sexta-feira, novembro 23, 2007

Sapatinho de cinderela

Bateram à porta quase a meia noite. Sapatinho da cinderela. E dizia há dias um entendido na televisão que nós, os padres, devíamos estar sempre disponíveis. Mas para quê e para quem? E o bom senso? E a nossa vida? Eu sei que o tempo de Deus não é o nosso tempo e que o tempo dos padres devia ser mais parecido com o Seu tempo. Porém, também o tempo das pessoas devia ser como o de Deus quando precisam do padre.
Queriam que lhes resolvesse um assunto que elas não queriam resolver junto de quem podiam porque não se davam bem. Não se falavam. Nem lembravam o nome do seu pároco, mas criticavam-no e à sua igreja. Que não era delas a igreja. Também não era eu o seu pároco, mas doeu-me como se de mim se tratasse. A filha deixara de ir à Catequese porque a tinham reprovado por faltas. Com a Catequista que tinha, também que ia lá fazer, diziam. Eu estive quase sempre calado nos meus pensamentos. Com a mãe que tem também que ia lá fazer! Toca a desbobinar coisas e palavreado contra as pessoas. Foi uma chuvada valente e eu sem o guarda-chuva à mão. Não foi preciso muito para deixarem a minha porta. Bastou que lhes falasse que deviam falar com as pessoas devidas, que deviam dialogar, esclarecer os mal-entendidos, que deviam perdoar. A esta palavra começaram a descer a escada. Nunca, padre. Nunca. Desculpe lá o incómodo. Vamos bater a outra porta.
E se Jesus lhes batesse também à porta

11 comentários:

Mafalda disse...

Se Jesus lhes batesse à porta eventualmente não ouviriam…não é fácil ouvir….especialmente quando não se quer, de todo, saber a opinião do outro. Pretende-se, isso sim, resolver os problemas de acordo com aquilo que queremos e ponto final! Essas situações, se não tirassem tempo e revelassem alguma mesquinhice, teriam a maior das graças. Há pessoas que gostam imenso de se ouvir falar e fazem enormes discursos do género: Sabe o Sr. Padre que a minha menina teve faltas à catequese, não foi por culpa dela, coitadita, pois que ela até se esforçava muito, mas aquilo é muito difícil e ela por vezes já vem cansada da escola.A catequista também não sabia puxar por ela!! E então o Prior, nem se fala. Sabe lá o que ele faz lá na Paróquia…ou o que não faz…o homem é terrível…E por aí fora…
Essa do perdão foi de uma enorme pontaria…normalmente fogem a sete pés, não vá dar-se o caso de se encontrar uma solução que passe por não bater na catequista e matar o Padre!!!

Abraço

pe.cl disse...

Pois é muitas vezes a falta de humildade (do Padre ou dos leigos) dá origem a situações desta natureza, esforçamo-nos tanto por cumprir as normas ou os estatutos da vida civil e vivemos com tanta leviandade as indicações da Igreja.

A culpa é sempre do Padre ou dos seus colaboradores mais directos, porque razão não é também nossa??? Que fazemos nós para que a vida da Igreja seja diferente??? De que forma contribuimos para que seja cada vez mais a Igreja de Cristo e não a nossa igreja???

Mas o pior de tudo é que nem sempre nós os padres temos a verticalidade que tu aqui apresentas, por vezes para evitar chatices com quem nos procura abrimos uma excepção e depois outra e ainda outra...

Parabéns por teres tido a coragem de pedagógicamente resolver a situação indicando às pessoas em questão ao lugar certo, porém será que não surge um colega que remedeia a situação???

Abraço forte no Pai.

Ecclesiae Dei disse...

Que tristeza saber que esse é o pensamento de tantos que se dizem "católicos"... continuemos nosso apostolado, e que Deus tenha misericórdia... de nós e deles.

Anónimo disse...

Quem sou eu para criticar, para julgar... Mas, às vezes me pergunto: Qual o motivo que levam algumas pessoas à igreja? Com certeza por Jesus é que não ...

Ver para crer disse...

Com mães assim, as crianças dificilmente aproveitarão alguma coisa da catequese.

Alma peregrina disse...

1) "Sapatinho de Cinderela"? Não me parece...

Vejamos se me recordo da estória:

Era uma vez uma humilde rapariga que era humilhada pela sua orgulhosa madrasta, sendo forçada aos trabalhos mais humildes (que ela executava humildemente).
Como recompensa pela sua humildade, ela recebe um presente da sua fada-madrinha (quase um dom divino, diria eu) que permite à rapariga realizar o seu sonho (conhecer o seu príncipe encantado).
Claro que o dom não é suficiente: a Cinderela vai ter que ultrapassar mais umas quantas dificuldades. Eventualmente ela acaba por ver confirmada a sua recompensa porque o seu pé é o único suficientemente pequeno para caber no "sapatinho".

