sábado, fevereiro 14, 2009

Um colega que deixa de o ser e as consequências

O telefone do confessionário tocou. Do outro lado e de chofre: “Faxavor de continuar a cumprir bem as suas funções”. Depois, em pouquíssimas palavras, explicou quão grave era. Só depois do depois entendi. As vozes daquelas e daqueles que gostam de falar da vida alheia chegaram à conclusão de que eu ia deixar de ser padre porque o tinham ouvido a outra pessoa entendida nestes assuntos de comentar. E que era verdade. Que um padre assim e assado, com mais ou menos esta idade, lá para aqueles lados, ia deixar de ser padre. Só podia ser eu. Bolas. Nem se preocuparam em saber se era verdade! Já estão a ver.
Mas o que mais me indigna é que muitos desses rádios volantes fazem parte do grupo daqueles que condenam o celibato. Os padres deviam casar! dizem. Têm uma opinião muito aberta sobre assuntos de igreja. São progressistas. Tão progressistas, que na hora do assunto ser real, exclamam: É um escândalo! E alimentam as telenovelas e as histórias, aquilo que é verdade e aquilo que é fruto da imaginação. E depois ainda metem todos no mesmo saco. Aquele também já tem noiva. E aquele. Qual é o padre que não tem várias candidatas a viver em sua casa!
E a mim só me faltava possuir parcas semelhanças com o colega que vai deixar de o ser.
Ora bolas, não me chegava o celibato!

35 comentários:

Anónimo disse...

Tudo isto porque hoje é dia dos namorados!

Luisinha disse...

Sem vontade para comentar o escrito (porque as pessoas que falam da vida alheia e distorcem informação não merecem comentários), só queria dizer que gostei da expressão "rádios volantes". Só queria saber onde é o botão OFF!!!

Paz e Bem!!

Teodora disse...

E o senhor não seria capaz de cumprir bem as suas funções se tivesse uma namorada?!

António Valério,sj disse...

Bom dia! Também me tenho questionado muito sobre o modo fácil com que se fala dos padres... no meio de tantas críticas, há uma questão de fundo que é a exigência com que os padres são olhados... no fundo acredito que mostram uma alternativa de vida que abre outros horizontes. Um vida de castidade não é indiferente a ninguém, acho que é uma vida que interpela e por isso toca em pontos muito sensíveis, de não perceber e de adimirar, de achar injusto e estranho e de agradecer. Obrigado pela reflexão. Bom domingo!

Anónimo disse...

Bem visto... e bem verdade.
Quem conta um conto, acrescenta um ponto.

E já agora... se lhe puder colocar uma questão ( se achar por bem, elimine o comentário, não levarei a mal ):

Sabendo tudo o que já sabe, vivendo tudo o que já viveu, pensa que poderia ter sido um "melhor padre" se estivesse casado ( e se isso fosse permitido pela igreja, claro ) ?

Anónimo disse...

Tantas queixas contra o celibato… Ó senhor Padre você anda mesmo carente homem!

Anónimo disse...

A vida de castidade não é exclusiva dos padres. Os casais também vivem a castidade ou são chamados a vivê-la. Este contributo vem na sequência do que o jesuíta António Valério escreveu.

Confessionário disse...

Olá, amigos

é obvio que não posso afirmar se seria melhor se tivesse uma namorada ou se teria sido melhor padre estando casado. Posso imaginar. Só isso. E por isso mesmo não consigo dar uma resposta honesta e clara.

No entanto, queria referir e realçar que a minha preocupação neste post não está propriamente no celibato, mas na forma como as pessoas o usam para os seus diálogos de café e espaços similares. Toda a gente é muito para a frente na hora de opinar, mas muito para trás na hora de viver as realidades com que se depara... não acham?

Carla Santos Alves disse...

Comentários há sempre...nao podemos ligar!
Padres com mulheres sempre houve!
Padres com filhos também!

O que eu acho é que para fazerem ás escondidas mais vale que assumam e por isso a igreja podia redefinir papeis, acho eu!

Mas o que tem isto a ver com o transmitir a palavra de Deus e dá-la a conhecer???

Teodora disse...

Claro padre! E só fala quem tem que se lhe diga. Ou então... gostavam muito de ter e não têm.

É mais ou menos como aquelas jovens senhoras, esposas exemplares e mães estremadas, que antes de casarem saltavam de galho semanalmente. Hoje só falta dizerem que foram virgens para o casamento!

