quarta-feira, janeiro 10, 2007

Sr Padre, a minha filha é deficiente, chorou

Vinha com o lenço na mão. Já húmido. Rosto cansado. Enrugado. As rugas da vida. “Senhor padre, a minha filha é deficiente”. Mas, ó minha senhora, isso não é pecado! “Mas é que, de vez em quando, ando revoltada.” Lembrei de imediato uma criança mongolóide que um dia fez a Primeira Comunhão e que era a alegria dos pais. Nunca esqueço o carinho que ela me deu gratuitamente. Porque gostou de gostar de mim. Muito verdadeira. Mais que a maior parte. E então… então aproximei-me daquele rosto cansado e disse. Já imaginou o que seria ter um filho chamado de normal e que não lhe desse carinho?! Ou que nem quisesse saber de si?! Ou que fosse um… sei lá! Fui pelo lado mau, pelo antídoto. Achei que não estava a ser honesto. “E ainda por cima não posso vir à missa para tratar dela!” Contei-lhe depois a história do Bom samaritano. E após conversa prolongada, escancarei a boca. Ela. “Sabe, quando ela vai para a escola eu não sei que fazer. Não me apetece fazer nada!” E foi quando eu descobri para ela. E para mim. É tão bonito precisarem de nós! E avancei seguro. Em cada uma das missões que Deus nos concede, temos de tentar o melhor. O padeiro. O jardineiro. A parteira. O padre. Todos. A sua é essa. Parece pequena. Não consta do cardápio do Centro de Empregos. Mas é grande. Linda. Tente o melhor. Deus há-de estar sempre por perto. Mesmo quando andar revoltada. E pense sempre quão bonito é precisarem de nós. Já pensou se ninguém precisasse de si?!
Ela precisa.

17 comentários:

Elsa Sequeira disse...

Amigo!!
Pois é bom precisarem de nós! Senão sentiriamo-nos a mais, abandonados...
Acho que a senhora deve ter ficada mais animada...
Mas, eu entendo a revolta dela, porque ao por-me no lugar dela, dá para entender perfeitamente, eu tb sou mãe, e Graças a Deus, o meu filho não tem nenhuma deficiência, adoro-o, no entanto se ele tivesse concerteza adorava-o igualmente, porque ele é um pedaço de mim própria, no entanto entendo a senhora, quando "compara" a sua filha com as outras crianças, e vê a limitação dela, e vê a felicidade das outras, livres...e a dela...completamente dependente...e depois pensa que um dia já não estará cá...e quem vai cuidar dela, com o amor que só uma mãe tem??
È muito complicado...
Muita força para a senhora e para a filha!!
E para ti também!!!

beijinhos!!!

:))

Be

J disse...

A missão de Deus para cada um de nós, muitas vezes não a percebemos, mas Ele só quer o nosso bem, assim que rezo para que o Senhor nos ajude a tomar nas nossas mãos o que Ele nos dá, e a aceitar, dando o nosso melhor.

Um grande beijinho e obrigado pelo seu post que me fez pensar

Maria João disse...

Às vezes a nossa missão parece muito pequena. Mas aos olhos de Deus é muito grande e isso é que interessa. Às vezes também sinto que preciso de fazer mais. DEpois vejo que o que acho pouco é muito para as outras pessoas que estão a precisar de mim.

As tuas palavras foram muito bonitas. Acho que conseguiste deixar uma sementona nessa senhora. Força, padre!

beijos em Cristo

Anónimo disse...

Pois... O pior é quando pensamos que ninguém precisa de nós, quando pensamos que não somos importantes para ninguém que nos redeie e por isso nos deprimimos mas depois percebemos que estávamos errados e alguém precisou de nóis para ser feliz e não estava mos lá... deviamos estar a pensar na importância quw temos para as pessoas... por isso penso que nunca devemos duvidar que cada um é único e insubstituivel e isso deve ser motivo do máximo orgulho... E também nunca duvidar que alguém precisa de nós.. mesmo que nem nós nem essa pessoa nos apercebamos...

Beijinho...

Anónimo disse...

O MEU CASO...

