domingo, maio 24, 2020

Subir ao céu em corpo e alma

A Joana, que é catequista, comentava que a Ascenção era Jesus a subir ao céu em corpo e alma. Acenei na sua direcção e fiz do meu dedo indicador um metrónomo, de um lado para o outro, a dizer que não. Ficou intrigada e curiosa ao mesmo tempo e, por isso, pediu-me que lhe explicasse o que queria dizer com o meu dedo a acenar. Aprendera assim e era assim que ensinava aos meninos. 
Comecei por lhe dizer que não fazia mal em explicar assim aos meninos, porque para podermos falar de Deus, que não vemos, temos de usar a nossa linguagem e aquilo que conhecemos. 
No entanto, há que dizer que esta festa tem sido mal entendida por muita gente e, nesse sentido, alguns teólogos nem lhe apreciam o nome. Dizem que o termo “ascensão” não é o mais correcto porque evoca a categoria de espaço físico. 
Jesus ressuscitado não subiu nem podia subir ao céu no sentido literal da palavra. Aliás, a sua corporeidade já não era como antes de ter morrido. Não era um fantasma, mas o seu corpo não tinha explicação. Por isso é que os seus não o reconheceram logo, como referem os evangelhos. Não poderia, portanto, ter subido em corpo para o céu. Além disso, Deus também não vive num “espaço” físico. O céu, mais que um “lugar”, é um “estado”, ou seja, uma forma de estar. Ora, para que a subida de Jesus ao céu não se confunda com a imagem de um astronauta ou um balão de hélio que sobe e desaparece no ar, estes teólogos preferem utilizar termos como “exaltação” ou “glorificação”. E têm razão! 
A Ascensão, na verdade, é a glorificação plena de Jesus Cristo. E se percebemos que o céu não é um espaço físico, mas é estar com Deus e em Deus, então percebemos melhor que, afinal, Jesus não nos abandonou. Continua connosco, ao nosso lado. Apenas nos precedeu para a glória de estar com o Pai e no Pai. 

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "O céu e o inferno, parte I"

12 comentários:

Anónimo disse...

Bem verdade, assim mesmo que passou o entendimento.

Ailime disse...

Boa tarde Sr. Padre,
Aprecio que as coisas sejam explicadas desta forma, por quem entende do assunto.
Tenho tido o privilégio de na minha Paróquia terem passado alguns sacerdotes que tentam explicar as coisas desse modo, embora note que há muitos cristãos a não apreciarem estes discursos. É o problema da Igreja se manter arreigada a velhos costumes e não ter vindo a dismistificar ao longo dos tempos certos dogmas.
Boa semana, com saúde.
Ailime

Anónimo disse...

Ó padre o que está a mais, na explicação da catequista, na minha opinião é "em corpo e alma". Isto aplica-se à Assunção de Maria. A ante-visão dessa forma corpórea depois da Ressurreição, aconteceu no Tabor quando se transfigurou diante de Pedro, Tiago e João. Mas como somos nós, pobres criaturas... nesmo depois de ter visto o Mestre na glória, Pedro negou conhecê-lo.

Anónimo disse...

Pois, esta costuma dar grandes "barracadas" na Catequese. Da última vez, a Sofia, que quer sempre saber o porquê das coisas, perguntou porque é que Jesus não quis que o corpo dele ficasse na Terra. O Francisco impacientou-se e disse-lhe que era óbvio: Se o corpo de Jesus tivesse ficado na Terra, agora tinhamos todos de pagar para o ir ver. E Jesus não queria que isso acontecesse,duh!
ME

Confessionário disse...

ME, ai o que eu me ri...

Anónimo disse...

Confessionário,
Os meus grupos de Catequese foram sempre garantia de grandes gargalhadas. Eu até acho que fui Catequista em anos em que mal tinha tempo para respirar só para não perder aquela barrigada de riso semanal. Mas a lógica das crianças também dá muito que pensar... Já procurei se havia um site ou grupo sobre "Pérolas da Catequese", mas nunca consegui encontrar. Só encontrei grupos muito sérios e profundos, a debater conteúdos e pedagogias. Não estou a retirar o mérito nem o valor a esses grupos, mas gostava de encontrar um com uma abordagem diferente. Se conhecer diga-me, por favor.
ME

Confessionário disse...

ME, de facto não conheço.
Há sites ou dinãmicas engraçadas. Mas, como refere, não conheço ou não estou a recordar!

Anónimo disse...

Uma dúvida: se a aparência não era a mesma após a ressurreição e a voz, ao que tudo indica e como ficou demonstrado, também não era a mesma, como podemos ligar um Cristo com o outro, para ser Ele mesmo? Sempre poderia ser um sósia, um impostor...

E, a bem dizer, no final, ficamos sem saber se São Tomé tinha ou não, feito o teste (ou seja, a medicina legal também não veio dar contributo activo)...

Confessionário disse...

03 junho, 2020 10:42
Não há dois "Cristos" nem sósias.
Mas imaginar que o que os apóstolos viram depois de jesus ter ressuscitado era um fantasma não bate certo! Assim como não bate certo que Jesus Ressuscitasse no corpo, tal e qual, e ninguém o reconhecesse logo!
Na minha opinião, e partindo de algumas leituras teológicas que fiz, seria uma forma corpórea diferente!

Anónimo disse...

No interesse teológico pergunto então: o reconhecimento necessitou de prévia apresentação. Partindo do princípio que só podemos reconhecer quem vimos previamente,não foi um déjá vu, mas um "Olá" de novo.

(E, S. Paulo no meio disto?)

Talvez o reconhecimento fosse também feito através do olfacto (isto para ligar o pão ao peixe).

...Forma -(mais/menos/idêntica) - humana presumo!

Confessionário disse...

03 junho, 2020 14:44
A pergunta tem interesse.
Reconhecer pressupõe que se conheceu.
Na Bíblia, "conhecer" tem mais a ver com uma relação profunda.
Creio que os apóstolos tinham uma relação grande com Jesus. Mas faltava-lhes o entendimento da Páscoa da Ressurreição. Passaram a ver com outros olhos, e foram provavelmente esse olhar novo que fez com que eles o reconhecessem. Era o mesmo? Era. Mas não era bem o mesmo.
Creio que o reconhecimento veio da fé pascal, ou noutras palavras, do coração. É o coração que melhor reconhece. Por isso, uma pessoa com demência, o que demora mais a perdee é o reconhecimento do coração. Pode não saber quem é a outra pessoa, mas sabe que lhe é importante!

Espero ter ajudado

Anónimo disse...

Muito amável, obrigado pela ajuda.
Quanto ao entendimento da Páscoa da Ressurreição só parece ser possível por duas vias, reconhecimento e testemunho (embora este pressuponha aqueloutro).

Ponderando, o entendimento virá sempre do reconhecimento. É que à Páscoa não basta a Ressurreição, tem de ser a do Filho de Deus. Entender que a "ressurreição" é por si só qualificante, parece-me insuficiente. A ideia pia é que a ressurreição apenas é possível ao Filho de Deus.

Sucede que ouvi falar dumas bactérias, lá para os pólos, que são uma ameaça em caso de descongelamento. Está a ver?

Mais uma vez obrigada, Sr. Padre, e que Deus o proteja.