Mas também é giro de se ver! Eu adoro histórias; adoro a imaginação humana e os trilhos por onde a vida nos leva.

Acabamos quase todos por ter muita piada.

Teodora disse...

Estava eu a dizer, que essas mães estremadas e dedicadas esposas agora adoram julgar o comportamento de outros. Apontam pecados e pecadilhos que muitas das vezes são muito mais pequenos do que os que elas comenteram.

Se calhara, alguns dos casamentos delas não passam ou passaram de pecados maiores.

Anónimo disse...

A castidade e a forma como se vive a cada um pertence. Não é assunto público. Começo a ficar cansada deste tema. É mistério !? Por isso tanta atracção por ele. Estão as pessoas tão incapazes de Deus que não podem compreender e aceitar uma forma rara e diferente de viver? Nem todos andamos cá só por ver andar os outros. O sacerdócio, quando é verdadeiro, dificilmente se lhe põe o problema do casamento. Basta ler o que disse Cristo.

Mafalda disse...

Uma vida de castidade não é indiferente a ninguém como diz o P.Valério.Porquê? Talvez porque na sociedade em que vivemos seja impensável a castidade.Só um louco, dirão.Estranha-se.Felizmente também se estranham outras coisas, mas para o bem.Eu admiro profundamente a dedicação, a disponibilidade, a gratuitidade, a humildade dos padres.Mas reconheço que são alvo de muitas críticas e línguas viperinas.Parece que as pessoas não ficam contentes com o facto de existirem outras pessoas com opções de vida diferentes, pessoas tocadas de uma forma muito especial por Deus, que tudo deixam e seguem-nO!E entregam-se!Alguns não o farão da melhor maneira.Nós também não.Se o Padre peca, o problema é dele.Disso dará contas a Deus: um padre é um humilde servo de Deus.
Haja paciência!!Deixem-nos trabalhar que a tarefa já é árdua!

Abraço

Mafalda

António Valério,sj disse...

Sim, Paulo, também concordo consigo,que a castidade deve ser vivida por todos, inclusive nos casais. O celibato é uma expressão concreta da castidade. Referi-me à castidade dos padres, porque era o assunto em questão, mas fez bem lembrar isso!

E também acredito que o celibato, por ser um comprommisso público, causa uma maior atenção e por isso crítica... e um padre também é humano e sente as suas dificuldades, e muitas vezes talvez se acrescente ainda um peso maior. O padre terá de ter o coração unido a Deus para o sentido da sua afectividade. Nem sempre o consegue, ou porque a vida é difícil e ocupada, ou porque se foram deixando de cuidar coisas essenciais. Mas não me sinto capaz de condenar, entendo e rezo... também Deus tem os seus caminhos com aqueles que chama...

Anónimo disse...

Em geral, todos os padres têm uma Maria lá por casa para lhes tratar dos serviços domésticos.
Vivem em comum, como sendo padre e empregada. Até aqui nada de novo, a não ser o facto de só existir uma cama naquela casa. Nada de novo, também.

Luísa

Anónimo disse...

Olá!

Ora bolas. Só me faltava mais esta...

Vida de padre custa!

Especialmente os padres que vivem no interior do país, ou em comunidades mais pequenas. Estão mais sujeitos a este tipo de comentários. Toda a gente se conhece. Imagine viver numa aldeia pacata, ou até mesmo numa vila. Será que tem a mesma liberdade que se vive-se numa cidade.
Um padre amigo convidou a sua mana para lá dormir em casa,teve de a apresentar á comunidade durante a homilia... e mesmo assim...
Mas penso que os piores comentarios vêm dos amigos, daquelas pessoas mesmo chegadas. Esses doem. Bolas se doem.

Um abraço!

Alexandra

Canela disse...

Caro Confessionário;

as pessoas gostam de falar, do que não entendem. Confere-lhes um "estatuto" de sabedoria, mesmo que nada entendam!

E o diz-que-disse, é antigo... gostam por que gostam, acrescentar e cortar na vida alheia, e, o Pe. como não dá "corda", é um excelente alvo!

Paciência.... muita. Chegará a Santo, pelo exercicio da paciência!

Anónimo disse...

Teodora, não seja mazinha.
António Valerio, se a castidade é tão santificante onde encaixa: «Crescei e multiplicai-vos»?!

Teodora disse...

Anónimo das 17:31

Juro que não estou a ser mazinha. Eu já ouvi coisas (e espero viver para continuar a ouvir muitas coisas) que são hilariantes.