"Os motivos da redacção da presente memória de licenciatura são três [...]
"O terceiro motivo tem a ver com a dedicatória da presente memória de licenciatura. Pelas 15 horas e 45 minutos do dia 9 de Dezembro de 1996, nasceu no Hospital Fernando da Fonseca, sito na freguesia da Venteira do concelho da Amadora, uma menina à qual foi dado o nome de Maria Alba: a minha filha. Tem o chamado síndrome de Down, vulgarmente conhecido por mongolismo. Diz-se que os homens não choram. É mentira: choram, e muito; mais do que se pensa; só que choram às escondidas... E eu chorei muito nessa noite: muito, mesmo... No autor deste trabalho, no João Pedro, Deus viu não João mas Pedro; não o discípulo que Jesus amava mas o homem de pouca fé; não o Apóstolo que ficou ao pé da Cruz de Cristo mas o Apóstolo que O negou três vezes. Mais vezes O tenho negado eu... Mas Deus não achou necessário perguntar-me outras tantas vezes se O amava; perguntou-mo só uma vez: deu-me uma filha deficiente, apostou em mim como pai e mandou-me arregaçar as mangas e deitar as mãos ao trabalho. Serenei, e pus-me a falar com Nossa Senhora do Carmo. Pedi-lhe uma de três graças para a minha filha; e, volvidos que são mais de quatro anos sobre o seu nascimento, estou sinceramente convencido de que foi concedida à menina a terceira: a Maria Alba, apesar de ser mongolóide, está uma criança normal. Decerto, a minha mulher e eu temos trabalhado muitìssimo pela nossa filha; mas a menina não podia - não podia!... - estar tão maravilhosa como está sem a ajuda de Deus, por intercessão da Virgem Maria. Assim, deponho aos pés de Nossa Senhora do Carmo a presente memória de licenciatura e, com a Maria Alba, a minha filhinha, a menina dos meus olhos, às minhas cavalitas, digo-Lhe baixinho: 'Minha Mãe, muito obrigado...'.
"Tenho de convir que agradecer à nossa Mãe do Céu tamanha graça com uma resma destas de papel, que ainda por cima jamais será publicada, é coisa pouca - ridícula até... Mas, cá no meu íntimo, algo me diz que Nossa Senhora não está nada aborrecida com isso. Será o nosso segredo - meu e d’Ela..."

Pedro Mendonça, "O Matrimónio Canónico em Portugal" (memória inédita de licenciatura), Salamanca/Lisboa - 2000/2001, págs. 2-3.

Anónimo disse...

Como gostava de o ter na minha paróquia, assim à mão!
As pessoas deficientes para mim encerram magia! Mostram-me Deus! Conheço vários casos em que, na sua fragilidade, constituem o elo forte da família... O grande problema está na sociedade que tão mal as sabe acolher e tanto teria para aprender com elas...
Um abraço Fá

Confessionário disse...

ó Fá, mas eu tb não sou nada de especial...

Anónimo disse...

Todo o Homem é feito à imagem e semelhança do Pai, eu creio, que as pessoas "ditas diferentes" também o são.... Alguém me diz, como é o nosso Deus? não poderá Ele ser, como a filha dessa senhora e sermos nós os diferentes?...

Minha senhora, sua filha é uma benção de Deus, tal como os filhos ditos perfeitos, a senhora, deve pensar o porquê de o Senhor lhe dar essa tamanha responsabilidade, de lhe colocar nas suas mãos, na sua vida, uma criança tão bela como a sua filhinha!...uma criança tão dependente, uma criança que precisa tanto de cuidados e sobretudo de amor.... de muito, mas muito amor... já pensou?..

A Bíblia, a Palavra de Deus, diz-nos que os filhos são herança do Senhor, então... receba essa herança com gratidão, com a mesma gratidão que receberia outro filho..... e lembre-se que Deus a acha CAPAZ, MUITO CAPAZ de cuidar como deve ser, a sua menina.... Ele viu, ou melhor, Ele sabe, pois só Ele sabe todas coisas, que a senhora era a pessoa indicada, a pessoa competente, a pessoa capaz.... a mãe que a sua filha precisava! Deus não viu outra mãe para a sua filhota, VIU-A A SI! :D

Parabéns mãe, porque para Deus lhe dar uma filha assim, é porque a senhora é alguém muito especial.... pois Deus é bom, Deus é justo e Deus ama a sua princesa, Ele ama-nos tanto!... Ele ama cada um de nós de forma especial e particular... e esse amor e extensivo à sua menina.... por isso, Deus não lhe iria dar uma mãe, que não fosse a MELHOR MÃE DO MUNDO, para essa criança!!!

Nunca desista, nunca se revolte com Deus, pela prenda, pela dádiva da vida da sua filha... O Senhor nosso Deus, sabe o que faz!

A senhora foi contemplada por Deus, com uma prenda diferente, mas que foi Deus que a escolheu para si!... :))

Sr. Padre, "falei...falei....e falei...." não rectifiquei nada do que saiu instantaneamente do meu coração... se puder.... leia isto a essa senhora... :D

Gostei da sua visita, no meu jardim! Mto obrigado e apareça mais vezes. :D

Já agora, o que se passa com o cantinho "A CAPELA"???!!! não consigo lá entrar, sabe o que se passa?

Um abraço no amor, no imenso e puro amor de Deus.