Bem, para já, onde está a humildade da mãe deste post? Onde está o serviço dessa mãe em relação à paróquia (que passa por uma apropriada catequese da sua filha)? Onde está a abertura ao dom divino (já que, como o Confessionário expõe, ela provavelmente não abriria as portas a Cristo)?

Será que os pés dessa senhora são suficientemente pequenos para caber no "sapatinho da Cinderela" (ou na "porta estreita" Mt 7:13)?

Padre, não insulte a Cinderela! As estórias antigas são sempre fonte de Sabedoria!

2) Se bem que eu não sou ninguém para julgar, penso que efectivamente a prova de que esta mãe não está aberta a Cristo, está na sua recusa em perdoar. O Perdão é Jesus a bater à nossa porta. A recusa do Perdão é não abrir a porta a Cristo. Essa mãe não só não abriu a porta ao Messias, como fugiu d'Ele como se Ele fosse o Diabo!

Além disso, falta a Humildade!
Deus, o Ser mais poderoso do Universo, encarnou num limitado humano mortal, ainda para mais um filho de um pobre carpinteiro num canto remoto de um grande Império...
Nasceu num estábulo...
Lavou os pés aos Seus discípulos...
Se Deus é humilde, quem somos nós para ser orgulhosos?
"Näo é o discípulo mais do que o mestre, nem o servo mais do que o seu senhor." Mt 10:24

A educação (e, por extensão, a catequese) começa em casa, com os modelos paternais.

3) Toda esta situação é, na minha opinião, apenas a extensão do nefasto "eduquês" que se apossou das gerações pós-74. Este sistema educativo tem dois dogmas: a) não existem consequências para os nossos actos; b) todo o dever tem de ser "divertido" ou não é dever.

Penso que é auto-evidente que essa forma de pensar não gera adultos responsáveis, nem a nível cívico, nem religioso.

4) Perante estas tendências preocupantes das novas gerações, resta-me esperar (com Esperança) a nova encíclica do Papa Bento XVI, que deve estar aí a sair. É que eu sinto-me mesmo sem Esperança...

Cumprimentos

anamaria disse...

Ai...Que se há-de fazer com aqueles que querem as "coisas" da Igreja à sua medida, incomodando altas horas quem precisa de descansar...

Anónimo disse...

Esta é uma situação que, de tão caricata, não merece comentários. Mas existem outras bem diferentes que nos fazem reflectir sobre a real disponibilidade de muitos elementos do clero e dos católicos em geral. Pregamos mais que fazemos. Há dias alguém me falava da hipocrisia que existe na Igreja. Instintivamente, defendi os que se dizem seguidores de Cristo. Depois, vim a mim, e senti-me também hipócrita. Não é apenas falta de Padres que explica o vazio das nossas Igrejas... mas sim a forma descomprometida como nela se vive a Palavra. Bento XVI parece tê-lo entendido. E o reparo está feito.
Já notaram: hoje estou amarga... zangada mesmo. Talvez seja da gripe!:)))) Vamos ver se com o
Ben-u-ron a coisa passa:))
Bjs

joaquim disse...

Pois é, a culpa é sempre dos outros.
se calhar foram mais importantes os passeios ao fim de semana, faltando a todas as catequeses e depois...
Porque no fundo o que pensam é que as crianças, ou os jovens não vão lá fazer nada, mas sempre é melhor fazerem a primeira comunhão e o crisma...
Mas a/o catequista estão lá sempre, bons ou maus, mas estão e nem esse respeito pela sua dedicação, há.
Também é verdade que é preciso fazer algo pela catequese, pela iniciação cristã, (o Papa assim o diz), para a tornar mais vivida e menos "escolarizada".
E depois caro padre amigo, (a quem já não visitava há muito tempo), é preciso paciência, muita paciência...caramba!
Abraço amigo em Cristo

Anónimo disse...

Deus pede-me todo o tempo e eu quero reservar o pouco que seja para mim, para endireitar as minhas fragilidades, sim esse pouco que é só meu... mas se até para esse pouco eu vejo-O olhar e se eu não O posso contestar e não respondo pelo que é meu, mas d’Ele? Sim, eu busco as minhas razões e apelo a todos os bons sensos, mas onde fica o bom senso perante o Amor? Onde fica a nossa vida perante a vossa?

Sonhador Acordado disse...

Esta situação soa-me estranhamente familiar. Não sou padre, mas frequentemente oiço desabafos sobre esta ou aquela pessoa da paróquia tal, ou mesmo sobre toda uma comunidade.

Muitas vezes situações que bradam aos céus, pelo menos a julgar pela descrição.

E, claro, no entender de quem desabafa, a solução é sempre a ruptura, o afastamento, como represália, nunca o perdão, nem sequer a abertura para o perdão.

Isto tentando convencer quem ouve do seu ponto de vista, e angariá-lo para o seu campo. Se sugerimos a re-aproximação ou o perdão... já não servimos como ouvintes.

De facto... se Jesus lhes batesse à porta, será que o ouviriam?

Um abraço

Sonhador Acordado