Não estou a dizer que são todas as esposas, mas que há muitas com muito sentido de humor há. Pode crer.

Anónimo disse...

Acho que todos temos alguma dificuldade compreender nos outros coisas que não somos capazes de viver...
Não sei bem como explicar isto, mas a mim parece-me que a castidade e o celibato dos padres tornam-se cada vez mais importantes à medida que tantos valores à nossa volta estão a ruir... É preciso que alguém seja capaz de mostrar que é possivel mantermo-nos fieis, que é possivel viver uma vida de autenticidade e de verdade mesmo que isso implique esforço e sacrificios... Hoje em dia muda-se de namorada ou de marido com a maior ligeireza, têm-se casos e relações extraconjugais, e não tarda nada teremos casamentos gays e sabe lá Deus mais o quê... O pior é que as pessoas estão a habituar-se a encarar tudo isto como se fosse "normal"... Desculpem-me, mas é bom acreditar que no meio de tantas mudanças ainda há pessoas que acreditam que é possivel ser-se fiel, que viver por e para Deus vale a pena!
Senhor Padre: Que Deus o ajude e lhe dê força!
Muitos beijinhos cheios de ternura!
Augusta

Anónimo disse...

Caro Confessionário:

Como eu compreendo do que fala... e do que sente perante quem (assim) fala!

Foram 3 anos de 'perseguição'... E um ano e meio depois de ter abandonado o sacerdócio (cansei-me de tanta hpocrisia dentro da 'minha' Igreja) sei que AINDA falam de mim...

Fui 'acusado' de tudo... desde ter namoradas, amantes (sobretudo casadas!), filhos nascidos e por nascer... fui até acusado de ter dado uma 'sova' na minha mãe... sim porque tiveram o cuidado de meter a minha mãe na história...

E... como já disse aqui alguém... doeu sobretudo vindo de pessoas que se fizeram passar por 'amigas', pessoas em quem confiei...

Esta prova humilhante foi sem dúvida a gota num copo de àgua já cheio que me fez bater com a porta... porque tinha vocação para ser Padre... não para ser mártir!!

Anónimo disse...

Confessionário...

Lembra-se do que eu escrevi no meu Blog??

Lembra-se das 'histórias' que por lá deixei, retratanto precisamente esta situação??

Sei que parece uma desculpa esfarrapada... mas não tivesse sido esse clima de 'perseguição' moral à minha Pessoa, enquanto Homem e enquanto Padre, e hoje ainda seria seu Colega...

Dir-me-á que nada disso justifica a minha ausência... que deveria ter tido capacidade para sobreviver a essa 'tempestade'... Que a vocação ao sacerdócio comporta em si mesma a vocação ao 'sofrimento', ao 'martírio' às mãos dos que não nos compreendem na nossa entrega...

Talvez...
Talvez eu tenha sido fraco...
Talvez eu não tenha tido a capacidade suficiente para saber responder com indiferença aos boatos, às conversas de café...
Talvez...

Mas... nada me fará esquecer o que me fizeram e o quanto sofri (e sofro ainda hoje! Foi uma vida inteira 'espezinhada'!)...

E sabe o que me doeu e dói mais??
É que quem mais fala (e falou!) são aqueles que estavam ali... todos os domingos à volta do mesmo Altar que eu...

Demorei meses até ser capaz de voltar a entrar numa Igreja sem sentir que me estava a humilhar... sem sentir nojo por pensar que noutra Igreja qualquer estariam aquelas mesmas pessoas... Não queria (não podia!) partilhar o mesmo espaço de Fé que essas Pessoas.

Hoje... creio na Igreja... AMO a Igreja... mas não esta igreja que experimentei enquanto Padre...

Oxalá a si nunca lhe falte a Fé e a Perseverança para VENCER...

Abraço.

Nélson Araújo

Alma peregrina disse...

Olá, meu caro amigo!!!

Estou de volta!!!

Desculpe a minha ausência, mas ainda tenho andado ocupado a adaptar-me a umas novas (e complexas) realidades da minha vida...



Agora, quanto ao post em questão...

Você tocou num ponto muito sensível: a forma como as pessoas parecem dispostas a tudo para deturpar a Boa Nova... mesmo que se trate de pura difamação.

Que neste post, se tenha parado de discutir esse assunto, para se passar a discutir o celibato propriamente dito parece-me sintomático (e particularmente paradigmática a acusação infundada da Luísa).

