Os padres não têm de ser melhores que ninguém. Têm de, como todos os cristãos, tentar ser melhores. Claro que isso não justifica nem desculpa os erros dos padres. Não desculpa as suas más opções pastorais ou eclesiais. Não desculpa as vezes em que usam a sua vocação como um trampolim para os seus interesses pessoais ou gerem as paróquias e os sacramentos em discordância com as leis da Igreja ou o Evangelho. Não desculpa quando não se esforçam por serem melhores pastores. Mas os padres são, antes de mais, pessoas. E são pessoas com contextos, circunstâncias e vivências das quais não se conseguirão distanciar nunca, porque são também fruto disso. E se é certo que muitos padres se estão a marimbar para o que os outros pensam, também há quem sinta nos ombros um peso e uma pressão que superam as suas forças. O modelo de perfeição evangélica que é exigido aos padres, como se tivessem sempre de estar disponíveis, preparados e dedicados, acaba por afogar as suas vidas. O padre não pode deixar de viver a sua vida e de fazer a sua caminhada de fé para se tornar um funcionário das coisas de Deus ou da Igreja. O padre tem de viver em Deus como é, como tenta ser, como se esforça por ser, mas não como todo o mundo lhe exige ou espera que seja. Os padres impecáveis não existem. Existem apenas os esforçados e os que não se esforçam. Existem, quando muito, os que não ligam a nada e os que, porque ligam a tudo, vivem o ministério como um peso. Repito. Os padres impecáveis não existem.
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Os padres impecáveis"
4 comentários:
Andámos séculos a encher os altares com figuras eclesiásticas e agora queixamo-nos.
A ideia do padre como um "alter Cristo" é boa, mas elevada ao excesso é, na minha opinião, má!
O padre Confessionário nem sabe a sorte que tem! Onde eu estou, os padres têm de se esforçar diariamente para que não lhes colem o rótulo de abusadores e criminosos. Vivem sob recorrente suspeita, difusa mas entranhante. Aqui, na cabeça de muita gente, padres normais não existem.
Amigo Emigrante
Infelizmente, a suspeição, seja porque motivo for, é uma constante dirigida aos padres, seja em que região do mundo for. Mas acredito que haja regiões e países onde isso seja pior, sobretudo depois da onda de escândalos que assolaram a Igreja nos últimos tempos. Daí também a necessidade de desmistificarmos a ideia da "impecabilidade".
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