Sentou-se no sofá porque é mais cómodo para a sua doença. Fica cansada com facilidade. Não consegue reter muita comida e energia. Retém a respiração consoante os pulmões lhe permitem. Devo exagerar, porque não faço muitas considerações à doença. Vejo-a como os outros jovens da sua idade. Nem mais nem menos. Só as nossas conversas são diferentes. Porque não há como ir direito aos assuntos. Não há como falar do que é essencial. Padre, diga-me que valor e sentido tem o sofrimento. De que serve? Porque se sofre?
Claro que as quatro ou cinco perguntas que fez com o mesmo rumo me deixaram descalço. Por isso encolhi as pernas e fiz uns raciocínios que há tempos venho fazendo, porque sem dúvida que este é um dos enigmas maiores da humanidade, mais incómodos e sombrios. Não é por acaso que a maioria dos doentes, nos ditos países mais desenvolvidos, morrem nos hospitais. Ninguém os quer em casa.
Apeteceu-me responder que com a dor descobrimos o sabor da não dor. Era um raciocínio algo lógico, mas superficial. Por isso avancei essa parte, para encontrar sentido no que queria dizer.
Encarei-a de frente e disse. Diana. Repeti. Diana. Sofremos, porque somos frágeis e limitados. Não somos deuses e senhores da vida. Somos apenas seus administradores. E sabias que isso pode fazer-nos reconhecer a necessidade de Deus? Por sermos limitados, mais facilmente aceitamos que os outros tenham limitações, o que nos põe em pé de igualdades. Não somos superiores a ninguém. Na dor e na morte somos todos iguais. Não há capacidades, bens, riquezas, poderes que lhes resistam. Por sermos limitados, mais facilmente nos sentimos necessitados dos outros. Entendes como a dor pode melhorar os relacionamentos entre as pessoas? Evitar guerras? Evitar conflitos?
Sofremos para nos aproximarmos mais de Deus. Porque nos sabemos, como já disse, necessitados de Deus. Repeti este raciocínio de propósito. Os auto-suficientes não precisam nem dos outros nem de Deus. O sofrimento tem a capacidade de nos fazer descobrir o que é essencial na vida, como tu sabes melhor que eu. Quem melhor do que aquele que sofre para saber o que vale a e na vida!
Incrível como Deus sempre fez com que, no mundo, as coisas grandes se fizessem com as coisas mais frágeis! Incrível como o sofrimento tem a capacidade de nos fazer Viver.
Claro que as quatro ou cinco perguntas que fez com o mesmo rumo me deixaram descalço. Por isso encolhi as pernas e fiz uns raciocínios que há tempos venho fazendo, porque sem dúvida que este é um dos enigmas maiores da humanidade, mais incómodos e sombrios. Não é por acaso que a maioria dos doentes, nos ditos países mais desenvolvidos, morrem nos hospitais. Ninguém os quer em casa.
Apeteceu-me responder que com a dor descobrimos o sabor da não dor. Era um raciocínio algo lógico, mas superficial. Por isso avancei essa parte, para encontrar sentido no que queria dizer.
Encarei-a de frente e disse. Diana. Repeti. Diana. Sofremos, porque somos frágeis e limitados. Não somos deuses e senhores da vida. Somos apenas seus administradores. E sabias que isso pode fazer-nos reconhecer a necessidade de Deus? Por sermos limitados, mais facilmente aceitamos que os outros tenham limitações, o que nos põe em pé de igualdades. Não somos superiores a ninguém. Na dor e na morte somos todos iguais. Não há capacidades, bens, riquezas, poderes que lhes resistam. Por sermos limitados, mais facilmente nos sentimos necessitados dos outros. Entendes como a dor pode melhorar os relacionamentos entre as pessoas? Evitar guerras? Evitar conflitos?
Sofremos para nos aproximarmos mais de Deus. Porque nos sabemos, como já disse, necessitados de Deus. Repeti este raciocínio de propósito. Os auto-suficientes não precisam nem dos outros nem de Deus. O sofrimento tem a capacidade de nos fazer descobrir o que é essencial na vida, como tu sabes melhor que eu. Quem melhor do que aquele que sofre para saber o que vale a e na vida!
Incrível como Deus sempre fez com que, no mundo, as coisas grandes se fizessem com as coisas mais frágeis! Incrível como o sofrimento tem a capacidade de nos fazer Viver.
18 comentários:
Querido Padre, como estás? haverá um "...Diana , parte III"?, confesso que achei o "...parte II" um tanto vago.
Deve ser tão difícil ser padre nestas alturas. Espero que seja pelo menos tão compensador quanto é difícil.
"Sofremos para nos aproximarmos mais de Deus. Porque nos sabemos, como já disse, necessitados de Deus"
Caro Amigo P.e "Confessionário":
É tão importante que quem sofre tenha "por perto" alguém que o ajude a fezer essa "aproximação"...
Obrigado pela "meditação". Espero que haja uma "Parte III", mas não achei vaga a "Parte II". Quando já se passou pelo sofrimento, há coisas que se entendem melhor.
Um abraço!
Moçambicano
Gralha, sem dúvida que é difícil. Mas são as melhores ocasiões da nossa vida de padres...
...quando damos conta que a nossa vida faz viver!
Estou-lhe muito grata por este testemunho/ partilha!
Abraço amigo!
Este post fez-me lembrar os pensamentos que me acompanharam durante a Quaresma e foi, de facto, com prazer que os revivi!
um beijo enorme,
bom fim de semana
Olá,
Quando se confunde dor com sofrimento, é assim que que se responde, parece que são a mesma coisa, mas não são.