O que sucede é que os preconceitos ajudam as pessoas a viver. É mais cómodo rejeitar os ensinamentos de uma pessoa que nós não respeitamos (ainda que essa falta de respeito seja artificialmente construída por nós próprios) do que forçarmo-nos a pensar sobre o que essa pessoa procura transmitir. Chama-se a isto uma falácia ad hominem.

É claro que as pessoas que o difamaram são contra o celibato dos padres. Senão, que outro motivo teriam para fazer o que fizeram? O mero voyeurismo? Talvez... mas não me parece razão suficiente para estar sempre a atacar os padres em particular (sobretudo quando há uma tal diversidade de comportamentos interessantes por aí a pulular).

Os padres são o último bastião da Castidade no nosso século. São os últimos a proclamar com as suas vidas que uma pessoa pode passar uma vida sem sexo sem que a cabeça lhes expluda! Claro que, nos nossos dias, é dogma que uma pessoa não pode passar sem sexo (o Sexo é a salvação!). Portanto os padres (esses heréticos!) têm de ser queimados vivos na praça pública!

É mais fácil construir um mundo fantasioso no qual todos os padres são uns hipócritas que têm uma Maria às escondidas... do que pensar: "Eh pá! Talvez eu esteja errado! Talvez estes senhores me queiram ensinar alguma coisa com as suas vidas!"



Penso que as pessoas têm um desejo secreto de que o celibato caia, porque têm a ideia de que, nessa altura, a Igreja se tornará mais "aberta" ao sexo, perdão, quero dizer, aos afectos.

Nada disto é novo, infelizmente. Quando a consciência nos chateia, o melhor é chamar Diabo à consciência. E a Igreja é a única consciência que resta na nossa Civilização. Não se sinta sozinho.

Sabia que os cristãos do séc. I-III d.C. eram chamados de "canibais"? Sim, afinal de contas, eles comiam e bebiam a carne e o sangue do seu fundador! Desta forma era mais fácil resistir ao Cristianismo. Afinal de contas, os cristãos eram canibais nojentos! Tudo o que eles nos pudessem transmitir era irrelevante. E, dessa maneira, já não nos custava tanto lança-los aos leões.



E toda a gente sabe que os padres são, na realidade, uma cambada de pedófilos. E as freiras, umas frustradas ressabiadas. Todos os que se opuseram à legalização do aborto iam abortar a Espanha deixando as pobres portuguesas a sangrar nos becos. Todos os que se opõe aos casamentos gay têm receio de confrontar a sua própria homossexualidade. E os bispos, quando querem instruir a consciência política dos católicos, estão a querer reavivar o estado confessional salazarista, (assim poderiam obrigar o povo a pagar-lhes os seus sumptuosos palácios)!



Em última análise, a Igreja foi uma invenção do Imperador Constantino, criada com o único fim de manter o povo sob o domínio imperial, para quando Constantino acordar do seu sono criogénico em que se encontra há 1800 anos. E eu nem deveria estar a dizer isto, porque a Opus Dei prepara-se para lançar contra mim uma máfia de monges albinos para me silenciar!
:)))))
:D
;)



Se não lhe chega, veja o próprio Cristo! Querem imputar-lhe um arranjinho com a Maria Madalena! Quem diz isso? Os que querem uma Igreja mais aberta ao sexo, perdão, quero dizer, aos afectos.

Mas toda a gente sabe que Cristo não poderia ter namorado com Maria Madalena, porque Cristo era homossexual e teve um romance secreto e muy caliente com S. João Apóstolo. Quem diz isso? Bem, o lobby LGBT!

Isto, claro, se tivermos em conta que Cristo não teria tido tempo para todas estas facadinhas pansexuais, porque Ele estava muito ocupado a subverter as estruturas sociais e a exercer uma Revolta pelo proletariado (que posteriormente seria abafada por uma Igreja obscurantista e subserviente). Quem diz isto? Os marxistas, pois claro!

E daí, também, talvez Cristo fosse um marciano que nos veio transmitir os ensinamentos da sua civilização superior! Mas claro que, enquanto investigamos o ADN extraterrestre de Cristo, não estamos a pensar naquilo que Ele realmente nos ensinou! Sabe, aquela treta de "pegar na Cruz às costas e segui-Lo". Pois! Isso não é realmente tão importante como saber se Cristo teria ou não um terceiro olho na testa! E dá cá uma trabalheira!!!



Padre, sinta-se feliz! Quando alguém nos insiste em apontar o dedo injustamente... é porque estamos no bom caminho!