Um fim-de-semana muito florido e luminoso para si e para todos os que por aqui passam.


Flor :D

Confessionário disse...

Flor, consta-me que a Capela saiu do ar. Eu ainda consegui ir apenas com um post. Não sei que se passou. Mas algo aconteceu com a nossa capelinha!!

Dad disse...

É uma grande prova!

Mas não será que Deus dá as maiores provas a quem tem capacidade de as suportar?

Se assim não fosse, o que pensaríamos de todas as desigualdades gritantes com que nos deparamos? Que pai maltrataria uns e, aparentemente, suportaria outros?

Deve haver alguma lógica de crescimento espiritual em todos os grandes dramas que acontecem na nossa vida e na forma como os encaramos e os superamos ou não.

Imagino o que sente uma mãe com esse problema, ou aquelas que perdem os seus filhos...

Embora se acredite na vida depois da morte ou na inevitabilidade de algumas doenças, é duro, muito duro!

Espero que a senhora em causa tenha coragem suficiente para não se sentir uma desgraçada. Deve ser uma situação muito complicada para qualquer um de nós.

Tenho uma amiga com um filho deficiente. É uma mulher forte! Pelo filho abdicou de muitas coisas mas construiu muitas coutras - como por exemplo uma casa para dar apoio a outros filhos de outras mães com problemas semelhantes. Talvez essa senhora, se tiver disponibilidades pudesse fazer algo semelhante. Ajudar quem está em igual circunstância ou muitas vezes pior, acho que ajuda a aceitar os nossos problemas, relegando-os para um lugar bem menos importante do que aquele onde estavam colocados.

Felizmente também que na nossa actual sociedade já não há tanta descriminação em relação às crianças "diferentes". Acho que isso também ajudará muitíssimo os pais.

Beijinho para ti. Começaste bem o ano!

Carla Santos Alves disse...

Amigo

Tens sempre a palavra certa na hora certa, por isso é tão bom falar contigo...és mesmo um mensageiro de Deus...

Mas neste caso...acho que entendes a revolta, independentemente do que se possa dizer, não deve ser nada facil uma situação destas!
Bjs
Carla

Elsa Sequeira disse...

Amigo!!!

Então! não és "nada de especial...."????

ahahahahaha ahaha

Conta-me outra que essa não cola!!!!

Beijinhos!!!

disse...

Aqueles que precisam mais de nos são esses!
Por esses é qu vale realmente a pena nos gastarmos o nosso tempo!
Esses são realmente aqueles que precisam... mais do que qualquer outro!
abraço

Hadassah disse...

Gosto da "música" deste site,,,

Catequista disse...

Não deve ser fácil ter-se um filho deficiente, pela responsabilidade e trabalho que acarreta. Mas de certeza que se recebem em troca muitas alegrias, apesar de sabermos que essas pessoas, por serem especiais, precisam de nós mais do que qualquer outra pessoa.
Na vida todos temos a necessidade de nos sentirmos úteis, de perceber que existe alguém que precisa de nós, seja numa palavra amiga, num ombro que se "empresta" ou num trabalho mais activo. Só deste modo a vida assume o seu real significado.

Anónimo disse...

O que acontece a esses filhos quando os seus pais morrem?

Teodora

Unknown disse...

Sou casada Há 28 anos, tenho 43 anos, tenho três filhos, O mais velho com 27 anos, uma menina de 26anos portadora da síndrome de Turner e também autista, e o caçula com 23 anos também autista, porém num nível mais leve. A menina tem uma vida limitada com uma idade mental de aproximadamente5 anos, ela não sabe falar como as demais pessoas. O menino fala , estuda,fica no limite de quase alcançar uma vida normal, mas não alcança. Hoje estou especialmente triste e angustiada. Sempre acreditei em Deus, apesar das minhas falhas, procurei estar em seus caminhos, fazer a sua vontade. Amo meus filhos, aceito minha filha deficiênte como ela é, mas sofro muito pelo meu filho que fica no limite entre a normalidade e a deficiência. Estou cansada, fui mãe muito jovem, e lido com a deficiência dos meus filhos desde os 19 anos, buscando tratamentos em médicos, clínicas e em Deus. Estou cansada das pessoas dizerem que sou forte, alguém especial a quem Deus confiou essa missâo, que melhor meus filhos serem assim do que filhos ou pessoas más. Porém, não sou nem quero ser forte nem especial, quero ter o direito de ser frágil e protegida como as outras mulheres.Quero meus filhos independentes, casados, com filhos... Quero ser igual a todo mundo. Será que, para Deus, minha filha com deficiência não basta nessa família? Porque o meu filho também? O que fiz de tão abominável para que Deus me castigue assim? Estou cansada... Esse é o meu desabafo!