Segundo informações da agência UcaNews, a Igreja católica na Índia deparou-se, nos últimos cinco anos, com o suicídio de, pelo menos, treze padres, o que dá uma média de um suicídio a cada seis meses. Segundo dados apresentados pelo padre Lício de Araújo Vale, de agosto de 2016 a junho de 2023 tinham-se suicidado no Brasil quarenta padres. Em março de 2023 o jornal Correio da Manhã dava conta do suicídio de treze padres em Portugal. Sabe-se que a sociedade hodierna potencia personalidades fragmentadas, depressivas e emocionalmente débeis. No entanto, torna-se difícil entender que alguém que vive do sagrado e de uma fé que está enraizada na esperança da ressurreição se deixe apanhar numa rede de desespero que conduz ao suicídio. Torna-se difícil aceitar que alguém que descobriu a vida como um dom de Deus decida, em desespero, terminar com esse dom.
Vários estudos apontam para factores de risco como o stresse, a solidão e a cobrança desmedida. Dos padres quase toda a gente espera a perfeição, a presença constante, uma vida exemplar. Ainda há quem pense que um padre deve ser infalível, impecável, imperturbável, um super-homem protegido pela fé ou um anjo travestido de ser humano. Os padres são seres humanos e, como tal, com fragilidades, limites, necessidades, desejos de pertença e de compreensão. Se é certo que precisam de alimentar uma vida espiritual intensa que ilumine a sua vida e missão, também é verdade que isso não os isenta da sua condição humana e das mesmas lutas emocionais do ser humano. Num tempo em que se espera que um número mais reduzido de padres faça o mesmo que se fazia há dezenas de anos e, consequentemente, com o multiplicar de solicitações, é normal que também eles se deixem enredar na trama do stresse, restando pouco tempo para tratar da sua vida pessoal e saúde mental. Ainda por cima, a sociedade continua a exigir-lhes uma perfeição que não existe e não têm companhia nem encontram facilmente ombros amigos com quem desabafar e partilhar a sua vida diária, preocupações e dificuldades. O padre é um ser humano!
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "A síndrome de Burnout e os padres"
5 comentários:
Sr. Pároco,
Li atentamente sua reflexão sobre os suicídios entre padres e a Síndrome de Burnout, e me veio à mente que, infelizmente, os padres de hoje não são os mesmos de outrora. Antes, a vida sacerdotal girava essencialmente em torno da oração, do cuidado com as comunidades e dos pobres. Hoje, muitos se veem imersos em redes sociais, preocupados com imagem, popularidade, mídia e aparências.
Ao entrarem nesse mundo, é natural que o mundo também entre neles, trazendo junto suas ansiedades, vazios e dores. E, assim, o peso da missão se mistura às pressões do mundo moderno, gerando consequências trágicas para algumas vidas... Lhe falo com respeito e como um convite a reflexão... Até porque sabemos que vestir a batina não garante estar diante do Senhor; estar cheio de obra não garante proximidade com Ele. Um padre pode estar cercado de atividades, mas distante do coração de Deus, e isso também pesa, às vezes de forma trágica e irreversível.
Hoje , 10 de setembro, é o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio.
senhor padre, aconteceu-lhe alguma coisa? depois deste texto, não temos novidades suas!
22 setembro, 2025 22:08
É apenas o tempo a voar!...
Boa tarde Senhor Padre,
A sociedade atual é muito exigente. Pede muito em troca de nada.
Os senhores padres têm uma grande responsabilidade e não deve ser nada fácil gerir uma ou, como em muitos casos, várias paróquias.
Acima de tudo são seres humanos como todos nós e necessitam de todo o apoio e compreensão das comunidades, o que nem sempre acontece.
Incompreensões, maledicências, cansaço e muitos outros fatores devem estar na origem da fragilidade dos padres que se suicidam.
Não tinha a noção deste facto e fiquei chocada.
Resta-nos a oração para que o Senhor a todos ajude e fortaleça.
Um abraço.
Emília
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