Olhe antes para aqueles que são verdadeiramente seus amigos. Esses, de certeza que o aplaudem.

Eu aplaudo!

Pax Christi


P.S.: Aproveito este meu comment para apresentar a minha profunda solidariedade para com todos os padres e ex-padres que aqui comentaram. Rezo para que Deus lhes dê graça para sarar as feridas!

P.S.2: Confesionário, você bem pode negar... mas eu sei que foi você quem planeou os ataques terroristas ao World Trade Center.

Anónimo disse...

"Confesionário, você bem pode negar... mas eu sei que foi você quem planeou os ataques terroristas ao World Trade Center."
Quem diria?

Canela disse...

Caro Pe. C.;

Parece-me que o li com alguma superficialidade. Perdoe-me!

Pelo que pude ler, de outros colegas seus que aqui comentaram...tudo isto vos fere muito. Sim, é grave demais falar dos outros... principalmente da imagem intocável que o Pe. representa.

Pe. amigo; revivo agora por este seu post... algo que chegou até aos meus ouvidos, a algum tempo atrás... sofri por compaixão, por saber das mentiras que saiam de forma ligeira e impiedosa...

Rezarei por si!

P.S: Se Deus é por nós, quem será contra nós?!

Anónimo disse...

Para mim o problema não está no que se diz ou deixa de dizer. Ninguém está imune a comentários, com ou sem, fundamento. Ninguém consegue abrigar-se de críticas infundadas e injustas. Não há volta a dar! Saber resistir e seguir em frente parece-me ser a única via. Porém, tudo o que possa ser falado esbarra quando interiormente nos sentimos libertos e tranquilos.
O abandono do ministério por parte de um sacerdote entristece-me sempre. Não porque tenha dificuldade em aceitar o direito que lhes assiste de escolher a sua forma de ser feliz. Mas porque é (quase)sempre uma subtracção. Continuam a ser pessoas de Fé mas o seu lugar na Igreja deixa de ser, a pretexto de nada, reconhecido. Esconde-se, mente-se, joga-se ao "faz de conta" e está tudo bem. Assume-se com autenticidade e verdade e o caldo rapidamente se entorna. E a responsabilidade maior não é, seguramente, das rádio volantes. Não é Sr Padre... Outras vozes mais fortes se levantam. O Evangelho do passado Domingo é muito claro: a Igreja tem que ser inclusiva. Mas isso implica adesacomodação e a humildade que tantas vezes nos falta. Dói.
Cada vez me convenço mais de que Jesus foi de facto radical, ousado e provocador:) Estou convencida de que se nos aproximassemos mais Dele, se com Ele estabelecessemos uma relação de maior intimidade, o mundo seria diferente e todos conseguiriamos ser felizes.
Um abraço amigo

Anónimo disse...

Doi ler este comentário. Realmente o padre sofre.Dedicam a vida aos outros, mas onde fica a parte afectiva do homem? É por isso que eu penso que tudo seria mais humano se fosse dada a possibilidade de escolha em relação ao celibatário.Sobretudo ao fim de um dia de domingo desgastante, se o padre tivesse uma esposa,a recebe-lo com carinho, com ternura, com afecto, não seria uma força renovadora? Uma forma de acabar com uma vida tão "solitária"?
Para todos os sacerdotes um abraço com ternura e admiração.

Anónimo disse...

Parabéns Padre
Tenha força e coragem para levar para a frente o dom do sacerdócio.
Mas tenho a certeza que precisariam como qualquer homem ou mulher de um carinho, uma palavra quando chegam a casa cansados, tal como todos nós...
Mas não pense que são só os psdres que sofrem, nós cristãos também levamos com muitos boatos e calúnias. É triste....
Forças e beijinhos

Anónimo disse...

Na minha singela opinião, o maior problema aqui nem é tanto a difamação, já que ela ocorre em todas as áreas profissionais, pessoais e sociais de todo o mundo, deve haver um gene a descobrir que explique a tendência para a mitomania e a gente habitua-se a viver com esse problema desde os tempos da escola.

Parece-me, sim, que a grande questão é a mistura da religião com a sexualidade, como mutuamente exclusivas, ou melhor, aceita-se que quem viva uma sexualidade activa possa praticar a sua Fé, mas não o inverso.

Mais ainda, o celibato não é compreendido em esfera alguma, seja na comunidade religiosa ou fora dela. Cada vez mais se propaga a ideia de que a falta de desejo sexual é uma doença terrível...as mais diversas e bizarras orientações sexuais impõem-se, mas não se aceita que haja quem pura e simplesmente se não interesse pelo sexo.

