Uns dizem que a pandemia está a acabar e outros que está para durar. Uns dizem que a vida tem de continuar e outros ficam a vê-la passar. E algo similar se passa dentro da Igreja, onde se dá conta de uma série de mudanças que a pandemia tem desvelado e de uma série de mudanças que se têm tornado ainda mais urgentes. Diz-se que o mundo não mais será o mesmo depois desta pandemia. Eu digo que a Igreja ou a sua acção não voltará a ser igual. Tenho pensado muito nisto. Tenho reflectido e amadurecido algumas posturas e pastorais. E reconheço que, quase naturalmente, alguns pequenos processos vão-se tornando parte de uma grande conversão. Pelo menos nas comunidades que, pastoralmente falando, coordeno. Dou alguns exemplos.
Nalgumas das minhas comunidades mais pequenas, a missa destes últimos tempos tem sido quando é possível, ou seja, quase sempre fora do fim-de-semana. Não têm reclamado não terem missa no Domingo e aceitam a possibilidade que lhes é oferecida. Talvez tenham aprendido que o Domingo é o dia do Senhor, mas que em qualquer dia podemos celebrar a Páscoa do Senhor.
Nalgumas das comunidades maiores, as pessoas vão-se sentando, à medida que entram na igreja, nos lugares que lhes são indicados pelos ministros do acolhimento, e não no lugar a que se habituaram e que preferiram ou a que se acomodaram durante anos como um direito adquirido.
Há paroquianos que, cada vez mais, começam a ir à Eucaristia da paróquia maior, porque sabem que ali há sempre eucaristia. A mobilidade que usam para o comércio, usam agora para a celebração da fé.
A comunicação saiu da Igreja, para além do púlpito, e começou a ser mais usual e visível em outros âmbitos, sobretudo as plataformas virtuais e digitais. Dizem-me que a comunicação está muito melhor e menos fechada.
Dá-me a sensação de que os ritmos e hábitos dos fiéis estão a ser reconfigurados com uma certa naturalidade. A pandemia está a retirar-nos alguns bairrismos escusados. E está a alargar os nossos horizontes.
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "A pandemia descristianizante"
4 comentários:
Boa tarde Senhor Padre,
Pelo que me é dado observar não posso deixar de estar mais de acordo com a sua narrativa.
A Pandemia, além dos aspetos negativos que nos trouxe como todos sabemos, também tem tido aspetos positivos.
Destaco a resiliência e uma maior espiritualidade alargada a tantos que antes não se importavam com as coisaa de Deus. Factos que vou constatando no meu dia a dia.
Ailime
A ausência do gesto de paz, apesar de tudo, trouxe aos ritos de comunhão uma maior fluidez, serenidade e concentração. E conseguiu-se rezar muitas mais vezes o Cordeiro (antes quase sempre omitido e trocado por um cântico de paz).
A paragem dos grupos corais mostrou aquilo que já se sabia: sem estarem ocupados pelo ministério do canto, muitos descobriram não ter outras razões válidas que justificassem a sua participação na missa. Mas houve também aqueles que redescobriram o seu lugar no meio da assembleia (e que agora mostram-se reticentes a abandoná-lo para recuperar o lugar no coro).
Uma pergunta, Confessionário: nesses lugares onde só podes celebrar à semana, utilizas os formulários (leituras, etc) da missa dominical?
Olá, JS,
Não tenho usado, Ponderei fazê-lo, mas depois achei inadequado, uma vez que não é propriamente o domingo. Além disso, nessas comunidades, quando isso ocorre, têm a possibilidade de se reunir para uma celebração da Palavra no próprio domingo!
Enviar um comentário