que morria de amores pelo seu padre? ela vai gostar desta ideia!

ó fátima se me ler, avance com muita calma! não se precipite mulher de Deus!!!| dê tempo ao tempo!

sónia disse...

Em relação a Saramago:

pensemos, que preferirá Deus?
mta palavra e pouca acção ou mais acção e discurso verdadeiro?!

uma polemicazinha vem mesmo a calhar para as vendas do dito livro subirem, subirem...

como diria o outro:
e o burro sou eu??

em vez de tanto 'parlapié' pq nao pegar nos lucros dessa venda magnífica (p n falar da restante obra) e ajudar quem precisa?

Fá disse...

Não me parece, Sónia, que a intenção de Saramago seja vender mais. Na idade essa não é, quase de certeza, uma prioridade. Para mim, são dois os motivos que justificam este confronto. Um decorre da formação académica de Saramago. Ser Nobel da literatura pode não chegar para saber ler a Bíblia. O segundo tem a ver com a necessidade imperiosa que o escritor tem de se encontrar com Deus, com um Deus-Amor misericordioso, tolerante, justo que verdadeiramente o suporte. Um Deus diferente daquele que Saramago descortina no texto sagrado. Esta necessidade de Deus é muito comum em pessoas de idade. Sabe, Sónia, eu também demorei tanto tempo a encontrá-lo... E só com ajuda o consegui descobrir... uma ajuda preciosa... E mesmo assim, quantas interrogações persistem...
Pior esteve o Pe Carreira das Neves. O conceituado Biblista nada clarificou, tudo condenou... Não gosto do modo como fala nem do jeito como escreve. Esteve bem o Pe Tolentino Mendonça. Mestre em aproximar as pessoas de Deus e da Vida, discordou com a cautela que o bom senso recomenda.

Teodora disse...

já me informaram que d. josé policarpo será o próximo james bond, o agente secreto!

eu cá não acredito nisso. para mim pinto de sousa quis confessar-se.

Anónimo disse...

Olá Teodora,

Quando falei da reacção da Igreja, estava a referir-me à resposta do Vaticano. Também vi a do representante da Conferência Episcopal Portuguesa, e não me pareceu assanhada. O Padre que menciona, não ouvi. Mas há sempre pessoas, padres ou não, que ficam mais irritadas e se sentem na obrigação de responder à letra. Neste caso, parece-me um desperdício de energia e que, ainda por cima, pode contribuir para o óbvio objectivo das vendas.

Quanto ao casamento dos Padres, francamente nunca pensei muito no assunto. Sei lá, nunca me deu para aí. Para mais, devo ser muito pardacenta porque, se bem me lembro, a minha única "paixão proibida" foi por um prof. de matemática. Que até era solteiro e bom rapaz no princípio do ano lectivo, mas resolveu casar durante as férias da Páscoa (o bruto insensível!).

O post da Teodora pôs-me a pensar no assunto. A conclusão não foi muito original: O Catolicismo é um todo, se uma das partes cai, inevitavelmente há outras partes que também caiem. O que foi original, pelo menos para mim, foi a parte que vi logo a cair: Se os Padres se casam, já viu a bronca que isso dá no Sacramento da Confissão?

Provavelmente cheguei a esta conclusão porque a minha pintainha, que ainda ontem tinha fraldas, hoje foi para a escola com os olhos pintados (também tentou as unhas, mas graças a Deus borrou tudo e desistiu).

O que é que isto tem a ver com os Padres? Bem, se a Igreja decidir que os motivos que levam ao celibato dos Padres deixaram de fazer sentido, ok, por mim tudo bem, e resolve-se o problema de muita gente. Mas ... Confessar-me a um potencial futuro genro?! Safa!!!

Tá bém, tá bem, estou a ser egoista e simplista. Só que não consigo mesmo decidir se a cena é de filme cómico ou de terror...

D.

Teodora disse...

pois é D

a confissão torna-se um berbicacho para resolver. mas pergunto-me: será que todos os maridos contam tudo às suas esposas? e vise-versa? não creio. no entanto será óbvio que a prima dama da paróquia terá de ter a capacidade de perceber até onde poderá perguntar.

julgo que problema problema é naquilo em que as esponjas dos padres se podem tornar. demasiado opinantes quanto à disponibilidade do seu conjuge, aumento salarial, colocação dentro ou fora da diocese, apoio espiritual a qualquer hora do dia e da noite, os decotes e mini-saias, coerência cristã etc.

nestas circunstãncias, considero que o casamento dos padres, a existir, terão de ser à prova de bala. de bala não, de míssil!