No caso dos padres e freiras, a sociedade precisa que eles sejam tão ou mais sexuais que o resto dos mortais, para que possam ser considerados santos e mártires pelo sacrifício enoooorme que fazem ao abster-se de uma vivência sexual normal, que refreiam e reprimem.

No entanto, gostava de vos transmitir que existe uma tipologia de pessoas que, de facto, passam muito bem sem sexo toda uma vida, uma comunidade que anda há alguns anos a lutar pelo seu reconhecimento e direito a existir - os assexuais ( www.asexuality.org ). Acreditem (ou não!) são seres humanos que não sentem qualquer desejo, curiosidade, interesse ou vontade por sexo. Não o reprimem, simplesmente não o sentem. Eu identifico-me com essa comunidade, por isso sei que é real, porque compartilho desse desinteresse e não tenho doença ou trauma de espécie nenhuma...

E o que é curioso (e me parece francamente óbvio) é que não se trata de pessoas que ouviram algum chamamento divino...não, são pessoas banais, que nada têm a ver com a religião (algumas serão certamente praticantes, mas não profissionais da Fé). Falo por mim, fui criada no catolicismo mas não pratico, nem nunca sequer ponderei ir para freira.

Por isso não entendo mesmo porque raio se insiste em misturar as coisas. Pode sentir-se vocação para a Palavra de Deus e em simultâneo ser-se um ser sexual, tal como pode ser-se um ser não sexual e não sentir especial interesse por religião.

Acrescento ainda que uma amiga minha se vai casar, pela igreja, com um rapaz que é neto (não reconhecido) de um padre...a liberdade seria a única via para acabar de vez com tanta hipocrisia e tanto "síndrome de Amaro"...

Cumprimentos ao Sr.Padre deste confessionário pelo seu excelente blog, que é a coisa mais próxima com a missa que eu frequento.

Anónimo disse...

Concordo com a facilidade comque as línguas viperinas ( sobretudo as mais piedosas)inventam historietas.
Mas também me parece que há muitos padres pouco prudentes,que cultivam amizades mais coloridas e pouco discretas.
Ainda que não haja sexo,
não me parece bem um padre sair à noite sozinho com uma companhia feminina emlocais públicos comotados com o "romance", ter jantares a dois ou ter em público certos gestos que podem dar azo a mal entendidos.

Enfim, à mulher de César não basta ser honesta..

vida eterna disse...

Tantos e tantas que são casados e têm filhos e netos de outros que não o conjuge. Onde existe a fidelidade no casamento? Quando escolhemos um determinado estado de vida, Deus dá-nos as Graças necessárias para vivermos de acordo com Ele, a infidelidade parte sempre de nós, Ele é sempre fiel e nunca falta às Suas promessas. Sou divorciada por imposição, vivo uma vida de acordo com o que acredito, castamente mediante a situação em que me encontro. Mas já me foi dito que eu precisava era de dar umas "quecas" desculpem-me a expressão. A sexualidade é importante, mas no seu contexto próprio. Vive-se intoxicados pelo sexo, quem pratica sexo faz bem, quem não pratica quase que não regula bem.
Ora, a nossa vivência espiritual vem equilibrar este estado de coisas e conferir sentido eterno ás nossas opções de vida. Acima de tudo de vemos ser coerentes com as nossas escolhas e em caso de cairmos, levantamo-nos e seguimos em frente.
Ainda bem que existem os sacramentos e dou graças a Deus pela existência dos Sacerdotes pois muito lhes devo!

Anónimo disse...

padre sofre!
oxala nunca lhe falte a força e a perseverança para vencer.
um abraço amigo.

Anónimo disse...

pois é...
esta coisa dos padres serem ou não casados, dá muito que pensar,porque esta geraçao de padres novos que não têm tempo para nada e sempre atarefados e mais stressados que muitos pais de familia, se fossem casados não sei o que seria das mulheres!!!
é caso para pensar,
seriam mais umas almas a estender a mão a caridade.
para bem da sociedade é melhor que eles se mantenham assim.
a eraquia agadece.

Luz Dourada disse...

Tomara que fosse! Era um grande passo para a Igreja...

Anónimo disse...

Padre, dos que ficam, espero que muitos, uns homossexuais outros hetero, a percentagem dos que zelam o voto suspeito ser bastante reduzida.
(O escândalo é por perderem o padre, não é pelo casamento).