Podemos ter dores e não sofrer.
Assim como podemos não ter dores e sofrer.
Como disse o Buda, "O sofrimento é uma escolha, a dor é inevitável"
Até já,
Luís Carlos
amigos, para haver III parte, tudo dependerá da Diana...
senhor padre gostei sinceramente do seu documento e o comentario que me apetece fazer eo seguinte , e no sofrimento , que se conhecem os verdadeiros amigos , aqueles que estao ao nosso lado , e nos estendem a mao sem pedir nada em troca . um abraco para si e finalmente vamos falando
Também ando às voltas com uma "Diana". E, (infelizmente) sei, que o sofrimento nos aproxima de Deus. Mas continuo sem perceber porque motivo Ele se quer dar a conhecer por esta via. Infantilmente, pergunto: não encontrará Deus melhor forma de nos cativar??? Desculpe a provocação mas o dilema anda cá dentro a fazer estragos.
Um abraço
Fá
ó Fá, a ver se me explico:
O problema nao está na escolha de Deus, mas na nossa escolha.
Deus tem muitas outras formas de nos cativar, e usa-as.
Mas nós nem sempre O conseguimos ver nelas. No entanto, no sofrimento quase sempre vemos.
Não é Deus que precisa do nosso sofrimento, mas muitas vezes nós precisamos dele para O sabermos a Ele. Doi. Mas no meio disto há redenção, não há?!
ajudei?!
Ó Confessionário, desculpa lá, mas cá me parece que voltaste a resvalar para o mundo da teodiceia. Na tentativa de entreveres um sentido para o sofrimento, ficas (demasiado) perto de justificar a sua existência e de advogar a sua bondade.
Como questão-limite, o sofrimento é prenhe de ambiguidade. Por cada pessoa que faz uma experiência mais profunda de Deus na hora da dor, há pelo menos uma outra que perde Deus de vista e deixa de acreditar n'Ele...
Pode dar interesse ler:
http://www.agencia.ecclesia.pt/noticia_all.asp?noticiaid=71382&seccaoid=6&tipoid=93
Caro Confessionário
Gosto muito de o ler. Leio os seus sentires, a sua interacção com a comunidade (e que muitas vezes acho tão parecida com a minha).
Não deve ter tido essa intenção mas desta vez foi cruel: "Não é por acaso que a maioria dos doentes, nos ditos países mais desenvolvidos, morrem nos hospitais. Ninguém os quer em casa."
Já pensou que muitas vezes eles morrem nos hospitais pela tentativa desesperada das pessoas de os tentar salvar e correrem com eles para lá?! Não é uma questão de não serem queridos. É uma questão de não se poder fazer melhor em casa.
Cordialmente
C.
Por norma em Portugal, pouco se fala da força da Fé dos primeiros Cristãos.
Creio que todos os Apóstolos foram mártires.
Todos sabemos que S. Pedro renegou Cristo 3 vezes: e como morreu???
Devia haver coragem para falar da coragem da Fé!
Em Ano Paulino, vejamos o que diz S. Paulo:
Carta aos Romanos
Perigos encontrados
Três vezes fui flagelado com varas. Uma vez apedrejado. Três vezes naufraguei, uma noite e um dia passei no abismo. Viagens sem conta, exposto a perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte dos meus concidadãos, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre falsos irmãos! 2 Cor. 11, 25.26
Manuel Carreira, coordenação | FÁTIMA MISSIONÁRIA
OLá, C.
Poderá haver casos... mas a maioria será proque não os querem em casa a morrer (deu uma reportagem há tempos na TV sobre isso).
ó amigo anónimo de 26 Abril, 2009 00:25
Parece-me que aqueles que reagem afastando-se de Deus estão desprovidos de fé. Já não devem acreditar verdaderiamente Nele antes.
Por outro lado, o tal sentido que eu procuro encontrar no sofrimento, é uma questão apenas de lhe encontrar sentido. Não serve para o justificar.
abraços
de facto é interessante:
http://www.agencia.ecclesia.pt/noticia_all.asp?noticiaid=71382&seccaoid=6&tipoid=93
fez-me pensar...
e gostei sobretudo de: "Jesus na cruz pergunta «meu Deus, onde estás? Porque me abandonaste?» Ele percorre o caminho, não o ilude. É este o caminho que precisamos percorrer. Partir da experiência do sofrimento que nos faz perguntar por Deus, e também por nós próprios, pela nossa verdadeira identidade, de forma a tornarmo-nos mais conscientes sobre quem somos, da nossa insuficiência e da necessidade que temos de Deus, e nos faz chegar ao fim e dizer «entrego o meu espírito, tudo está consumado». Mas isto é um trajecto não é uma resposta óbvia."
Por coincidência li recentemente um livro sobre uma rapariga de 16 anos que tem cancro no pulmão. Chama-se Hazel e não atura superficialidades nem lamechices. Por exemplo, quando lhe dizem algo no género “na dor descobrimos o sabor da não dor” ela responde “isso é estupido por um milhão de razões, mas vou só dizer que é a mesma coisa que afirmar que se não houvesse bróculos não conseguiríamos saborear o chocolate”.
Tudo isto para dizer que gostei muito do post. Obrigada por nos lembrar que não devemos ficar por frases feitas e lógicas fáceis que podem não fazer sentido nenhum para os outros. Obrigada por ME lembrar que devo esforçar-me mais. E obrigada porque muitas das coisas que diz me ajudaram na minha procura de sentido.
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