Teodora disse...

quanto ao duelo do pe carreira das neves e saramago, acho que pior esteve saramago. este optou por ficar junto às tábuas e o padre optou por não avançar, e julgo que por respeito pela idade dele e seu estado de saúde.

saramago não quis que houvesse diálogo. esquivou-se. talvez porque sabia que com o pe carreira das neves iria ter muito trabalhinho.

momentos houve, que me levaram a pensar que saramago é cobarde. foi triste e patético em alguns momentos.

saramago coloca algumas questões interessantes mas passou dos limites.

gostei muito mais de ouvir saldanha sanches e paulo rangel.

acredito que saramago sofra imenso com a ideia de não ser o homem de fé e que tem todo o direito de fazer a sua busca. parece-me também que ele é, por vezes vaidoso, e o resultado são algumas afirmações infelizes.

Fata Morgana disse...

Felizmente, os meus quatro avós morreram em casa, junto da família.
Não percebo porque razão se invocam "os tempos" para justificar o afastamento dos velhos, para os meter em lares. Sempre foi preciso trabalhar, sempre foi problemático lidar com a incapacidade progressiva das pessoas que envelheceram... mas lidava-se. Não passava pela cabeça de ninguém mandá-los ir morrer longe. Agora, passa. As pessoas já não procuram soluções, vivemos numa época de "corações ocos", as cabeças dizem "não posso, não tenho vida para isto" e agem em conformidade. Livram-se dos velhos muito facilmente, muito tranquilamente, porque "não podem olhar por eles"... E eles olharam por nós, muitas vezes com a mesma dificuldade e comprometendo o seu tempo.
As grandes e fundas recordações da minha infância, são dos meus avós. Como alguém disse mais acima, os velhos são os sábios.
Acho que meter um parente num lar deve ser uma decisão de último e absolutamente inevitável recurso (e acredito que aconteça, mas raramente).

Penso mesmo assim. Na minha família não há mandriões, é gente de trabalho e de estudo (conforme as idades). Mas arranjou-se sempre maneira de deixar os nossos velhos morrerem nas suas casas, nas suas camas. E não estou a falar de enfermeiros ou damas de companhia - embora ache melhor gastar esse dinheiro do que aquele que se gasta num lar - porque também não somos ricos...
A vontade e a solidariedade fazem milagres nas fases complicadas.

Fata Morgana disse...

E, já que se fala do Saramago, devo dizer que o acho um homem de fé. Uma fé na não existência de Deus que é tão forte como a que eu tenho na Sua existência. Deve ser uma fé muito triste (e com letra pequena, claro).

Anónimo disse...

Olá padre,
sempre que visito o lar de idosos aqui de minha cidade, volto pra casa transtornada e triste.Fiquei surpresa em saber que tu,sendo padre, também sente-se confuso diante disto. Obrigada por partihar teu sentimento. Isto faz com que me sinta mas aliviada e menos fraca diante de minha perplexidade.

sónia disse...

Fá, n é preciso chegar à idade do saramago p ter necessidade de Deus. Toda a gente a tem mas ainda nem toda a gente descobriu isso..
é preciso sim uma certa maturidade, mas uma maturidade interior que depende de cada pessoa e da preocupação que a envolve. Eu, com a minha idade, mantenho uma incansável procura de Deus e de uma relação com ele que seja propícia a mim e a todos e n utilizo o vocabulário rude que o sr. nobel utiliza p interpretar (mal) a Bíblia.
O discurso que ele faz n tem qq fundamento, e no mínimo de intelectualidade que o devia envolver poderia fazer uma crítica mais inteligente.
Gostei do comentário de Bagão Félix na RTP. A Bíblia é a história da condição humana, o bem e o mal, td o que corre por este mundo está ali retratado. Como pode o homem dizer que o que está lá escrito n é verdade?!
De resto, a minha formação n me deixa margem p dúvidas. Ele quer vender e é assim que se vende. Contudo, n estou de acordo da maneira como o faz..

Teodora disse...

na minha família também não há mandriões. só que não tenho com partilhar as pedradas da vida. viro-me como sempre o fiz e comecei cedinho. sou praticamente sozinha para tudo.

fiz tropa nos comandos com medalha de distinção.

materialmente falando, fiz-me à vida aos 18 anos e não dependo financeiramente de ninguém desde essa idade. não fujo às minhas responsabilidades. nunca o fiz.

quanto aos enfermeiros e damas de companhia, elas são precisas quando temos familiares acamados incapazes de satisfazerem as suas necessidades fisiológicas sem o apoio de outros. Para ser mais precisa, e por exemplo, quando nem defecar conseguem, porque o instestino não consegue expelir a matéria.
as famílias já não são numerosas, logo sobra só para alguns. uns! e esses uns têm de trabalhar para comer, pagar a prestação da casa, as contas da farmácia etc.

se tivesse nascido na serra leoa teria sido mais difícil.

aí está uma situação limite!

disse...

Se calhar tem razão Sónia. Saramago foi longe de mais... Os anos não servem apenas para desculpabilizar tb trazem responsabilidade acrescida.

Dizia José Régio:
"Deus. O pesadelo dos meus dias. Tive sempre coragem de O negar mas nunca tive a força de O esquecer."

Quem sabe se o mesmo não acontece com o(s) (muitos) Saramago(s) do nosso tempo...

Bjs